quinta-feira, maio 31, 2012
Toca a exportar espiões e relvas
Depois do
êxito daquela coisa a que chamam “Magalhães”, e de outras similares, creio que a
solução para a crise de Portugal passa por exportar espiões e relvas.
Se até há
países como Angola que compram limpa neves, creio que Portugal teria sucesso na
venda dos Silvas Carvalhos e Miguéis Relvas,
nem que para isso fosse necessário pôr a Fátima Campos Ferreira a fazer um
programa da RTP a partir de Luanda.
Recordo-me
das parangonas lusas quando, ao abrigo de um acordo bilateral assinado em
Lisboa no dia 6 de Maio de 2009, ficou estabelecido que Portugal ia exportar
para o Peru alguns dos programas de modernização do sistema de Justiça
adoptados nos últimos anos, como a Pulseira Electrónica, a Empresa na Hora ou
Citius.
E se já
nessa altura, então sob o pontificado de José Sócrates, a economia portuguesa
começava a ser salva, creio que com a venda – com carácter definitivo e sem
retorno – de espiões e relvas o país alcançaria o êxito total.
"São
experiências inovadoras que correm bem e que nós gostamos de partilhar com os
nossos amigos. E constantemente ouvimos referências a boas práticas e inovações
de outros países, o que permite um intercâmbio de vantagens recíprocas
asseguradas", afirmou na altura o ministro português da Justiça, Alberto
Costa, após a cerimónia de assinatura do memorando de entendimento para
cooperação com o Peru.
Pois. E se na
altura os portugueses não tinham razões para duvidar do sumo pontífice do Governo, José Sócrates, certamente que agora menos teriam com a descoberta destes novos nichos de mercado, onde espiões e relvas são um mero exemplo. Mero mas de
peso, acrescente-se.
Pela
República do Peru, o acordo foi então firmado pela ministra Rosário Figueroa,
que esteve em Lisboa para a reunião da Comissão Delegada da Conferência de
Ministros da Justiça dos Países Ibero-americanos, a que Portugal presidiu entre
2008 e 2010.
O documento
estabelecia a cooperação na constituição imediata de sociedades comerciais, em
atendimento presencial único, semelhante ao projecto “Empresa na Hora”, e
monitorização electrónica de condenados, como a “Vigilância Electrónica” usada
em Portugal.
É claro que,
no caso da venda de espiões e relvas, Portugal poderia incluir no pacote, como
bónus, também umas pulseiras electrónicas, mesmo dessas que os chineses vendem
por tuta-e-meia.
No acordo
com o Peru era igualmente incluído o modelo "Citius", de ferramentas
informáticas de trabalho para magistrados e funcionários judiciais e
formulários processuais e documentos electrónicos, visando a desmaterialização
de processos. Cá para mim seria também de incluir este modelo no pacote dos
espiões e relvas.
Como os
portugueses constatam, tudo o que fazia parte do pacote peruano são coisas que
funcionam às mil maravilhas nas ocidentais praias lusitanas a norte, embora
cada vez mais a sul, de Marrocos.
A UE não sabe o que diz e não diz o que sabe
A União
Europeia decidiu hoje reforçar as sanções contra o comando militar da
Guiné-Bissau, acrescentando 15 pessoas à lista de indivíduos proibidos de
entrar no espaço comunitário e sujeitos ao congelamento de bens na Europa.
Numa nota
divulgada em Bruxelas, o Conselho da UE indica que, face à gravidade da actual
situação na Guiné-Bissau, decidiu incluir na lista de medidas restritivas mais
15 pessoas que considera estarem a ameaçar a paz, a segurança e a estabilidade
no país, e cuja identidade será conhecida amanhã, quando a decisão hoje tomada
for publicada no Jornal Oficial da UE.
Como
habitualmente, a comunidade internacional (seja lá o que isso for) e sobretudo
a CPLP (que todos sabemos ser um montanha que nem um rato consegue parir) vira
o disco mas a música é sempre a mesma.
Tal como
agora, a UE entendeu que perante a morte do então presidente da República,
“Nino” Vieira, a Guiné-Bissau teria de voltar à estabilidade constitucional.
Seja qual for
a crise, a resposta é sempre a mesma. Não se cura a enfermidade mas apenas se
alivia a dor. Isto até que o doente pura e simplesmente... morra.
A tese é a
de que os guineenses podem ser alimentados com votos, com a ordem
constitucional, com o que a UE quer, que as crises se resolvem com votos e que
os votos são um milagroso remédio que cura todos os males.
O Ocidente,
e neste caso particular da Guiné-Bissau a Europa e sobretudo Portugal, sabe que
África teve, tem e continuará a ter uma História de autoritarismo que, aliás,
faz parte da sua própria cultura e que em nada preocupa os fazedores da
macro-política que se passeiam nos areópagos dos luxuosos hotéis do mundo.
Apesar
disso, teima-se em exportar a democracia “made in Ocidente”, sem ver que a
realidade africana é bem diferente. Vai daí, pela força dos votos os ditadores
chegam ao Poder, ficam eternamente no poder e em vez de servirem o povo,
servem-se dele. Ma como, supostamente, foram eleitos...
Mas será
isso democracia? Por que carga de chuva ninguém se lembra que, por exemplo, na
Guiné-Bissau as escolhas não são feitas com o cérebro mas com a barriga, ainda
por cima vazia?
Foi neste
contexto que “Nino” Vieira (tal como, entre muitos outros, José Eduardo dos
Santos e Robert Mugabe) chegou a presidente e, tal como o seu homólogo, mentor
e amigo angolano, por lá queria continuar com o beneplácito da tal Comunidade
de Países de Língua Portuguesa.
A estratégia
de “Nino” Vieira falhou, mas outras aí estão no terreno com inegável pujança e
com a histórica cobertura dos donos do poder em Portugal, na CPLP e no mundo.
Ninguém se
lembrou, apesar de saberem (até por experiência própria) que “Nino” Vieira (tal
como Eduardo dos Santos ou Robert Mugabe) era só por si uma enciclopédia de
corrupção. Ninguém quis ver que “Nino” foi o único histórico do país que
enriqueceu depois da independência, tornando-se o homem mais rico de um país
miserável.
