sábado, março 31, 2007

Sim sr. primeiro-ministro ou sim sr. engenheiro?

O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, completou a sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente (UnI) num domingo de Setembro de 1996, dia em que foi assinado o diploma de final de curso, noticia hoje o semanário Expresso. Se o gato vai às filhós (e vai mesmo), não é pela data.

Na manchete da edição de hoje, o semanário cita "documentos sobre o processo do aluno José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa", que concluiu em 1996 na UnI a sua licenciatura, iniciada anos antes no Instituto Politécnico de Coimbra e prosseguida no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa.

Na Independente, Sócrates realizou cinco cadeiras: Análise de Estruturas; Betão Armado e Pré-Esforçado; Estruturas Especiais; Projecto e Dissertação, leccionadas por António José Morais, e Inglês Técnico, dada pelo ex-reitor da universidade, Luiz Arouca.

Em declarações ao Expresso, António José Morais afirmou que o facto de o diploma ter sido assinado a um domingo "não é estranho", alegando que "nas universidades privadas, muitas vezes trabalha-se ao domingo". E o facto de ter data de domingo não quer, obrigatoriamente, dizer que tenha sido assinado nesse dia.

Se o gato vai às filhós (e vai mesmo), não é pela data.

O professor António José Morais confirma ter dado quatro das cinco cadeiras ao primeiro-ministro, mas Luiz Arouca afirmou ao Expresso nunca ter dado qualquer aula nem feito qualquer avaliação a Sócrates. Aqui já o bichano está nas filhós.

Também Frederico Oliveira Pinto, que, segundo o Expresso, diz ter sido o primeiro presidente do conselho científico da UnI e, na altura, professor de todas as cadeiras de Cálculo das licenciaturas de Engenharia, afirmou ao semanário nunca ter visto José Sócrates naquela instituição, "a não ser muitos anos mais tarde, durante uma oração de sapiência, em que estava na assistência". Aqui já o bichano está nas filhós.

No entanto, Carlos Gomes Pereira e Alberto Santos garantiram ao jornal ter sido colegas de curso de Sócrates em 1996, assegurando que tiveram aulas e fizeram exames com o actual primeiro-ministro.

Segundo o Expresso, José Sócrates, o seu gabinete e o ministério do Ensino Superior escusaram-se a comentar a notícia. Aqui já o bichano está nas filhós.

Frederico Oliveira Pinto adianta, citado pelo jornal, que o processo de licenciatura do primeiro-ministro decorreu sem o seu conhecimento, uma vez que o plano de equivalências e de estudos de Sócrates "não foi submetido a apreciação de qualquer órgão académico". Aqui já o bichano está nas filhós.

De acordo com a fonte, o conselho científico da universidade apenas foi criado em meados de 1997, após o primeiro-ministro ter concluído o curso na UnI.

O diploma de final de curso na UnI foi, segundo o semanário, assinado a 8 de Setembro de 1996, um domingo, pelo então reitor Luiz Arouca e a sua filha, chefe dos serviços administrativos da universidade.

As notas de quatro exames finais que terão permitido completar a licenciatura de Sócrates - duas provas escritas e duas provas orais - foram lançadas, de acordo com o jornal, no mesmo dia, em Agosto.

O Expresso salienta que, nos documentos que consultou, apresentados pela UnI como prova da licenciatura de Sócrates, o nome do aluno aparece manuscrito sem quaisquer referências adicionais, apenas com uma rubrica dos professores das cadeiras.

Por sua vez, o plano de equivalências resume-se a duas folhas manuscritas e com a menção quase ilegível de algumas disciplinas, sem data nem assinatura. Aqui já o bichano está nas filhós.

O livro de termos, onde constam os dados académicos dos alunos, e o livro de sumários, horários e lista de professores, estudantes e disciplinas do curso de Engenharia Civil alegadamente não existem, de acordo com o Expresso. Aqui já o bichano está nas filhós.

Apenas um texto em inglês dactilografado e corrigido a vermelho foi apresentado como prova escrita da disciplina de Inglês Técnico, embora sem estar redigido numa folha de teste com o carimbo da UnI. Aqui já o bichano está nas filhós.

Mas não sejamos maus. Se José Sócrates é um mau primeiro-ministro (e para mim é) não é por ser, ou não, licenciado. É mau primeiro-ministro porque (não sei se na UnI) comprou o diploma de dono da verdade.

sexta-feira, março 30, 2007

Prémio Nacional de Jornalismo em Angola

Segundo a Angop, jornalistas de diferentes órgãos de Comunicação Social consideraram, em Luanda, pertinente a institucionalização pelo Governo, do Prémio Nacional de Jornalismo por simbolizar uma valorização do trabalho e dignificação da classe.

Num comentário ao texto, inserido no AngoNotícias, alguém dizia: “Não sei se isso tem sentido numa Angola onde matam jornalistas porque dizem a verdade”, perguntado “(…) Mas quando é que um jornalista merece prémio? Quando está a favor do governo, do partido, ou quando diz a verdade?”

De acordo com a directora-geral adjunta para a Informação da Angop, Luísa Damião, o prémio é um incentivo para todos os jornalistas, pois estes verão os seus trabalhos reconhecidos, primando por maior rigor e responsabilidade no exercício das suas funções. Dada a evolução do jornalismo angolano nos últimos tempos, já se fazia necessário a sua criação", frisou a directora, acrescentando que vai obrigar a classe a enveredar por um jornalismo sério, atractivo, responsável e de qualidade.

Por seu turno, para o sub-director de Informação do "Jornal de Angola", Caetano Júnior, a abrangência do prémio vem preencher uma lacuna, permitindo a avaliação de várias áreas que abarcam a comunicação social em igualdade de circunstâncias.

Luísa Rogério, a secretária-geral do Sindicato de Jornalistas Angolanos, é de opinião que a distinção servirá de estímulo à prestação dos quadros do sector, embora reconheça que estes não trabalham para prémios.

Na opinião do jornalista Ismael Mateus, o galardão é também uma questão de justiça entre os profissionais, uma vez que os já existentes (Maboque) não permitiam a participação de todas as categorias em igualdade de circunstâncias.

Outro aspecto positivo citado por Ismael Mateus é o facto de avaliar os trabalhos de estudiosos da comunicação social, incentivando a investigação neste domínio.

Por ser atribuído pelo órgão de tutela, o sub-director de Informação da Rádio Nacional de Angola (RNA), Adalberto Lourenço, considera que este é mais inclusivo e se reveste de maior significado, promovendo o mérito e a criatividade.

Os profissionais afirmaram porém que a melhoria da qualidade passa pela formação contínua dos quadros, credibilidade e, sobretudo, a competência posta ao serviço do interesse público.

Aprovado pelo Conselho de Ministros, a 28 de Março deste ano, o Prémio Nacional de Jornalismo visa incentivar a criatividade, valorizar a competência, mérito e profissionalismo dos jornalistas angolanos.

Aberto a todos os profissionais angolanos no país e no estrangeiro, estes a título colectivo ou individual, e ainda estudiosos da comunicação social, cujos trabalhos devem ser publicados em Angola, o prémio vai ser atribuído anualmente no mês de Maio, a partir de 2008, por ocasião do Dia da Liberdade de Imprensa.

Num comentário ao texto, inserido no AngoNotícias, alguém dizia: “Não sei se isso tem sentido numa Angola onde matam jornalistas porque dizem a verdade”, perguntado “(…) Mas quando é que um jornalista merece prémio? Quando está a favor do governo, do partido, ou quando diz a verdade?”

