terça-feira, julho 31, 2012

Eles (também) comem tudo…




Os turistas estrangeiros gastaram em Portugal 475 milhões de euros entre Janeiro e Abril deste ano, segundo  estudo da Visa Europe "Mediterranean Rim Tourism Monitor". Foi um aumento de 15,74% face ao mesmo período no ano passado.

Também as despesas dos visitantes provenientes de Angola e Moçambique dispararam e aumentaram 53,23% e 78,21%, respetivamente.

Os turistas angolanos gastaram 87,2 milhões de euros, valor que compara com os 56,9 milhões de euros gastos no mesmo período de 2011. Quantos aos moçambicanos, estes gastaram 10,3 milhões de euros no turismo português, no período em análise, face aos 5,7 milhões de euros em igual período no ano passado.

Do ponto de vista do reino lusitano a norte de Marrocos, o importante é que os euros/dólares angolanos acelerem em força para as bandas de Lisboa, pouco importando o resto. Portugal precisa e os donos de Angola (que não os angolanos) têm de sobra.

Basta, aliás, ver o perfil do cliente angolano em Portugal, que representa mais de 30% do mercado de luxo português. Trata-se sobretudo de homens, 40 anos, empresários do ramo da construção, ex-militares ou com ligações ao governo. Vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.

O perfil do povo angolano, que representa 70% da população, é pé descalço, barriga vazia, vive nos bairros de lata, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com... fome.

Esses angolanos de primeira não olham a preços. Procuram qualidade e peças com o logo visível. É comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 50 e 100 mil euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.

Por outro lado, de acordo com a vida real dos angolanos (de segunda), 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.

Na joalharia de luxo, os angolanos também se destacam, tanto pelo valor dos artigos que compram como pela facilidade com que os pagam. Um representante em Portugal da Chaumet, Dior e H. Stern, conta o caso de "uma senhora angolana que comprou uma pulseira por 120 mil euros, e pagou com cartão de crédito, sendo o pagamento imediatamente autorizado pelo banco".

Pois é. Em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Pois é. Entre milhões que nada têm, o importante são aqueles que vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna, compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex, ou que dão 120 mil euros por uma pulseira.

Isto para além da boa alimentação: Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005...

Manuel Leitão é um... FDP




Este é um texto de ficção. Qualquer semelhança com a realidade (não) é mera coincidência.

O dono deste blogue foi convocado para responder em tribunal à contestação apresentada pelo empresário Manuel Leitão à providência cautelar interposta pelo Alto Hama para impedir a distribuição do guia onde se lia "Alto Hama és um fdp".

A convocatória judicial para "audiência de inquirição de testemunhas" notifica o dono do blogue para comparecer perante a juíza para "a produção de prova", na sequência de um pedido de audição de testemunhas feito pelo empresário.

Na oposição apresentada em tribunal por Manuel Leitão, os seus representantes legais usam termos como "caraças" e apelidam o  Alto Hama de "narcisista" e "fanático dos pretos".

A providência cautelar interposta pelo Alto Hama para suspender a distribuição do guia em cuja capa se lia "Alto Hama és um fdp" foi aceite pelo tribunal, mas o empresário resolveu "deduzir oposição" à mesma.

Referindo nunca ter estado "em situação de confronto ou animosidade" com o Alto Hama, o empresário lembra que este tem "uma paixão profunda pelos pretos" e por isso, "bem pode ser chamado Fanático dos Pretos".

Manuel Leitão sustenta que rir "deve ser permitido a qualquer FDP (leia-se Filho de Deus)" e que "muito embora" o Alto Hama  "seja sobejamente conhecido pelo seu estilo desassombrado e directo, nem sempre é, pois se assim fosse teria diligenciado apurar o significado atribuído a FDP".

Pelo contrário, o Alto Hama "recorreu de imediato a tribunal, rodeado de vários sábios com o objetivo de desvendarem o enigma de FDP" e os mesmos "proferem o veridictum: FDP quer dizer Filho da Puta", escreve-se no documento.

Para os advogados do empresário "os aludidos sábios" chegaram à "conclusão precipitada, errada e irresponsável", pois Leitão "não teve a intenção" de chamar ao Alto Hama "de filho da puta".

Para os representantes legais de Manuel Leitão, o Alto Hama imputa ao empresário "um único facto: ter feito imprimir na capa da revista 'Alto Hama és um fdp'" e, "a partir daí", acrescentam, "tece considerações politiqueiras acerca do tema, inclusive o seu significado [...] que aqui se considera integrado mas não se repete por se considerar uma autêntica alarvice".

"Com a proposição 'Alto Hama és um fdp'", o empresário "não teve como objectivo ofender", argumentam os advogados, referindo a existência de sociedades comerciais "que têm na sua firma FDP".

"Quem tem coragem de dizer que tais sociedades pertencem a 'filhos da puta' ?", escreve-se, para logo a seguir responder "só mentes doentes, maldosas e mal formadas".

"O requerente viu maldade e insultos onde intenção malévola não existia", refere a sociedade de advogados acrescentando que "o requerente é um narcisista que pensa que a democracia é um bem supremo".

Recorde-se que a 16 de Junho, o empresário fdp (filho do Pai) ganhou a concessão e exploração da antiga biblioteca infantil do jardim do Marquês na hasta pública que tinha por base de licitação 260 euros mensais e que foi fechada depois de Manuel Leitão ter oferecido 610 euros.

segunda-feira, julho 30, 2012

O que é preciso fazer, ter ou comprar para ser, de jure e de facto, considerado angolano?




