segunda-feira, fevereiro 07, 2011

O (im)poluto grande líder socialista

Ana Benavente, ex-secretária de Estado socialista, diz que José Sócrates “tornou-se autocrata, distribuindo lugares e privilégios, ultrapassando até o “centralismo democrático” de Lénine que tanto criticámos.”

Ainda bem, para Ana Benavente, que ela não precisa de emprego. É que os que precisam e que tiveram (são cada vez menos os que ainda têm) a ousadia de dizer coisas parecidas estão no desemprego ou, em alternativa, a tentar dobras as esquinas da vida.

Numa entrevista à revista Revista Lusófona de Educação, a ex-deputada socialista, secretária de Estado da Educação de António Guterres (1995-2001), acusa o PS (Partido de Sócrates, ex-Partido Socialista) de aplicar políticas neoliberais e a sua liderança de ser autoritária.

“Fazer do capital financeiro o dono e árbitro do desenvolvimento económico é uma capitulação face ao neo-liberalismo que não é digna de um partido socialista”, acusa Ana Benavente.

Além disso, o que já não é pouco, Ana Benavente acusa o PS de José Sócrates de ter assumido políticas de direita, descurando a justiça social e a sua matriz ideológica, “dirigindo a 'máquina' de modo autoritário e sem diálogo, substituindo de tal modo a direita que esta ficou 'encostada às cordas'”.

A ex-deputada enumera assim os sete pecados capitais da actual liderança do sumo pontífice socialista, José Sócrates:

"Adopção de políticas neo-liberais e, portanto, abandono da matriz ideológica socialista; Autoritarismo interno e ausência de debate, empobrecendo o papel do PS no país; Imposição das medidas governativas como inevitáveis e sem alternativa, o que traduz dependências nacionais e internacionais não assumidas nem clarificadas para o presente e o futuro; Marketing político banal e constante, de par com uma superficialidade nas bandeiras de modernização da sociedade portuguesa; Falta de ética democrática e republicana na vida pública e na governação; Sacrifício de políticas sociais construídas pelo próprio PS em fases anteriores; Falta de credibilidade, quer por incompetência quer por hipocrisia, dando o dito por não dito em demasiadas situações de pesadas consequências".

Não está mal. É um retrato quase perfeito do (im)poluto líder socialista.

Para Ana Benavente, “um partido só pode assegurar um longo período de governação quando também utiliza a sua acção governativa para construir, manter e desenvolver a sua própria hegemonia cultural.” Ora “Sócrates não compreendeu esta simples verdade. Procurou assegurar e legitimar socialmente o seu Governo através da sua adaptação à hegemonia cultural do radicalismo de mercado.”

“O PS abdicou da defesa dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos. Considerou que bastava defender questões ditas “fracturantes” como é o caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo para manter uma imagem de esquerda. E foi buscar protagonistas de tais causas, independentes do PS, para as defender. Discordo em absoluto”, afirma ainda Ana Benavente.

Reconheça-se, apesar disso, que José Sócrates (certamente com a colaboração institucional de Cavaco Silva) está a fazer tudo para que os 700 mil desempregados, os 20% de pobres e os outros 20% que para lá caminham, aprendam (seja ou não nas Novas Oportunidades) a viver sem comer.

Até agora, sobretudo porque os portugueses são uns desmancha-prazeres, os resultados não são animadores. Todos os que tentaram seguir as teses do sumo pontífice socialista estiveram muito perto de saber viver sem comer. Mas quando do estavam quase lá... morreram.

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