Aí está 2010. Para os que partiram, para os que cá continuam embora há muito tenham partido, para os que não continuam nem partiram. Enfim, para todos. Por isso, façam o favor de ser felizes, cada um à sua maneira. A minha continuará a ser a de criticar os poucos que têm milhões e se estão nas tintas para os milhões que têm pouco, ou nada.
quinta-feira, dezembro 31, 2009
As famintas sombras internas da UNITA
O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, apelou, em Luanda, aos angolanos para continuarem a defender a democracia, os direitos e liberdades individuais e a enfrentarem o futuro com coragem e determinação.
Gostei de saber. É sempre politicamente relevante fazer um discurso para fora, omitindo que do lado de dentro as coisas não são bem assim. É, mais ou menos como faz o MPLA, dizer: olhai para o que eu digo e não para o que eu faço.
Isaías Samakuva pronunciou-se na cerimónia de cumprimentos de fim de ano da UNITA, realizada nas instalações da Liga Angolana de Amizade e Solidariedade para com os Povos, na presença de membros da sua Comissão Política, deputados à Assembleia Nacional, entre outros militantes.
"Precisamos de continuar a defender a democracia e um Estado que utilize esta democracia para reduzir as desigualdades socioeconómicas e promover o desenvolvimento humano", disse Samakuva, reeditando lugares-comuns que, apesar disso e infelizmente, não perdem actualidade.
De qualquer modo, creio que não seria mau que a UNITA desse, a partir de dentro e por dentro, exemplos de que afinal há mesmo alguma coisa que a distingue do MPLA. As palavras são boas, mas a acções continuam a deixar muito a desejar.
Na óptica de Samakuva, a promoção da democracia permitirá a aprovação de uma Constituição consensual e que protege os interesses de todos os angolanos. Pois é. E lá volto à necessidade de dar o exemplo, de mostrar que a UNITA prefere ser salva pelas opiniões diferentes do que assassinada pelos elogios das famintas sombras internas.
Dizem-me que, à margem da cerimónia de cumprimentos de fim de ano, foi apresentada a obra “Jonas Savimbi, discursos e entrevistas (1976-1991)” volume I. Trata-se de um livro de 196 páginas que contém discursos, entrevistas, documentos, cartas e um álbum de fotos do primeiro presidente da UNITA.
Espero, já agora que estamos numa época de ingenuidade natalícia, que os actuais dirigentes da UNITA leiam o livro. Se o fizerem aprenderão as grandes lições do Mais Velho. Que bom seria...
Para ser angolano é preciso ser negro?
“Não será certamente necessário ser negro, nem ter alma negra, nem amar a terra, nem perder o emprego por ela. Bastará certamente não ser branco,” afirma com inefável perspicácia o Fino, meu velho irmão.
quarta-feira, dezembro 30, 2009
Ou comemos e calamos, ou não calamos
e a falta de comida cala-nos logo a seguir
Guerras e eleições polémicas foram os principais perigos para os jornalistas em 2009, segundo um balanço divulgado hoje pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que afirmou que este ano foi marcado pelo maior massacre de jornalistas num só dia, ocorrido nas Filipinas.
A RSF fala de jornalistas mortos fisicamente. Se falasse dos que foram mortos psicologicamente e em média per capita, certamente que Portugal estaria nos primeiros lugares.
O assassinato de 30 repórteres na ilha filipina de Mindanao aconteceu quando cobriam a tentativa de um opositor de se inscrever como candidato às eleições regionais de 2010, indicou a RSF, no seu resumo anual.
A organização revelou um aumento de 26% no número de jornalistas assassinados em 2009, que eleva o seu número a 76, a maior parte deles na Ásia (44), seguido da África (12), Europa (7), Magrebe e Médio Oriente (7) e América (6).
Creio, aliás, que a RSF não deveria fazer esta análise. É que um dias destes, os donos da comunicação social portuguesa (bem como os donos dos donos) ainda vão descobrir que mandar jornalistas para morrerem nas zonas de conflito sai mais barato do que fazer despedimentos colectivos.
Durante este ano, a RSF constatou que os poderes repressivos intensificaram a luta contra os veículos pela internet e contra os “blogueiros”, tão vigiados quanto os jornalistas da imprensa tradicional. Cá pela casa já tinhamos percebido...
A organização registrou 110 internautas detidos por ter expressado suas opiniões na internet, um número recorde que "ilustra a repressão sofrida na rede em uma dezena de países".
A pressão judicial sobre os meios de comunicação levou à prisão de 167 jornalistas no mundo, um número não visto desde 1990.
E é assim. Cada vez mais, ou comemos e calamos, ou não calamos e falta de comida cala-nos logo a seguir.
Obrigado António Ribeiro.
Obrigado Notícias Lusófonas
O António Ribeiro é o «maluco» que aguenta o barco, eu diria porta-aviões, que dá pelo nome de Notícias Lusófonas e que em 2010 entra no 13º ano de vida. É obra. É sim senhor!
Entre outros navios da esquadra, o Notícias Lusófonas está há 13 anos a descobrir novos mundos e a dar novos mundos ao Mundo da Lusofonia. É obra. Ou melhor, seria obra premiada se a Comunidade da Países de Língua Portuguesa, por exemplo, soubesse a diferença entre a força da razão e a razão da força...
Ou seja, como escreveu o maior dos maiores (Luís de Camões) «De África tem marítimos assentos/É na Ásia mais que todas soberana/Na quarta parte nova os campos ar/E se mais mundo houvera, lá chegara!».
Pena é que os ilustres protagonistas dos areópagos políticos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (alguém sabe o que isso é?) não queiram ver o contributo ímpar que o António Ribeiro tem dado à Lusofonia.
Mas, pelo contrário, os leitores do Notícias Lusófonas estão atentos. Ainda pouco se falava de Lusofonia quando, em finais de 1996, o António Ribeiro decidiu criar, na Internet, um espaço privilegiado para a comunicação entre todos os falantes da língua de Camões (hoje perto de 250 milhões), independentemente do local de habitação.
Mercê do apoio dos visitantes e sempre atento às suas aspirações, o António Ribeiro, com o seu Portugal em Linha, foi desenvolvendo novas secções e novos serviços.
Mas faltava ainda algo que, mesmo noutros serviços ou jornais existentes, ainda não estava concretizado: Um espaço de notícias para toda a Comunidade Lusófona.
Assim, em 1997, nascia o Notícias Lusófonas. Desde essa data publicou, primeiro mensalmente, depois quinzenalmente e, por fim - sempre respondendo às solicitações dos leitores - semanalmente, uma súmula de notícias acerca do que ia acontecendo um pouco por todas as Comunidades Lusófonas.
Sempre animado da sua velha (mais sempre nova) paixão pela Lusofonia, o António Ribeiro resolveu renovar o Notícias Lusófonas e fazer - uma vez mais - o que não existe em toda a Comunidade Lusófona: um jornal (digno desse nome) online com notícias dos vários países lusófonos e das comunidades lusófonas espalhadas pelo mundo, com actualização dinâmica e diária, contendo ainda entrevistas e artigos de opinião.
Já que os países da CPLP têm dificuldade em agradecer a todos (e não são assim tantos...) os que levam a carta a Garcia, premiando com extrema facilidade todos aqueles (e são cada vez mais...) que a deitam na primeira valeta que encontram, eu continuo a dizer Obrigado António.
Ou seja, como escreveu o maior dos maiores (Luís de Camões) «De África tem marítimos assentos/É na Ásia mais que todas soberana/Na quarta parte nova os campos ar/E se mais mundo houvera, lá chegara!».
Pena é que os ilustres protagonistas dos areópagos políticos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (alguém sabe o que isso é?) não queiram ver o contributo ímpar que o António Ribeiro tem dado à Lusofonia.
Mas, pelo contrário, os leitores do Notícias Lusófonas estão atentos. Ainda pouco se falava de Lusofonia quando, em finais de 1996, o António Ribeiro decidiu criar, na Internet, um espaço privilegiado para a comunicação entre todos os falantes da língua de Camões (hoje perto de 250 milhões), independentemente do local de habitação.
Mercê do apoio dos visitantes e sempre atento às suas aspirações, o António Ribeiro, com o seu Portugal em Linha, foi desenvolvendo novas secções e novos serviços.
Mas faltava ainda algo que, mesmo noutros serviços ou jornais existentes, ainda não estava concretizado: Um espaço de notícias para toda a Comunidade Lusófona.
Assim, em 1997, nascia o Notícias Lusófonas. Desde essa data publicou, primeiro mensalmente, depois quinzenalmente e, por fim - sempre respondendo às solicitações dos leitores - semanalmente, uma súmula de notícias acerca do que ia acontecendo um pouco por todas as Comunidades Lusófonas.
Sempre animado da sua velha (mais sempre nova) paixão pela Lusofonia, o António Ribeiro resolveu renovar o Notícias Lusófonas e fazer - uma vez mais - o que não existe em toda a Comunidade Lusófona: um jornal (digno desse nome) online com notícias dos vários países lusófonos e das comunidades lusófonas espalhadas pelo mundo, com actualização dinâmica e diária, contendo ainda entrevistas e artigos de opinião.
Já que os países da CPLP têm dificuldade em agradecer a todos (e não são assim tantos...) os que levam a carta a Garcia, premiando com extrema facilidade todos aqueles (e são cada vez mais...) que a deitam na primeira valeta que encontram, eu continuo a dizer Obrigado António.
"Não se discute com terroristas antes
de eles serem primeiros-ministros"
Margaret Thatcher, que em Maio de 1979 se tornou a primeira mulher a dirigir um governo britânico, proibiu nesse ano o seu enviado especial à Rodésia de se encontrar com Robert Mugabe. O argumento, repare-se, era o de que "não se discute com terroristas antes de serem primeiros-ministros", segundo arquivos oficiais britânicos hoje, quarta-feira, desclassificados.
