terça-feira, dezembro 22, 2009

Enquanto os angolanos morrem à fome
portugueses endeusam Isabel dos Santos

Segundo o português Jornal de Negócios, “Portugal tem muitas mulheres importantes, algumas são ricas, poucas são poderosas. Uma é as três coisas. Tem 36 anos e não é portuguesa. É a angolana Isabel dos Santos.”

E acrescenta: “Isabel e José Eduardo construíram um poder tão ramificado em empresas portuguesas que só o Estado e Grupo Espírito Santo os ultrapassarão. Tanta concentração de poder é mais ameaçadora do que uma nacionalidade”.

O que os jornais, este como (quase) todos os outros portugueses, não dizem é que 68% (68 em cada 100) dos angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome.

Não dizem que 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos, ou que no “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, Angola está na posição 158.

Não dizem que em Angola a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, e que o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.

Não dizem que em Angola, a corrupção política e económica é, hoje como ontem e certamente amanhã, utilizada contra todos os que querem ser livres.

Não dizem que Angola disponibiliza apenas 3 a 6% do seu orçamento para a saúde dos seus cidadãos, e que este dinheiro não chega sequer para atender 20% da população, o que torna o Serviço Nacional de Saúde inoperante e presa fácil de interesses particulares.

Não dizem que em Angola 76% da população vive em 27% do território, que mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.

Não dizem que em Angola o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Não dizem que enquanto a maioria (68%) dos angolanos nem fuba ou peixe seco tem, Isabel dos Santos e os restantes membros do clã adoram trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba, queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e vinhos do tipo Château-Grillet 2005.

1 comentário:

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Parabens por este texto, merecia o Nobel do Jornalismo, presumo que é voce o autor. Se me der autorizacao de o divulgar nos meus blogs "Ondjira Sul" e "Cores & Palavras", agradeco-lhe desde já, concerteza fazendo referencia ao seu blog, evidentemente.
Atenciosamente
Namibiano Ferreira