Pelos vistos realizou-se este fim-de-semana, em Matosinhos (Porto), um Encontro Inter-Regional das Comunidades Angolanas Residentes nas Regiões Norte e Centro de Portugal.

O evento foi realizado pelo Consulado Geral de Angola no Porto, tendo, segundo a Angop, participado mais de 1.200 pessoas que, entre outras coisas, afirmaram que a realização do senso dos cidadãos angolanos residentes no estrangeiro vai permitir que “constem da estatística nacional e que o Governo faça um planeamento real e científico do desenvolvimento do país”.

Pelos vistos o encontro foi mesmo à minha porta. E como me passou ao lado, fui ver o que dizia o site do Consulado organizador. Não encontrei nenhuma notícia a anunciar o evento. Reconheço que isso também não é importante. É que para se ser angolano é certamente preciso uma autorização especial de alguém, presumo que do dono do país mediante proposta dos seus representantes em Portugal, no caso do Cônsul no Porto, Bento Salazar André, ou do Embaixador,José Marcos Barrica.

Mas a consulta ao site do Consulado, como se vê na imagem, até me foi muito útil. Fiquei, por exemplo, a saber que a minha cidade, Huambo, não é uma das principais cidades de Angola.

E não é porque, calculo, foi lá que no dia 11 de Novembro de 1975 também a UNITA e a FNLA declararam uma outra independência. Ou será por ser uma zona em que há uma espécie menor de angolanos conhecida pelo regime como kwachas?

Também poderá ser porque, quando em Junho de 2009, o  director-executivo do Comité Organizador do Campeonato Africano das Nações2010 (COCAN) foi a Lisboa fazer a primeira apresentação da CAN 2010,  lembrou que, “para quem conhece um pouco da história de Angola”, nos tempos dos portugueses “o Lubango era chamado de Nova Lisboa”.

Sem mais nem menos. A António Mangueira, numa relevante demonstração dos seus conhecimentos da história de Angola, só faltou dizer que, se calhar, a cidade do Huambo era chamada para aí (deixa lá ver!) de Sá da Bandeira...

Este Encontro Inter-Regional das Comunidades Angolanas Residentes nas Regiões Norte e Centro de Portugal traz-me à memória um episódio que data de 28 de Julho de 2007.

Nesse dia, na Faculdade de Economia do Porto realizou-se uma conferência sobre o processo eleitoral em Angola. Caetano de Sousa, presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), foi o orador principal do evento ao qual compareceram cerca de 200 angolanos de primeira e mais meia dúzia de segunda.

Com uma hora de atraso, o encontro começou com o aplauso da assistência à entrada do Embaixador de Angola, Assunção Afonso Sousa dos Anjos, bem como das cônsules em Lisboa e no Porto, respectivamente Elisabeth Simbrão e Maria de Jesus dos Reis Ferreira, e ao orador convidado.

Por deficiências sonoras, que nada preocuparam a assistência, pouco percebi do que disse o Embaixador ou do que afirmou Caetano de Sousa. Também é certo que, diga-se em abono da verdade, abandonei a sessão no início da intervenção do presidente da CNE.

E abandonei a sessão porque descobri que, afinal, o meu lugar não era ali. E descobri isso graças à oportuna explicação de gente ligada à organização, presumo que do Consulado no Porto.

Explico. No meio dos tais 200 cidadãos presentes estavam pouco mais de meia dúzia de brancos, mesmo contando com o meu velho amigo Ricardo Pereira que ali se encontrava a fotografar ao serviço do Consulado.

Durante a sessão, algumas pessoas foram distribuindo pela assistência um pequeno papel que, tempos depois recolhiam. Presumo que se tratava de perguntas sobre o processo eleitoral e destinadas aos oradores.

Reparei (talvez por deficiência profissional) que esses papéis não eram entregues aos cidadãos brancos que, se não eram angolanos eram, pelo menos, amigos de Angola. Não creio que estivessem ali como penetras apenas para o faustoso beberete que estava a ser montado para o fim da festa.

Interpelei então uma das pessoas que distribuía os ditos papéis, perguntando-lhe se eu não teria direito a um deles.

A resposta foi clara e inequívoca:

“- Isto é só para angolanos”.

A tradução desta afirmação é fácil, já que nenhum dos 200 cidadãos presentes trazia qualquer rótulo a dizer: “Sou angolano”. Ou seja, queria dizer: “Isto é só para angolanos negros”.

Assim sendo, e porque sou angolano… mas branco, não tive outro remédio que não fosse abandonar a sala. Triste, é certo. Magoado, é claro. Mas como nada posso fazer quanto ao local em que nasci, ao país que amo, e muito menos quanto à minha cor, a solução foi ir embora. E assim, continua.

domingo, julho 29, 2012

E agora Carlos Lopes?




O texto que se segue foi publicado em 17 de Outubro de 2010 no blogue “Angola Sempre”. Agora que Isaac Wambembe abandonou a UNITA para alinhar com o MPLA, manterá Carlos Lopes, o autor do blogue e Secretário da Economia e das Novas Tecnologias do então delegado da UNITA em Portugal, as mesmas ideias apologéticas?

“O Dr. Isaac Wambembe, é membro da Comissão Política da UNITA, foi Representante deste partido em Portugal e é considerado um diplomata por excelência e Homem da confiança do Dr. Savimbi e do Dr. Samakuva Presidente da UNITA; reúne simpatias dos simpatizantes e militantes da UNITA no exterior, para exercer funções políticas ao mais alto nível na UNITA.

O Wambembe, consegue congregar apoios políticos dos tradicionais amigos da UNITA em Portugal, na Europa, EUA e Brasil, sabendo transmitir os anseios e preocupações de todos aqueles que querem fazer da UNITA, um partido de oposição que procura ser alternativa ao actual poder em Angola.