Também não aparo idiotices!!

(Nestas alturas já não se importam que hajam imigrantes…)

Antes que me voltem a questionar ou a pedir a minha opinião, informo que não aparo idiotices, nem profiro comentários sobre quem quer, unicamente, publicidade barata e desenvolvida como eles próprios já o terão confessado.

Se não falassem e publicitassem tanto, não talvez não houvessem Le Pen’s e imitações semelhantes por alguns países, nem haveriam problemas como os que se verificam, ultimamente e em pré-eleições – já não é novo –, em terras francesas!…

E não aproveitem para me virem dizer que é um efeito “Salazar”!

Subscrevo este texto publicado por Eugénio Costa Almeida em

quinta-feira, março 29, 2007

- Ó meu senhor, vá foder outro!

A história ouvi-a um destes dias, contada por um dos seus protagonistas, e vale pelo que em si mesma encerra de alegoria, o que entendo como a alegoria do tamanho do mundo

No arranque da década de 1970, um jornal destacou uma equipa de reportagem para a zona da Ribeira do Porto. Objectivo: levar a bom termo uma reportagem sobre os sonhos que alimentavam os jovens daquela zona da Invicta. É preciso acrescentar que se estava no início de mais um ano lectivo, o 25 de Abril de 1974 ainda não tinha acontecido e o jovem repórter, de Roland Barthes debaixo do braço, entusiasmava-se com a tese de que era possível fazer literatura através do jornalismo, intervir no Mundo, fazer da sociedade, através da profissão, algo melhor e mais justo para todos.

Sempre a descer até ao Douro, “ caneta” e “bate-chapas” lá foram. Uma das primeiras visões que tiveram – e que encaixava na perfeição nas teses de Barthes – entrou-lhes pelos olhos dentro mal lá chegaram. No paredão de granito junto ao mercado, um miúdo – que, a época, ainda não tinha lugar na escola –, de cócoras, agitava com um pau algo que lhe captara a atenção numa pequena poça de água. O repórter-fotográfico já estava a imaginar a foto impressa a preto e branco, o jovem acocorado, cabisbaixo, enquadrado no cenário do rio indiferente com uma vista parcial do tabuleiro inferior da ponte Luiz I no canto esquerdo. A máquina disparou por diversas vezes e o repórter fez-se ao motivo da reportagem, o miúdo. Sempre de olhos no chão, a mexer e a remexer na poça de água, o miúdo não mudou de posição. De cócoras e concentrado no pau e no que lhe atraía a atenção, fosse lá o que fosse.

O repórter avançou determinado. Mentalmente também já imaginava uma prosa de ligeiras tintas neo-realistas, Barthes a pular nas meninges, e, porque não?, gritar na “azert” a revolta que lhe ia na alma contra as injustiças sociais que o Portugal ainda sem democracia gerava e alimentava. E, sem delongas, disparou: “Olha lá, quando fores grande o que é que queres ser?

”Sempre de olhos no chão, o miúdo não mudou de posição, manteve-se de cócoras e concentrado no pau e no que lhe atraía a atenção. O seu mundo tinha a distância que separava os olhos da poça de água em que remexia. E seguro de si, fulminou:

– Ó meu senhor, vá foder outro!

Texto publicado em http://www.viagempelasruasdaamargura.blogspot.com

Eduardo dos Santos, Mugabe & Kadhafi

O Governo de José Eduardo dos Santos não está, como nunca esteve, com meias palavras. E se agora resolveu dar uma ajudinha ao “democrata” que gere Zimbabué, o mesmo tinha sido feito em 2001, embora de uma outra forma. Ou seja, nesse ano, Angola aceitou acolher, segundo o então governador do Banco Central angolano, os fazendeiros que decidam abandonar o Zimbabué devido à política de terras do presidente Robert Mugabe. Mudam-se os tempos…

Aguinaldo Jaime garantiu na altura que aqueles fazendeiros poderão comprar ou alugar terras em Angola por períodos longos e terão assegurado o respectivo título de propriedade.

Pelos vistos, Aguinaldo Jaime era dono e senhor de Angola, razão pela qual podia decidir o que bem lhe apetecesse, mesmo que isso seja feito à revelia dos angolanos.

Segundo Aguinaldo Jaime, o executivo de Luanda lançou uma nova estratégia de atracção de investidores, especialmente nos sectores exteriores ao petróleo, como a mineração, agricultura e pescas.

Na altura, mais do que agora, Angola pedia aos pobres dos países ricos para dar aos ricos do seu pobre país.

Aguinaldo Jaime notou que, apesar de Angola ter atraído um investimento externo directo considerável no sector dos petróleos, este capital não criou um número significativo de postos de trabalho, pelo que era necessário apostar nas indústrias de mão de obra intensiva.

Por isso foram tomadas medidas encorajadoras do investimento em todas as áreas da economia angolana e, à excepção da segurança e transportes e as normas permitem o total repatriamento dos dividendos.

Haverá, com certeza, quem acredite nestas ideias... nem que sejam os fazendeiros do país de Robert Mugabe. Falta, contudo, o resto. E o resto, que todos os dias se sabe não ser tão pouco quanto isso, não passa pelo Governo de Luanda mas, isso sim, pelos angolanos onde é necessário e inevitável incluir a UNITA.

Aguinaldo Jaime garantiu que o Estado angolano não interferirá na gestão das empresas estrangeiras e que não forçará os investidores externos a aliarem-se a parceiros locais.

Não interferirá? Nesta é quem os fazendeiros acreditaram.

"Se pretendemos que as pessoas invistam recursos maciços, elas têm de sentir que podem gerir os investimentos como querem e repatriar os respectivos lucros". Nem José Sócrates diria melhor...

Para defender que Luanda "fez muito" nos últimos anos para normalizar a economia angolana, citou (2001) a liberalização das taxas de juros e dos mecanismos de controlo de divisas, a reestruturação das empresas públicas, a retirada de algumas barreiras comerciais e um esforço de transparência na gestão política e económica do país.

Notou ainda, neste domínio, que as receitas do petróleo e a contabilidade do banco central começaram a ser submetidas a auditoria por entidades independentes e que a inflação baixou nos últimos quatro anos de 3.000 para 70 a 80 por cento.

E tudo isto aconteceu - recorse-se - numa altura em que Moammar Kadhafi apresentou a solução (eventualmente retirada dos manuais do MPLA) para o problema do Zimbabué: expulsar todos os brancos de África e ocupação das suas terras.

Kadhafi, que na altura visitou o Zimbabué, exortou os zimbabueanos negros e os africanos em geral a correrem com os brancos do continente e a só pararem se estes aceitarem transformar-se em criados.

Recorde-se que cerca de 1.700 fazendas pertencentes a brancos foram ocupadas desde que Mugabe exortou os chamados antigos combatentes a ignorarem a lei e as ordens dos tribunais e a apropriarem-se de terras.

O executivo zimbabueano já referenciou para nacionalização sem compensação cerca de 5.000 fazendas de brancos (95% do total).

Este ambiente de tensão tem provocado um duplo efeito sobre a vizinha África do Sul. Pretória viu-se forçada a assumir o abastecimento eléctrico e de combustível do Zimbabué, para evitar o colapso de um país que até recentemente era um dos seus principais mercados de exportações.

Por outro lado, enquanto vai absorvendo milhares de imigrantes ilegais, em fuga do desemprego nos países vizinhos, a África do Sul tenta assegurar que a sua própria redistribuição de terras não siga o caminho do Zimbabué.