"Não. Por favor, não se reúna com os dirigentes da 'Frente Patriótica'. Nunca falei com terroristas antes deles se tornarem primeiros-ministros", escreveu - e sublinhou várias vezes - numa carta do Foreign Office de 25 de Maio de 1979 em que o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Lord Peter Carrington, sugeria um tal encontro.
Ou seja, quando se chega a primeiro-ministro, ou presidente da República, deixa-se de ser automaticamente terrorista. Não está mal. É verdade que sempre assim foi e que sempre assim será.
Esta posição de Margaret Thatcher, hoje revelada, recorda-me que quando o Conselho de Segurança das Nações Unidas impôs sanções contra a UNITA o fez porque, dizia, os homens de Jonas Savimbi eram os maus da fita, ou seja terroristas.
Ainda no uso da memória, recordo que em 2001 o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, justificou as sanções com os “ataques da UNITA que, nos últimos meses, mataram milhares de civis”. Curiosamente, poucos dias antes, Eduardo dos Santos afirmara que a UNITA só tinha forças residuais e que só um milagre a salvaria.
Nessa altura, como hoje, a ONU mostrou que é apenas o porta-voz dos donos mundo, pelo que em vez de trabalhar para os milhões de angolanos – por exemplo - que têm pouco (ou nada), prefere lamber as botas (tal como agora faz Portugal) aos poucos que têm milhões.
Durante a guerra, e segundo a rapaziada então comandada por Kofi Annan, a UNITA só matava civis e as forças armadas de Luanda só matavam militares. Pelos vistos o MPLA tinha armas que distinguiam os alvos: se fossem militares... acertavam, se não fossem... desviavam.
Nessa altura, numa reunião do Conselho de Segurança sobre Angola, o sub-secretário-geral das Nações Unidas, Ibrahim Gambari, sustentou que o movimento de Jonas Savimbi era o "primeiro responsável pela continuação do conflito" em Angola.
A este propósito e nessa altura escrevi que se não fosse a determinação de Jonas Savimbi (entre muitos outros, refira-se) e Angola seria, tal como era Luanda, um pantanal de políticos corruptos onde imperava a ditadura dos senhores todo poderosos do MPLA.
Morreu Savimbi e, como era previsível, o pantanal de políticos corruptos estendeu-se a todo o país e, ao que parece, não vai ficar por aí.
Ou seja, ontem como hoje e certamente amanhã, a ONU tem dois pesos e duas medidas. Luanda pode fazer o que muito bem entende e, por isso, praticar o terrorismo que melhor se enquadra nos seus objectivos. É o que, com certeza, as Nações Unidas consideram um terrorismo bom.
Já a UNITA, ontem como hoje e certamente amanhã, não pode reagir, não pode defender-se. Porquê? Porque teve o exclusivo do terrorismo mau e por muito que o tenha abandonado terá de transportar sempre essa carga.
Aliás, todos sabem que o MPLA sempre praticou terrorismo bom. O que se passou depois do dia 27 de Maio de 1977 (40 mil mortos) é prova disso.
Aliás, o terrorismo é qualificado em função do número de vítimas e de os seus dirigentes serem, ou não, primeiros-ministros ou presidentes. Por ser responsável por três mil desaparecidos, Augusto Pinochet e o seu governo são uns monstros. Já por ter morto Nito Alves e apenas mais 39 999 compatriotas, o MPLA é um exemplo para a humanidade.
Exemplo onde pontificam, entre outros, Lúcio Lara, Iko Carreira, Costa Andrade (Ndunduma), Henriques Santos (Onanbwe), Luís dos Passos da Silva Cardoso, Ludy Kissassunda, Luís Neto (Xietu), Manuel Pacavira, Beto Van-Dunem, Beto Caputo, Carlos Jorge, Tito Peliganga, Eduardo Veloso, Tony Marta, José Eduardo dos Santos.
E, já agora, do lado dos terroristas maus, a UNITA, importa recordar os que morreram para dar voz aos que a não tinham. Entre outros, Jeremias Kalandula Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces, Elias Salupeto Pena, Eliseu Sapitango Chimbili, Jonas Savimbi, António Dembo e Arlindo Pena "Ben Ben".
terça-feira, dezembro 29, 2009
Vamos a isso camaradas do MPLA?
O Jornal de Angola (JA), estatal, órgão oficial do MPLA, correia de transmissão do regime ditatorial que (des)governa Angola desde 1975, ameaçou no dia 12 de Maio de 2008 divulgar "as listas dos nomes dos quadrilheiros portugueses capturadas no bunker de Jonas Savimbi no Andulo".
A foto do texto anterior, onde se vê João Soares, Teresa Ricoh, António Maria Pereira e Armando Vara com Jonas Savimbi durante o VII Congresso da UNITA, na Jamba, poderá – espero eu – inspirar os arautos do JA. Ou não?
Será que o dono do jornal, bem como do país, e agora também dono de grande parte de Portugal, incluindo alguns jornais, deu ordem ao chefe do posto para mandar calar os sipaios?
Continuo, mesmo assim, à espera das listas de quadrilheiros portugueses e, já agora, também da imensa listagem dos oficiais das FAPLA e depois das FAA que trabalhavam para Savimbi, assim como dos políticos do MPLA, alguns com altos cargos no Governo e que também eram assalariados do líder da UNITA, e ainda dos jornalistas (portugueses e angolanos), hoje rendidos aos encantos do MPLA, e que também eram amamentados por Savimbi.
"Basta de abusos e insultos", advertia então o Jornal de Angola na última linha de um Editorial, sem avançar quaisquer pormenores sobre as "listas de quadrilheiros portugueses", inferindo-se que se trata de aliados do ex-líder da UNITA, principal partido da oposição angolana, morto em combate em Fevereiro de 2002.
De baterias apontadas ao jornal Público e ao programa "Eixo do Mal", da SIC Notícias, o Jornal de Angola afirmava que os "idiotas úteis" que integram o programa e o diário português estão ao serviço de "quadrilhas" que se serviram de "diamantes de sangue" em Angola.
Continuando os “diamantes de sangue” angolano a circular pelos areópagos da alta finança mundial, embora com outro nome, assim como o “petróleo de sangue”, seria bom que se soubesse (santa ingenuidade a minha!) a que “quadrilhas” servem agora.
Por tudo isto, força camaradas do MPLA/regime. Se os tiverem no sítio (não têm, nunca tiveram e nunca terão, como é bom de ver) não devem esperar. Mandem cá para fora tudo o que têm. Tudo. Tudo. Tudo significa tudo. Percebem?
O Jornal de Angola retomava também – recordam-se? - as críticas ao músico e activista Bob Geldof, que em Lisboa disse que Angola era governada por "criminosos", afirmando que os "derrotados" da descolonização "soltam os Bob Geldof e os idiotas úteis do `Eixo do Mal´ e outros serventes menores", que não identifica.
Sob a batuta do MPLA, estes escribas escolarizados há bem pouco tempo servem-se do Jornal de Angola para publicarem o que nem eles sabem o quer dizer e, quem sabe, para esconderem "as listas dos nomes dos quadrilheiros capturadas no bunker de Jonas Savimbi no Andulo" onde se calhar figuram alguns deles.
Os saltos, com ou sem vara, que o mundo dá
Para quem não sabe (ou não está interessado em saber) Jonas Savimbi, a quem João Gomes Cravinho, secretário de Estado da cooperação do Governo socialista de Portugal, chamou - obviamente depois de ele estar morto - Hitler africano, é o que está no centro... Os outros, que todos conhecem, são João Soares, Teresa Ricoh, António Maria Pereira e Armando Vara, numa foto tirada na Jamba a 12 de Março de 1991 durante o VII Congresso da UNITA.
segunda-feira, dezembro 28, 2009
É preciso ser preto para ser angolano?
É preciso ser preto para ser da UNITA?
Ao longo dos anos tenho defendido aqui no Alto Hama, tal como na secção com o mesmo nome e que assino há muito mais tempo no Notícias Lusófonas, aquilo que considero o mais correcto para a minha terra, Angola.
Para os que estão por dentro dos meandros da política angolana, as minhas posições são claras. Para os que estão por fora, em particular para os meus amigos portugueses, tais posições poderão parecer contraditórias. E isto porque, usando o mais nobre critério jornalístico (a liberdade), tanto critico o MPLA e o Governo angolano (são ambos a mesma coisa) como o faço em relação à UNITA e ao seu Presidente.
Sou angolano, nasci em Angola, lá estudei, brinquei, cresci e me fiz homem. Mesmo que tenha sido obrigado pelos acontecimentos históricos a abandonar o país onde nasci, e a utilizar a nacionalidade portuguesa dos meus pais, o meu coração esteve lá, está lá e estará sempre lá, quer o MPLA queira ou não, quer a UNITA queira ou não.
Nunca me conformarei com o estado a que o meu país chegou. Nunca me conformarei com a miséria, a fome, a indignidade, o roubo e tudo o que de mau tem acontecido no meu país. Não acredito que tudo isto seja consequência da guerra e estes últimos sete anos de paz, confirmam que todo o mal que existiu e que continua a existir se deve aos governantes do MPLA.
Duvidam? Em sete anos de paz, nada mudou. A fome, a miséria, a indignidade, a mortalidade infantil, os roubos, os assassínios e tudo o resto continuam a somar pontos na minha terra porque, de facto e de jure, poucos têm milhões e milhões têm pouco ou nada.
Portanto sou militante e conscientemente da oposição ao actual Governo angolano e ao partido que o sustenta, o MPLA.