“Nino”
vendeu e comprou as melhores empresas do país (Armazéns de Povo, Socomin,
Dicol, Titina Sila, Cumeré, Blufo, Bambi, Volvo, Oxigénio e Acetileno, etc.,
etc.), tornando-se sócio do então presidente Lassana Conté, da Guiné-Conakry,
para melhor traficar, entre outras riquezas, os diamantes da Serra Leoa.
Que
conclusões terá tirado a CPLP e Portugal quando Carlos Gomes Junior, primeiro-ministro
exilado, disse que “era impossível coabitar com Nino Vieira que não passava de
um bandido e de um mercenário que traiu o povo"?
Que
conclusões terá tirado a CPLP e Portugal ao saber que, tal como se passou nas
eleições angolanas, também “Nino” conseguiu em alguns círculos ter mais votos
do que eleitores registados?
Pelos vistos
à UE, à CPLP e a Portugal apenas interessa que se vote, nem que para isso se
chamem os mortos, tal como vai de novo acontecer em Angola no dia 31 de Agosto.
Se os votos
foram comprados, isso pouco interessa. Se os guineenses votam em função da
barriga vazia e não de uma consciente opção política, isso pouco interessa.
Para quem
vive bem, para quem tem pelo menos três refeições por dia, o importante foi e
será que os guineenses votem. Não importa o que aconteceu antes, o que está a
acontecer agora e que voltará a acontecer um dia destes.
Não será,
aliás, difícil antever que o sangue do povo guineense voltará a correr. Mas o
que é que isso importa? O que importa é terem votado...
Ter carácter para prestigiar os cargos públicos já é um artefacto de... museu
Por regra, o
que me parece uma qualidade, Belmiro de Azevedo tem o coração ao pé da boca. Diz
o que pensa, mesmo sabendo que essa é a melhor forma de arranjar inimigos. Mas
também é para esse lado que ele dorme melhor.
Hoje o “tio”
Belmiro considerou que Portugal perdeu uma geração "excelente" de
representantes do Estado e membros da Assembleia da República que tinham uma
vida "conhecida e apenas o desejo" de prestigiar os cargos.
E trocou por
miúdos, mesmo sem desconto em cartão: "Hoje a maioria da Assembleia da
República é outro tipo completamente diferente. As pessoas falam apenas para as
plateias".
Na opinião
de Belmiro de Azevedo, a primeira Assembleia da República "é irrepetível,
pois era composta por pessoas que tinham uma vida muito conhecida e que não
tinham outro desejo que não fosse o de prestigiar os cargos".
Dizem os
jornalistas que o ouviram, que o presidente da Sonae escusou-se a definir os actuais
representantes do Estado ou os membros da Assembleia da República. Nem era
preciso. Para essa definição, mesmo sem ser por via do “jornalismo interpretativo”,
basta levar em conta que os avoengos da espécie que hoje está no poder “não
tinham outro desejo que não fosse o de prestigiar os cargos”.
Entre muitas
outras coisas, recordo-me que Belmiro de Azevedo afirmou no dia 22 de Maio de
2009 que "estar empregado deve satisfazer praticamente toda a gente neste
momento" e garantiu que "não há emprego para quem quer estar a passar
os fins-de-semana com os pés na água".
Tinha e tem
completa razão. Tal como tinha quando afirmou que "um subalterno tem o
dever de questionar uma ordem do chefe e, se for o caso, dizer-lhe que não é
suficientemente competente".
Falando no
Porto à margem da cerimónia em que foi agraciado com o grau de doutor Honoris
Causa pela Universidade do Porto, Belmiro de Azevedo admitiu que os
trabalhadores não têm que "aceitar tudo", mas salientou que
"também não podem manter reivindicações quando não há nada para
reivindicar e ninguém para pagar".
"Se
fechar a empresa o que é que vão fazer? Deve haver uma mudança no
relacionamento entre sindicatos e empregadores. Há emprego onde for possível
estar empregado, não há emprego para quem quer estar a passar os fins-de-semana
com os pés na água", disse.
Segundo o
"patrão" da Sonae, "nos países que têm uma relação com os
trabalhadores muito mais transparente, agressiva e pró-desenvolvimento, as
pessoas mexem-se mais depressa e a economia começa a trabalhar mais
depressa".
Deve ser por
isso que a velocidade em Portugal é devagar, parado ou em marcha atrás.
"Nos
países como Portugal e os nórdicos, onde as pessoas têm um discurso muito
concentrado nos direitos adquiridos, qualquer dia estão agarradas a um caco
muito pequenino no meio do mar e vão ao fundo com o caco", alertou.
Para
Belmiro, "o direito ao emprego deve existir, mas é preciso ser empregado e
é preciso que o empregador exista também. Se o empregador desaparece o barco
vai ao fundo".
No que diz
respeito à Sonae, o empresário diz que não tem "praticamente" havido
despedimentos porque o grupo "cresceu muito", mas admitiu que,
"se acabar o crescimento ou reduzir a procura, o emprego tem que estar
ajustado à actividade económica".
"Mas em
Portugal ainda estamos a conseguir, mesmo quando há uma pequena empresa que
deixa de ser competitiva, recolocar essas pessoas noutras áreas da Sonae ou até
em nossos clientes", acrescentou.
Se calhar
foi graças a essa tese de que “um subalterno tem o dever de questionar uma
ordem do chefe e, se for o caso, dizer-lhe que não é suficientemente
competente”, que Belmiro construiu o seu império.
Belmiro
sabia que um chefe não é só o que manda - é sobretudo o que dá o exemplo. Sabia
que a crítica não significa desobediência. Sabia que tinha de se rodear de
massa crítica, pois para dizer sempre que “sim” bastava-lhe a própria sombra.
Ora, tal
como a Assembleia da República, o Governo português está cheio de “sombras”. E
está este como estão as associação empresariais, os sindicatos, o PS, o PSD, o
CDS/PP e os organismos (sobretudo fundações, institutos e similares) criados
para dar emprego a ex-políticos e candidatos a políticos.
“Sombras”
que vivem religiosamente à custa das bênçãos, das cunhas, e dos padrinhos que,
por regra, já chegaram a chefes do estado maior.
Com um país
assim, onde são (quase) sempre os mesmos a ter acesso ao poder, sendo todos os
outros relegados para fora de jogo, só há duas possibilidades: ter ideias e ser
marginalizado ou, agora, ser sombra e filiar-se no PSD (excepcionalmente também
no CSD/PP).
Mais dia
menos dia o tacho irá sorrir.
