Uma «pessoa próxima do primeiro-ministro» português terá pressionado José António Saraiva para que o semanário que dirige, o Sol, deixasse de publicar uma notícia sobre o caso Freeport. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) quis explicações, mas não obteve nomes.
José António Saraiva esteve ontem reunido com Azeredo Lopes, presidente da ERC, e os conselheiros Estrela Serrano e Elísio Cabral. Durante as cerca de cinco horas que durou o encontro o jornalista escusou-se a nomear o autor das alegadas pressões, avança o Correio da Manhã.
Esta foi a «primeira audição» do processo, segundo a ERC. No entanto, há ainda outra acusação de Saraiva a investigar: o Governo e os organismos públicos privilegiam na distribuição de publicidade institucional os jornais que não lhes são críticos.
Como sempre, mas agora se calhar de forma mais visível, a não revelação das fontes, ou as chamadas fontes anónimas, está na ordem do dia, constituindo uma tipologia do dito jornalismo moderno nas ocidentais praias lusitanas. Mas não só nelas, é claro!
Fica a suspeição. E de suspeição em suspeição lá vai o país cantando e rindo, permitindo que as regras de um Estado de Direito entrem directamente para o brejo.
Assim, de anonimato em anonimato, a informação que deveria ser formadora e informadora, acaba por ser apenas correia de transmissão de interesses pouco transparentes mas, quase sempre, altamenta rentáveis.
Tão rentáveis que o sensacionalismo e o gosto pela polémica já não obedecem a nenhuma regra jornalística, limitando-se a seguir os critérios dos donos da imprensa e dos donos dos donos dessa mesma imprensa.
Por alguma razão, o Bispo de Viseu (Portugal), D. Ilídio Leandro, dizia com todas as letras, no dia 19 de Maio, que "há muitos jornalistas que estão ao serviço do director e não ao serviço da verdade, da informação, daquilo que é importante”, acrescentando: “Eu compreendo que os jornalistas precisam de ter caminhos de vida, mas quando isso vem como deformador das notícias é mau".
É mau, digo eu, do ponto de vista do tal Jornalismo que cada vez menos se pratica. Mas do ponto de vista remuneratório é bom, muito bom. E essa coisa, caro D. Ilídio Leandro, de se ser bom jornalista com a barriga vazia foi chão que deu (há muito, muito tempo) uvas.
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