E, quer acreditem ou não os que estão dentro, fora, ou fora e dentro, sou “militante”, ou pelo menos assim me considero, da UNITA.
Compreendo que muitas das minhas posições contra a actuação da UNITA não sejam bem aceites por muitos dos seus militantes, desde logo porque – também no Galo Negro – ser branco nada ajuda a ser considerado angolano.
Aprendi ao longo da minha vida que não me sentiria bem se ficasse quieto perante o que considero errado. E muitas das vezes não estou de acordo com a actuação da UNITA e da sua actual Direcção. Ou mais grave ainda, com a sua não actuação, um misto de passividade e lentidão que não se coaduna com quem quer ser alternativa de poder.
A UNITA foi dirigida durante muito tempo por alguém cuja estatura e inteligência eram suficientemente grandes para que os seus militantes estivessem descansados. Quando Jonas Savimbi foi assassinado, a UNITA considerou que a democracia interna era a única hipótese que tinha de sobreviver. E estava certa. A democratização interna fez o Partido sobreviver e fortalecer-se.
O que eu critico muitas das vezes na UNITA é a falta de acção, de actuação, a maneira burocrática e prenhe de lentidão como tudo é decidido, o arrastar das decisões, discutidas até à exaustão numa democraticidade interna que se é boa ao nível das grandes linhas, é um empecilho ao nível da execução, parecendo-me muitas vezes um claro exercício de suicídio político.
Comparativamente, o MPLA está em todas, lidera em força e com alguma qualidade (reconheço) quer as acções internas quer externas, vai somando – em Portugal, por exemplo - apoios em todos os estratos políticos, empresariais e intelectuais, para além de alargar os tentáculos do partido/regime a um cada vez maior número de empresas portuguesas.
Quanto à UNITA, qualquer branco que se aproxime é considerado suspeito... até prova em contrário. Há excepções, há sim senhor. Mas essas excepções servem apenas, e infelizmente, para confirmar a regra.
Contudo, manda a verdade que se diga que é mais fácil a qualquer branco singrar no MPLA do que na UNITA. É pena. Isso não signfica que, no meu caso, mude de trincheira ou engrosse a coluna dos que se afastam sem destino determinado.
Se, em 1975, Rosa Coutinho e todos os seus lacaios não alteraram as minhas convicções, não é agora que alguém o conseguirá fazer. Mas que somos cada vez menos... isso somos.
Para os que estão por dentro dos meandros da política angolana, as minhas posições são claras. Para os que estão por fora, em particular para os meus amigos portugueses, tais posições poderão parecer contraditórias. E isto porque, usando o mais nobre critério jornalístico (a liberdade), tanto critico o MPLA e o Governo angolano (são ambos a mesma coisa) como o faço em relação à UNITA e ao seu Presidente.
Sou angolano, nasci em Angola, lá estudei, brinquei, cresci e me fiz homem. Mesmo que tenha sido obrigado pelos acontecimentos históricos a abandonar o país onde nasci, e a utilizar a nacionalidade portuguesa dos meus pais, o meu coração esteve lá, está lá e estará sempre lá, quer o MPLA queira ou não, quer a UNITA queira ou não.
Nunca me conformarei com o estado a que o meu país chegou. Nunca me conformarei com a miséria, a fome, a indignidade, o roubo e tudo o que de mau tem acontecido no meu país. Não acredito que tudo isto seja consequência da guerra e estes últimos sete anos de paz, confirmam que todo o mal que existiu e que continua a existir se deve aos governantes do MPLA.
Duvidam? Em sete anos de paz, nada mudou. A fome, a miséria, a indignidade, a mortalidade infantil, os roubos, os assassínios e tudo o resto continuam a somar pontos na minha terra porque, de facto e de jure, poucos têm milhões e milhões têm pouco ou nada.
Portanto sou militante e conscientemente da oposição ao actual Governo angolano e ao partido que o sustenta, o MPLA.
E, quer acreditem ou não os que estão dentro, fora, ou fora e dentro, sou “militante”, ou pelo menos assim me considero, da UNITA.
Compreendo que muitas das minhas posições contra a actuação da UNITA não sejam bem aceites por muitos dos seus militantes, desde logo porque – também no Galo Negro – ser branco nada ajuda a ser considerado angolano.
Aprendi ao longo da minha vida que não me sentiria bem se ficasse quieto perante o que considero errado. E muitas das vezes não estou de acordo com a actuação da UNITA e da sua actual Direcção. Ou mais grave ainda, com a sua não actuação, um misto de passividade e lentidão que não se coaduna com quem quer ser alternativa de poder.
A UNITA foi dirigida durante muito tempo por alguém cuja estatura e inteligência eram suficientemente grandes para que os seus militantes estivessem descansados. Quando Jonas Savimbi foi assassinado, a UNITA considerou que a democracia interna era a única hipótese que tinha de sobreviver. E estava certa. A democratização interna fez o Partido sobreviver e fortalecer-se.
O que eu critico muitas das vezes na UNITA é a falta de acção, de actuação, a maneira burocrática e prenhe de lentidão como tudo é decidido, o arrastar das decisões, discutidas até à exaustão numa democraticidade interna que se é boa ao nível das grandes linhas, é um empecilho ao nível da execução, parecendo-me muitas vezes um claro exercício de suicídio político.
Comparativamente, o MPLA está em todas, lidera em força e com alguma qualidade (reconheço) quer as acções internas quer externas, vai somando – em Portugal, por exemplo - apoios em todos os estratos políticos, empresariais e intelectuais, para além de alargar os tentáculos do partido/regime a um cada vez maior número de empresas portuguesas.
Quanto à UNITA, qualquer branco que se aproxime é considerado suspeito... até prova em contrário. Há excepções, há sim senhor. Mas essas excepções servem apenas, e infelizmente, para confirmar a regra.
Contudo, manda a verdade que se diga que é mais fácil a qualquer branco singrar no MPLA do que na UNITA. É pena. Isso não signfica que, no meu caso, mude de trincheira ou engrosse a coluna dos que se afastam sem destino determinado.
Se, em 1975, Rosa Coutinho e todos os seus lacaios não alteraram as minhas convicções, não é agora que alguém o conseguirá fazer. Mas que somos cada vez menos... isso somos.
Dar voz a quem a não tem, os angolanos
Segundo o Poeta angolano Namibiano Ferreira, o meu texto «Enquanto os angolanos morrem à fome portugueses endeusam Isabel dos Santos» merecia “o Nobel do Jornalismo”. Os amigos, mesmo quando não se conhecem, são assim. Exageram porque a causa é comum. Causa essa que apenas visa dar voz a quem a não tem.
In:
domingo, dezembro 27, 2009
Uma excelente análise de Rafael Marques sobre o que se (não) passa em Angola
«Dos seis influentes membros da Assembleia Nacional abordados neste breve resumo, cinco são membros do Bureau Político do MPLA, enquanto Diógenes Oliveira tem assento no Comité Central do partido no poder. O presente texto revela a arrogância e o total desrespeito, por parte dos referidos deputados, da legislação em vigor. Esse costume institucional inviabiliza a capacidade do parlamento em fiscalizar as acções do governo. Também conspurca a probidade dos deputados em legislar, com transparência e interesse público, a favor de um Estado de direito em que a separação de poderes entre o executivo, o legislativo e o judicial seja realizada.»
In:
sábado, dezembro 26, 2009
Cantando e rindo com a chipala do povo
(eles comem tudo e não deixam nada...)
Os 16 principais accionistas nacionais da bolsa portuguesa acabam 2009 com ganhos superiores a cinco mil milhões de euros - a conta certa dá 5,3 mil milhões de euros - em relação à valorização das respectivas participações no final de 2008.
Isto quer dizer que, também nas ocidentais praias lusitanas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marroco, poucos continuam a ter muitos milhões e, pois claro!, alguns milhões têm pouco e cada vez menos.
Se olharmos, cito o jornal “I”, apenas para os dez patrimónios mais valiosos, a valorização é de cinco mil milhões de euros.
Estes cálculos comparam o preço das acções no último dia de 2008 com o valor de fecho de 23 de Dezembro. Foram considerados apenas os accionistas que tinham mais de 2% do capital das principais empresas cotadas.
Vejam se, por algum acaso, conhecem os nomes da lista que é liderada por Américo Amorim, e da qual fazem parte as famílias e holdings pessoais de:
Belmiro de Azevedo, Alexandre Soares dos Santos, Espírito Santo, Pedro Queiroz Pereira, Pedro Maria Teixeira Duarte, Vasco de Mello, António Mota, Manuel Fino, Joe Berardo, Nuno Vasconcellos, Horácio Roque, Joaquim Oliveira, Fernando Nunes, Luís Silva e Pinto Balsemão.
Estranho não ver na lista um amigo cuja história aqui contei faz dia 31 um ano. Creio, contudo, que não tardará a estar nesta galeria.
Permitam-me que (re)conte a história. Um amigo, empresário no norte de Portugal, cuja empresa estava – dizia ele – em crise com o cenário do depedimento de dezenas de empregados disse-me:
“Se não tiver ajuda do Estado, não tenho outra solução. As vendas tiveram uma quebra substancial, tenho dificuldades em receber o que vendo, por isso não há alternativa”.
“Mas não foi contratado um director para procurar uma saída, uma alternativa? Não é mesmo possível aguentar o pessoal, procurando criar novos produtos, descobrir novos nichos de mercado?”, perguntei eu com a ingenuidade própria de quem nada percebe de empresas.
“O novo director apenas conseguiu constatar que a crise existe e que a solução para reduzir custos é despedir algum pessoal”, disse o meu amigo, lamentando a situação e dizendo-se triste por não ter alternativa.
Afinal, pensei eu, a crise existe mesmo.