(As palavras voam, mas os escritos são eternos).

quarta-feira, março 28, 2007

Xanana e Ramos Horta, Ramos Horta e Xanana

A (mais do que provável) candidatura de Xanana Gusmão ao cargo de primeiro-ministro de Timor-Leste, bem como a de Ramos Horta a presidente da República, lembra-me que nesta questão (como em quase todas as outras) a memória é curta. Muito curta.

Alguém se recorda que em Fevereiro de 2002, o actual presidente timorense dirigiu fortes críticas a José Ramos Horta e à Fretilin?

A polémica surgiu depois de José Ramos Horta ter servido de mediador entre a Fretilin e Xanana Gusmão, no âmbito de uma proposta do maior partido timorense para a formação de uma comissão multipartidária que nomeasse o líder nacional (Xanana) como candidato.

Em declarações ao jornal timorense «Suara Timor Lorosae», Xanana Gusmão acusou então a Fretilin de "inconsistências" na sua posição sobre o tema das presidenciais, considerando que José Ramos Horta continua a apoiar este partido.

"Já há muito tempo, mesmo antes das eleições, que notei que Horta também é da Fretilin. Só um dedinho é que saiu mas todo o corpo está dentro", disse Xanana Gusmão.

Na polémica entrevista, Xanana desmentiu garantias dadas por si próprio à Agência Lusa em Janeiro de 2002, quando afirmou não ter sido contactado quanto à formação da comissão nacional conjunta.

Admitiu também ter sido confrontado por José Ramos Horta quando desmentiu o contacto inicial sobre a proposta da Fretilin, num encontro que fontes timorenses garantiram ter sido "bastante quente".

"Afinal como é, chefe? Falámos ou não falámos?", terá dito Ramos Horta, citado por Xanana Gusmão.Xanana Gusmão confirmou a tensão do encontro referindo ter apelado directamente a Ramos Horta para esquecer a ideia.

"Disse-lhe que nós os dois trabalhamos juntos há muito tempo, mas por vezes não nos ouvimos um ao outro", disse Xanana Gusmão.Para Xanana Gusmão, a proposta da Fretilin era "inconsistente" com as suas posições actuais, parecendo "anti-democrática".

"A Fretilin disse que só me dá apoio se me candidatar como independente, mas agora o Ramos Horta aparece a dizer que a Fretilin assim já apoia", afirmou.

"Não gosto quando hoje dizem uma coisa e amanhã outra. Não dou valor e não aprecio este tipo de atitude", referiu.

Os “mandamentos” de Bill Kovach

Bill Kovach, co-autor do livro “Os elementos do Jornalismo” e um dos mais conhecidos e respeitados jornalistas dos EUA, diz que a primeira obrigação do jornalismo é para com a verdade; que o jornalismo deve manter-se leal, acima de tudo, aos cidadãos; que a sua essência assenta numa disciplina de verificação; que aqueles que o exercem devem manter a sua independência em relação às pessoas que cobrem; que deve servir como um controlo independente do poder; que deve servir de fórum para a crítica e compromisso públicos; que deve lutar para tornar relevante e interessante aquilo que é significativo; que deve garantir notícias abrangentes e proporcionadas e que aqueles que o exercem devem ser livres de seguir a sua própria consciência.

Qualquer semelhança com a realidade portuguesa é mera coincidência.

terça-feira, março 27, 2007

Angolanos de primeira (MPLA)
e de segunda (todos os outros)

Os angolanos já assimilaram que só um povo informado consegue ser livre. Vai daí, alguns passaram do oito para o oitenta esquecendo que a liberdade de uns termina onde começa a dos outros. Tal como fez, em 2001, o então secretário para as relações exteriores do MPLA, Paulo Teixeira Jorge, ao dizer que Governo português, não deveria permitir que "portugueses de ocasião" interferissem nos assuntos internos de Angola, catalogam agora de “angolanos de ocasião” todos os que dizem algo que seja diferente da verdade oficial.

Na altura, creio que Paulo Teixeira Jorge ainda não teria ouvido falar de democracia. Não sabia o que era e, por isso, julgava-se no direito de dar palpites sobre um Estado de Direito, algo que não se podia dizer (ainda não se pode) a propósito de Angola, em cujos quintais proliferam acéfalos do tipo do secretário do MPLA.

"Existe o princípio universal da não ingerência nos assuntos internos (de outro Estado) e eu creio que Portugal, através dos órgãos competentes, poderia recomendar a esses ditos portugueses (elementos afectos à UNITA que vivem em Portugal) para não se meterem nos assuntos internos (de Angola)", afirmou Paulo Teixeira Jorge, referindo-se ao facto do relatório do então mecanismo de fiscalização das sanções contra a UNITA apresentar Portugal como a principal base de apoio do movimento de Jonas Savimbi na Europa.

E, a fazer fé no muito que se vai lendo, as teses de Paulo Teixeira Jorge fizeram escola.Portugal hoje, como em 2001, convirá que todos o entendam de uma vez por todas, é uma nação livre. Coisa que não existe em Angola. Lá, por ordem dos amigos deste ou de qualquer outro secretário do MPLA, nem existe nação nem liberdade.

Seja como for, todos aqueles que catalogam os angolanos em duas classes, os de primeira (afectos ao MPLA) e de segunda (afectos aos outros partidos), devem perceber que angolano não é sinónimo de cor ou de filiação partidária.

"... Eles são portugueses de ocasião, fundamentalmente são angolanos que se tornaram portugueses depois da evolução da situação em Angola", afirmou na altura Paulo Teixeira Jorge, para quem o Governo português também deveria "chamar a atenção" dos elementos da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) que se encontravam em Portugal.

Paulo Teixeira Jorge também disse que Angola deveria "rever as relações bilaterais" com Portugal na sequência das conclusões do relatório do mecanismo de fiscalização das sanções contra a UNITA.

Na altura, importa recordá-lo, nas declarações que prestou à Rádio Nacional de Angola, Paulo Teixeira Jorge também criticou as posições que a Igreja Católica tinha tomado no âmbito do processo de paz, considerando que "num Estado laico, a Igreja não pode permitir-se interferir nos assuntos do Governo".

Ontem, tal como hoje. Ninguém pode interferir com a lei da selva imposta pelo MPLA. Portugal interfere com Angola, a Igreja interfere com o Governo.

Na altura, importa recordá-lo , referindo-se ao facto do presidente da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST), D. Zacarias Camuenho, ter defendido a necessidade de um cessar-fogo bilateral para acabar com a guerra, Paulo Teixeira Jorge afirmou que "D. Zacarias Camuenho devia preocupar-se com os problemas da Igreja, que não são poucos, já que o resto não era da sua competência".

Mais palavras para quê? É por estas e por outras, é por este e por outros, que os angolanos continuam a vegetar, enquanto os dirigentes vivem, continuam a viver, à grande. Até um dia.

segunda-feira, março 26, 2007

RTP exclui Nova Democracia do debate sobre a OTA

A RTP, a televisão pública de Portugal, vai transmitir dentro de algumas horas um debate, no programa Prós e Contras, sobre o famigerado projecto da construção do aeroporto da OTA. À boa maneira do serviço público, que não do serviço para o público, a RTP esqueceu-se (ou foi obrigada a esquecer?) de convidar o Partido da Nova Democracia. Esqueceu-se de quem primeiro e em tempo útil questionou o projecto.