Legenda:
Mais uma foto histórica (na idade). Uma entrevista a Belmiro de Azevedo
publicada no extinto Jornal de Notícias (não confundir com a versão azul do
Correio da Manhã).
quarta-feira, maio 30, 2012
Sindicato dos Jornalistas faz o que pode. Mas quem, de facto, manda são os donos do reino
O Sindicato
dos Jornalistas (SJ) portugueses considera “repugnante” e “própria da PIDE-DGS”
a espionagem ao jornalista Ricardo Costa e exige (julgando que está num Estado
de Direito) aos poderes constitucionalmente constituídos o apuramento de
responsabilidades e a tomada de medidas.
Em
comunicado divulgado hoje, o SJ lembra os mais recentes casos relacionados com
as 'secretas' – um alegado “relatório” sobre Francisco Balsemão, as alegadas
ameaças de revelação de dados da vida privada da jornalista Maria José Oliveira
(“Público”), e a espionagem às comunicações do jornalista Nuno Simas (então ao
serviço do “Público”) –, que no seu entender mostram que os “jornalistas não
podem estar tranquilos”.
É claro que os
jornalistas podem e devem estar tranquilos. Então agora que, com o apoio da
maçonaria, há cirurgias capazes de remover a coluna vertebral, só têm de comer
e calar. Nada mais do que isso é pedido pelos donos dos jornalistas que, por
sua vez, cumprem os pedidos dos seus donos.
O bispo de
Viseu, D. Ilídio Leandro, sem que daí tenham resultado consequências ou
reacções por parte do SJ (ou de qualquer outro organismo existente para fazer
Portugal parecer uma democracia), afirmou em Maio de 2009, a propósito do Dia
Mundial das Comunicações Sociais, que “há muitos jornalistas que estão ao
serviço do director e não da verdade”.
O bispo
deveria ter acrescentado que, por sua vez, os directores estão ao serviço dos
patrões (políticos e ou económicos) e não da verdade. Embora a verdade seja o
que menos importa no putrefacto reino lusitano.
As declarações
do bispo de Viseu foram graves mas, como sempre, ficaram no silêncio
inconsequente da própria santa paz de... Deus. O “jornalismo” em Portugal
atingiu em alguns casos um tal estado de descrédito que já ninguém se preocupa.
Num sistema de vale tudo, pouco importa se o jornalismo virou propaganda e
apenas é mais uma linha de enchimento comercial, ditada do largo do Rato ou da
Lapa.
Aliás, a
situação descrita pelo bispo não era já nessa altura nova, embora se tenha
agravado com o advento da “ditadura” democrática do governo socialista de José
Sócrates e seguida por Pedro Miguel Passos Relvas Coelho. Em alguns círculos,
nomeadamente em blogues de jornalistas, o assunto tem sido passado a pente
fino, embora – reconheço – sem resultados práticos.
É portanto uma
situação que não só vai continuar como vai agravar-se e até mesmo algumas vozes
sonantes, como a do bispo de Viseu, tenderão a calar-se porque ninguém gosta de
pregar no deserto. Além disso, mesmo dentro da classe dos jornalistas, a
tendência é passar a pensar com a barriga, o que significa que para sobreviver
o melhor é comer e calar.
Na maioria
dos casos a liberdade de imprensa já foi à vida, dir-se-ia que – como no tempo
de Salazar - a bem da Nação. E, ao que parece, ninguém repara que a própria
democracia está inquinada e pode finar-se a qualquer momento.
Para além de
terem de comer o que lhe querem dar e calar para manter o emprego, os
jornalistas estão a ser transformados em meros autómatos produtores de textos
de linha branca aos quais as empresas apenas colam o rótulo que mais
conveniente for.
Tudo isto significa
vender gato por qualquer coisa que dê dinheiro, seja lebre, canguru, preguiça
ou até mesmo… coelho. É, aliás, uma forma de pôr os jornalistas ao serviço da
“verdade” oficial ditada nas “offshores” da manipulação das massas.
Os órgãos de
soberania não podem fazer nada? Poder, podiam... mas não era a mesma coisa.
Nada fazem porque este é o modelo de “informação” que querem. É o modelo que em
vez de dar voz a quem a não tem, amplia a voz dos que têm acesso a tudo. É o
modelo que em vez de lutar pelos milhões que têm pouco ou nada, luta pelos
poucos que têm milhões. É, portanto, um modelo feito à medida e por medida.
A solução não passa por Portugal mudar de povo.
Mas tenho a certeza de que passa por Portugal mudar de políticos. Assim os
portugueses tenham, e não há garantias que tenham, tomates para o fazer.
Mudar só os
políticos? Não. Há também muitos empresários que deveriam ser apenas trolhas (sem
ofensa para estes) e muitos supostos jornalistas que ocupam cargos de direcção
e chefia que deveriam aprender a contar até 12 sem terem de se descalçar.
O Ocidente vende as armas, os africanos matam-se e o TPI condena os... africanos!
Enquanto
existir carne negra para morrer e riquezas para roubar, os países ditos
civilizados lá estarão prontos para vender arsenais em nome da… justiça.
O antigo
Presidente da Libéria, Charles Taylor, foi hoje condenado a 50 anos de prisão
pelo Tribunal especial das Nações Unidas para a Serra Leoa, pelos crimes
cometidos na guerra civil de 1991-2002, descritos pelo juiz na leitura da
sentença como “os mais abomináveis” na história da humanidade.
Taylor, que
insiste estar inocente, fora dado como culpado no mês passado, numa decisão
judicial histórica, em 11 acusações de uma série de crimes de guerra – de
violações a assassínios ao uso de soldados crianças – devido ao apoio que deu
aos rebeldes da Frente Revolucionária na Serra Leoa durante a guerra civil em
que morreram dezenas de milhares de pessoas.
É o primeiro
antigo chefe de Estado a ser condenado por crimes de guerra num tribunal
internacional desde os julgamentos de Nuremberga, no pós II Guerra Mundial.
Os
procuradores pediam uma sentença de 80 anos de prisão, que reflectisse “a
gravidade dos crimes” cometidos e o “papel principal” que Taylor teve,
argumentando ainda que a idade e débil estado de saúde do arguido não deveriam
ser considerados como factores na tomada de decisão da sentença por parte dos
juízes.