Antes de, apesar de tudo, lhe desejar um bom 2009 (estávamos, lembro, em Dezembro de 2008), perguntei-lhe a medo onde iria passar o fim do ano. Pareceu-me uma pergunta descabida, sobretudo atendendo ao contexto da nossa conversa. Mas é daqueles coisas em que só se pensa depois de dizer.
“Já estou em Cuba onde vou passar o fim do ano”, respondeu-me.
“Como? Em Cuba? Mas tu vais para Cuba com a situação em que está a tua empresa, com o cenário catastrófico que acabaste de relatar?”, indignei-me.
“Meu caro, a empresa está em crise, mas eu não estou em crise”, respondeu-me com um tom de voz típico de quem ia gozar à grande e à portuguesa... com os portugueses.
Portugal e Angola ou Portugal e o MPLA?
“As relações entre Angola e Portugal conhecem a sua melhor fase, caracterizadas hoje pela abertura, franqueza e sobretudo pelo acentuar das trocas comerciais mutuamente vantajosas entre os dois países. Basta olhar para o volume de vistos concedidos pelos serviços consulares angolanos em Portugal, para se ter uma ideia das movimentações facilitadas pelo presente quadro das relações entre os dois países”, escreve em Editorial o órgão oficial do regime angolano, o Jornal de Angola (JA).
“Pensamos que há ainda muito por fazer, mas decerto que hoje mais do nunca as relações entre Angola e Portugal são excelentes”, afirma o JA, acrescentando que “os Governos dos dois países, as suas comunidades empresariais e de empreendedores, estão a procurar fazer jus ao presente momento com iniciativas susceptíveis de contribuir para o bem comum”.
O JA tem toda a legitimidade (ou não fosse o órgão oficial do regime) para pôr no mercado um manacial de louvaminhas que colam um regime democrático, embora coxo, o de Portugal, a um ditatorial como é o de Angola.
É claro que, como também muito bem salienta o JA, negócios são negócios, política é política. A regra é de ouro sobretudo para a parte do MPLA, cuja noção de democracia é estar no poder a qualquer preço desde 1975, bem como para o presidente da República que lá está há 30 anos e se propõe fazer eleições presidenciais quando Deus quiser, sendo que no caso ele é o prório Deus.
O JA, ou o MPLA (são a mesma coisa), esquecem-se de uma verdade fundamental. Não se pode falar de relações comerciais ou empresariais entre Portugal e Angola. A verdade diz que são relações, isso sim, entre Portugal e o MPLA, e para ser mais específico, entre Portugal e o clã Eduardo dos Santos.
Fossem, de facto, relações entre Portugal e Angola e tudo estaria bem. Fossem relações entre o MPLA e o PS e tudo continuaria correcto. Fossem relações entre Eduardo dos Santos e Aníbal Cavaco Silva e, claro, nada haveria a opor.
O problema é que não são. Ao contrário de José Eduardo dos Santos, Cavaco Silva não representa – como o seu homólogo angolano – quase 100% do Produto Interno Bruto. Cavaco foi eleito, ao contrário de Eduardo dos Santos. Cavaco tem um limite de mandatos, Eduardo dos Santos é eterno no cargo. A filha de Cavaco não é, ao contrário da filha de Eduardo dos Santos, dona de Portugal e quase dona de Angola.
Eu sei que Portugal está, do ponto de vista moral e político, cada vez mais perto de Angola. De qualquer modo ainda há quem acredite (é o meu caso) que tanto num caso como noutro é possível mudar de políticos, mantendo o país. Estou, se calhar, a ser ingénuo.
Direito de escolha do povo não prescreve
De acordo com a Resistência em Cabinda, no passado dia 22 foi concretizada uma acção militar no sector de Miconje contra as Forças Armadas de Angola (potência ocupante) que causou a morte a 15 soldados das forças governamentais angolanas.
Diz ainda a FLEC que a operação é apena o inicio de uma série de acções orientada que vão continuar sem interrupção em Cabinda.
Tanto quanto se sabe, e sempre assim foi, os militares angolanos morreram num mero acidente de automóvel quando passeavam pela calma e de há muito pacificada Cabinda.
Tal como disse quando, em Setembro, a FLEC reivindicou a morte de 12 soldados da força ocupante (Angola), Luanda mantém que o território está pacificado desde a assinatura do Memorando de Entendimento de Agosto de 2006, que envolveu o Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), de Bento Bembe, e outras associações, mas não a FLEC.
Utilizando velhas técnicas, Luanda vai dizer que estas e todoas as mortes se devem a acidente de viação ou de outras situações, como zaragatas e banditismo, acrescentando que a FLEC "aproveita para empolar" numa tentativa de fazer passar a ideia para a comunidade internacional de que está activa.
Mas como se apanha com mais facilidade um mentiroso do que um coxo, recordo que o ministro da Defesa de Angola, Kundi Paihama, reconheceu no dia 20 de Abril deste ano, em Lisboa, que há militares da FLEC que ainda não "abraçaram a razão", e que por isso “continuam a fazer da luta armada uma forma de sobrevivência”.
“Abraçar a razão” significa, de acordo Kundi Paihama, seja em Cabinda ou em Angola, ser e estar com o MPLA.
"Ainda há restos das forças, pessoas das FLEC, que não abraçaram a razão, mas não se trata de qualquer força que possa impedir o curso da situação. São grupos de pessoas manipuladas por interesses que já conhecemos", disse na altura Kundi Paihama numa conferência de imprensa com o seu homólogo português.
Assim, em Angola existe um dono da verdade – o MPLA. Tudo o resto são angolanos de segunda que não têm direito a defender o que pensam ser também a verdade. Por outras palavras, tanto os cabindas como os angolanos têm de comer e calar se não quiseram que Kundi Paihama os considere manipulados.
Cabinda é um território ocupado por Angola e nem a potência ocupante como a que o administrou pensaram, ou pensam, em fazer um referendo para saber o que os cabindas querem. Seja como for, o direito de escolha do povo não prescreve, não pode prescrever, mesmo quando o importante é apenas o petróleo.
É claro que tanto Angola como Portugal apenas olham para Cabinda como um negócio altamente rentável. Se o território fosse um deserto, certamente já seria independente. Mas, ao contrário das teses de Luanda e Lisboa, Cabinda não é só petróleo. É sobretudo gente, pessoas, povo, história e cultura.
sexta-feira, dezembro 25, 2009
Comovente generosidade do MPLA
Bom Natal para ex-militares angolanos. 15 196 vão beneficiar (o que é obra!) em 2010, de charruas, carroças, sementes agrícolas diversas e fertilizantes, para o reforço da capacidade de produção agro-pecuária nas comunidades rurais dos 11 municípios da província do Huambo.
A entrega destes instrumentos de trabalho enquadra-se na implementação do programa do governo de reforço à reintegração dos ex-militares, lançado no dia 21 deste mês na comuna de Tchipipa (Huambo).
Presumindo que tamanha generosidade do MPLA (partido no poder em Angola desde 1975) também abarcará ex-militares da UNITA, atrevo-me a perguntar: Terá valido a pena ser militar da UNITA? Terá sido para isto que o mais Velho tanto lutou?
As perguntas são minhas embora julgue serem comuns a muitos desses soldados.
Terá sido para isto que tantas vezes, em Umbundu (mas não só) Jonas Savimbi dizia «ise okufa, etombo livala»? (em português, prefiro antes a morte, do que a escravatura).
Num cenário em que os poucos que têm milhões continuam a ter cada vez mais milhões e em que, no mesmo país, muitos milhões não têm sequer o que comer, não me custa a crer que a linguagem das armas volte a ser equacionada.
Mal por mal, antes a morte do que a escravatura. E se antes foi o tempo dos contratados e escravos ovimbundus ou bailundos irem para as roças do Norte, agora é o enxovalho para ter “peixe podre, fuba podre… e porrada se refilares”
«Sekulu wafa, kalye wendi k'ondalatu! v'ukanoli o café k'imbo lyamale!»: Morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratados, ou ser escravos na terra que ajudaram a, supostamente, libertar.
Até quando?
quinta-feira, dezembro 24, 2009
Os meus meninos não têm Natal
Com fios feitos de lágrimas de dor
os meus meninos do Huambo choram
ainda marcados pelo muito horror
da miséria e da fome onde moram.
Com os lábios de muito dizer aiué
soletram pensamentos de esperança
como quem se alimenta de tanta fé
inebriada pelos sorrisos de criança.
Os meus meninos à volta da fogueira
já aprenderam que dizer a verdade
será talvez mais uma bonita bandeira
mas que o melhor é não falar de saudade.
Com os sorrisos mais lindos do planalto
- Essa é uma certeza para a eternidade,
fazem contas engraçadas de sobressalto
e subtraem a fome a sonhos de igualdade.
Dividem a chuva miudinha pelo milho
como se isso fosse o seu eterno destino,
saltam ao céu toda a dor feita andarilho
no seu estilhaçado mundo peregrino.
Os meus meninos à volta da fogueira
não vão aprender novas palavras
porque a dor da miséria é cegueira
que alimenta todos os dias as lavras.
Assim descontentes à voltinha da poesia
juntam palavras do tempo que passa
para ver se alimentam a barriga vazia
e se descobrem o fim de tanta desgraça.
os meus meninos do Huambo choram
ainda marcados pelo muito horror
da miséria e da fome onde moram.
Com os lábios de muito dizer aiué
soletram pensamentos de esperança
como quem se alimenta de tanta fé
inebriada pelos sorrisos de criança.
Os meus meninos à volta da fogueira
já aprenderam que dizer a verdade
será talvez mais uma bonita bandeira
mas que o melhor é não falar de saudade.