De facto, quer a RTP queira ou não, a Nova Democracia foi o único e o primeiro partido que, em tempo útil, colocou em causa o projecto da OTA apresentando na Assembleia da República uma petição com mais de 4 500 assinaturas na qual se apelava à não construção do Aeroporto.

Seria fácil (seria, digo bem) à RTP verificar que foi graças a essa petição que o plenário do Parlamento voltou a discutir esta questão. Mas, apesar de fácil, foi (ainda) mais fácil esquecer que a Nova Democracia existe. É pena. É lamentável.

A Direcção Nacional da Nova Democracia considera, e bem, que só a falta de isenção e rigor jornalístico do programa, pelo menos desta edição, justifica a sua ausência.

“A RTP sendo uma estação pública comporta-se como um canal privativo de alguns”, diz a Nova Democracia numa carta enviada a Fátima Campos Ferreira.

E tem razão. Pena é que, neste como em muitos outros casos, a Nova Democracia não seja ouvida. Aliás, a própria democracia portuguesa tem medo de ouvir vozes diferentes.

domingo, março 25, 2007

Os abutres e a carne putrefacta
A carne putrefacta e os abutres

Os abutres são aves de rapina que se alimentam quase exclusivamente da carne putrefacta dos animais mortos. Ora, para que eles proliferem na sociedade portuguesa é preciso que exista a tal carne putrefacta. Se esta não existir, os abutres também não existem. Ou seja, estas aves dependem da existência de animais mortos… ou em vias disso.

Os abutres são normalmente vistos como aves que se alimentam de cadáveres em decomposição (aves necrófagas). De entre os abutres que ocorrem entre nós, o Grifo (Gyps fulvus) e o Abutre negro (Aegypius monachus) são verdadeiros especialistas na necrofagia, enquanto o Abutre do Egipto (Neophron percnopterus) explora principalmente os restos disponíveis.

Ou seja, estas aves dependem da existência de animais mortos… ou em vias disso.

Segundo Nuno Leitão, a exploração dos cadáveres com o consumo da carne putrefacta por parte destas aves, acompanhado da sua fisionomia e do seu grande porte, faz com que os humanos as sintam como verdadeiros símbolos da morte. Principalmente, quando nos deparamos com o Grifo e com o Abutre negro, aves impressionantes, com envergaduras superiores a 2,5 metros e com as suas cabeças e seus compridos pescoços, desprovidos de penas para melhor explorarem as carcaças dos animais mortos.

Ou seja, estas aves dependem da existência de animais mortos… ou em vias disso.

O Grifo alimenta-se da carne de cadáveres de médios e grandes mamíferos e, em certos casos, da carne das aves maiores e dos peixes mortos. O Abutre negro tem uma dieta praticamente constituída por carne de animais mortos, mas prefere cadáveres de animais mais pequenos e, à falta destes, pode mesmo caçar pequenos animais, como coelhos com mixomatose e pequenos cordeiros.

O Abutre do Egipto apresenta uma dieta mais diversificada, mas alimenta-se frequentemente de cadáveres de pequenos animais, como ratos, cobras e coelhos. Quanto à exploração da carne dos animais de maior porte, devido ao seu bico menos forte, apenas explora certas partes do cadáver, como sejam os olhos, a língua e as vísceras (após abertura da carcaça por outros necrófagos).

Ou seja, estas aves dependem da existência de animais mortos… ou em vias disso.

Passe a tétrica constatação, tal como fazem com outros despojos, os abutres podem incluir naturalmente na sua dieta os cadáveres humanos. Na verdade, a biomassa média do Homem, do ponto de vista nutritivo, é relativamente vantajosa para os abutres.

Desde a antiguidade, que este facto, tornou as relações do Homem com os abutres pouco amistosas, tendo sido os abutres alvos de perseguição pelo Homem ao longo dos tempos. Os locais mais frequentes de interacção do Homem com os abutres eram os campos de batalha, onde chegava a haver grupos de homens para afastar os abutres, de forma a impedir danos nos soldados feridos. Mesmo hoje em dia, estas situações de aproveitamento dos cadáveres humanos por parte dos abutres sucedem quando ocorrem catástrofes naturais.

Ou seja, estas aves dependem da existência de animais mortos… ou em vias disso.

Esta relação Homem/Abutre deu azo também a inúmeras práticas culturais onde estas aves desempenham o papel principal. Determinadas culturas aplicavam sentenças de morte, onde os homens condenados eram amarrados e deixados para morrer, ficando à mercê dos abutres. Há também práticas funerárias, que subsistem até hoje, e que levam a que os cadáveres sejam expostos aos abutres. Os Parsis de Bombaim depositam os corpos dos defuntos nas chamadas "Torres do Silêncio", quase como que em oferta aos abutres, e alguns monges tibetanos oferecem aos abutres, pedaços dos corpos dos falecidos.

Ou seja, estas aves dependem da existência de animais mortos… ou em vias disso.

Hoje em dia, pelo menos na civilização ocidental, os abutres têm outro valor para o Homem ao funcionarem como indicador da saúde de alguns ecossistemas. Os abutres são um dos símbolos mais importantes da Natureza. Desta forma, estas aves, a par de outras grandes aves de rapina, são alvo de admiração, com a vantagem de serem facilmente observadas comparativamente a outros animais. A constatação do declínio generalizado das espécies de abutres, nos finais dos anos sessenta, deu origem a acções de grupos conservacionistas e a numerosos trabalhos de investigação, o que contribuiu grandemente para o conhecimento e valorização destas aves.

Ou seja, estas aves dependem da existência de animais mortos… ou em vias disso.

sexta-feira, março 23, 2007

A política africana é fascinante!

Angola está quase a ultrapassar a Nigéria como principal produtor de petróleo de África. Angola é uma potência regional emergente e isso sente-se nos países vizinhos. Foi Angola quem pôs Joseph e Laurent Kabila no poder, no Congo Democrático (que raio de designação para um país daqueles…) e que sustentou esse regime “dinástico” durante a guerra civil.

Angola fez o mesmo no outro Congo plus petite, idem para o Zimbabwe.

Angola não se inibe de provocar quedas de regimes que não lhe convenham. Foi o que fez com todos os que apoiavam Savimbi, só falhando o golpe de estado que preparou na Zâmbia.

Nos países onde a pressão da comunidade internacional consegue a realização de um simulacro de democracia, com eleições gerais mais ou menos livres e justas, os “cavalos” angolanos vencem sempre.

Muitas vezes, os derrotados acabam por aceitar integrarem-se no sistema, talvez convencidos de que os deixarão comer na alta manjedoura do poder.

Mas não. Há sempre um acidente comprometedor para futuros tão promissores… foi o que aconteceu com John Garang, no Sudão, é o que pode vir a acontecer com Jean Pierre Bemba no Congo, ou com Morgan Tsvangirai no Zimbabwe, se não se põem a pau.

A política africana é fascinante!

Nota: Este texto é da autoria do Jornalista Carlos Narciso e foi publicado em http://blogda-se.blogspot.com/. É, na minha opinião, uma das mais brilhantes análises ao que se passou, ao que se passa e – é claro – ao que se vai passar um dia destes.

quinta-feira, março 22, 2007

Os anónimos comentadores do Club-k

De vez em quando passo pelo Club-k. Mau grado este “Clube dos Angolanos no Exterior, fundado a 7 de Novembro de 2000, ser uma associação de âmbito sócio-cultural com base humanitária, integrada por jovens angolanos, com missão representativa em diversos países, e reconhecido a nível internacional”, ter uma actividade meritória, muitos (diria a esmagadora maioria) dos seus frequentadores que deixam comentários no respectivo site são da pior espécie. Uma autêntica escumalha.

