segunda-feira, dezembro 28, 2009

É preciso ser preto para ser angolano?
É preciso ser preto para ser da UNITA?

Ao longo dos anos tenho defendido aqui no Alto Hama, tal como na secção com o mesmo nome e que assino há muito mais tempo no Notícias Lusófonas, aquilo que considero o mais correcto para a minha terra, Angola.

Para os que estão por dentro dos meandros da política angolana, as minhas posições são claras. Para os que estão por fora, em particular para os meus amigos portugueses, tais posições poderão parecer contraditórias. E isto porque, usando o mais nobre critério jornalístico (a liberdade), tanto critico o MPLA e o Governo angolano (são ambos a mesma coisa) como o faço em relação à UNITA e ao seu Presidente.

Sou angolano, nasci em Angola, lá estudei, brinquei, cresci e me fiz homem. Mesmo que tenha sido obrigado pelos acontecimentos históricos a abandonar o país onde nasci, e a utilizar a nacionalidade portuguesa dos meus pais, o meu coração esteve lá, está lá e estará sempre lá, quer o MPLA queira ou não, quer a UNITA queira ou não.

Nunca me conformarei com o estado a que o meu país chegou. Nunca me conformarei com a miséria, a fome, a indignidade, o roubo e tudo o que de mau tem acontecido no meu país. Não acredito que tudo isto seja consequência da guerra e estes últimos sete anos de paz, confirmam que todo o mal que existiu e que continua a existir se deve aos governantes do MPLA.

Duvidam? Em sete anos de paz, nada mudou. A fome, a miséria, a indignidade, a mortalidade infantil, os roubos, os assassínios e tudo o resto continuam a somar pontos na minha terra porque, de facto e de jure, poucos têm milhões e milhões têm pouco ou nada.

Portanto sou militante e conscientemente da oposição ao actual Governo angolano e ao partido que o sustenta, o MPLA.

E, quer acreditem ou não os que estão dentro, fora, ou fora e dentro, sou “militante”, ou pelo menos assim me considero, da UNITA.

Compreendo que muitas das minhas posições contra a actuação da UNITA não sejam bem aceites por muitos dos seus militantes, desde logo porque – também no Galo Negro – ser branco nada ajuda a ser considerado angolano.

Aprendi ao longo da minha vida que não me sentiria bem se ficasse quieto perante o que considero errado. E muitas das vezes não estou de acordo com a actuação da UNITA e da sua actual Direcção. Ou mais grave ainda, com a sua não actuação, um misto de passividade e lentidão que não se coaduna com quem quer ser alternativa de poder.

A UNITA foi dirigida durante muito tempo por alguém cuja estatura e inteligência eram suficientemente grandes para que os seus militantes estivessem descansados. Quando Jonas Savimbi foi assassinado, a UNITA considerou que a democracia interna era a única hipótese que tinha de sobreviver. E estava certa. A democratização interna fez o Partido sobreviver e fortalecer-se.

O que eu critico muitas das vezes na UNITA é a falta de acção, de actuação, a maneira burocrática e prenhe de lentidão como tudo é decidido, o arrastar das decisões, discutidas até à exaustão numa democraticidade interna que se é boa ao nível das grandes linhas, é um empecilho ao nível da execução, parecendo-me muitas vezes um claro exercício de suicídio político.

Comparativamente, o MPLA está em todas, lidera em força e com alguma qualidade (reconheço) quer as acções internas quer externas, vai somando – em Portugal, por exemplo - apoios em todos os estratos políticos, empresariais e intelectuais, para além de alargar os tentáculos do partido/regime a um cada vez maior número de empresas portuguesas.

Quanto à UNITA, qualquer branco que se aproxime é considerado suspeito... até prova em contrário. Há excepções, há sim senhor. Mas essas excepções servem apenas, e infelizmente, para confirmar a regra.

Contudo, manda a verdade que se diga que é mais fácil a qualquer branco singrar no MPLA do que na UNITA. É pena. Isso não signfica que, no meu caso, mude de trincheira ou engrosse a coluna dos que se afastam sem destino determinado.

Se, em 1975, Rosa Coutinho e todos os seus lacaios não alteraram as minhas convicções, não é agora que alguém o conseguirá fazer. Mas que somos cada vez menos... isso somos.

4 comentários:

Dino Calei disse...

avante mano! assim vamos melhorar.

ELCAlmeida disse...

Para alguma coisa a edição nº 348, do Semanário Angolense, inclui Samakuva entre os derrotados de 2009.
Embora haja vencedores com quem eu não concorde que estejam como tal, mas isso é outro assunto...
Mas se te serve de consolação - frágil consolação - também eu deixei de aparecer no portal da UNITA.
Podem-nos mudar, virtualmente, as nossas cores - e é isso que às vezes parecem fazer -, mas não conseguem mudar nem o clibe (sou e serei sempre vermelho, seja de Luanda ou de Lisboa - SLB) como também não mudarão nem matarão nunca o meu amor pela minha terra: ANGOLA!
Um fraterno kandandu
Eugénio Costa Almeida

Roth disse...

Aprecio a sua frontalidade e a sua coragem. Que elas nunca lhe faltem. Angola será honrada com filhos assim!
Roth

Fino disse...

Caro Irmão

Não será certamente necessário ser negro, nem ter alma negra, nem amar a terra, nem perder o emprego por ela.
Bastará certamente não ser branco