A defesa
argumentou por seu lado que aquele termo de prisão era “manifestamente
desproporcionado e excessivo” e que o tribunal concluíra apenas na culpa do
ex-Presidente num “papel indirecto”, o de ajudar os rebeldes e não na sua
liderança.
Os
observadores têm como muito provável que Taylor recorra desta sentença, dando
azo a um processo que pode durar até seis meses. Caso a sentença emitida pelo Tribunal
Penal Internacional (TPI) em Haia seja confirmada, o ex-Presidente liberiano
deverá cumprir a pena no Reino Unido – a condição posta pelo Governo holandês
para que Taylor fosse julgado neste país e não na Serra Leoa, onde se temia que
um tal julgamento desestabilizasse a região.
Segundo
dados do Instituto de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (Sipri), o comércio
internacional de armas aumentou 24% nos últimos cinco anos. Pois é. O TPI julga
(alguns) criminosos de guerra que, embora não sendo fabricantes de armas, lhe
dão o uso para que elas foram feitas.
E se os
maiores exportadores mundiais são os EUA, a Rússia, a Alemanha, a França e
Grã-Bretanha, não deveriam estes países serem igualmente julgados pelo TPI?
De acordo
com o levantamento, o comércio de armas aumentou 24% entre 2007 e 2011,
sobretudo devido à crescente militarização dos países asiáticos.
A Índia
tornou-se o maior importador de armas do mundo (representa 10% do comércio
mundial), seguida de Coreia do Sul, Paquistão, China e Singapura.
Segundo os
autores do estudo, a Índia ultrapassou a China como maior comprador graças em
grande parte ao facto de a indústria bélica chinesa ter crescido muito nos
últimos cinco anos.
Um outro
estudo divulgado por um centro de estudos de Londres indicava que os gastos
militares asiáticos superarão os europeus pela primeira vez em 2012.
Stephanie
Blencker, da Sipri, afirmou que a China está prestes a integrar o grupo dos
cinco maiores vendedores de armas do mundo, sobretudo devido às suas vendas ao
Paquistão.
Por outro
lado, o coronel Theoneste Bagosora, acusado de ser o "cérebro" do genocídio
ruandês de 1994, que causou mais de 800.000 mortos, foi condenado no dia 18 de
Dezembro de 2008 a prisão perpétua pelo TPI para o Ruanda.
Acho muito
bem, apesar de a justiça teimar (quando teima, e teima poucas vezes) em actuar
à posteriori e não como meio profiláctico. É que, digo eu, para os milhares de
mortos já nada adianta a prisão de Theoneste Bagosora ou de Charles Taylor.
Nenhum destes
(e de muitos outros) criminosos fabrica armas. Elas vão lá parar, a troco de
petróleo ou de diamantes, enviadas pelo Ocidente que é onde elas se fabricam.
Aliás, se Omar al-Bashir ou Thomas Lubanga, por exemplo, não existissem teriam
de ser fabricados para que a indústria de armamento, que não é africana,
pudesse continuar a ter lucros fabulosos.
O TPI
considerou que Theoneste Bagosora foi o principal instigador do genocídio
ruandês que, em 100 dias, vitimou mais de 800.000 pessoas. E, enquanto o TPI se
entretém a fazer esta justiça (sem dúvida importante), outros genocídios
continuam a acontecer, sem que se tomem medidas profilácticas.
Por cada
genocídio que acabe, outro tem necessariamente de nascer. É disso, ou também
disso, que vivem os países mais ricos do mundo. Com a diferença que os
criminosos dão a cara, enquanto os instigadores e municiadores se acobardam nos
areópagos da alta política ocidental.
Outros dois
oficiais do exército ruandês foram condenados à mesma pena, igualmente por
genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade. "O tribunal condena
Bagosora, Aloys Ntabakuze, Anatole Nsengiyumva a prisão perpétua", afirmou
na altura o presidente norueguês do tribunal, Erik Mose.
E então os
outros? Os europeus, os norte-americanos e os russos não deveriam também ser
condenados?
Foi feita
justiça? Foi, com certeza. E, portanto, todos podem dormir descansados até aos
próximos julgamentos. É que, com tanta hipocrisia internacional, não vão faltar
casos para julgar e – é claro – milhões de vítimas para somar ao rol dos que
não contam para nada. Veja-se, por exemplo, o caso da Síria.
De acordo
com a acusação, Bogosora anunciou em 1993, ao fechar a porta a negociações com
os rebeldes tutsis da Frente Patriótica ruandesa, que ia regressar ao país para
"preparar o apocalipse", ou seja, o genocídio.
Hoje todos
sabem que há outros generais a "preparar o apocalipse" mas, apesar
disso, estão caladinhos. Lá vão vendendo as armas, trazendo petróleo e
diamantes e depois reclamam justiça e decretam umas prisões perpétuas.
Enquanto
existir carne negra para morrer e riquezas para roubar, os países ditos
civilizados lá estarão prontos para vender arsenais em nome da… justiça.
terça-feira, maio 29, 2012
Porra! De novo a mulher da limpeza?
O director
do Expresso, Ricardo Costa, disse hoje que quer saber quem ordenou um relatório sobre
a sua vida profissional e pessoal e espera que essa resposta seja dada "ao
mais alto nível".
Vai esperar
sentado, como é óbvio. Aliás, ele sabe que é mesmo assim. O máximo que se
conseguirá saber é que a culpa volta a ser da dona Maria – a mulher da limpeza.
O Expresso
'online' noticiou hoje que o antigo director do Serviço de Informações
Estratégicas de Defesa (SIED) e ex-administrador do grupo Ongoing, Jorge Silva
Carvalho, tinha um relatório detalhado sobre a vida do director do semanário.
Trabalhando
em série, como parece ser a vocação dos mais recentes espiões made in Portugal,
é provável que Jorge Silva Carvalho, este ou outro qualquer do mesmo jaez, para
lá tenha informações sobre muitos outros jornalistas da praça.
E como
espião prevenido vale mais algumas coisa, os directores e similares que iam ao
beija-mão do anterior sumo pontífice socialista, José Sócrates, que se cuidem. Enquanto
jornalistas venderam a alma e, por isso, sujeitam-se a que a história tenha
novos capítulos.
"O
documento, a que o Expresso teve acesso, tem 16 páginas e contém informação
pormenorizada sobre aspectos pessoais e profissionais de Ricardo Costa,
incluindo relações afectivas, nomes, idades e escolas frequentadas pelos filhos
menores, uma análise do seu perfil e dos seus aliados e adversários, bem como
um historial desde os seus tempos do liceu", refere o semanário.