Sob a conveniente capa da cobardia anónima, proliferam uns seres acabados de chegar das copas das árvores, seja de uma qualquer floresta africana ou amazónica ou, ainda, de uma jaula do Jardim Zoológico de Lisboa.

A (des)propósito de tudo e de nada, a maioria dos comentários revela autores gerados nas latrinas do nanismo onde é cómodo e barato ser anónimo quando se insulta autores que dão a cara e o nome aos textos que escrevem.

Na falta de capacidade intelectual para mais, toda a espécie de ratos de esgoto cria blogues e opina sem dar a cara, mostrando como é fácil atirar a pedra e esconder a pata.

E se é grave de uma forma geral, mais o é quando muitos destes actores de baixa (baixa, neste caso, é sinónimo de sarjeta) categoria integram a classe profissional dos Jornalistas, a tal que se diz contrária às fontes anónimas mas que, afinal, é ela própria um manancial de anónimos.

Compreendo que, refugiando-se no anonimato ou na intelectual forma de anonimato que dá pelo nome de pseudónimo, estejam mais à vontade para mostrar que já quase conseguem andar de pé.

É uma evolução. No entanto, ainda faltam algumas gerações para que atinjam o nível dos Homens.

Habituados a viver na selva, entendem que a razão da força é a única lei. Espero que algum amestrador lhes ensine, mesmo que mostrando bananas ou ginguba, que nos países civilizados o que conta é a força da razão, assumida de forma clara.

Aliás, também não seria mau juntar algumas lições de português pois, optimista como sou, acredito que acabarão por aprender a escrever coisas com sentido… a não ser que, por manifesta inadaptação, resolvam regressar às copas das árvores onde, aí sim, podem ser anónimos à vontade.

quarta-feira, março 21, 2007

Quem diria que o candidato de João Miranda
é (estou pasmado) José Eduardo dos Santos?

João Miranda, que é ministro das Relações Exteriores de Angola, considera que "o candidato natural" do MPLA às próximas eleições presidenciais, previstas para 2009, é o actual chefe de Estado, José Eduardo dos Santos. Quem diria?

"Como cidadão comum, tenho como meu candidato preferido o senhor Eduardo dos Santos. Como membro do partido que governa, naturalmente que o candidato natural é Eduardo dos Santos", afirmou o chefe da diplomacia angolana à Lusa no final da visita a Portugal. Quem diria?

Em Agosto de 2001, o Presidente angolano anunciou publicamente que não tencionava voltar a candidatar-se ao cargo, remetendo-se depois ao silêncio sobre esta questão nos anos seguintes. Esse silêncio apenas foi rompido em Abril de 2006, durante a visita a Angola do primeiro-ministro português, José Sócrates, quando José Eduardo dos Santos admitiu que ainda não tinha tomado uma decisão final sobre o assunto.

Não, sim, talvez. Para que não restem dúvidas…

Para a maioria dos analistas políticos angolanos não existe, no entanto, qualquer dúvida, manifestando-se a convicção de que o actual Presidente será o candidato do MPLA nas presidenciais. Quem diria?

Entretanto, como lhe compete, João Miranda (não sei se enquanto cidadão comum ou ministro do MPLA) resolveu ter hoje um encontro com a comunidade angolana residente em Lisboa.

Presumo que vá (a esta hora ainda não deverá ter começado o encontro) fazer um discurso conciliador, auscultar o sentimento da comunidade e apelar à importância de todos participarem nas eleições.

João Miranda bem pode, depois de – como cidadão comum e de membro do Governo – ter dito quem é o seu candidato, dizer aos angolanos que cada um é livre de votar em quem entender… desde que seja em Eduardo dos Santos.

terça-feira, março 20, 2007

Ser jovem e nacional também é… optimus

Paulo Azevedo vai ser o presidente da Cmissão Eecutiva da Sonae SGPS até 2010, anunciou hoje Belmiro de Azevedo, na conferência de apresentação dos resultados do grupo em 2006.

“Ser jovem e nacional também é… optimus” foi o título de uma entrevista, publicada no Jornal de Notícias em 4 de Julho de 1999, que fiz ao agora líder da Sonae.

Não me recordo do conteúdo da entrevista mas, para além do título, retenho a imagem de um Homem feliz que, como o pai, chegou, viu e venceu… arregaçando as mangas.

Mais recentemente vi-o a chegar ao Aeroporto Sá Carneiro de prancha de “windsurf” às costas, bem como a andar de bicicleta no Parque da Cidade do Porto.

Continuava, como em 1999, um Homem feliz e de mangas arregaçadas.

"Vai ser uma transição na continuidade", afirmou hoje Paulo Azevedo, acrescentando que "seguir o exemplo do meu pai ao longo destes anos já é um desafio muito grande".

Transição na continuidade vai ser, digo eu, a melhor forma que Paulo Azevedo encontrou para continuar a ser um Homem feliz de mangas arregaçadas.

segunda-feira, março 19, 2007

A CPLP «reconhece» que (só) anda a reboque

O secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), embaixador Luís Fonseca, considerou hoje (segundo o que acabo de ler no Notícias Lusófonas) que a criação de uma carta de condução lusófona "depende das autoridades de cada país". E quem diz carta de condução, diz todo o tipo de documentos. E se a CPLP nada pode fazer… então existe para quê?

Questionado pelos jornalistas sobre a criação de uma carta de condução comum aos países da Lusofonia, o embaixador Luís Fonseca, que hoje foi o convidado do CDS-PP no "Almoço do Caldas", disse que esse "é um problema que diz respeito à ordem interna de cada estado".

Ou seja, cada um dos membros da CPLP faz o que lhe dá na real gana e, se calhar um dia, a Comunidade junta-se à festa.

"Se houver uma proposta desse sentido por parte dos estados-membros, certamente que será considerada", salientou, adiantando que "há sempre possibilidade de se encontrarem soluções conjuntas", nomeadamente o reconhecimento de documentos.

Ao fim de dez anos, a CPLP limita-se a esperar que os estados-membros ensinem o burro a viver sem comer. Quando eles proclamarem que o burro morreu no exacto momento em que estava quase a saber viver sem comer, a CPLP declara o óbito.

O secretário executivo da CPLP considerou ainda que a questão das cartas de condução entre Portugal e Angola "não" vai causar "grandes problemas" ao relacionamento dos dois países.

Ainda bem que a CPLP o diz. Assim ficamos mais descansados. Mas, pela obra não feita, só ficarei totalmente descansado quando acabarem com esta CPLP que só anda a reboque quando em muitos casos deveria ser a locomotiva.

O princípio do fim de um partido
onde só cabem os amigos de Portas

Plagiando o meu amigo Carlos Furtado (dos tais amigos que sempre me conheceu ao contrário, por exemplo, do Álvaro Castelo Branco que só me conheceu quando precisou), o Conselho Nacional de ontem do CDS/PP «foi um exemplo do que não deve acontecer». Aliás, e infelizmente, este é um partido onde sobram os maus exemplos sem que, contudo, alguém aprenda com eles.

Feita a introdução, reproduzo o que escreveu Carlos Furtado no Nortadas:

«1) Existia um requerimento assinado por mais de mil militantes a convocar um congresso. os estatutos do partido prevêem ser essa uma das condições extraordinárias para a convocação do congresso.

