O dia 31 de
Agosto está próximo. Os especialistas brasileiros contratados pelo regime
angolano dizem a Eduardo dos Santos que a vitória eleitoral não está garantida.
O MPLA fica nervoso e procura soluções radicais.
Em várias
províncias, nomeadamente Benguela e Kwanza Sul, a população começa a debandar
para as matas temendo, como dizem, o regresso da guerra.
Mas quem
fala em guerra? O próprio regime que está a movimentar as Forças Armadas
Angolanas (FAA) por todo o país, justificando com uma normal movimentação de
efectivos. A população não acredita. E é isso mesmo que o MPLA pretende.
Na capital
mas com repercussão nacional, Bento Bento, dirigente do MPLA pede aos
militantes do seu partido para que controlem "milimetricamente" todas
as acções da oposição, em especial da UNITA, para não serem
"surpreendidos".
De acordo
com o primeiro secretário de Luanda do MPLA, a oposição liderada pela UNITA
decidiu enveredar por "manifestações violentas e hostis, provocando vítimas,
inventando vítimas, incentivando a desobediência civil, greves e tumultos,
provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e
paus".
É caso para
dizer: Que bandidos são estes tipos da oposição. E então quando Bento Bento
descobrir que Alcides Sakala, Lukamba Gato, Isaías Samakuva e Abílio Camalata
Numa têm em casa um arsenal de Kalashnikov, mísseis Stinguer e Avenger, órgãos
Staline, katyushas, tanques Merkava e muito mais…
Diz Bento
Bento que a direcção do MPLA "tem dados da inteligência (informações) nas
suas mãos que apontam que a UNITA está prestes a levar a cabo um plano B".
Este plano
prevê, segundo os etílicos delírios de Bento Bento, "uma insurreição a nível nacional, tipo
Líbia, Egipto e Tunísia", sendo as províncias de Luanda, Huambo, Huíla,
Benguela e Uíge as visadas. Aí está o espírito da guerra, tão querido ao MPLA.
Sempre que
no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade
de alguma mudança, o regime dá logo
sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver a UNITA a
governar o país.
Para além do
domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o
MPLA aposta forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no
clima de terror e de intimidação.
No início de
2008, notícias de Angola diziam que, no Moxico, “indivíduos alegadamente
nativos criaram um corpo militar que diz lutar pela independência”.
Disparate?
Não, de modo algum. Aliás, um dia destes vamos ver por aí Kundi Paihama, como
agora fez Bento Bento, afirmar que todos aqueles que têm, tiveram, ou pensam
ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA.
E, na
ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime,
são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada, tão do agrado das
potências internacionais que incendeiam muitos países africanos, de que há o
perigo de terrorismo ou do regresso à guerra civil.
Se no
passado, pelo sim e pelo não, falaram de gente armada no Moxico, agora deverão
juntar o Bié ou o Huambo.
Kundi
Paihama, um dos maiores especialistas de Eduardo dos Santos nesta matéria, não
tardará a redescobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a
UNITA tem mais influência política, para além de já ter dito que quem falar
contra o MPLA vai para a cadeia, certamente comer farelo.
Tal como
mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às
enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou ganha ou será o fim
do mundo.
Além disso,
nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por
todo o país bandos armados que precisam de ser neutralizados.
Aliás, como
também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar
uns tantos dos seus “paihamas” para criar a confusão mais útil. E, como também
todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA será culpada até prova em contrário.
Numa entrevista
à LAC - Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, o então
ministro da Defesa, Kundi Paihama, levantou a suspeita de que a UNITA mantinha
armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo de voltar
à guerra.
Kundi Paihama,
ao seu melhor estilo, esclareceu, contudo, que os antigos militares do MPLA,
"se têm armas", não é para "fazer mal a ninguém" mas sim
"para ir à caça". Ora aí está. Tudo bons rapazes.
Quanto aos
antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse que a conversa era outra e
lembrou que mais cedo ou mais tarde vai ser preciso falar sobre este assunto.
Se calhar é agora a altura.
Na
entrevista à LAC, Kundi Paihama disse textualmente: "Ainda hoje se está a
descobrir esconderijos de armas".
O regime
reedita agora, obviamente numa versão acrescentada e melhorada, as linhas
estratégicas do seu plano de 2008. Os protagonistas do regime, esses são os
mesmo: Kundi Pahiama, Dino Matross, Bento Bento e Kwata Kanawa.
“A situação
interna não transparece em bons augúrios para o MPLA, devido a várias manobras
propagandísticas por parte dos partidos da oposição e de cidadãos independentes
apostados em incriminar o Partido no Poder para fazer vingar as suas posições
mercenárias junto da população civil e das chancelarias e comunidade
internacional”, lia-se na versão de 2008.
Na de 2012
mantém-se o conteúdo e só a embalagem
muda qualquer coisa. Pouca coisa, aliás.
No terro
está a onda propagandística sobre a UNITA e os seus dirigentes nos órgãos de
comunicação social, relacionados com a descoberta de novos paióis de armamento
nas províncias. Estão também os processos criminais conta William Tonet,
Filomeno Vieira Lopes e Rafael Marques.
Para além da
apertada vigilância sobre os dirigentes da cúpula da UNITA (incluindo escutas
telefónicas), foram reactivadas as células-mortas de informadores no interior
do Galo Negro, bem como as Brigadas Populares de Vigilância nos bairros de
Luanda e nas capitais provinciais, às quais foi distribuído armamento ligeiro.
Afinal, na
História recente (desde 1975) do regime angolano, nada se perde e tudo se
transforma para que os mesmos continuem a ser donos do poder e, é claro, de
Angola.