Umas das decisões emanadas da última reunião da Comissão Política da UNITA, foi o de organizar o Congresso, para eleger o próximo Presidente da UNITA.

Nesta perspectiva, o Dr. Isaac Wambembe pretende dar o seu contributo na reorganização do partido, que passa pela inclusão das ideias daqueles que procuram que a UNITA apareça aos olhos dos Angolanos, como a esperança de uma vida digna, com a implantação de políticas de redução da pobreza, através de desenvolvimento sustentável do país, da agricultura e pescas, da indústria não petrolífera, melhorias ao nível da Saúde, Educação, Habitação, infra-estruturas e estradas, redistribuição da riqueza pela eficácia fiscal, saneamento público, electricidade e distribuição de água potável nas comunas e nos municípios das 18 Províncias de Angola.

Em Portugal enquanto Representante da UNITA, desenvolveu contactos junto a comunidade angolana e ouviu individualidades, empresários e políticos de diversos partidos, trabalhando com o seu Secretário da Economia e das Novas Tecnologias, Carlos Lopes.

Esta dupla, Isaac Wambembe e Carlos Lopes, está convicta que têm de trabalhar com todos os dirigentes, militantes, simpatizantes e amigos da UNITA, para tornar este partido mais ambicioso politicamente, aumentando a sua auto-estima para a difícil tarefa de contribuir para o desenvolvimento de Angola.

Neste momento, não interessa saber quem é que vai ser o candidato presidencial, mas antes identificar quem quer dar o seu contributo, em termos de ideias e disponibilidade, para em união expurgar o partido de práticas anti-democráticas e de exclusão, destacando as atitudes proactivas daqueles que sabiamente pretendem uma UNITA forte e coesa, afastando o divisionismo e apostando na criatividade dos seus membros e não nos cargos sustentados no compadrio partidário.

A transparência política é uma das premissas a serem implantadas desde já, para que os Angolanos acreditem que a UNITA não pactua com a corrupção e cumpre as promessas eleitorais, colocando em primeiro lugar os interesses dos desfavorecidos e controlando os que ocupam cargos públicos à servirem o Povo e não usarem as suas funções em proveito próprio.

Há o compromisso de não esperar pela marcação da data do Congresso, para fazer um trabalho em prol do engrandecimento da UNITA, mas sim, o de contribuir imediatamente na definição de estratégias dinamizadoras do partido, independentemente dos futuros candidatos a Presidente da UNITA.”

Foto: Isaac Wambembe  e Carlos Lopes.

El silencio (o cobardía) son de oro...

sábado, julho 28, 2012

Lagosta e malte unidos na mesa do MPLA!




O ex-embaixador da UNITA em Portugal e Espanha, Isaac Wambembe, anunciou hoje, em Luanda, a sua desvinculação deste partido e, é claro, o seu apoio ao MPLA.

Isaac Wambembe diz agora que não se revê na forma como o Presidente da organização, Isaías Samakuva, tem conduzido a organização e “pelos maus tratos de que os quadros são alvo”.

Falando em conferência de imprensa, o médico de profissão, manifestou a sua disponibilidade de servir as comunidades, colocando-se à disposição do Estado angolano.

“Representei o partido com toda dedicação e sofri a pior humilhação humana”, disse, frisando que depois dos acordos de paz do Luena, em 2002, os seus colegas da missão externa foram reinseridos nas embaixadas e noutras actividades, menos ele.

“Consciente da grande tarefa que todos os angolanos devem desempenhar para ajudar no desenvolvimento do nosso país, revejo-me no projecto de sociedade apresentado pelo MPLA”, destacando o programa de combate à fome, à pobreza e as grandes endemias, cujos resultados disse estarem reflectidos positivamente no seio das populações, diz Isaac Wambembe.

Quando, em Março de 2009, vi e ouvi a intervenção no programa Prós e Contras, da RTP, de Isaac Wambembe  na sua qualidade de delegado/representante da UNITA em Portugal, escrevi que foi nítida a  percepção de que algo ia mal, muito mal, pessimamente mal, no partido fundado por Jonas Malheiro Savimbi.

Apesar de o programa ter sido montado para, com uma outra excepção que confirma a regra, ser mais uma montra de apologia, por vezes demasiado subserviente, do regime angolano, a oportunidade poderia e deveria ter sido aproveitada para mostrar a outra face de Angola.

Não foi isso que aconteceu. E como me diziam alguns portugueses que ao meu lado assistiram ao programa, para além de tudo ser bom em Angola – inclusive a corrupção -, ficou claro que a UNITA não é alternativa e que – cito um deles – “se calhar até deveria ter tido bem menos do que os 10% de votos que teve nas legislativas”.

Como escrevi na altura, se Isaac Wambembe era o melhor que a UNITA tinha para chefiar uma delegação, ou uma representação, em Portugal, o melhor era Isaías Samakuva encerrar por falência intelectual e política essa representação.

Numa altura em que a UNITA precisava de se reafirmar como séria e competente alternativa ao MPLA, assistiu-se ao seu ébrio suicídio. Aguinaldo Jaime, representante oficial do Governo angolano no programa (todo os outros protagonistas principais eram representantes oficiosos), teve aliás a elevação ética de não amesquinhar o seu compatriota da UNITA, o que poderia facilmente fazer se tivesse dirigido qualquer questão a Isaac Wambembe.