2) No entanto esse requerimentos possuía um "se". Os "ses" nesta vida só fazem confusão e foi o que aconteceu. Este "se" dizia que este requerimento deixava de funcionar se o conselho nacional aprovasse a convocatória de um congresso. Com este "se" teria que decorrer o conselho nacional. se o "se" não existisse o conselho nacional nem se realizaria.

3) No conselho nacional existiram duas votações. A primeira colocada pela presidente da mesa que colocou na mão dos delegados o discutir-se ou não no conselho nacional da validade do "se". Ganhou o não. O conselho nacional não se quis pronunciar sobre isso e seguiu-se em frente. Ou aos ssss.

4) No final da noite a segunda votação, bizarra diga-se. O resultado final deu como vencedora a moção que pedia directas já e posteriormente um congresso estatutário e de eleições de órgãos.

5) Perante este resultado, e visto que o conselho nacional não convocou nenhum congresso como estava no "se", a presidente da mesa do conselho nacional entendeu que passava a vigorar o requerimento dos 1000 militantes e deu por concluído o conselho nacional.Isto foi resumidamente o que se passou dentro do conselho nacional. O resto é muito folclore, muita táctica e pouco sumo.

Mas algumas notas mais:

1) O sentimento geral é de directas (o meu não e aqui fica uma vez mais dito para que não restem dúvidas).

2) Um erro não é legitimado por anteriormente já se ter errado. Se existiram directas que não estavam consagradas nos estatutos, tal facto não passou a ser lei. Se a vontade do partido vier a ser as directas, que essas sejam consagradas devidamente. Para que no futuro ninguém se queixe de irregularidades.

3) É feio o sentimento do "isto é meu e ponto final". Existem regras e estatutos que são para cumprir. Mas com tantos juristas é normal que ninguém se entenda.

4) Foi-me ensinado e procuro transmitir o mesmo aos meus filhos, que a educação se vê à mesa de jogo e na mesa das refeições. Bem sei que um conselho nacional não é nenhuma destas situações, mas é triste ver pessoas que deveriam ter alguma postura perderem-na por completo quando não se lhes faz a vontade. Isso sim são amuos.»

E assim começa o princípio do fim.

sábado, março 17, 2007

O selo de garantia dos cobardes

«Os cobardes não têm palavra, nem escrevem, mandam sempre dizer por terceiros, e assim podem explicar, à posteriori, que o seu pensamento foi desvirtuado. O comportamento dos cobardes tem sempre um selo de garantia: a garantia de que o dito não foi dito, mesmo que todos saibam que foi dito.» Calculo, mas não passa disso, a quem se dirige esta mensagem do meu companheiro (ele prefere ser chamado de camarada) Paulo Silva no seu blog.

Creio, contudo, que é uma (dura) verdade que pode ser aplicada a uma cada vez mais crescente forma de (sobre)viver na sociedade portuguesa. São esses cobardes que, por regra, comandam (mal, mas comandam) este país ou, para ser mais correcto, algumas das partes que no seu conjunto formam o país.

Por isso os cobardes apostam tudo, sobretudo o que é dos outros, na razão da força que é alimentada pelo tal selo de garantia de que muito bem fala o Paulo Silva. Com a cobertura, mesmo que involuntária, de muito boa gente, levam a que a força da razão perca batalhas e mais batalhas.

Apesar disso, os cobardes podem ter a certeza que estão a ganhar batalhas mas que não vão ganhar a guerra. Se a ganhassem Portugal deixaria de existir.

Para gáudio dos cobardes e dos que dão cobertura aos cobardes, o país ainda lhes vai dando cobertura. No entanto, um dias destes, alguém vai descobrir que esses cobardes, mascarados de heróis, para contarem até 12 têm de se descalçar.

São esses cobardes que se fartam de espalhar minas para matar os que pensam de maneira diferente. Mas, mais cedo ou mais tarde, os cobardes vão ser vítimas dos próprios engenhos explosivos que colocaram.

Eu sei, meu caro Paulo, que até lá vão calando as vozes que tentam dar voz a quem a não tem. Mas não as calarão todas.

Como sabes, caro Paulo, só é derrotado quem desiste de lutar. E desistir é palavra que não consta nem da tua nem da minha forma de vida.


sexta-feira, março 16, 2007

Um autógrafo para o filho da Juíza do Seixal

No âmbito de “guerra” das cartas de condução entre Angola e Portugal, Pedro Matorras foi hoje ouvido no Tribunal do Seixal e a juíza Ana Pompeia Viegas decidiu remeter o caso para a fase de inquérito, dado que foram apresentados "novos" elementos relevantes de prova, o que significa que vai voltar para investigação no Ministério Público.

O jogador do Benfica teve ainda a honra de dar um autógrafo à juíza, que alegou estar a fazer o pedido ao jogador em nome do filho.

Citando o meu caro amigo Eugénio Costa Almeida, no seu http://pululu.blogspot.com/, (…) “E já agora, só por mera curiosidade, porque diabo a juíza que ouviu hoje Mantorras no Tribunal de Seixal, no caso da carta angolana, quis, segundo noticiou a RTP no seu noticiário da 13 horas, saber quanto ganhava?”

“Seria para calcular o valor da multa que havia de aplicar?”, pergunta – e bem – Eugénio Costa Almeida.

Ou será que ao pedir um autógrafo para o filho, a juíza portuguesa pensou em reduzir a multa?

O que se diria em Portugal se aos portugueses multados em Luanda o juiz pedisse um autógrafo para o filho? Se calhar falava-se logo de corrupção, digo eu…

E assim se faz a triste história de dois países que se dizem irmãos e que, ainda por cima, pertencem os dois a uma coisa (embora rasca) que dá pelo nome de Comunidade de Países de Língua Portuguesa.

quinta-feira, março 15, 2007

De jornalista a administrador da Fundação EDP
- Digam lá que não vale a pena perder a coluna?

Sérgio Figueiredo, para além de ser um jornalista sério, também parecia sê-lo. Será que hoje, ao acumular o jornalismo com a administração da Fundação EDP, mantém intactas essas qualidades? Não creio. Mas, reconheço, ser sério não é coisa que preocupe (muito) os jornalistas e, muito menos, o parecerem ser sérios.

Por alguma razão são cada vez mais os jornalistas que sabem que é sempre possível ter um cartão do partido no meio de tantos outros, mesmo que a validade seja curta. É que, se não for nos jornais, haverá sempre um lugar como assessor ou administrador.

Recompensa pelos serviços prestados? Não sei. Mas pelos serviços não prestados não será com certeza.

Como diz Inês Pedrosa, "temos cada vez mais jornalistas que saltam das redacções para se tornarem criados de luxo do poder vigente".E, é claro, depois dessa rodagem há sempre a possibilidade de ver criados saltarem do poder vigente, seja ele socialistas ou social-democrata, para serem sobas nos jornais.

Diga-se, contudo, que no caso de Sérgio Figueiredo ele próprio explica, tem explicado nos últimos tempos, a razão porque foi escolhido para administrador da Fundação EDP.

Hoje, na Visão, o jornalista escreve que “estes dois anos revelaram o Governo (português) mais reformista dos últimos dez anos.”, acrescentando – para que não restem dúvidas – que “há muito que o país não era confrontado, em tão pouco tempo, com tantas reformas, decisões e intenções”.