Convenhamos
que estes supostos discípulos de Silva Pais parecem, de facto, querer honrar as
técnicas e estratégias da PIDE/DGS. Tal como Rosa Casaco, estes novos espiões
não olham a meios para atingir os seus fins, os fins de uma ambição desmedida
onde vale tudo… até mesmo tirar olhos.
"Não
sei se o secretário-geral dos Serviços de Informação da República tem a noção
de que estas coisas são feitas sobre os jornalistas", comentou o director
do Expresso.
Para eles,
se calhar bem mais do que a PIDE, os jornalistas nada significam, a liberdade
nada significa, a democracia menos ainda. Eles, com a necessária ajuda (mesmo
que passiva) dos políticos, apenas querem ser co-proprietários do reino.
Aliás, numa
altura em que se conhecem mais ou menos quem são os donos dos jornalistas mas,
pelo contrário, se desconhece quem são os donos dos donos, importa dizer que
por via maçónica, partidária, homossexual ou outra, muitos desses supostos
jornalistas chegaram a cargos de topo sem saberem ler nem escrever. Portanto…
Em segundo
lugar, acrescenta Ricardo Costa, "não faz sentido que os jornalistas
sintam que, de alguma forma, estão eventualmente a ser espiados por autoridades
públicas, ainda muito menos quando depois esses serviços têm relações com
interesses privados mais ou menos obscuros".
De uma coisa todos podem estar certos. Não são
muitos os jornalistas espiados. E não são porque esse tipo de espionagem só é
necessária quando os jornalistas têm coluna vertebral e tomates. E como o
Ricardo Costa sabe, são cada vez menos os que se podem gabar disso.
Se os
jornalistas portugueses se limitasses, a bem da nação, a fazer o que o poder
político e seus lacaios querem, ou seja a reproduzir as ordens, dando tudo (muitos já nem usam vaselina, tal é a
prática) o que têm para agradar ao chefe,
evitassem contar até 12… para não terem
de se descalçar, nenhum espião estaria interessado neles.
Mas como
muitos deles, mais do que serem jornalistas, querem é ser directores, lá andam
com uma mão à frente e outra atrás, com frascos de vaselina no bolso, a mendigar
de joelhos, de cócoras ou na horizontal. E quando lá chegam, mesmo quando muda
o chefe do posto, não podem ter ambições que vão além de sipaio.
segunda-feira, maio 28, 2012
Não é por ser 28 de Maio…
O Conselho Deontológico (CD) do Sindicato dos
Jornalistas portugueses está preocupado com a sucessão de casos que “indiciam o
recurso a pressões sobre jornalistas, tendentes a condicionar o exercício da
liberdade de expressão e a autonomia e independência dos profissionais da
comunicação social”.
Tanto quanto sei, seja isto “jornalismo
interpretativo” ou outra coisa qualquer, a situação não é nova e atravessa toda
a democracia(?) portuguesa, embora mais visível nos últimos anos.
Em comunicado divulgado hoje, 28 de Maio (nem de propósito!), o CD reporta-se –
certamente por uma questão de actualidade e não por falta de memória - à
denúncia feita pelo Conselho de Redacção do jornal “Público” de “alegadas
pressões exercidas pelo ministro Miguel Relvas”, bem como a apresentada pelo
Conselho de Redacção da RTP-Açores contra a “atitude intempestiva do secretário
Regional, José Contente, que interferiu no trabalho da jornalista que fazia a
cobertura noticiosa dos estragos causados pelo mau tempo na zona da Bretanha,
ilha de São Miguel”.
É o seguinte o texto, na íntegra, do comunicado do Conselho Deontológico:
É o seguinte o texto, na íntegra, do comunicado do Conselho Deontológico:
“O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas manifesta
preocupação pela sucessão de casos que indiciam o recurso a pressões sobre
jornalistas, tendentes a condicionar o exercício da liberdade de expressão e a
autonomia e independência dos profissionais da comunicação social.
Declarações e comentários produzidos a propósito dos casos mais recentes
permitem supor que algumas dessas práticas constituem instrumentos de
condicionamento continuado e utilizado de forma generalizada pelo poder
político e económico. Muitas dessas atitudes podem configurar situações de
assédio moral.
O Conselho Deontológico manifesta igual preocupação pelas acusações que atentam
contra a dignidade profissional dos jornalistas. Traduzem-se na criação da
percepção de que as relações dos jornalistas com as fontes de informação são
pautadas por conveniências políticas ou outras e, por troca de favores, em
clara violação de princípios éticos e deontológicos e da derrogação do seu
primado e aspiração à prestação de um serviço público.
O Conselho de Redacção do jornal Público denunciou alegadas pressões exercidas
pelo ministro Miguel Relvas, que se traduzem numa grosseira ameaça aos direitos
constitucionais dos jornalistas. A actuação denunciada pelo Conselho de
Redacção e confirmada pela direcção do jornal evidencia um comportamento
arrogante e uma falta de cultura democrática da maior gravidade. O ministro não
se limitou a enunciar pressões sobre o jornal, como ameaçou divulgar dados da
vida privada da jornalista que o interpelou.
Também o Conselho de Redacção da RTP-Açores denunciou a atitude intempestiva do
secretário Regional José Contente que interferiu no trabalho da jornalista que
fazia a cobertura noticiosa dos estragos causados pelo mau tempo na zona da
Bretanha, ilha de São Miguel. Permitiu-se coercitivamente agarrar a jornalista
pelo braço que segurava o microfone para impor as declarações que não lhe foram
solicitadas.
A exposição pública destes factos suscitou reacções díspares e contraditórias.
Em qualquer dos casos, os governantes cuja actuação foi denunciada pelos
Conselhos de Redacção negaram as práticas imputadas. A posição de Miguel Relvas
assumiu já diferentes cambiantes. A justificação mais mistificadora consiste na
sua assumpção do papel de vítima, ao ser, como o alega, pressionado pela
jornalista para responder a uma pergunta no prazo de 32 minutos. Além da
inconsistência argumentativa, confunde o ciclo da organização do trabalho com
uma pressão.
O Conselho Deontológico reprova as pressões e ameaças do ministro Miguel
Relvas, exercidas contra a jornalista do Público e o jornal, bem como a atitude
do secretário José Contente tomada contra a jornalista da RTP-Açores. Estas
atitudes são atentatórias da liberdade de expressão e de imprensa.
