“Este livro é um exercício a dois tempos. Por um lado, é um relatório de factos relacionados com a História de Cabinda. Os tratados do século XIX, a implantação da República em Portugal, o Estado Novo, a revolução de Abril, a descolonização, a guerra civil angolana. Por outro lado, é um acto de liberdade de expressão, exercido por um jornalista que se quer a tempo inteiro e íntegro.
Muitos dirão que se trata de jornalismo de causas, e porventura terão razão. Mas a defesa da causa dos oprimidos, das minorias, dos mais fracos, dos que não têm voz, é um jornalismo por uma causa justa, digamos assim, “é o jornalismo da indignação, que não é indolor nem incolor” parafraseando o conhecido jornalista português Baptista Bastos.
O que o bom jornalismo exige é a procura, em consciência, da Verdade, mais do que a simples exposição de factos ou afirmações. Fazer jornalismo é, ainda, descodificar argumentos para uma linguagem acessível a todos os que quiserem compreender o drama que se relata na prosa jornalística…
Nesse sentido, este livro é uma pedrada no charco. Não por conter revelações assombrosas, mas por se atrever a falar de um assunto silenciado e que incomoda os sistemas em vigor: o sistema político instaurado em Angola e o sistema capitalista sustentado globalmente pela exploração e acumulação de riqueza.
Aqui não resisto em repetir o que vem escrito no livro: “…é por isso que Cabinda não é notícia. Uma bitacaia no presidente do MPLA teria com certeza muito maior cobertura do que o facto de em Cabinda imperar o terror.
Falar hoje de Cabinda é algo que desagrada aos poderes políticos e económicos de Angola, de Portugal, e dos que mandam em Angola e em Portugal.
A situação de Cabinda deriva do resultado da descolonização portuguesa. Mas essa descolonização não foi um acto controlado pelos que derrubaram o regime do Estado Novo em Portugal. O papel de Portugal não foi assim tão decisivo, tendo em conta o confronto na época entre os EUA e a União Soviética.
Aconteceu que os EUA perderam a guerra em Angola, assim como já tinham perdido antes a do Vietname.
Os vencedores – a URSS, Cuba, o MPLA – não estavam, naturalmente, interessados na independência de Cabinda e Portugal pouco mais podia ser que um espectador passivo.
Bom, é isto que este livro retrata, ainda que por outras palavras e, porventura, diferentes pontos de vista.
É preciso acrescentar que hoje vivemos em sociedades proto-fascistas, no sentido em que só os poderosos é que têm direito a sobreviver. Acham exagero? Mas digam lá, então, quem é que hoje que esteja fora do arco do poder, se consegue fazer ouvir.
Não me refiro a conversas de café, onde cada um fala mais ou menos alto aquilo que entende… refiro-me ao eco que opiniões divergentes têm nos grandes órgãos de comunicação social nacionais, as televisões, por exemplo… Aqui ou em Angola?... em Cabinda é quase um silêncio total, entrecortado talvez pelos gemidos dos agrilhoados… e em Portugal, enfim… por exemplo, agora vamos para eleições, mas já repararam que os debates eleitorais nas televisões são só entre os cinco grandes partidos, os que têm acento parlamentar, mandando às urtigas o direito constitucional de igualdade perante todas as candidaturas?
Em Portugal, onde é que um ponto de vista que não seja do pensamento dominante se consegue fazer ouvir? Qual é o jornal nacional, a rádio ou a televisão que acolhe opiniões incómodas e as questiona? As difunde? As confronta?
Qual deles é que está aqui para ouvir ideias que confrontam o Poder estabelecido em Angola, um Poder que compra com petróleo silêncios e compromissos por todo o Mundo? É neste quadro que temos de entender o silêncio mediático que envolve a questão de Cabinda.
Mas, enfim… Quando estamos convencidos da nossa razão, nunca devemos abdicar de lutar por aquilo que entendemos que é justo. O que a História ensina é que pode demorar tempo, pode não ser no nosso tempo, pode ser que só aconteça no tempo dos nossos filhos ou dos nossos netos - digamos que isso é pouco importante.
O que é importante é o rumo que imprimimos aos acontecimentos.