Boa Sérgio. Tens futuro na Administração da Fundação EDP, como em qualquer outra.

quarta-feira, março 14, 2007

A verdade do meu amigo Joffre Justino

Num recente texto dado à estampa em alguns (poucos, é verdade) meios de comunicação social, o meu amigo Joffre Justino diz que «é claro que já ninguém se lembra, mas entre Janeiro e Outubro de 2001 fui, não só acusado de ser terrorista, como fui, por tal, sancionado pelas Nações Unidas, pela União Europeia e pelo Estado Português.». É verdade. No entanto, em abono da mesma verdade, reproduzo na íntegra uma «Carta aberta ao Presidente da República... portuguesa», publicada na Orlando Press Room em 06 de Novembro de 2001. As palavras voam, mas os escritos são eternos.

«Os meus cumprimentos.

1 - Gostei de o ver, em Espanha, no meio de Yasser Arafat e Shimon Peres. «Todos compreendem que não há outra solução a não ser a paz, apesar da distância de posições...», terá dito, na altura, V. Exa..

2 - É claro, permita-me a sinceridade, que gostaria mais de o ver no meio de José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi. Também é verdade que gostaria (muito) mais de o ouvir dizer, também nesse caso, que «todos compreendem que não há outra solução a não ser a paz, apesar da distância de posições...»

3 - Preocupado que V. Exa. está com a crise mundial e também, é claro, com a crise interna, é natural que lhe falte tempo para agir junto dos senhores da guerra em Angola. Aliás, pela informação que lhe é enviada (cuja veracidade V. Exa. não pode questionar) calculará que morrem muito mais palestinianos e israelitas do que angolanos. Não sei se será bem assim mas, é claro, também não vou duvidar da veracidade das suas fontes de informação, sejam assessores, deputados, ministros ou secretários de Estado.

4 - Creio, aliás, que essas fontes de informação são as mesmas que abastecem a União Europeia e que levam os eurodeputados (e também por lá andam alguns portugueses) a ter dois pesos e duas medidas quando resolvem falar de Angola.

5 - Como certamente é do conhecimento de V. Exa. há, também no caso de Angola, dois tipos de terrorismo. Um bom e outro mau. Um perfeitamente aceitável e outro, é claro, condenável. O bom, como sabe, é o praticado pelo Governo de Luanda, uma entidade democrática, respeitadora dos direitos humanos, incorruptível e defensora do Estado de Direito. O mau, esse é obviamente praticado pelos bandidos da UNITA. Bandidos comandados por Jonas Savimbi, um terrorista que lutou contra o colonialismo, contra os cubanos e que, ainda por cima, quer uma Angola verdadeiramente independente.

6 - Dir-me-á V. Exa. que tem mais com que se preocupar. Se V. Exa. o diz é porque, de facto e de jure, é verdade. Mas afinal anda preocupado com quê? Na votação da Lei de Programação Militar venderam-nos gato por lebre. V. Exa. disse que o problema não era seu.

Seu era, e bem, a questão da condecoração de Cláudia Cardinale. Era mesmo ela? Este caso não foi, como é costume, mais um exemplo de como os Poderes do país passam um atestado de menoridade e demência aos portugueses?

7 - Sabe V. Exa. (se calhar tem mais com que se preocupar) que um cidadão português, Joffre Justino, residente em Portugal, militante da UNITA, viu as contas bancárias das suas empresas congeladas? É que, no país em que V. Exas. é o Presidente, ser simpatizante ou militante da UNITA não é um direito... é um crime.

8 - E, para além de ser um crime, leva a que (subvertendo todas as regras de um Estado de Direito) se seja considerado culpado até prova em contrário. E das duas uma, ou essa teoria de se ser inocente até prova do contrário é uma treta ou, afinal, Portugal não é um Estado de Direito.

9 - Por último, permita-me que lhe solicite o favor de mandar informar os portugueses das penas a que se sujeitam se pretenderem ser militantes do PSD, do CDS/PP, do PCP, da UNITA, da FNLA etc., do Benfica, do Belenenses, do Boavista, do Porto, do Salgueiros ou do «trinca na pêra».

segunda-feira, março 12, 2007

Cartas de condução, rei nu e a legião canina

Sob o título «Angola põe em sentido o sobranceiro Governo de José Sócrates», Jorge Eurico escreve e bem (o que não é novidade) na sua crónica publicada no Notícias Lusófonas sobre a questão de mais de dez cidadãos portugueses terem sido presentes ao Tribunal de Luanda em virtude de «terem tido o desplante de desrespeitar a decisão (soberana) tomada, sexta-feira, 9, pelas autoridades angolanas, consubstanciada na proibição de os cidadãos lusos conduzirem em território nacional».

Tal como o Jorge Eurico, a decisão do Governo também potencia o meu orgulho de ser angolano, mau grado muita gente afecta ao MPLA me considerar «tuga» e, é claro, muita gente afecta ao Governo «tuga» me considerar angolano.

«A deliberação do Executivo angolano irá forçar indubitavelmente o sobranceiro Governo de José Sócrates a repensar a forma como a cinzenta e atrasada Lisboa se tem relacionado com Luanda», escreve Jorge Eurico.

Aqui tenho dúvidas. E tenho porque José Sócrates, numa lógica que está a fazer escola, confunde críticas com desobediência e acha-se dono da verdade. Por isso, meu caro Jorge, Sócrates não vai repensar coisa alguma em matéria de relacionamento com Luanda.

É só esperar para ver. Sócrates nem sequer repensa a forma como se relaciona com os portugueses. Portanto…

«Já agora (como quem não quer nada querendo) sugiro que, quando os delegados dos ministros das Relações Exteriores de Angola e dos Negócios Estrangeiros de Portugal estiverem sentados à mesma para ultrapassarem este diferendo político-diplomático, que opõe o Estado angolano ao português, não se deslembrem de esclarecer por que razão os brasileiros têm um tratamento especial em terras lusas», diz sem papas na língua, como é costume, Jorge Eurico reflectindo sobre uma realidade que está em todas as esquinas portugueses.

Contudo, penso que se deve falar de brasileiros e de brasileiros. Os que não são brancos ou jogadores de futebol já se assemelham, segundo Lisboa, a uma subespécie.

Jorge Eurico entra depois numa série de perguntas:

«1 - E já agora por que não falar, por exemplo, da uniformização da carteira profissional de Jornalistas, de Advogados e de Médicos?

2- Será que os Jornalistas angolanos estão aquém da capacidade dos seus colegas portugueses?

3 - Será que os Advogados bissau-guineenses ficam muito a dever os seus camaradas portugueses?

4- Será que os Médicos cabo-verdianos ou moçambicanos não têm a mesma capacidade que os colegas portugueses?».

Pago para ver o que Sócrates e companhia responderiam a estas questões. Vão ficar mudos e quedos. Mas não são os únicos.

Advogados, médicos, jornalistas etc. etc. vão ficar caladinhos ou, em alternativa, alinhar com o rei Sócrates que apesar de ir nu tem uma legião canina de seguidores que só sabem dizer: «Sim, Senhor Primeiro-Ministro!».

sábado, março 10, 2007

Angola é o segundo país mais corrupto do mundo

Tal como Isaías Samakuva, também a Transparência Internacional não tem dúvidas. Angola é o segundo país mais corrupto do mundo. Em primeiro está o Bangladesh e em terceiro o Azerbeijão. Será que a Polícia Nacional, perdão, o presidente do Tribunal de Contas vai dizer o contrário? Se Eduardo dos Santos mandar, que remédio tem Julião António…

“A corrupção, a fraude e a apropriação indevida dos bens públicos são factores que dificultam o controlo eficaz da gestão financeira e patrimonial”. Sabem que fez esta afirmação? Não. Não foi o presidente da UNITA. Foi o primeiro-ministro de Angola, Fernando da Piedade “Nandó”.

