“As relações entre Angola e Portugal conhecem a sua melhor fase, caracterizadas hoje pela abertura, franqueza e sobretudo pelo acentuar das trocas comerciais mutuamente vantajosas entre os dois países. Basta olhar para o volume de vistos concedidos pelos serviços consulares angolanos em Portugal, para se ter uma ideia das movimentações facilitadas pelo presente quadro das relações entre os dois países”, escreve em Editorial o órgão oficial do regime angolano, o Jornal de Angola (JA).
“Pensamos que há ainda muito por fazer, mas decerto que hoje mais do nunca as relações entre Angola e Portugal são excelentes”, afirma o JA, acrescentando que “os Governos dos dois países, as suas comunidades empresariais e de empreendedores, estão a procurar fazer jus ao presente momento com iniciativas susceptíveis de contribuir para o bem comum”.
O JA tem toda a legitimidade (ou não fosse o órgão oficial do regime) para pôr no mercado um manacial de louvaminhas que colam um regime democrático, embora coxo, o de Portugal, a um ditatorial como é o de Angola.
É claro que, como também muito bem salienta o JA, negócios são negócios, política é política. A regra é de ouro sobretudo para a parte do MPLA, cuja noção de democracia é estar no poder a qualquer preço desde 1975, bem como para o presidente da República que lá está há 30 anos e se propõe fazer eleições presidenciais quando Deus quiser, sendo que no caso ele é o prório Deus.
O JA, ou o MPLA (são a mesma coisa), esquecem-se de uma verdade fundamental. Não se pode falar de relações comerciais ou empresariais entre Portugal e Angola. A verdade diz que são relações, isso sim, entre Portugal e o MPLA, e para ser mais específico, entre Portugal e o clã Eduardo dos Santos.
Fossem, de facto, relações entre Portugal e Angola e tudo estaria bem. Fossem relações entre o MPLA e o PS e tudo continuaria correcto. Fossem relações entre Eduardo dos Santos e Aníbal Cavaco Silva e, claro, nada haveria a opor.
O problema é que não são. Ao contrário de José Eduardo dos Santos, Cavaco Silva não representa – como o seu homólogo angolano – quase 100% do Produto Interno Bruto. Cavaco foi eleito, ao contrário de Eduardo dos Santos. Cavaco tem um limite de mandatos, Eduardo dos Santos é eterno no cargo. A filha de Cavaco não é, ao contrário da filha de Eduardo dos Santos, dona de Portugal e quase dona de Angola.
Eu sei que Portugal está, do ponto de vista moral e político, cada vez mais perto de Angola. De qualquer modo ainda há quem acredite (é o meu caso) que tanto num caso como noutro é possível mudar de políticos, mantendo o país. Estou, se calhar, a ser ingénuo.
1 comentário:
E assim que angola vai enfrente falando verdades.........
vamos mostrar aos fanáticos que angola não pode ter mandatos vitalicios !!!!!!!!!!!!
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