O livro termina com a frase “Só é derrotado quem deixa de lutar”… na verdade, a razão pode ser abafada durante algum tempo, mas não pode ser abafada durante todo o tempo. É isso que este livro nos ensina. E por isso merece ser lido.
Obrigado, Orlando Castro.”
Nota: Esta foi a apresentação do livro “Cabinda – Ontem protectorado, hoje colónia, amanhã Nação”, a cargo do Jornalista Carlos Narciso.
O que o bom jornalismo exige é a procura, em consciência, da Verdade, mais do que a simples exposição de factos ou afirmações. Fazer jornalismo é, ainda, descodificar argumentos para uma linguagem acessível a todos os que quiserem compreender o drama que se relata na prosa jornalística…
Nesse sentido, este livro é uma pedrada no charco. Não por conter revelações assombrosas, mas por se atrever a falar de um assunto silenciado e que incomoda os sistemas em vigor: o sistema político instaurado em Angola e o sistema capitalista sustentado globalmente pela exploração e acumulação de riqueza.
Aqui não resisto em repetir o que vem escrito no livro: “…é por isso que Cabinda não é notícia. Uma bitacaia no presidente do MPLA teria com certeza muito maior cobertura do que o facto de em Cabinda imperar o terror.
Falar hoje de Cabinda é algo que desagrada aos poderes políticos e económicos de Angola, de Portugal, e dos que mandam em Angola e em Portugal.
A situação de Cabinda deriva do resultado da descolonização portuguesa. Mas essa descolonização não foi um acto controlado pelos que derrubaram o regime do Estado Novo em Portugal. O papel de Portugal não foi assim tão decisivo, tendo em conta o confronto na época entre os EUA e a União Soviética.
Aconteceu que os EUA perderam a guerra em Angola, assim como já tinham perdido antes a do Vietname.
Os vencedores – a URSS, Cuba, o MPLA – não estavam, naturalmente, interessados na independência de Cabinda e Portugal pouco mais podia ser que um espectador passivo.
Bom, é isto que este livro retrata, ainda que por outras palavras e, porventura, diferentes pontos de vista.
É preciso acrescentar que hoje vivemos em sociedades proto-fascistas, no sentido em que só os poderosos é que têm direito a sobreviver. Acham exagero? Mas digam lá, então, quem é que hoje que esteja fora do arco do poder, se consegue fazer ouvir.
Não me refiro a conversas de café, onde cada um fala mais ou menos alto aquilo que entende… refiro-me ao eco que opiniões divergentes têm nos grandes órgãos de comunicação social nacionais, as televisões, por exemplo… Aqui ou em Angola?... em Cabinda é quase um silêncio total, entrecortado talvez pelos gemidos dos agrilhoados… e em Portugal, enfim… por exemplo, agora vamos para eleições, mas já repararam que os debates eleitorais nas televisões são só entre os cinco grandes partidos, os que têm acento parlamentar, mandando às urtigas o direito constitucional de igualdade perante todas as candidaturas?
Em Portugal, onde é que um ponto de vista que não seja do pensamento dominante se consegue fazer ouvir? Qual é o jornal nacional, a rádio ou a televisão que acolhe opiniões incómodas e as questiona? As difunde? As confronta?
Qual deles é que está aqui para ouvir ideias que confrontam o Poder estabelecido em Angola, um Poder que compra com petróleo silêncios e compromissos por todo o Mundo? É neste quadro que temos de entender o silêncio mediático que envolve a questão de Cabinda.
Mas, enfim… Quando estamos convencidos da nossa razão, nunca devemos abdicar de lutar por aquilo que entendemos que é justo. O que a História ensina é que pode demorar tempo, pode não ser no nosso tempo, pode ser que só aconteça no tempo dos nossos filhos ou dos nossos netos - digamos que isso é pouco importante.
O que é importante é o rumo que imprimimos aos acontecimentos.
O livro termina com a frase “Só é derrotado quem deixa de lutar”… na verdade, a razão pode ser abafada durante algum tempo, mas não pode ser abafada durante todo o tempo. É isso que este livro nos ensina. E por isso merece ser lido.
Obrigado, Orlando Castro.”
Nota: Esta foi a apresentação do livro “Cabinda – Ontem protectorado, hoje colónia, amanhã Nação”, a cargo do Jornalista Carlos Narciso.