Com os sorrisos mais lindos do planalto
- Essa é uma certeza para a eternidade,
fazem contas engraçadas de sobressalto
e subtraem a fome a sonhos de igualdade.
Dividem a chuva miudinha pelo milho
como se isso fosse o seu eterno destino,
saltam ao céu toda a dor feita andarilho
no seu estilhaçado mundo peregrino.
Os meus meninos à volta da fogueira
não vão aprender novas palavras
porque a dor da miséria é cegueira
que alimenta todos os dias as lavras.
Assim descontentes à voltinha da poesia
juntam palavras do tempo que passa
para ver se alimentam a barriga vazia
e se descobrem o fim de tanta desgraça.
quarta-feira, dezembro 23, 2009
Se a força da razão não é suficiente,
Cabinda usa a razão de alguma força
Os donos de Angola que, como força ocupante, vão ditando as regras em Cabinda, estão a julgar cidadãos acusados de rebelião armada.
São três os réus acusados de um ataque a uma viatura das Forças Armadas Angolanas. Tal como manda o presidente da vizinha Angola, José Eduardo dos Santos, os cabindas ou se rendem ou levam pela medida grossa.
O problema está, apesar do enorme potencial bélico que Luanda tem estacionado em Cabinda, que os cabindas sabem que só serão derrotados quando deixarem de lutar. E deixar de lutar não é propriamente uma das suas características.
De acordo com a acusação da força ocupante, o ataque ocorreu no dia 7 de Janeiro deste ano, no Município de Bucu Zau, provocando quinze feridos. Buscas desencadeadas após o ataque pelas FAA culminaram com a detenção dos presumíveis autores.
Embora a comunidade internacional (CPLP, União Europeia, ONU, União Africana) assobie para o lado, o problema de Cabinda existe e não é por não se falar dele que ele deixa de existir.
Cabinda é um território ocupado por Angola e nem o potência ocupante como a que o administou pensaram, ou pensam, em fazer um referendo para saber o que os cabindas querem. Seja como for, o direito de escolha do povo não prescreve, não pode prescrever, mesmo quando o importante é apenas o petróleo.
É claro que tanto Angola como Portugal apenas olham para Cabinda como um negócio altamente rentável. Se o território fosse um deserto, certamente já seria independente. Mas, ao contrário das teses de Luanda e Lisboa, Cabinda não é só petróleo. É sobretudo gente, pessoas, povo, história e cultura.
Quando o governo português reconheceu formalmente a independência do Kosovo, o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, disse que "é do interesse do Estado português proceder ao reconhecimento do Kosovo".
E se é no interesse do Estado português... está tudo dito. Espero que, neste contexto, Cabinda continue a dizer da forma que achar mais apropriada ao governo das ocidentais praias lusitanas que fazem fronteira com um país onde existe o País Basco que, se calhar, era do seu interesse olhar para este território ocupado por Angola e onde, recordam-se?, já estiveram norte-americanos a explorar petróleo guardados por cubanos.
O ministro português apontou quatro razões que levaram à tomada de decisão sobre o Kosovo: a primeira das quais é "a situação de facto", uma vez que, depois da independência ter sido reconhecida por um total de 47 países, 21 deles membros da União Europeia e 21 membros da NATO, "é convicção do governo português que a independência do Kosovo se tornou um facto irreversível e não se vislumbra qualquer outro tipo de solução realista".
Deve ter sido o mesmo princípio que, em 1975, levou o Governo de Lisboa a reconhecer o MPLA como legítimo e único governo de Angola, embora tenha assinado acordos com a FNLA e a UNITA.
Como segunda razão, Luís Amado referiu que "o problema é político e não jurídico", afirmando que "o direito não pode por si só resolver uma questão com a densidade histórica e política desta". Amado sublinhou, no entanto, que "não sendo um problema jurídico tem uma dimensão jurídica de enorme complexidade", pelo que "o governo português sempre apoiou a intenção sérvia de apresentar a questão ao Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas".
Ora aí está. Cabinda (se é que os governantes portugueses sabem alguma coisa sobre o assunto) também é um problema político e não jurídico, “embora tenha uma dimensão jurídica de enorme complexidade”.
"O reforço da responsabilidade da União Europeia", foi a terceira razão apontada pelo chefe da diplomacia portuguesa. Amado considerou que a situação nos Balcãs "é um problema europeu e a UE tem de assumir um papel muito destacado", referindo igualmente que a assinatura de acordos de associação com a Bósnia, o Montenegro e a Sérvia "acentuou muito nos últimos meses a perspectiva europeia de toda a região".
No caso de Cabinda, a União Europeia nada tem a ver. Tem, no entanto, a CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) onde – desculpem se me engano – Portugal desempenha um papel importante.
O ministro português frisou ainda que Portugal, ao contrário dos restantes países da UE que não reconheceram o Kosovo, não tem problemas internos que justificassem as reticências. Pois. Os que tinha (Cabinda é, pelo menos de jure, um problema português) varreu-os para debaixo do tapete.
Como última razão, indicou a "mudança de contexto geopolítico que entretanto se verificou" com o conflito entre a Rússia e a Geórgia e a declaração de independência das regiões georgianas separistas da Abkházia e da Ossétia do Sul que Moscovo reconheceu entretanto.
Isto quer dizer que, segundo Lisboa, no actual contexto geopolítico, Cabinda é Angola. Amanhã, mudando o contexto geopolítico, Portugal pensará de forma diferente. Ou seja, a coerência é feita ao sabor do acaso, dos interesses unilatreiais.
Valha-nos Santa Isabel (dos Santos)
Em Novembro os dados indicam que já foram mais de 523 mil os desempregados portugueses registados nos centros de emprego, um aumento de 28,2 por cento face ao mesmo mês de 2008.
Ou seja, nada de novo nas ocidentais praias lusitanas a norte, embora cade vez mais a sul, de Marrocos.
Os números divulgados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) apontam ainda um aumento no desemprego registado de 1,2 por cento em relação ao mês anterior, o que significa um acréscimo de mais de 6 mil inscritos.
Embora se tenha registado uma quebra na evolução do desemprego entre as mulheres em comparação com os dados de Outubro, estas continuam a representar a maior parcela dos desempregados registados, num total de 279 mil, 53 por cento do total.
O desemprego entre os homens continua a apresentar uma evolução mais acentuada. Comparado ao mesmo mês de 2008 o aumento foi de 41,5 por cento de desempregados, sendo que em relação a Outubro deste ano o aumento foi de 2,8%.
O aumento do desemprego foi particularmente acentuado no sector da construção e nas indústrias extractivas, com aumentos percentuais de 63,5 e 53,3 por cento respectivamente face ao mesmo período do ano anterior.
As ofertas de emprego disponíveis nos Centros de Emprego e o número de colocações efectuadas diminuíram em relação a Outubro, com variações percentuais negativas de 5,6 e 2,5 por cento respectivamente.
É por estas e por outras que, confesso, me rendi à nova santa dos portugueses: Isabel dos Santos. A ela rezo (confesso também que a devoção é hipócrita) para que compre de uma vez por todas este reino lusitano.
terça-feira, dezembro 22, 2009
Enquanto os angolanos morrem à fome
portugueses endeusam Isabel dos Santos
Segundo o português Jornal de Negócios, “Portugal tem muitas mulheres importantes, algumas são ricas, poucas são poderosas. Uma é as três coisas. Tem 36 anos e não é portuguesa. É a angolana Isabel dos Santos.”
E acrescenta: “Isabel e José Eduardo construíram um poder tão ramificado em empresas portuguesas que só o Estado e Grupo Espírito Santo os ultrapassarão. Tanta concentração de poder é mais ameaçadora do que uma nacionalidade”.
O que os jornais, este como (quase) todos os outros portugueses, não dizem é que 68% (68 em cada 100) dos angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome.
Não dizem que 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos, ou que no “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, Angola está na posição 158.
Não dizem que em Angola a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, e que o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.
Não dizem que em Angola, a corrupção política e económica é, hoje como ontem e certamente amanhã, utilizada contra todos os que querem ser livres.
Não dizem que Angola disponibiliza apenas 3 a 6% do seu orçamento para a saúde dos seus cidadãos, e que este dinheiro não chega sequer para atender 20% da população, o que torna o Serviço Nacional de Saúde inoperante e presa fácil de interesses particulares.
Não dizem que em Angola 76% da população vive em 27% do território, que mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.
Não dizem que em Angola o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Não dizem que enquanto a maioria (68%) dos angolanos nem fuba ou peixe seco tem, Isabel dos Santos e os restantes membros do clã adoram trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba, queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e vinhos do tipo Château-Grillet 2005.
segunda-feira, dezembro 21, 2009
«Não chores por mim Angola»
Feliciano J. R. Cangüe é autor do blogue Hukalilile (Don't cry for me Angola). Professor e engenheiro de profissão, divide o seu tempo entre Angola e o Brasil.
“Achei que Angola poderia chorar por mim se o seu filho fugisse à luta”, diz numa excelente entrevista à jornalista Clara Onofre da Global Voices, reproduzida também no Notícias Lusófonas.
Quando solicitado a apontar um ou dois blogues formadores de opinião, Feliciano J. R. Cangüe disse: “Posso apontar três blogues angolanos: Pululu, Morro da Maianga e Alto Hama”.
O que acha da blogosfera angolana? Os angolanos fazem uso dos blogues como armas de contestação? Considera-os activos?, perguntou a jornalista Clara Onofre.
Eis a resposta: “Na prática vemos poucos blogues com extintores em acção, no epicentro do fogo como é o caso do blogue Alto Hama. Alguns testam e outros apreciam a beleza dos extintores.”
