Um velho amigo dos tempos do Huambo, tempos anteriores a 1974, seguiu o MPLA e eu segui, como é conhecido, a UNITA. Embora fisica e politicamente distantes, continuamos amigos. Apesar de ele ser general das Forças Armadas de Angola continua a ler o que escrevo e a dizer de sua justiça.
Ontem, escreveu-me a propor uma aposta simbólica. Mais uma das muitas que temos feito ao longo dos tempos. Diga-se, entretanto, que tenho perdido quase todas.
“Aposto que o teu artigo que a UNITA repescou («Da chipala à face oculta») para o seu site não vai estar no ar mais de 24 horas», disse-me ele com aquelas certezas comuns ao MPLA e que, reconheço, sempre me irritaram.
Aceitei a aposta e pedi-lhe uma explicação para tais certezas. “É simples”, disse ele, explicando: “Ao publicares hoje (ontem) um texto em que dizes que a UNITA prefere ser assassinada pelo elogio, assinaste a ordem para que os teus maninhos kwachas, que não sabem o que é democracia, liberdade de opinião e ter ideias diferentes, retirem imediatamente o teu texto do site”.
Fiquei afinado, até porque os textos costumam estar no mínimo vários dias visíveis. Além disso, não gostei que me dissesse que os responsáveis da UNITA não sabem o que é democracia, liberdade de opinião e ter ideias diferentes.
Aceitei, portanto, a aposta na esperança que desta vez iria ganhar.
Eis senão quando, há poucos minutos recebo uma mensagem desse meu amigo a dizer simplesmente: “já viste o site da UNITA?”
Caldo entornado. Não é que, mais uma vez, perdi a aposta? O meu texto tinha sido retirado poucas horas depois da publicação do tal outro texto em que dizia que a UNITA prefere ser assassinada pelo elogio.
É mesmo caso para dizer, ou reconhecer, que os responsáveis da UNITA não sabem o que é democracia, liberdade de opinião e ter ideias diferentes.
2 comentários:
Quer a UNITA quer o MPLA, conforme demonstra o respectivo percurso histórico não são partidos democráticos. Por muitas loas à democracia que cantem. Cumpriram o seu papel histórico. Bem ou mal, agora começa a não interessar em termos de futuro, apenas em termos de passado. Por isso é chegada a altura do panorama político de Angola se redefinir com a criação de novos partidos com tendências ideológicas bem demarcadas. A sociedade angolana não pode ficar refém dos três movimentos/partidos, MPLA, FNLA e UNITA. Terá de procurar soluções alternativas, pois não será possível o suporte no binómio "aqueles que suportaram a luta armada" versus "aqueles que viviam participando directa ou indirectamente com o regime colonial" por mais várias décadas.
A pretensa autoridade moral de certos sectores da sociedade tem sobretudo servido de cobertura á perpetuação no poder de uma comandita desavergonhada que se vem apropriando das riquezas do país em proveito próprio. Questiono-me se por acaso não há agora maior diferença social e económica do que no tempo colonial. Se as dificuldades do povo e o seu sofrimento não se agudizaram. No fundo os três movimentos continuaram uma lógica de guerra que no contexto actual está ultrapassada e mostram-se incapazes de definir uma estratégia nacional coerente e digna.
O empenhamento do MPLA nas reservas petrolíferas é patético e pateta. Mais 15 ou 30 anos e depois? E quando a mama acabar que vai meter dinheiro no país? Saberão porventura os actuais políticos angolanos que a manter-se o actual status quo de dependência quase exclusiva no petróleo e o consequente aquecimento global terá consequências catastróficas para Angola? É que os modelos matemáticos prevêem uma presente envenenado para o sul da África com epicentro no Botswana e repercussões nos países vizinhos com a extensão da seca?
E por que não apostar-se nas hidroeléctricas, riqueza muitíssimo abundante em Angola em detrimento de uma central a gás natural, que só dá parangonas no jornal e dinheiro a ganhar à malta das comissões e aos construtores europeus e norte-americanos?
E uma reforma agrária para se conseguir uma distribuição justa da terra pelo povo e não pela pandilha do governo?
E um ensino de categoria com reforço do universitário de qualidade em vez de se preocuparem em dar o nome do Zedu à Universidade do Huambo.
Porque não obrigar a Sonangol a distribuir uma percentagem da respectiva facturação para o desenvolvimento científico financiando a educação tal como é obrigada a tal a Petrobrás no Brasil. É evidente que se assim fizessem teriam de ir buscar rapidamente professores estrangeiros, mas não os atrasadinhos de Cuba e lá vinha novamente os pulas,vulgo os portugueses e os brasileiros. Escândalo! Lá vinham os brancos controlar novamente Angola. Não, teremos de usar apenas angolanos genuínos, seja lá o que isso for! De preferência com a autoridade e a experiência que lhes deu a luta armada, seja lá o que isso for. Temos de manter a tríada ideologicamente e politicamente correcta. A pureza da nação angolana passará indubitavelmente pelos "três irmãos",MPLA, FNLA e UNITA. E ai de quem ousar contestá-los!
Então a limpeza de 1977 não se virou essencialmente para a rapaziada que nunca esteve na mata e não estava legitimada pela luta armada. Então o Agostinho Neto não constatou alarmado que iria ser muito difícil controlar e dominar os militantes/simpatizantes do MPLA que viviam em Luanda e tinha ideias muito próprias sobre o destino do país, as quais colidiam com as suas?
Não isto com a tríada não vai a lado nenhum!
Quer dizer que no meio de tudo isto, as pessoas sensatas como o Orlando, ficam sempre entre dois fogos?
E que raio está aí a fazer, outra vez, no meio desses todos?!
Bem, no meio não está... atiraram-no para o Oceano e ainda bem... ficava mal um homem bom no meio de tanto cretino. :)
Tirando o Isaías, como disse uma vez... :)
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