O problema não foi – apesar de ter sido – o facto de Isaac Wambembe mostrar que não sabia o que ali estava a fazer. A assistência afecta ao MPLA teve múltiplos orgasmos quando viu que, apesar de não estar em condições psico-somáticas, Isaac Wambembe teimou em falar.

Nem mesmo a insistência de outros elementos afectos à UNITA evitou que Isaac Wambembe levasse à cena aquela burlesca tragicomédia que, por ser de tão fraca qualidade, até mereceu a comiseração do próprio Aguinaldo Jaime.

Até a própria produção do programa deu uma ajuda para remediar os estragos, procurando com café diminuir os visíveis e notórios resultados de alguns excessos da fermentação do malte.

Mas, reconheço, já há muito que Isaac Wambembe se sentia melhor fazendo a política do MPLA. Em entrevista (Março de 2009) ao Correio da Manhã, fez mais pelo regime do que pelos angolanos. Pelos vistos valeu a pena.

À pergunta “O que mais deseja na cooperação com Portugal?”, Isaac  Wambembe respondeu: “Apelo ao reforço da cooperação em todas as áreas, mas principalmente nos sectores da Saúde, Educação e Transportes”.

Se calhar o delegado da UNITA pensou (agora percebe-se melhor) que representava o MPLA, ou o Governo, por sinal são uma e a mesma coisa. Ou então, de facto, a UNITA é isso mesmo que esperava de Portugal.

“Que papel desempenha o delegado da UNITA em Portugal?”, perguntou o jornal.

Isaac  Wambembe respondeu: “Somos uma delegação e representamos os militantes da UNITA em Portugal. O objectivo é levar os angolanos afectos à UNITA para Angola, para ajudar a desenvolver o país. Temos muitos estudantes que estão a concluir as suas formações e outras pessoas que têm projectos que devem ser incluídos no quadro do desenvolvimento do país. Para regressarmos é preciso saber em que condições serão acolhidos, e tudo isto está a ser tratado com a embaixada e o consulado angolanos em Lisboa”.

Não está mal. O delegado do maior partido da Oposição, do partido que (pensava eu) aspira a ser alternativa, limita-se a um discurso subserviente, não vá o todo poderoso MPLA ficar zangado.

Depois de dizer que o MPLA domina tudo mas que “vai ter de compreender que precisa da ajuda de todos os angolanos”, Isaac  Wambembe disse que o que mais o preocupava  em Angola “era salvar aquele povo sem voz”.

E como é que isso se faz? Isaac  Wambembe responde: “ajudando o governo a criar condições para toda a gente”.

“Aquele povo”? Ajudar o governo? Bom, se – parafraseando Isaac  Wambembe – aquela UNITA aguentou tanto tempo este militante como seu representante em Portugal era porque, afinal, estava no mesmo estado.

Acresce que, finalmente,  Isaac  Wambembe  foi bater à porta certa, o MPLA. Não foi o primeiro nem será o último. Tem, contudo, a vantagem de aliar a lagosta ao malte.

Um dia a democracia chegará a Angola
- Será já no próximo dia 31 de Agosto?





Um dia, eventualmente a 31 de Agosto deste ano, a democracia real vai chegar a Angola. E quando isso acontecer, Angola deixará de ser o MPLA e o MPLA deixará de ser Angola.

Até lá os donos do país continuarão a ser cada vez mais ricos e os angolanos continuarão a ser cada vez mais pobres. Tem sido assim nos últimos 37 anos. Mas, como tudo na vida, não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe.

E quando esse dia chegar, os angolanos vão ter pelo menos os mesmos direitos dos estrangeiros, vão deixar de ser enteados na sua própria terra.

Esta não é, aliás, a Angola idealizada pelos angolanos e pela qual lutaram, uns de armas nas mãos, outros com as canetas. Não é o Angola sonhado por todos. Como dizia Teta Lando, “se tu és branco isso não interessa a ninguém, se tu és mulato isso não interessa a ninguém, se tu és negro isso não interessa a ninguém. O que interessa é a tua vontade de fazer uma Angola melhor. Uma Angola verdadeiramente livre, uma Angola independente.”

Até agora o líder do MPLA (partido que governa Angola desde 1975), presidente da República de Angola (não eleito e há 33 anos no cargo) e chefe do Governo, José Eduardo dos Santos, não brinca em serviço.

Não brinca em serviço mas, isso sim, adora brincar com os angolanos e com todos aqueles que vai comprando por esse mundo fora.

Quando no dia 7 de Dezembro de 2009 exortou os suas súbditos a  "não pactuar com a corrupção e com a apropriação de meios do erário público ou do partido", mostrou como é fácil e barato enganar meio mundo.

O tempo foi passando e tudo continua na mesma, e até os mais optimistas e ingénuos começam a pensar que nem as moscas mudam. E se os mais cépticos perguntam o que é que andaram a fazer durante 37 anos, os mais realistas continuam a fazer contas com o dinheiro que passa por baixo da mesa.

Recordo que nesse dia, numa intervenção sistematicamente interrompida pelos aplausos dos mais de 3.000 delegados ao VI Congresso, num visível e marxista culto da personalidade do chefe, José Eduardo dos Santos deixou um lote recheado de recados para o MPLA, para o país e para o mundo ver.

Recorde-se, contudo, que o chefe do partido para o qual manda recados é ele próprio há dezenas de anos, tal como o é do país. Mais uma vez, a política é a de sempre: olhai para o que eu digo e não para o que eu (e os meus amigos) faço.

Tiveram, aliás, bons mestres. E se tiverem dúvidas, não quanto à corrupção mas à forma de a camuflar, basta pedirem umas lições aos velhos ou novos professores portugueses.