Ver: http://cangue.blogspot.com
http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=24963&catogory=Entrevistahttp://pt.globalvoicesonline.org/2009/12/21/angola-entrevista-com-feliciano-cangue-do-blogue-hukalilile
Dono de Angola compra bajulação lusa
com dólares de sangue, fome e morte...
O ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações de Portugal considerou hoje "uma boa notícia" para reino a compra de 10 por cento da ZON por um grupo angolano (isto é como quem diz!), afirmando que se trata de "uma demonstração da vitalidade da economia" portuguesa. Pois!
"É uma demonstração da vitalidade da nossa economia e de que estão ser feitos esforços muito importantes no sentido da retoma económica", disse António Mendonça sobre o negócio, acrescentando que o facto de haver "interesse internacional por uma empresa muito significativa do ponto de vista tecnológico" em Portugal "é uma boa notícia para [a economia portuguesa] e para a própria empresa, na medida em que alarga as suas possibilidades de internacionalização".
Estamos esclarecidos.
Segundo escreveu, no dia 17 de Julho de 2008, Henrique Botequilha, enviado da Agência Lusa a Angola, o primeiro-ministro português, José Sócrates, destacou nesse dia o "trabalho notável" que o Governo angolano tem desenvolvido e que permitiu transformar Angola num dos países que "mais tem crescido economicamente".
Será notável eu ser dono de uma empresa de sucesso e ter os meus empregados a passar fome? Será notável eu andar de Ferrari e ter os meus filhos descalços e subnutridos? Não me parece. A não ser que seja isso que José Sócrates quer para Portugal. E é verdade que já faltou mais.
"Venho aqui dar uma palavra de confiança a Angola no trabalho que o Governo angolano tem feito que é, a todos os títulos, notável. Basta olhar para os indicadores", disse então José Sócrates na visita que fez à Feira Internacional de Luanda (FILDA), no âmbito da deslocação oficial a Angola.
Mesmo que em visita oficial, mesmo que o seu interlocutor seja um velho e bom amigo deste Partido Socialista português, não poderia José Sócrates ser mais moderado nos elogios a um ditador que administra um país em que das dez maiores riquezas, sete são de membros do Governo/MPLA?
O primeiro-ministro português disse na altura, e creio que voltaria a repetir hoje, que era "um prazer poder assistir a um país com dinamismo, vibração, com entusiasmo e com consciência do seu futuro".
Na altura escrevi: Porra! Tanta bajulação até levanta suspeitas. Dinamismo? Vibração? Entusiasmo? Num país em que 250 crianças em cada 1000 morrem antes dos cinco anos de idade? Hoje digo o mesmo.
"Quero que o Governo de Angola saiba que temos confiança no povo angolano, que temos confiança em Angola, temos confiança no Governo angolano e no trabalho que tem desenvolvido", sublinhou José Sócrates, só faltando ajoelhar-se e beijar os sapatos de design italiano de Eduardo dos Santos.
De acordo com o primeiro-ministro, esse trabalho tem "permitido que Angola tenha hoje um prestígio internacional, que tenha subido na consciência internacional e que seja hoje um dos países mais falados e mais reputados".
Tanto elogio, recorde-se, logo no dia seguinte ao que duas organizações não governamentais apresentaram uma queixa ao ministério público de París, contra vários chefes de Estado africanos, entre os quais o de Angola, acusados de corrupção e desvios de fundos públicos, dos quais uma boa parte “é reciclada” em França.
O chefe do Governo português disse nessa atura, e creio que voltaria a repetir hoje, que "cada vez que Angola progride, evolui e melhora, isso enche de orgulho qualquer português".
Quem é que tem orgulho numa governação em que mais de metade da população não tem acesso a água potável e em que milhões de pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia?
Que os políticos portugueses (são raras as excepções) não sabem o que dizem e também não dizem o pouco que sabem, já todos sabemos. No entanto, pensava eu que eles teriam capacidade para se manter erectos junto deste tipo de ditadores. Não só me enganei como, mais uma vez, se verifica o gosto que têm em estar de cócoras e de joelhos.
E houve tempos em que Portugal deu luz ao mundo...
Comunicação social a defender a verdade?
- Espírito natalício não justifica devaneios
A comunicação social portuguesa mereceu palavras de apreço do Bispo do Funchal, D. António Carrilho. Hum! Alguma coisa, pareceu-me, não batia certo.
D. António Carrilho esclareceu-me logo a seguir: “É por isso que hoje, mais do que nunca, os meios de comunicação social se têm de colocar ao serviço da pessoa e da sociedade no respeito e promoção dos direitos e valores humanos fundamentais”.
Mas será, pergunto eu que nem à missa vou, que em Portugal – por exemplo – existe “promoção dos direitos e valores humanos fundamentais”?
D. António Carrilho acentuou ainda que “assumindo as suas responsabilidades éticas a comunicação social não pode deixar de se colocar ao serviço da verdade e do bem com isenção e liberdade responsável”.
Essa não, D. António Carrilho! Em que país é que o senhor julga que está? Comunicação Social ao serviço da verdade? Ao serviço do bem com isenção e liberdade responsável? Onde? Onde?
Tirando algumas raras, cada vez mais raras, excepções, todos os jornalistas que pensam como D. António Carrilho ou estão no desemprego ou, para não terem de viver sem comer, mudaram de profissão.
D. António Carrilho parece esquecer, se calhar é por se estar no Natal, que os donos dos jornalistas e os donos dos donos dos jornalistas não estão nada, nadinha mesmo, interessados em ter os seus meios ao serviço da verdade.
O que eles querem, apenas, é tê-los ao serviço dos seus interesses de forma a que se não saiba que existem faces ocultas (algumas até tenebrosas) na sociedade portuguesa, que existem negociatas de todo o tipo que, se tornadas públicas, até envergonhariam os mais pérfidos e putrefactos ratos de esgoto.
Enquanto os donos de Angola comem tudo
70% por cento do povo vive(?) na pobreza!
Diz hoje o português Jornal de Negócios que o Governo angolano deu "luz verde" ao projecto de investimento da SLN, "holding" portuguesa que controlava o Banco Português de Negócios, que visa a construção de uma fábrica de cimento no país.
O problema, entenda-se de uma vez por todas, não está no facto de Angola estar a comprar (quase) tudo em Portugal. Está, isso sim, no facto de não ser Angola mas os donos de Angola, ou seja o clã Eduardo dos Santos que, quando tanto se fala de democracia, está no poder há 30 anos sem legitimidade eleitoral.
De acordo com a agência de notícias angolana, o investimento ascende a 240 milhões de dólares (167 milhões de dólares) e foi aprovado pelo Governo liderado por José Eduardo dos Santos devido à necessidade de aumentar a capacidade de produção do país, bem como à criação de valor do projecto e emprego para trabalhadores angolanos.
Treta. O Governo angolano é apenas a fachada de ar democrático para a ditadura do MPLA que, por sua vez, não passa de igual fachada de uma super poderosa família que se assume, e de facto é, como dona do país.
A fábrica será construída pela SLN – Fábrica de Cimentos & Clinker de Benguela em 44 meses e deverá criar 240 postos de trabalho, sendo 210 respectivos a trabalhadores do país.
De acordo com a mesma fonte, os promotores do processo são a Sociedade Lusa de Negócios, em conjunto com o fundo da da Segurança Social, o Caixa da Segurança Social das Forças Armadas.
E se esta é notícia de hoje, ontem ficou a saber-se que Isabel dos Santos, filha do dono de Angola, comprou 10% da Zon Multimédia, tornando-se assim accionista de referência da empresa, gastando a módica quantia de 163,8 milhões de euros.
Amanhã se verá que mais irá ser comprado pelos donos de um país rico que, contudo, tem perto de 70 por cento do seu povo a viver na pobreza.
domingo, dezembro 20, 2009
Clã Eduardo dos Santos prepara Oferta Pública de Aquisição sobre.... Portugal!
A empresária angolana Isabel dos Santos comprou 10% da Zon Multimédia, tornando-se assim accionista de referência da empresa. Gastou a módica quantia de 163,8 milhões de euros. Creio que o clã Eduardo dos Santos, para evitar negócios a retalho, lançará em breve uma Oferta Pública de Aquisição sobre Portugal.
Esta transacção - que precisa de ser aprovada em Assembleia-Geral (como se isso significasse algua coisa) - reforça a parceria já existente entre a operadora portuguesa e o universo empresarial da filha daquele que é presidente de Angola há 30 anos, José Eduardo dos Santos.
Os investimentos angolanos no mercado de capitais português, que se restringem aos da Sonangol e de Isabel dos Santos, valiam 1813 milhões de euros no início de Setembro, o que representa três por cento do total da capitalização bolsista do principal índice, o PSI 20.
68% (68 em cada 100) dos angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome. 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. No “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, Angola está na posição 158.
Em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.
Em Angola, a corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem ser livres, entre 1997 a 2001, o país consagrou à educação uma média de 4,7% do seu orçamento, enquanto a média consagrada pela SADC foi de 16,7%.
Angola disponibiliza apenas 3 a 6% do seu orçamento para a saúde dos seus cidadãos. Este dinheiro não chega sequer para atender 20% da população, o que torna o Serviço Nacional de Saúde inoperante e presa fácil de interesses particulares.
Em Angola, 76% da população vive em 27% do território. Mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.
Em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Segundo um estudo do insuspeito Ministério angolano da Família e Promoção da Mulher (MINFAMU) há muitas famílias angolanas a (sobre)viver de “restos de alimentos” que adquirem nos mercados de Luanda.
Mas tudo isto pouco importa. O relevante é a filha do presidente da República e do MPLA (partido que desgoverna Angola há 33 anos), ter gasto só nesta operação 163,8 milhões de euros.