O Conselho Deontológico regozija-se pela decisão dos Conselhos de Redacção de
denunciarem as ofensas aos seus direitos, tal como estabelece o número 3 do
Código Deontológico do Jornalista. E reitera a necessidade de os jornalistas
reforçarem a sua organização nas redacções. Os Conselhos de Redacção constituem
um mecanismo fundamental para assegurar a qualidade do jornalismo e para
garantir o juízo ético-deontológico nas redacções.”
Só de vez em quando o narcotráfico parece preocupar os donos da ONU, da UE e da CPLP
Pelos vistos
as autoridades portuguesas, bem como a Europa, só agora descobriram que o
narcotráfico está a ameaçar a existência de alguns países africanos,
nomeadamente lusófonos.
Das duas
uma. Ou andam a dormir na forma, o que não seria novidade, ou beneficiam dessa
situação. Só assim se compreende o silêncio, a inépcia e a constante cobardia
de que fazem uso.
A
instabilidade sócio-política nos países da África Ocidental está a deixá-los à
mercê de narcotraficantes e de "extremismos", incluindo o terrorismo
islâmico, tornando-se uma ameaça sobretudo para Europa, o que exige a intervenção da comunidade
internacional.
Esta tese
foi defendida pelos investigadores Victor Ângelo e Rui Flores, então técnicos
da ONU, num estudo publicado pelo Instituto Português de Relações
Internacionais da Universidade Nova de Lisboa em Agosto de… 2007.
No estudo
"A Mistura Explosiva da Expansão Demográfica, Desemprego e Narcotráfico na
África Ocidental", os dois investigadores salientam que a actual explosão
demográfica - a população da região deverá aumentar 100 milhões de pessoas ao
ano até 2020 - não está a ser acompanhado pelo crescimento económico e criação
de emprego, "levando a que os jovens não tenham perspectivas de
futuro" e vivam na pobreza.
"Esta
quadro demográfico, social e económico é propício ao desenvolvimento de
extremismos, sejam do tipo terrorista, como a Al-Qaida, ou de outros, que têm
na juventude um exército de reserva radical à espera de um líder", referem
os investigadores.
"Pressionados
pelo desemprego e pela fome, pessimistas em relação às perspectivas de futuro,
[os jovens] vêem na adesão a um grupo paramilitar ou integrista ou numa viagem
sem fim a sua única saída - e por isso desaguam todas as semanas centenas de
imigrantes ilegais nas costas das Canárias ou no Sul de Espanha, em Malta ou na
`bota´ italiana", adiantam.
Entre os 15
países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) estão
dois Estados lusófonos: Cabo Verde e a Guiné-Bissau.
Do grupo
fazem ainda parte Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné,
Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo. Destes países,
apenas Cabo Verde, Gana e Senegal não sofreram golpes de Estado nas últimas
décadas, e 12 deles estão no grupo dos 31 Estados mais pobres do mundo, no
índice de desenvolvimento das Nações Unidas.
Victor
Ângelo e Rui Flores salientam ainda a ineficiência da generalidade dos Estados,
que se encontram minados pelo "vírus da corrupção", visível no
"funcionário público que recebe dinheiro por baixo da mesa" ao
"alto governante, que garante para si uma percentagem de um qualquer
contrato estabelecido pelo Estado, e uma companhia que também se apropria de
recursos provenientes da cooperação internacional".
A causa,
defendem, está na legislação "opaca, de difícil compreensão e
aplicação", muitas vezes copiada "sem qualquer consideração pelos
contextos histórico-sociais de cada país", mas também por o Estado
"pagar pouco e a más horas", de que é exemplo a Guiné-Bissau.
Tudo isto,
afirmam os dois investigadores, torna estes países particularmente vulneráveis
à criminalidade organizada e, em particular, ao narcotráfico, que faz de países
como a Guiné-Bissau plataformas giratórias nas rotas internacionais da droga,
entre a América do Sul e a Europa.
"Há uma
mistura explosiva que pode fazer da África Ocidental uma espécie de `cocktail
molotov´ de dimensão regional, cujos danos afectarão sobremaneira a União
Europeia. Os seus efeitos, aliás, já começaram a fazer-se sentir".
"Este
aumento exponencial no tráfico de droga na região deve-se não só à fragilidade
dos Estados, mas ao facto de o negócio dos estupefacientes ser extremamente
lucrativo, em particular o tráfico de cocaína e heroína", referem Victor Ângelo
e Rui Flores.
A título de
exemplo, referiam nesse estudo de 2007 que na Guiné-Bissau a apreensão de 635
quilos de cocaína em Abril valeria a 8,5 milhões de euros no mercado da região;
vendida em Espanha, a droga geraria um lucro de 11 milhões de euros, valor que
equivale a 20 por cento do total da ajuda internacional da Guiné-Bissau, 14 por
cento de todas as exportações do país e quase quatro vezes o total do
investimento internacional directo no país.
"A
disponibilidade crescente de cocaína na região levou ao estabelecimento de
armazéns por toda a costa, o que veio facilitar o aumento do tráfico feito por
locais e a existência de redes estruturadas, capazes de adquirir e redistribuir
centenas de quilos", adiantam.
Os dois
investigadores salientam ainda que o problema "não é apenas a ausência de
meios", mas também "uma certa relutância crónica do poder político
tomar medidas que combatam eficazmente o tráfico".
"É
neste cenário que surgem os narco-estados. Afinal, há quem veja a associação
aos grupos de crime organizado apenas como uma tentativa de assegurar um modo
de sustentar a sua família", dizem.
Para atacar
este problema, "que tem todas as condições para pôr em risco a
estabilidade internacional", os investigadores sugerem a assistência da
comunidade internacional, visando mais cooperação policial e o fortalecimento
das instituições nacionais, com a reforma da segurança a merecer especial
atenção, sobretudo quando se adensam suspeitas sobre o envolvimento de militares
e de agentes da segurança no narcotráfico".
O problema,
adiantam, exige ainda medidas para diminuir o impacto da explosão demográfica e
do desemprego, e a revisão das políticas da União Europeia, de imigração e
inclusivamente aduaneiras , "deixando cair medidas proteccionistas, para
permitir que outras regiões se desenvolvam e consigam entrar com os seus
produtos, em moldes competitivos, na Europa".