"Hoje é voz corrente equiparar a pessoa investida em funções políticas a um homem sem palavra, desonesto e sem escrúpulos. É necessidade absoluta assumir atitudes positivas que desfaçam essa imagem pálida e inconveniente de forma a dar credibilidade, valorizar e repor a nobreza da função dos dirigentes políticos".

Não, não foi José Sócrates, Passos Coelho, Paulo Portas, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa ou até Cavaco Silva quem fez esta afirmação, embora ela retrate o que se passa no reino lusitano.

Quem o disse foi o soba de um outro reino, no caso Eduardo dos Santos.

José Eduardo dos Santos sublinha que o partido "tem dito isto por outras palavras" e adverte que "as nossas palavras e promessas devem corresponder aos actos que praticamos".

Uma treta semelhante ao que se passa em Portugal. Treta para enganar os cerca de 70% de angolanos que vivem na pobreza, 37 anos depois da independência e dez após a paz ter regressado ao país, tal como em Portugal é usada para enganar um milhão e duzentos mil desempregados, 20% de cidadãos que vivem (isto é...) na miséria e os outros 20% que a têm à porta de casa.

Eduardo dos Santos pediu então o "fim da intriga, dos boatos e a manipulação de factos na comunicação social para prejudicar os outros".

Bem me parecia que em Angola, como em Portugal, a comunicação social é a fonte de todos os males. Foi ela, a comunicação social independente, que forçou o MPLA a reconhecer a corrupção e outras grandes enfermidades, e é exactamente por isso que é a culpada de tudo.

"Devemos aperfeiçoar o modo de encarar a política, um modo pró-activo e rigoroso de mostrar o nosso empenho e dedicação que sirva para mobilizar milhões para a nossa causa", disse, e diz, Eduardo dos Santos, certamente depois de ter tido num só dia o que milhões de angolanos não têm durante muitos dias: refeições.

O presidente da República e do MPLA disse também que "em cada 100 angolanos, 60 são muito pobres, não conseguem comer normalmente todos os dias, não têm acesso fácil a água potável, acesso aos cuidados de saúde nem casa normal para se abrigar".

É preciso ter lata. O MPLA está no poder há 37 anos, Angola está em paz há dez anos, e mesmo assim o dono do país não assume que é ele o principal, em muitos casos o único, responsável por este descalabro.

O "desemprego, o analfabetismo e a pobreza são três problemas muito graves e difíceis de resolver, que atingem especialmente as mulheres, as famílias e as crianças", disse Eduardo dos Santos  em mais uma manifesta enciclopédia de hipocrisia que, contudo, foi aplaudida pelos súbditos de sua majestade.

Certamente anestesiado pelas ovações dos seus vassalos, José Eduardo dos Santos disse também que o MPLA pugna desde 1975 “pela defesa das liberdades direitos e garantias dos cidadãos, e considera o direito à associação como fundamental". Foi mais um atestado de menoridade passado aos angolanos. Mas como foi dito pelo chefe... foi aplaudido.

Para os problemas que persistem no país, como a pobreza, José Eduardo dos Santos, retomou a evocação da "pesada herança do colonialismo" que foi "agravada pelo período de guerra que o país viveu" até 2002.

Nisto tem razão. Se tantos anos depois da conquista da democracia os portugueses continuam também a desculpar-se com a pesada herança do salazarismo, é legítimo que o MPLA acuse o colonialismo, um bode expiatório que aguenta ainda ser utilizado aí por mais uns trinta anos.

As anteriores promessas eleitorais do MPLA




O MPLA apresentou no dia 11 de Julho de 2008, em Luanda, a sua proposta de Programa de Governo 2009-2012 e o manifesto para as eleições legislativas desse ano (Setembro), em que avultavam como objectivos um crescimento económico sustentado e a afirmação internacional de Angola.

O Programa de Governo do MPLA e o seu manifesto eleitoral, apresentados em cerimónia no complexo turístico Futungo II, arredores de Luanda, regiam-se pelo lema "O Caminho Seguro Para uma Angola Melhor".

O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, indicou que a partir desse dia (11 de Julho de 2008) as estruturas do MPLA deviam começar a apresentar publicamente a proposta de Programa de Governo e do seu manifesto eleitoral, com "ampla e activa" participação de todos os militantes e cidadãos que se revêem nos seus ideais, afirmou o vice-presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola, Pitra Neto.

"Demos hoje início ao um ciclo muito importante no quadro das tarefas preparatórias do nosso partido para o início da fase final da batalha, com vista a conquistarmos com êxito, de forma clara, transparente, participativa e com muita realidade, os próximos desafios que se avizinham", salientou então Pitra Neto.

Com a apresentação, começava "uma caminhada que queremos de grande êxito, muito trabalhosa e sobretudo, com a lucidez, humildade e o empenho que caracterizam a forma de ser, de estar e de fazer do nosso partido", no poder em Angola desde 1975, frisou acrescentando que o MPLA quer igualmente o reforço da democracia e da capacidade institucional para a "satisfação das aspirações do povo".

O manifesto eleitoral compreendia uma versão reduzida do Programa de Governo.

Entre os objectivos traçados pelo MPLA para a governação entre 2009 e 2012, o partido garantia crescimento da economia do país de forma sustentada, a melhoria da qualidade de vida dos angolanos e o reforço do posicionamento de Angola no contexto internacional. Ao nível político, destacavam-se os objectivos de melhorar a governação e consolidação e estabilização política do país.

O então secretário do MPLA para a Política Económica e Social, Manuel Nunes Júnior, defendeu que o programa do partido era  "tecnicamente rigoroso, abrangente, consistente e coerente, que demonstrava claramente as opções estratégicas do país para a próxima legislatura".