Quantas pessoas poderiam ser alimentadas dignamente com, é apenas um dos muitos exemplos, os 163,8 milhões de euros? Mas o que é que isso interessa?
Eu sei que a maioria dos angolanos continua a passar fome, mas se José Eduardo dos Santos está mais preocupado em comprar, ou colonizar, Portugal do que em dar de comer ao povo, quem sou eu para contestar?
Tomo até a liberdade de sugerir a ementa para o repasto em que Portugal entregue as chaves do país ao clã Eduardo dos Santos:
Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005.
Lisboa em alta e o Porto fica a vê-la passar
Pinto da Costa jantou com adeptos portistas de Lisboa. Uma ceia de Natal que também contou com a presença de António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Lisboa soma pontos.
Para o presidente do Futebol Clube do Porto a macrocefalia de Lisboa só tem (algum) significado quando não meta política. Fora isso, os socialistas podem contar com ele, seja onde for.
Já em em Julho passado a então candidata do Partido Socialista à Câmara Municipal do Porto (Portugal) e, recorde-se, também eurodeputada que já tomara posse, Elisa Ferreira, contou com o nome do cidadão Jorge Nuno Pinto da Costa na sua comissão de honra.
"Se calhar, em vez de gastar milhões a fazer barulho e a cercar as pessoas nas casas, com esse dinheiro, no Porto, ninguém dormia na rua", defendeu então Pinto da Costa, aludindo às corridas de automóveis na Boavista.
Pinto da Costa disse então que se associava a Elisa Ferreira na tentativa de fazer "renascer a cidade", uma vez que o seu acontecimento principal é "cercar uma zona e colocar os automóveis de dois em dois anos a fazer barulho e não deixar dormir as pessoas".
Se dúvidas existissem (o que não foi o caso), o apoio de Jorge Nuno Pinto da Costa à eurodeputada Elisa Ferreira foi suficiente para muitos socialistas votarem em... Rui Rio.
Uma Maria que a todos representa
«Pela primeira vez em 20 anos de jornalismo, o meu Natal será "celebrado" através dos "rendimentos" do subsídio de desemprego. Na árvore de Natal, pendurei tantas bolas quanto o número de curriculos que já enviei... pode ser que o sr. das Barbas Brancas decida entrar pela chaminé e diminua os enfeites. Que a solidariedade tão evocada nesta época contagie todos os homens em cada um dos seus dias. Abraço da Maria»
... E assim (não) vai este país!
O agravamento do desemprego em Portugal é o cenário mais provável traçado pelos economistas que têm emprego para os próximos anos, bem como pelos já perto de 700 mil portugueses desempregados que se juntam aos 20% de cidadãos que já sentem a pobreza nos pratos, vazios, que por hábito colocam todos os dias na mesa.
O desemprego em Portugal atinge quase todos os meses valores mais altos dos últimos vinte e tal anos. Há, este ano, mais 11,3% de beneficiários do Rendimento Social de Inserção em Portugal do que em 2008, de acordo com as estatísticas do Instituto de Segurança Social.
Ao todo, o número de portugueses que recorrem a este apoio ultrapassa as 374 mil pessoas. Por distritos, o fenómeno reúne mais de 54 mil famílias no Porto e 24 mil em Lisboa. Das famílias que recorrem ao chamado rendimento mínimo, mais de 59 mil declaram não dispor de qualquer outro rendimento.
O director-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, avisa que a persistência do desemprego, apesar dos indícios de recuperação económica, vai provocar insatisfação social e até constituir "um risco" para algumas democracias.
Se calhar até seria bom para Portugal. Não? Se calhar há algum exagero. Desde logo porque entre Agosto de 2008 e igual mês deste ano os centros de emprego portugueses registaram, em média, apenas... um novo desempregado a cada quatro minutos. Nada, portanto, que faça temer o pior...
"Os problemas acontecem quando os governos dizem à opinião pública que as coisas estão a melhorar enquanto as pessoas perdem os seus empregos", comentou Dominique Strauss-Kahn em entrevista à revista interna do FMI.
"Para alguém que vai perder o seu emprego, a crise não acabou. E isso constitui um alto risco", prosseguiu o director-geral do FMI.
"Isso também pode, em alguns países, tornar-se um risco para a democracia. Não é fácil administrar esta transição, e ela não será simples para as milhões de pessoas que ainda estarão desempregadas no próximo ano", afirmou o dirigente do FMI.
Em Portugal é provável que em vez de um novo desempregado a cada quatro minutos se consiga, fazendo fé nas promesses do actual governo, um desempregado a cada... três minutos.
O FMI já avisou que a situação do emprego vai continuar a degradar-se no mundo, apesar da regresso, embora tímido, do crescimento.
"A nossa previsão é que a recuperação mundial se dê no primeiro semestre de 2010. Levando em conta os bons números que foram publicados nos últimos meses, esta recuperação pode até acontecer um pouco antes", observou Strauss-Kahn.
"No entanto, a economia mundial somente se restabelecerá quando o desemprego cair", disse o responsável do FMI. E se assim é, bem que os portugueses estão literalmente lixados.
Ao todo, o número de portugueses que recorrem a este apoio ultrapassa as 374 mil pessoas. Por distritos, o fenómeno reúne mais de 54 mil famílias no Porto e 24 mil em Lisboa. Das famílias que recorrem ao chamado rendimento mínimo, mais de 59 mil declaram não dispor de qualquer outro rendimento.
O director-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, avisa que a persistência do desemprego, apesar dos indícios de recuperação económica, vai provocar insatisfação social e até constituir "um risco" para algumas democracias.
Se calhar até seria bom para Portugal. Não? Se calhar há algum exagero. Desde logo porque entre Agosto de 2008 e igual mês deste ano os centros de emprego portugueses registaram, em média, apenas... um novo desempregado a cada quatro minutos. Nada, portanto, que faça temer o pior...
"Os problemas acontecem quando os governos dizem à opinião pública que as coisas estão a melhorar enquanto as pessoas perdem os seus empregos", comentou Dominique Strauss-Kahn em entrevista à revista interna do FMI.
"Para alguém que vai perder o seu emprego, a crise não acabou. E isso constitui um alto risco", prosseguiu o director-geral do FMI.
"Isso também pode, em alguns países, tornar-se um risco para a democracia. Não é fácil administrar esta transição, e ela não será simples para as milhões de pessoas que ainda estarão desempregadas no próximo ano", afirmou o dirigente do FMI.
Em Portugal é provável que em vez de um novo desempregado a cada quatro minutos se consiga, fazendo fé nas promesses do actual governo, um desempregado a cada... três minutos.
O FMI já avisou que a situação do emprego vai continuar a degradar-se no mundo, apesar da regresso, embora tímido, do crescimento.
"A nossa previsão é que a recuperação mundial se dê no primeiro semestre de 2010. Levando em conta os bons números que foram publicados nos últimos meses, esta recuperação pode até acontecer um pouco antes", observou Strauss-Kahn.
"No entanto, a economia mundial somente se restabelecerá quando o desemprego cair", disse o responsável do FMI. E se assim é, bem que os portugueses estão literalmente lixados.
sábado, dezembro 19, 2009
Crise só para alguns. É fartar vilanagem!(II)
Por alguma razão há cada vez mais “jornalistas” a pensar com a barriga. E, se calhar, até fazem bem. Basta olhar para o que, em Janeiro, ganhavam na RTP, a televisão pública (paga por nós), Judite de Sousa (14.720 euros), José Alberto de Carvalho (15.999 euros) ou José Rodrigues dos Santos (14.644 euros).
Mas numa empresa onde não há crise (claro, é paga por todos nós), sucedem-se os exemplos de como pensar com a barriga é fácil, é barato e dá milhões:
Director de Programas, José Fragoso: 12.836 euros; Directora de Produção, Maria José Nunes: 10.594; Pivôt João Adelino Faria: 9.736; Director Financeiro, Teixeira de Bastos: 8.500; Director de Compras, Pedro Reis: 5.200; Director do Gabinete Institucional, Afonso Rato: 4.000; Paulo Dentinho, jornalista: 5.330; Rosa Veloso, jornalista: 3.984; Ana Gaivotas, relações públicas: 3.984; Rui Lagartinho, repórter: 2.530; Rui Lopes da Silva, jornalista: 1900; Isabel Damásio, jornalista: 2.450; Patrícia Galo, jornalista: 2.846; Maria João Gama, RTP Memória: 2.350; Ana Fischer, ex-directora do pessoal: 5.800; Margarida Neves de Sousa, jornalista: 2.393; Helder Conduto, jornalista: 4.000; Ana Ribeiro, jornalista: 2.950; Marisa Garrido, directora de pessoal: 7.300; Jacinto Godinho, jornalista: 4.100; Patrícia Lucas, jornalista: 2.100; Anabela Saint-Maurice: 2.800; Jaime Fernandes, assessor da direcção: 6.162; João Tomé de Carvalho, pivôt: 3.550; António Simas, director de meios: 6.200; Alexandre Simas, jornalista nos Açores: 4.800; António Esteves Martins, jornalista em Bruxelas: 2.986 (sem ajudas); Margarida Metelo, jornalista: 3.200.
Que uma parte do mundo dos media portugueses, onde supostamente deveriam também, ou sobretudo, trabalhar jornalistas, está pelas ruas da amargura (serão até mais córregos do que ruas) já não é novidade para ninguém.
A verdade, contudo, é que grande parte da culpa, se não mesmo a quase totalidade, é dos chamados jornalistas, uma espécie profissional cada vez mais semelhante às alternadoras (ou, como agora se diz, alternadeiras) que a troco de uns cobres vão para onde der mais jeito, apunhalam colegas (quase sempre pelas costas) e tanto “trabalham” na horizontal como de joelhos.
