As manifestações do próximo dia 7 contra o presidente de Angola, não eleito e há 32 anos no poder, José Eduardo dos Santos, deverão ter também alguma (espera-se que muita) adesão fora do país.
Assim, os angolanos esperam que também os seus amigos se juntem a eles, a apartir das 13 horas, em Bruxelas (Place Louise), seguindo a manifestação em direcção à Embaixada de Angola junto da União Europeia, onde será entregue uma petição conjunta da Comunidade Angolana da diáspora e do interior de Angola.
Apesar da garantia de que as manifestações serão pacíficas, democráticas e legítimas, inspiradas no Movimento de «Não-Violência» e a favor de paz e estabilidade em Angola, é bem possível (já há, aliás, indícios nesse sentido) que o regime do MPLA procure impedir a sua realização.
Em Angola, por exemplo, tudo quanto é autoridade, casos das Forças Armadas, Polícia, Sinfo, o SIE (entre outras) está mobilizado não para a manifestação mas, isso sim, para tentar impedir que os angolanos se manifestem.
Mas, por muito pacífica que seja – e será certamente – a manifestação, o regime sabe o que o Povo pensa. Sabe que milhões de angolanos têm cada vez menos, enquanto que alguns têm cada vez mais.
O regime sabe que, de jure, os angolanos têm direitos e garantias consagrados quer ao nível da lei nacional quer do Direito internacional. Por sua vez, os angolanos sabem que, de facto, quem pensar de forma diferente dos donos do país é culpado de actos contra a segurança do Estado.
O governo de Angola sabe que os angolanos têm direito a exprimir livremente os seus pensamentos, as suas ideias e opiniões. Por sua vez, os angolanos sabem que esse é um direito que só funciona se for para estar de acordo com o regime.
O regime sabe que os angolanos apostaram livre e conscientemente na paz, na democracia, na justiça social e na seriedade e transparência de governação. Por sua vez, os angolanos sabem que, apesar de nove anos de paz, todos esses objectivos são uma miragem.
O governo do MPLA sabe que os angolanos são um povo pacífico, mas também sabe que eles têm memória. Memória, entre outros acontecimentos, do 27 de Maio de 1977, dos crimes contra os ovimbundos em 1992, contra os bakongos em 22 e 24 de Janeiro de 1993 etc. etc.
O regime sabe que o Povo não quer mais guerras, mais sofrimentos, mais dor. Mas sabe igualmente que esse mesmo Poco continua a ser gerado com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com fome.
O regime sabe que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças.
O regime sabe que apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico.
O regime sabe que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade.
O regime sabe que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
O regime sabe que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino.
O regime sabe que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
O regime sabe que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.
O regime sabe que 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população; que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda.
O regime sabe que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Mas, mais do que tudo isto, o regime angolano sabe que o Povo sebe tudo isto. E o que mais o atormenta é a existência do um Povo que pensa, que sabe o que quer... mesmo tendo a barriga vazia.