"Temos conhecimento, temos experiência, patriotismo. Terminamos como começamos, transformando o MPLA num partido moderno e dinâmico, com enorme capacidade de acompanhar as mudanças que ocorrem na sociedade angolana e no mundo", anotou Manuel Nunes Júnior

Por mim, quatro anos depois destes promessas, só peço aos angolanos que olhem para o lado, se lembrem que o MPLA está no poder desde 1975, e tirem as suas conclusões. Eu já tirei as minhas: Angola tem de mudar.

A comovente modéstia do MPLA




O primeiro secretário do MPLA no município da Caála, província do Huambo, Miguel Somakessenje, mostrou de forma inequívoca a modéstia eleitoral do seu partido.

Então não é que, segundo Miguel Somakessenje, o MPLA está a  trabalhar para conseguir  apenas 95 por cento dos votos nesta circunscrição nas eleições “previstas” (quem escreve previstas é a própria agência do Estado, a Angop) para Agosto 31 de Agosto?

Miguel Somakessenje fez esta afirmação na cerimónia de apresentação do programa de governação do MPLA realizada no município da Caála, situado a 23 quilómetros a oeste da cidade do Huambo.

Para o responsável do MPLA, o seu partido tem maior aderência nesta região com cerca de 200 mil habitantes. Vamos lá Miguel Somakessenje. Com um pouco de esforço, seguindo as recomendações do “querido líder”, do “escolhido por Deus”, não será difícil ultrapassar os 100 por cento.

"Os actos de massas que realizamos no município da Caála demonstram claramente que o MPLA tem maior aceitação", disse Miguel Somakessenje, apelando aos 5 por cento de indecisos que se lembrem que têm barriga.

Já no município de Kamacupa, província do Bié, a primeira secretária municipal do MPLA, Alcida Jesus Camateli, afirmou que a sua organização política vai dedicar atenção especial à juventude nos próximos cinco anos, realizando projectos que visam melhorar as suas condições de vida.

Ainda pouco imbuída das características “democráticas” do regime (no poder desde 1975), Alcida Jesus Camateli não avançou com percentagens, mas tudo indica que – à semelhança do que irá acontecer em todo o país – também em Kamacupa o MPLA vai superar os ´”míticos” 100 por cento.

De acordo com Alcida Camateli, o MPLA vai apostar forte na região através – pois claro! – de projectos como a construção de casas sociais, centros culturais, biblioteca e sala de informática, reabilitação do cineteatro e do estádio de futebol, bem como na concessão de microcrédito aos jovens empreendedores.

sexta-feira, julho 27, 2012

Porra! Vale a pena estar…. desempregado!




Manuel Pinho decretou o fim da crise em 2007. Teixeira dos Santos em 2009. Passos Coelho não só a decretou para 2012 como decidiu aumentar em 50% o número de colocações de desempregados até 2013.

Tudo tretas, como é óbvio. Aliás, tudo depende dos dias em que o primeiro-ministro fala. Às segundas, quartas e sextas diz uma coisa, às terças, quintas e sábados outra. Ao domingo costumava ir à missa, mas como retaliação às críticas do bispo Januário Torgal Ferreira delegou essa missão em Miguel Relvas.

Seja como for, assim vale a pena ter um governo. Quem não se recorda da resolução do Conselho de Ministros do passado dia 23 de Fevereiro em que o Governo garantia trabalho a mais três mil pessoas por mês?

Foi, era, o pomposo Programa de Relançamento do Serviço Público de Emprego que incluía oito eixos e um conjunto de medidas que visavam fomentar a captação de ofertas de emprego, cooperar com parceiros para a colocação de desempregados, reestruturar a rede de Centros de Emprego e Centros de Formação Profissional, entre outras.

Segundo o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, o diploma então aprovado  visava "promover um acompanhamento mais próximo e mais regular do desempregado" e melhorar o desempenho do serviço público de emprego, "nomeadamente no que diz respeito à oferta e procura de emprego", incluindo alterações no funcionamento dos centros de emprego.

Na altura os desempregados gritaram: “Agora é que vai ser”. Até os que (ainda) tinham emprego queriam ficar desempregados para assim beneficiarem deste ovo de Colombo, verdadeiro e histórico achado da equipa liderada por Pedro Miguel Passos Relvas Coelho.

O diploma visava também, segundo Álvaro Santos Pereira, "a modernização do sistema de informação dos centros de emprego, o que irá facilitar a colocação de ofertas no portal 'netemprego' e permitirá a criação de um registo electrónico público de todas as ofertas de emprego captadas pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP)".

Ou seja, não iam faltar armas e munições para os portugueses irem caçar elefantes. Só ficava a faltar a informação sobre se essa espécie animal existia no… Alentejo. Passados uns meses os especialistas terão concluído que não existe!

Os desempregados inscritos nos centros de emprego passariam a ter um gestor de carreira (desempregado com gestor de carreira era obra!) para facilitar o regresso ao mercado de trabalho. A medida visava "permitir um acompanhamento contínuo dos desempregados pelo mesmo técnico, assegurando um conhecimento mais próximo das qualificações de cada um", facilitando a sua colocação e evitando novas dificuldades sempre que se deslocava a um centro de emprego, explicou o ministro da Economia que, creio, com este programa se arrisca a ganhar um Nobel.

Álvaro Santos Pereira adiantou ainda que a rede de centros de emprego iria  ser reestruturada e sujeita a fusões para se tornar "mais ágil" e que iam ser reduzidos cerca de 150 dirigentes, "que vão passar a desempenhar tarefas técnicas de apoio directo a desempregados".