A concluir,
apontam a necessidade da comunidade internacional e as Nações Unidas definirem
o narcotráfico como crime contra a Humanidade, entendimento que, assumem,
"poderá não ser fácil de conseguir".
domingo, maio 27, 2012
“A bufaria” de (quase) todos!
O bastonário
da Ordem dos Advogados de Portugal considera que a alegada investigação da vida
privada de Francisco Pinto Balsemão, presidente da Impresa, por Jorge Silva
Carvalho é “um atentado gravíssimo” à democracia, que deve ser “investigado até
às últimas consequências”.
A
despropósito, ou talvez não, deixem-me tomar como análise o texto de opinião
(“A bufaria”) que Marinho e Pinto publicou em Fevereiro de 2010 no JN.
“O caso
Mário Crespo não é um problema de liberdade de informação, mas (mais) um
sintoma da degradação a que chegou a comunicação social”.
Ao contrário
do que afirma Marinho e Pinto, o caso Mário Crespo (um dos muitos da praça
portuguesa) é mesmo um exemplo de falta de liberdade de opinião, embora o autor
lhe chame de informação em abono da tese que pretende levar a cabo.
E essa tese
é a da degradação da comunicação social que, reconheça-se, existe. É claro que
quando a degradação serve para as causas de alguns advogados, chama-se
informação. E é pena que as coisas mudem de nome consoante os interesses em
jogo.
“Uma
conversa privada do primeiro-ministro, num restaurante, sobre um jornalista que
há anos o critica publicamente, é prontamente denunciada ao visado que logo
tenta criar um escândalo político.”
Essa de as
figuras públicas terem em locais públicos conversas privadas só lembraria ao
advogado Marinho e Pinto, embora não lembrassem ao jornalista (que foi) Marinho
e Pinto.
É mais ou
menos como os políticos que se deslocam pelo país com a mordomias da função mas
que, quando apanhados em alguma situação menos regular, se apressam a dizer que
ali estão como cidadãos e não como políticos.
“Sublinhe-se
que ambos são figuras públicas com direito a terem, uma da outra, as opiniões
que entenderem. Apenas com um senão: nem José Sócrates poderá usar os seus
poderes de primeiro-ministro para perseguir o jornalista Mário Crespo, nem este
deverá usar os meios de que dispõe como jornalista para perseguir o
primeiro-ministro.”
Ao contrário
do que agora defende Marinho e Pinto, qualquer primeiro-ministro tem
compromissos diferentes dos jornalistas. A estes o mais sagrado dos seus
compromissos é com o que pensam ser a verdade, sobretudo (mas não só) quando em
questão estão figuras públicas que devem ser paradigmas de honorabilidade.
Eu sei que
quando um jornalista revela algo que desagrada ao poder isso é perseguição.
Quando é o poder que revela algo contra o jornalista, isso é moralização da
vida pública. Mas mesmo assim…
“Porém, os
jornalistas, em geral, julgam-se no direito de publicar as opiniões que
quiserem (por mais ofensivas que sejam) sobre os governantes (mesmo violando as
regras éticas do jornalismo), porque entendem que isso é direito de informar.
Mas se os visados emitirem a mais leve opinião sobre esses jornalistas isso é
um ataque à liberdade de informação.”
Tirando a
linguagem panfletária de Marinho e Pinto (é o seu estilo e, por isso,
respeitável), importa dizer que as opiniões, sejam do bastonário da Ordem dos
Advogados, do jornalista ou do arrumador de carros, não se regem por regras
éticas inerentes a cada uma das profissões. São opiniões pessoais e ponto
final.
“O
jornalismo português tem vindo a degradar-se por falta de referências éticas.
Hoje, tudo vale para obter informações, incluindo o recurso a “bufos”. Nos
tempos do Estado Novo usava-se esse termo para designar as pessoas que davam
informações à polícia política sem que ninguém desconfiasse delas. Geralmente
eram até da confiança das vítimas. Faziam delação às escondidas, por dinheiro
ou simplesmente para tramar os visados. Agora continua-se a denunciar pessoas a
quem as possa tramar. Os “bufos” são os informadores privilegiados dessa nova
polícia de costumes em que se transformaram certos órgãos de informação de
Lisboa.”
Aqui fiquei
mais descansado. Ao que parece, segundo Marinho e Pinto, os “bufos” (mesmo que
entre aspas) só trabalham com certos órgãos de informação de Lisboa. Presumo
que todos os outros estejam fora desse saco.
É verdade
que ao jornalismo faltam referências éticas. Mas se os jornalistas (neste caso
não só os de Lisboa) vivem e trabalham numa sociedade sem referências éticas,
sejam políticas, empresariais, judiciais ou outras, não é justo que se lhes
exija o que não encontram noutras profissões.
“Há alguns
anos, um político e professor universitário (Sousa Franco), por sinal meio
surdo, conversava tranquilamente num restaurante. Numa mesa ao lado, uma
jornalista (talvez disfarçada de costeleta de borrego) tomava notas da
conversa, sem que os visados se apercebessem. Dias depois o teor da conversa
era manchete num semanário de Lisboa”.
Marinho e
Pinto esquece-se (desde logo porque é matéria de facto capaz de abalar as suas
teses) que se um jornalista (seja num restaurante, num jardim, num prostíbulo)
não procura saber o que se passa é um imbecil. Tal como se esquece que se esse
jornalista consegue saber o que se passa (seja num restaurante, num jardim, num
prostíbulo) e se cala passa a ser um criminoso.
“Também há
alguns anos, um professor do ensino secundário (Fernando Charrua), conversando
com um colega no gabinete deste, emitiu sobre o primeiro-ministro uma daquelas
opiniões que só se expressam em conversas privadas. Pois, logo o colega o foi
denunciar aos superiores hierárquicos.”
Afinal, ao
que parece, não são só os jornalistas que não têm referências éticas…
“O mesmo
aconteceu com um juiz conselheiro, que, numa conversa a dois com um colega,
emitira o mesmo tipo de opinião sobre o Conselho Superior da Magistratura. Logo
o colega o foi denunciar ao CSM. Mais recentemente, um magistrado do Ministério
Público que, durante um almoço com dois colegas, opinara sobre um processo de
que estes eram titulares foi de imediato denunciado por os ter “pressionado”.