Também nesta profissão não basta ser sério. É preciso parecê-lo. Ora, o que mais acontece, é que os jornalistas (há, obviamente algumas boas e louváveis excepções) não são sérios mas querem passar a imagem de que o são.
E assim vai, a caminho do fim, o jornalismo. E assim vai, a caminho do sucesso, o comércio jornalístico. Tudo, é claro, a bem da Nação, seja ela qual for desde que, pois claro, dê lugar a bons tachos.
Crise só para alguns. É fartar vilanagem!
O grupo RTP (Estado, contribuintes, nossos impostos) fechou o acordo de financiamento através do qual vai comprar ao BPN Imofundos o edifício sede, situado na Avenida Marechal Gomes da Costa, em Lisboa. Um negócio pela módica quantia de mais ou menos, certamente bem mais, 70 milhões de euros.
O consórcio é formado pela Caixa Geral de Depósitos (mais uma vez Estado, contribuintes, nossos impostos) e pelo BES, que assinaram com a RTP um contrato de leasing imobiliário válido por 25 anos, sendo que o valor do financiamento é, recorde-se, de mais ou menos, certamente bem mais, 70 milhões de euros.
Recorde-se igualmente que o buraco do BPN não pára de aumentar, estando quase do outro lado do planeta. O ministro das Finanças de Portugal, Teixeira dos Santos, diz que não está em condições de quantificar as perdas para o Estado.
Segundo o jornal Expresso, os financiamentos da Caixa Geral de Depósitos (Estado, contribuintes, nossos impostos) ao BPN somarão 4.000 milhões de euros até final deste ano, mais 500 milhões de euros do que já se conhecia. Pouca coisa.
O jornal refere ainda que as necessidades de financiamento do BPN não ficarão por aqui: a perspectiva da sua reprivatização coloca a necessidade de o recapitalizar ou de o Estado o vender com insuficiência de capital, o que lhe retirará valor na venda. O Expresso aponta a possibilidade de o Estado garantir ao BPN uma nova linha de recapitalização num provável montante de 2.000 milhões de euros. Nada como a crise ser só para alguns.
Questionado na Assembleia da República, na comissão de Economia e Finanças, o ministro das Finanças disse que não estava em condições de quantificar os custos da nacionalização do BPN para o Estado. Teixeira dos Santos disse também que o seu plano para "minorar perdas" passa por duas operações: vender os activos (aí está a RTP - Estado, contribuintes, nossos impostos), na prática os 200 balcões que o BPN possui, e reprivatizar o banco.
A reprivatização poderá exigir a recapitalização do banco, agravando os custos para o Estado, e portanto para todos os contribuintes portugueses.
Síntese: é fartar vilanagem.
Reino Unido, Israel e África
O governo do Reino Unido está a estudar, com carácter de urgência, uma reforma do respectivo sistema legal para acabar com a ferramenta que permite a juízes emitirem ordens de prisão contra (alguns) políticos estrangeiros em visita ao país.
A alteração foi incentivada pelas críticas de Israel na sequência uma ordem de prisão emitida contra a sua ex-ministra dos Negócios Estrangeiros e actual líder da oposição, Tzipi Livni (foto), que a levou a cancelar a viagem a Londres.
Segundo comunicado assinado pelo ministro de os Negócios Estrangeiros britânico, David Miliband, a visita de personalidades de Israel ao Reino Unido é muito importante e o país está disposto a impedir que a situação se repita.
«Israel é um sócio estratégico e um amigo próximo do Reino Unido. Estamos determinados a proteger e desenvolver estes laços. Os líderes israelitas, como os líderes de outros países, devem visitar e manter um diálogo apropriado com o governo britânico», disse.
A ordem de detenção contra Livni - que iria visitar o Reino Unido - foi concedida por um tribunal a pedido de grupos palestinianos devido ao seu papel na ofensiva militar do início do ano contra o movimento radical palestiniano Hamas, na faixa de Gaza.
Advogados representando grupos palestinianos aproveitaram nos últimos anos os termos da «jurisdição universal» para procurar ordens de prisão para militares, civis e políticos israelitas.
Como se constata, esse maldito povo nazi conhecido por israelitas está a provocar um verdadeiro genocício dos palestinianos. Como certamente diria João Gomes Cravinho, o primeiro-ministro de Israel, este ou qualquer outro, não passa de um Hitler.
Em Darfur, no Sudão, fontes certamente muito mal informadas apontaram para mais de 300 mil mortos e dois mihões de deslocados. Embora o massacre tenha sido praticado por um regime islâmico, o melhor é não lhe chamar genocídio.
Genocídio é com certeza o que se vai passando na Faixa de Gaza e não, é claro, qualquer outra coisa que se passa em África. Para se falar de genocídio é preciso ver quem são as vítimas e quem são os autores.
Ou seja, se os autores são israelitas e as vítimas palestinianos, então qualquer que seja o número de mortos e feridos é um genocídio. Se os autores são pretos e as vítimas também pretos, então trata-se de um pequeno conflito, mesmo que morram aos milhares.
Mas o que é que isso importa? O mundo dos bons tem mais com o que se preocupar. A Faixa de Gaza, o cão de Barack Obama, o prémio de Cristiano Ronaldo ou a bitacaia que atacou a Lili Caneças são bem mais importantes do que umas centenas de mortos em África, mesmo considerando que algumas dessas vítimas sentem a dor em português.
É claro que os africanos podem desaparecer, mas as riquezas naturais continuam lá à disposição dos donos do mundo. É a civilização ocidental no seu melhor.
É certo que a situação na República Democrática do Congo continua a ferro e fogo, tal como continua perigosamente instável a vida na Guiné-Conacri, na Somália, no Sudão...
Mas o que são milhares de mortos pela cólera no Zimbabué comparados com os 500 palestinianos mortos pelos bombardeamentos israelitas à Faixa de Gaza, ou os três ou quatro israelitas mortos pelos ataques do Hamas?
Mas o que são os eventuais 60.000 potenciais casos de cólera no Zimbabué comparados com os perto de 200 mortos nos ataques a Bombaim?
E o que são os milhões de pessoas que em toda a África morrem de fome, de doença ou pelos efeitos da guerra, comparados com uma missa que concentrou, em Madrid, um milhão de pessoas?
É claro que o importante é mostrar ao mundo que a aviação israelita tornou em escombros grande quantidade de prédios em Gaza. Reconheço que tal não acontece em África. Em zonas onde há milhões de pessoas que vivem em cubatas é difícil, calculo eu, ter imagens de prédios destruídos.
Além disso, o que interessa não são os africanos mas, antes, o petróleo e outros produtos vitais para o Ocidente. E se até Sarah Palin não tinha a noção do que era essa coisa chamada África, é bem natural que as ruas das principais cidades mundiais se encham de cidadãos de primeira preocupados com outros cidadãos quase de primeira, os palestinianos, e não com essa espécie menor a que chamam pretos.
E assim se faz a história onde as prioridades, entre outras justificações, são feitas pela cor da pele. Racismo? Não. Nem pensar. Apenas uma realidade indesmentível: uns são pretos, outros não!
À venda? Talvez! Em saldo? Não!
No discurso proferido durante o acto da sua tomada da posse do cargo de Presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) de Portugal, o Juiz Conselheiro Noronha Nascimento pronunciou-se sobre a forma como os jornalistas acompanham os temas de Justiça, aludindo designadamente a violações de normas éticas e deontológicas e de deveres estabelecidos no seu Estatuto profissional.
É o que eu digo. Metam os jornalistas na ordem e em ordem, seguindo o exemplo dos últimos anos: desemprego com eles e, se não for suficiente para que optem por colunas vertebrais amovíveis, outras medidas haverá.
Como corolário dessa reflexão, Noronha Nascimento afirmou: “Para as violações estatutárias só conheço um antídoto eficaz: um órgão com poderes disciplinares efectivos, composto paritariamente por representantes das próprias classes profissionais e da estrutura política do estado de modo a obviar à sua partidarização ou ao seu corporativismo; para as violações de cidadania, a indemnização sancionatória que os saxónicos de há muito implementaram e onde a advocacia desempenha um papel importante de detecção e controlo”.
A Direcção do Sindicato dos Jornalistas (SJ) reagiu e, desde logo, “reconhece ao Presidente do STJ, como a qualquer cidadão, o direito de comentar o funcionamento dos Média e o trabalho dos jornalistas”, acrescentando que “a expressão pública de opiniões e de críticas aos jornalistas constitui, aliás, um dos exercícios mais importantes – e mais severos – de escrutinar a sua missão e o seu desempenho”.
Cá para mim, o mais simples era adoptar a metodologia de algumas das empresas donas da comunicação social. A receita é mesmo simples: os jornalistas ou comem e calam, ou se não se calam deixam de comer. Vão ver que é remédio santo.
O SJ diz que “os jornalistas não estão acima da Lei e o ordenamento jurídico da República contem normas mais do que suficientes e, nalguns casos, mais severas, para sancionar eventuais práticas ilícitas, assim como já consagra dispositivos próprios para julgar e punir a violação dos deveres profissionais estabelecidos no seu Estatuto”.
Mas, na minha modesta opinião, o problema apenas está no facto de os jornalistas estarem abaixo da lei. Portugal quer, tal como muitos outros regimes, que os jornalistas tenham toda a liberdade para estarem calados, para pensar pela cabeça dos chefes de posto, para assinarem textos paridos nas mais vis latrinas.
Pelas medidas já tomadas ao longo dos últimos anos, os donos do poder em Portugal já conseguiram pôr os jornalistas à venda. Mas como o êxito comercial não foi o esperado, querem agora pô-los em saldo...
Ver comunicado do SJ:
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