Por sua vez o secretário de Estado do Emprego, Pedro Martins, frisou que estes dirigentes iam assegurar um acompanhamento mais próximo dos desempregados como gestores de carreira.

"Os responsáveis dos vários centros cujas posições serão eliminadas no decurso desta reestruturação poderão ter um contacto mais próximo com os desempregados através desta figura de gestor da carreira", disse Pedro Martins.

Álvaro Santos Pereira ressalvou que as alterações apresentadas contam com a participação activa dos empresários e dos sindicatos e foram consagradas no pacto assinado com os parceiros sociais.

Antevi na altura, e hoje mantenho, que até para testar de uma forma pragmática este programa e as inerentes capacidades dos gestores de carreiras, os empresários poderiam acelerar os processos de despedimentos colectivos que tinham na manga.

Confirmaram-se os despedimentos. Quanto ao resto… consultem o respectivo gestor de carreira!

Casais desempregados? Divorciem-se!




Em Portugal o  número de casais com ambos os cônjuges desempregados, segundo o IEFP, quase duplicou em Junho face a igual mês de 2011 e já atinge os 8316 casais, o valor mais elevado desde que esta informação é divulgada.

De acordo com os dados recolhidos pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), em Junho deste ano, face a Junho do ano passado, há mais 3990 casais (um aumento de 92%) a garantirem a sua sobrevivência com as prestações sociais pagas pelo Estado.

Não é, portanto, fiável extrapolar estes limitadíssimos dados para o todo nacional. O IEFP baseia-se apenas nos seus registos e, por isso, fica aquém da realidade nacional. Tal como fica a nível dos desempregados.

Aliás, o país real passa ao lado do IEFP, tal como passa ainda mais ao lado do Governo. De nada adianta o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, ter descoberto o calhau filosofal ao criar para os desempregados um “gestor de carreira”.

O próprio IEFP diz que o  universo dos casais com ambos os cônjuges desempregados representa 5,5% do total de desempregados casados ou em união de facto inscritos no centro de desemprego (304448 pessoas).

Ainda de acordo com o IEFP, desde Julho de 2011 que se regista um aumento em cadeia do número de desempregados em que ambos os cônjuges estão desempregados, tendo-se registado em Junho de 2012 o número mais elevado desde que esta informação é recolhida (Outubro de 2010).

Não creio, contudo, que a situação seja motivo de preocupação para o Governo. Quase diria, citando o primeiro-ministro, que se lixem os casais desempregados. Até porque estes têm uma alternativa para ajudar a baixar a estatística: divorciem-se.

Como muito bem diz Passos Coelho, Portugal está no bom caminho. E qual é esse caminho? É aquele em coabitam um milhão e duzentos mil desempregados, 120 mil dos quais são jovens, em que caminham 70 mil portugueses na procura da fronteira, em que mais de 3.500 empresas faliram, em que 6.300 famílias estão insolventes e que perto de 2.500 já entregaram – só no primeiro semestre deste ano - a cubata ao banco.

quinta-feira, julho 26, 2012

Pânico da derrota toma conta do MPLA




O dia 31 de Agosto está próximo. Os especialistas brasileiros contratados pelo regime angolano dizem a Eduardo dos Santos que a vitória eleitoral não está garantida. O MPLA fica nervoso e procura soluções radicais.

Em várias províncias, nomeadamente Benguela e Kwanza Sul, a população começa a debandar para as matas temendo, como dizem, o regresso da guerra.

Mas quem fala em guerra? O próprio regime que está a movimentar as Forças Armadas Angolanas (FAA) por todo o país, justificando com uma normal movimentação de efectivos. A população não acredita. E é isso mesmo que o MPLA pretende.

Na capital mas com repercussão nacional, Bento Bento, dirigente do MPLA pede aos militantes do seu partido para que controlem "milimetricamente" todas as acções da oposição, em especial da UNITA, para não serem "surpreendidos".

De acordo com o primeiro secretário de Luanda do MPLA, a oposição liderada pela UNITA decidiu enveredar por "manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas, incentivando a desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus".

É caso para dizer: Que bandidos são estes tipos da oposição. E então quando Bento Bento descobrir que Alcides Sakala, Lukamba Gato, Isaías Samakuva e Abílio Camalata Numa têm em casa um arsenal de Kalashnikov, mísseis Stinguer e Avenger, órgãos Staline, katyushas, tanques Merkava e muito mais…

Diz Bento Bento que a direcção do MPLA "tem dados da inteligência (informações) nas suas mãos que apontam que a UNITA está prestes a levar a cabo um plano B".

Este plano prevê, segundo os etílicos delírios de Bento Bento,  "uma insurreição a nível nacional, tipo Líbia, Egipto e Tunísia", sendo as províncias de Luanda, Huambo, Huíla, Benguela e Uíge as visadas. Aí está o espírito da guerra, tão querido ao MPLA.

Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade de alguma mudança,  o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver a UNITA a governar o país.

Para além do domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o MPLA aposta forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.

No início de 2008, notícias de Angola diziam que, no Moxico, “indivíduos alegadamente nativos criaram um corpo militar que diz lutar pela independência”.

Disparate? Não, de modo algum. Aliás, um dia destes vamos ver por aí Kundi Paihama, como agora fez Bento Bento, afirmar que todos aqueles que têm, tiveram, ou pensam ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA.

E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada, tão do agrado das potências internacionais que incendeiam muitos países africanos, de que há o perigo de terrorismo ou do regresso à guerra civil.

Se no passado, pelo sim e pelo não, falaram de gente armada no Moxico, agora deverão juntar o Bié ou o Huambo.