Afinal, ao
que parece, não são só os jornalistas que não têm referências éticas…
“Hoje não se
pode estar à vontade num restaurante, porque ao lado pode estar um “bufo” a
ouvir a conversa para a ir relatar ao seu tablóide preferido. Até a factura da
refeição pode ser útil para o mesmo fim. A privacidade deixou de ter qualquer
respeito ou protecção”.
Marinho e
Pinto sabe que por muito que uma mentira seja dita nunca chega a ser verdade.
Mesmo assim vai tentando. Quem sabe se não pega. É pena. A privacidade de
figuras públicas não tem lugar em lugares públicos. Se calhar é por isso que o
Conselho de Ministro não é feito num restaurante.
“Os meus
rendimentos, constantes da minha declaração de IRS, foram obtidos ilicitamente
nas finanças e andaram a ser oferecidos a alguns jornais de Lisboa até que um
deles os publicou. Tudo para tentar desqualificar-me como advogado, mostrando
que, supostamente, eu ganhava mais como jornalista.”
Obtidos
ilicitamente por quem? Afinal, ao que parece, não são só os jornalistas que não
têm referências éticas…
“A sordidez
desse tipo de jornalismo traz-me à memória um episódio ocorrido há cerca de 20
anos em que se chegou ao ponto de tentar fazer uma notícia sobre uma consulta
de ginecologia de uma dirigente política, que na altura desempenhava funções
governamentais”.
É sórdido. É
sim senhor. Mas como os jornalistas, segundo Marinho e Pinto, carecem de
referências éticas, não seria de revelar quem foram os protagonistas (com
excepção da dirigente política) desse caso? Quem foram os jornalistas
envolvidos? O que é feito deles?
“Tudo isso
só é possível porque o jornalismo está em roda livre, sem qualquer regulação e
a própria justiça, em vez de corrigir esses desvarios, coonesta-os e acaba por
também recorrer a eles.”
Ora aí está.
Afinal, ao que parece, não são só os jornalistas que não têm referências
éticas…
“Por mim
tomei já vários cuidados. Evito conversas em restaurantes, já não falo ao
telefone e mesmo no meu escritório já tomei as devidas precauções. Perdi toda a
confiança nas comunicações em Portugal porque a deriva fundamentalista e
justiceira de muitos dos nossos magistrados mostra que qualquer pessoa pode
estar sob escuta, incluindo as mais altas figuras do Estado.”
Ou seja…
Afinal, ao que parece, não são só os jornalistas que não têm referências
éticas…
“Por isso,
não falar ao telefone é hoje um gesto tão prudente como o era no tempo da
ditadura. E mesmo como advogado, já retirei do meu escritório quaisquer
elementos que possam ser usados contra alguns dos meus clientes, pois é normal
em Portugal fazerem-se buscas a escritórios de advogados, com mandados em
branco, ou seja, com ordem para apreender tudo o que possa ajudar a incriminar
os seus constituintes.”
Bem vistas
as coisas, o próprio Marinho e Pinto reconhece que no pódio dos maus da fita os
jornalistas nem sequer têm lugar.
Nem as crianças (mortas) acordam a NATO
As Nações
Unidas, de acordo com os donos do mundo, debatem o massacre de Houla, na Síria,
em que 34 das 90 pessoas que morreram eram crianças. Resultado prático? Nenhum,
obviamente.
O massacre, apenas mais um, tem sido condenado de forma veemente pela comunidade internacional. A tradição
desta condenação é a de que continuam a existir terroristas bons e terroristas
maus, sendo que a catalogação continua a ser feita pelos tais donos do mundo.
O Reino
Unido quer que a Rússia, o único grande aliado do regime sírio, aumente a
pressão sobre Bashar al-Assad para que pare a matança de civis. O líder sírio
ri-se a NATO continua com o rabinho entre as patas.
Provavelmente
a NATO e a ONU irão dizer que até prova em contrário Bashar al-Assad é
inocente, desde logo porque este afirma não ter qualquer responsabilidade no
massacre, atribuindo a responsabilidade a "terroristas".
Desde Março
de 2011 que milhares de pessoas (não sei se Bashar al-Assad considera pessoas os que pensam de forma
diferente) foram mortas na Síria.
Todo o mundo
sabe há muito, muito tempo, que Bashar al-Assad não era flor que se cheire. Mas
o cheiro, o mesmo cheiro, já tem décadas e isso nunca incomodou os donos do
mundo, tal como não os incomoda que o presidente de Angola, há 33 anos no poder
sem ter sido eleito, tenha 70 por cento da população na pobreza.
No caso da
Síria, como no da Líbia, é de facto uma chatice. Bem que Kadhafi e Bashar
al-Assad poderiam ter resolvido a questão de outra forma, fazendo o mesmo que
os seus homólogos do Egipto e da Tunísia.
Não deixa,
contudo, de ser curioso que embora consideram agora Bashar al-Assad um exemplo de todos os males, não se atrevam a
fazer na Síria o que tão lestamente fizeram na Líbia.
A NATO
continua a ser fortes contra os fracos e
fraca contra os fortes. Depois de ter deposto Muammar Kadafi e de o ter ajudado
a matar, recolheu a penates e esqueceu a Síria.
Por alguma
razão Bashar al-Assad não está com meias medidas e pergunta: “Querem outro
Afeganistão, ou dezenas de Afeganistões?”
“Qualquer
problema na Síria vai afectar toda a região”, avisa Assad. “A Síria é neste momento a linha de
fractura do Médio Oriente. Qualquer intervenção ocidental causará um
terramoto”, acrescenta o presidente sírio em Novembro de 2011 numa entrevista
ao jornal britânico Daily Telegraph.
Embora o
povo sírio continue a ser morto pela gigantesca máquina de guerra da ditadura
de Assad, a NATO tem outras preocupações. Enquanto se viram agora para a
divisão dos despojos líbios, os países ocidentais não estão dispostos a levar
porrada com uma intervenção similar na Síria.
E enquanto os
sírios morrem como tordos, o presidente dos EUA, Barack Obama, e o
primeiro-ministro britânico, David Cameron, pedem (que grande coragem!) o
"fim imediato do banho de sangue" na Síria.
Recorde-se
que Kadhafi acabou por, mesmo na morte, ser um aliado dos donos do mundo. Assim
ninguém saberá o que ele poderia dizer sobre os seus anteriores amigos, alguns
dos quais, como José Sócrates, o consideravam um “líder carismático”.
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