domingo, dezembro 06, 2009

Jornalistas aprendem a viver sem comer
(os que estiveram mais perto... morreram)

“Se não erro, o Jornalismo é a única profissão cujas garantias fundamentais – direito de acesso à informação, sigilo profissional, direito de participação na orientação dos órgãos de informação, etc. – merecem protecção constitucional em Portugal”, afirmou Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas portugueses durante os trabalhos de constituição da Federação de Jornalistas de Língua Portuguesa.

Pois, Alfredo Maia “errou”. Isto é, disse o que está consagrado na lei mas que, de facto, não é praticado. Nestas matérias, a Constituição portuguesa segue à letra o velho adágio lusitano que nos diz: olhai para o que digo e não para o que faço. E o que dizem é bom, e o que fazem é péssimo.

Alfredo Maio recordou que o fardo é insuportável por parte de todos aqueles (e são cada vez menos) que não têm coluna vertebral amovível, “especialmente nos tempos que correm, enfrentando uma grave ofensiva por parte das empresas, com o beneplácito, a mais descarada cumplicidade e mesmo a participação activa do Governo e da maioria parlamentar e a complacência do Presidente da República, como aconteceu com a última revisão do Estatuto do Jornalista e com o fracasso na aprovação de uma lei contra a concentração da propriedade dos meios de informação”.

Tem razão. Mas, mais uma vez, ter razão é o que menos conta. E não conta porque quem manda no país não é a Constituição, muito menos o povo. Quem manda são os donos da política e os donos dos donos da política, ou seja as empresas (públicas ou privadas) que reservam sempre bons tachos aos políticos que lhes prestaram bons serviços.

“A concentração da propriedade dos meios de informação, que está na origem de um clube restrito de grupos económicos que controla todas as grandes publicações, as televisões e as principais rádios não representa apenas o domínio da capacidade de recolher, tratar e difundir informação e um enorme poder de intervenção no espaço público”, afirmou Alfredo Maia, acrescentando que “tal concentração representa igualmente o controlo do mercado do trabalho dos jornalistas e outros trabalhadores, estabelecendo e impondo as regras sobre quem entra, quem permanece e quem sai das empresas, que é como quem diz da profissão”.

O retrato não poderia ser mais exacto. Se optasse por uma economia de palavras, a Alfredo Maia bastaria dizer que hoje, em Portugal, os jornalistas ou comem e calam, ou não calam e não comem.

Voltemos ao discurso do presidente do Sindicato dos Jornalistas portugueses: “A pretexto da crise, com o argumento das inexoráveis alterações tecnológicas, com a maximização do lucro através da exploração de sinergias, muitas redacções continuam a ser emagrecidas e o desemprego entre os jornalistas portugueses atinge níveis nunca vistos. Apesar da reduzida dimensão do mercado português, contam-se às centenas de vítimas por ano. A maioria não volta à profissão”.

Quem se dê ao trabalho de ler o que se escreve regularmente sobre este assunto aqui no Alto Hama já não estranha estas afirmações do Alfredo Maia. É mesmo assim, os jornalistas ou aceitam ser criados, mesmo que de luxo, do poder ou vão aprender a viver sem comer.

Alguns já estiveram quase a saber viver sem comer. Mas tiveram azar. Quando estavam quase lá... morreram.

“Simultaneamente, centenas de jovens a iniciar a profissão são contratados em regimes da maior precariedade, a qual se prolonga por muitos anos, condicionando a sua liberdade e a sua consciência profissional, além de reduzi-los à condição de reserva de mão-de-obra barata e facilmente descartável”, afirmou o Alfredo Maia, citando também “Jornalistas com vínculos contratuais precários ou jornalistas sob o risco permanente de serem abrangidos por uma reestruturação, que é o sinistro caminho para o desemprego, enfrentam enormes desafios à consciência profissional, ao dever ético de resistir a uma mercantilização da informação, ao imperativo deontológico do rigor e da protecção dos interesses dos cidadãos, à obrigação solidária de defender os direitos laborais e profissionais”.

Por outras palavras, na perspectiva corrente dos empresários que têm órgãos de comunicação social, da mesma forma que poderiam ter salsicharias, não tardará que se crie em Portugal uma central de compras de textos de linha branca de modo a que, mudando apenas o rótulo, todos passem a beber o leite produzido pelas mesmas vacas, embora com nome diferente.

É por isso que são cada vez menos os órgãos de comunicação social que têm ao seu serviço Jornalistas No seu lugar estão acéfalos produtores de conteúdos (quase como putas de beira de estrada), formatados para servir quem lhes paga.

Hoje (salvo muito poucas excepções) não se fazem jornais, fazem-se linhas de enchimento de conteúdos de linha branca em forma de papel, rádio, televisão ou Internet. E fazem-se à medida e por medida do cliente. E o cliente não é o público. É quem paga, é quem manda.

É claro que o «quero, posso e mando» que hoje está instituído por essas Redacções fora, apenas serve quem entende que jornalismo é uma mera forma de propaganda. Propaganda sobretudo político-económica.

4 comentários:

Anónimo disse...

É para estes energúmenos, patrões, que os Media trabalham e por isso os jornalistas não podem pensar pela sua cabeça...
Além de que a coisa funciona e se funciona! Imagine que a solidariedade já tirou em 20% a responsabilidade dos Estado e não só.
Como digo neste artigo, os que pouco têm, através de manobras de lavagem cerebral e responsabilização irão sustentar os que nada têm, para que os ricos possam ficar cada vez mais ricos... o problema é que esses egoístas irão acabar por açambarcar tudo para eles!
Os media agora são apenas um poder malévolo oculto!

http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=24634&catogory=Opini%E3o

Anónimo disse...

E não esquecer, que temos o patrão dos media europeus, que faz cá as suas experiências. O Bilderberg Pinto Balsemão, the president of european publisher council.
Nós não passamos de cobaias a serem estudadas no terreno, pelos masters!

Anónimo disse...

Aos que por aqui passarem e lerem estes comentários, podem ficar tranquilos. Eu não faço mal e, para vosso bem, devem reflectir sobre certas realidades sob pena de serem usados pelos OCULTOS EMPRESÁRIOS DO SOBRENATURAL E DA POlÍTICA. Eles andam ai...

Anónimo disse...

"(...)É claro que o «quero, posso e mando» que hoje está instituído por essas Redacções fora, apenas serve quem entende que jornalismo é uma mera forma de propaganda. Propaganda sobretudo político-económica". Ou uma feira de vaidades, acrescento eu, que após 20 anos do início da profissão bati com a porta, por me recusar a "viver sem comer". Por um lado, com a carteira vazia devido a salários em atraso e, por outro por não admitir que quem "quero, posso e mando"(leia-se gerente/director))considere que um jornal é o mesmo que educar uma adolescente rebelde que se recusa a ir à escola porque sim. Estou no desemprego há seis meses, mas sinto-me VIVA!