Kundi Paihama, um dos maiores especialistas de Eduardo dos Santos nesta matéria, não tardará a redescobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política, para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai para a cadeia, certamente comer farelo.

Tal como mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou ganha ou será o fim do mundo.

Além disso, nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por todo o país bandos armados que precisam de ser neutralizados.

Aliás, como também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar uns tantos dos seus “paihamas” para criar a confusão mais útil. E, como também todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA será culpada até prova em contrário.

Numa entrevista à LAC - Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, o então ministro da Defesa, Kundi Paihama, levantou a suspeita de que a UNITA mantinha armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo de voltar à guerra.

Kundi Paihama, ao seu melhor estilo, esclareceu, contudo, que os antigos militares do MPLA, "se têm armas", não é para "fazer mal a ninguém" mas sim "para ir à caça". Ora aí está. Tudo bons rapazes.

Quanto aos antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse que a conversa era outra e lembrou que mais cedo ou mais tarde vai ser preciso falar sobre este assunto. Se calhar é agora a altura.

Na entrevista à LAC, Kundi Paihama disse textualmente: "Ainda hoje se está a descobrir esconderijos de armas".

O regime reedita agora, obviamente numa versão acrescentada e melhorada, as linhas estratégicas do seu plano de 2008. Os protagonistas do regime, esses são os mesmo: Kundi Pahiama, Dino Matross, Bento Bento e Kwata Kanawa.

“A situação interna não transparece em bons augúrios para o MPLA, devido a várias manobras propagandísticas por parte dos partidos da oposição e de cidadãos independentes apostados em incriminar o Partido no Poder para fazer vingar as suas posições mercenárias junto da população civil e das chancelarias e comunidade internacional”, lia-se na versão de 2008.

Na de 2012 mantém-se o  conteúdo e só a embalagem muda qualquer coisa. Pouca coisa, aliás.

No terro está a onda propagandística sobre a UNITA e os seus dirigentes nos órgãos de comunicação social, relacionados com a descoberta de novos paióis de armamento nas províncias. Estão também os processos criminais conta William Tonet, Filomeno Vieira Lopes e Rafael Marques.

Para além da apertada vigilância sobre os dirigentes da cúpula da UNITA (incluindo escutas telefónicas), foram reactivadas as células-mortas de informadores no interior do Galo Negro, bem como as Brigadas Populares de Vigilância nos bairros de Luanda e nas capitais provinciais, às quais foi distribuído armamento ligeiro.

Afinal, na História recente (desde 1975) do regime angolano, nada se perde e tudo se transforma para que os mesmos continuem a ser donos do poder e, é claro, de Angola.

Dê lá uma ajudinha ao sogro!




O Governo português aprovou hoje a venda das acções representativas da totalidade do capital social da Atlântico - Pavilhão Multiusos de Lisboa, em conjunto com o Pavilhão Atlântico, ao agrupamento Arena Atlântico de Luís Montez, por 21,2 milhões de euros.

E como o cu nada tem a ver com as calças, Luís Montez tem, segundo relatos da imprensa ainda não domesticada, “pelo menos, 13 processos de execução pendentes e a sua empresa, Música no Coração, é considerada de “risco comercial elevado” e de “crédito não recomendado”.

A simbiose apenas mostra que, afinal, Portugal continua a dar provas ao mundo, como gosta de salientar o sogro de Luís Montez (ou seja, Cavaco Silva), de uma enorme credibilidade. Eu acrescentaria, honorabilidade, equidade, moralidade etc.

Em comunicado, o executivo de Passos Coelho refere que "a escolha do candidato à compra do Pavilhão Atlântico foi precedida de uma fase de negociações que teve como objectivo tornar as propostas apresentadas mais competitivas e, consequentemente, potenciar os fins delineados para a transacção".

O candidato vencedor destacou-se, de acordo com o executivo, em particular, pelo "maior preço e demais condições financeiras que permitem a maximização do encaixe financeiro".

O Governo fez saber que queria ver acautelado o carácter cultural do espaço, com "uma programação atractiva, variada e culturalmente relevante" e que continue a ser um "polo dinamizador da economia local e nacional".

O potencial comprador teria ainda de apresentar um plano de negócios para quatro anos que incluísse investimento, financiamento e acautelasse condições para os trabalhadores.

E como todos sabem, para além de ser um genro que até ajuda o sogro que tem uma parca reforma, Luís Montez é um impoluto empresário que, exactamente por isso, nunca aceitaria qualquer tratamento privilegiado por ser familiar de quem é.

Dois meses depois da nacionalização do banco, Luís Montez foi chamado ao BPN para pagar 260 mil euros de uma conta caucionada e de uma livrança. Já nessa altura, o empresário recusou em declarações à revista "Sábado" ter sido privilegiado. "Foi proposta à Música no Coração a transferência para um outro produto de modo a proceder à amortização do montante utilizado, o que foi aceite", referiu na altura Luis Montez.

Ainda em abono da credibilidade, diga-se, citando o Correio da Manhã, que o empresário (já tinha dito que é genro do Presidente da República, Cavaco Silva?) apresentou uma certidão passada pelo serviço de Finanças Lisboa-10, que refere que a empresa tem a sua situação tributária regularizada, mas a verdade é que na lista de processos activos consta uma dívida de 421 mil euros, a que acresce 66 mil euros de juros de mora e mais de três mil euros de custas.

Diga-se também que a empresa de Luís Montez aderiu ao Plano Mateus e que está a pagar várias dívidas fiscais do passado ao abrigo desse regime, “nunca tendo falhado uma prestação”.