Será que a Polícia Nacional, perdão, o presidente do Tribunal de Contas vai dizer o contrário? Se Eduardo dos Santos mandar, que remédio tem Julião António…

E, já agora, alguém se recorda do tempo em que uma importante figura política angolana afirmou que, depois da guerra, era a corrupção o principal problema de Angola?

Será que a Polícia Nacional, perdão, o presidente do Tribunal de Contas vai dizer o contrário? Se Eduardo dos Santos mandar, que remédio tem Julião António…

Pois. Eduardo dos Santos não vai mandar Julião António desmentir. E não vai porque foi o presidente do MPLA e de Angola quem disse que depois da guerra a corrupção era o principal problema.

É claro que, a partir do momento que Samakuva pôs o dedo na ferida, Eduardo dos Santos deu instruções no sentido de pedir a quem acusa as provas de corrupção.

E é aqui que reside o busílis da questão. O ónus da prova deve ser feito por quem cabritos vende e cabras não tem. Ou seja, por aqueles que apresentam claros e inequívocos sinais de riqueza.

Eu sei que são muitos. Sei que se eles quiserem abrir a boca nem o Rio Kuanza chegará para lavar tanta roupa suja. Mas vale a pena tentar.

Só depois disso a água voltará a ser límpida e pura.

Em memória de um irmão que faria hoje anos

«Cerca-te. Revolve-se. Aproxima-se. Questiona-te. Inveja-te.
Compreende-te. Foge-te.
Liberta-te.
Crava na tua alma a sombra esbelta do bloco de mármore por esculpir.
À tua frente. Dentro de ti.
Uma massa de vida (quase) morta, esperando o indelével toqueInterior
Que te faça perceber, ansiar, demonstrar, viver a tua morte
Sobrevoar os antigos escritos, as antigas revelações e as antigas surpresas
Já não tão surpreendentes assim.
Agora é o teu tempo, é a tua vez.
Agora, queres ser tu a surpreender, a criar.
Ousas recriar o mundo e chocas.
Entre tu própria e o mundo
Chocas.
Tudo e todos.
Chocas-te.
Felicitas-te. Congratulas-te.
Divertes-te e repetes a dose.
Até ficares aborrecida. Triste.
Deprimida.
Aí, fechas-te novamente. Voltas ao mármore. Às suas nervuras e imperfeições.
Voltas a ti.
Após o voo indefinido e envolvente pelo nosso curto e inexistente momento, pela nossa canção.
Mesmo antes de aterrares.
E adorarias ver aquele dia.
Eu, adoraria (vi)ver aquele momento.
(Contigo). »

Nota: No http://frigorificoamarelo.blogspot.com/ o meu filho publicou hoje o poema acima reproduzido. Hoje 10 de Março. Coincidência. Hoje, dia do nascimento do meu irmão, de seu nome Manuel de Sousa Castro. Falecido na tropa em 1972.

Desculpa, filhote, apropriar-me do teu trabalho para recordar um irmão que morreu quando eu tinha a idade que tu agora tens. Onde ele estiver terá orgulho nos sobrinhos que tem.

sexta-feira, março 09, 2007

Contra transformar o Jornalismo
em algo de banal, fútil e doentio

«O Orlando Castro é um jornalista que não tem medo das palavras que redige nem de assumir, clara e inequivocamente, aquilo que quer transmitir ainda que, nem sempre, ou não muito raramente, sejam bem digeridas por aqueles a quem o verbo possa parecer ser incómodo e indigesto.

E ainda bem que existem Jornalistas com a fibra do Orlando Castro. Um criador de artigos, não um produtor ou mero mercador de conteúdos; um crítico dos capatazes que por aí pululam e que dirigem alguma certa comunicação social, dos “yes-men” que cirandam por esta moderna sociedade civil, de um jornalismo que sobrevive dos esquemas e dos devaneios e escândalos alheios que transformam a nobre arte do jornalismo em algo banal, fútil, paradoxal ou doentio.

Em suma, o Orlando Castro continua, teimosa e combativamente, a querer que o jornalismo não seja uma prima do mestre-de-obras mas uma Obra-prima; daquele jornalismo que não fale só da árvore mas, também, nunca se esqueça da floresta; de um jornalismo que não continue a acoitar o obscurantismo, o servilismo e a bajulação mas que, acima de tudo, seja um jornalismo vivo, prenhe e vibrante sem nunca esquecer a justiça e frontalidade.

Numa frase, Orlando Castro quer que o jornalismo esteja sempre ao serviço da Verdade, da Democracia e da Liberdade.

Porque como ele diz e defende, “o poder das ideias deve estar acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu – o autor, claro,) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado”.»

Nota: Esta é uma parte do que Eugénio Costa Almeida disse na apresentação, na Casa de Angola, em Lisboa, do meu livro “Alto Hama – Crónicas (diz)traídas”.
Na foto estão em primeiro plano o Fernando Frade (a quem o livro é dedicado) e Gervásio Viana, presidente da Casa de Angola.

quinta-feira, março 08, 2007

Velhos amigos encontram-se em Luanda
- Mugabe e Eduardo dos Santos… juntos

O democrata presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, aproveitou uma escala técnica do seu avião para se encontrar em Luanda com o seu homólogo angolano, José Eduardo dos Santos, que se deslocou ao aeroporto 4 de Fevereiro para estar com o velho amigo.

Robert Mugabe tem sido nos últimos anos a grande pedra no sapato das relações que a União Europeia quer aprofundar com África e o entrave à realização de uma II Cimeira UE-África.

Mas, é claro, nada disso impediu o encontro destes dois velhos amigos.

No final do mês passado, ao mesmo tempo que Portugal reiterava a sua vontade de realizar a cimeira, que esteve marcada para 2003 em Lisboa e foi cancelada por o Reino Unido se opor à participação do Zimbabué, os 27 renovaram a proibição de entrada de dirigentes zimbabueanos na UE.

Mas, é claro, nada disso impediu o encontro destes dois velhos amigos.

A diplomacia portuguesa tem feito um esforço para que a reunião de alto nível se realize no segundo semestre deste ano e parece contar com a influência de Angola no mapa da África Subsariana para que a iniciativa se concretize.

Angola e Zimbabué são membros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) - cuja presidência é actualmente exercida por José Eduardo dos Santos -, da qual também fazem parte Moçambique, África do Sul, Botsuana, Ilhas Maurícias, Lesoto, Madagáscar, Malaui, Namíbia, RDCongo, Suazilândia, Tanzânia e Zâmbia.

Várias vezes no passado, os Estados africanos mantiveram uma posição intransigente sobre a realização da cimeira, a de que ou participam todos os países ou não participa nenhum, sem exclusão do Zimbabué.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros sul- africano, Ronnie Mamoepa, citado pelo diário sul-africano Star na edição de hoje, insiste na posição pragmática da maioria dos países africanos, garantindo que ignorar Mugabe não faz com que ele desapareça.

O Zimbabué, em tempos, uma das maiores potências agrícolas do continente africano, está mergulhado numa grave crise económica, tendo chegado ao fim de 2006 com a maior taxa de inflação do planeta, 1281,1 por cento.

Mas, é claro, nada disso impediu o encontro destes dois velhos amigos.

quarta-feira, março 07, 2007

Estarão os membros do Governo de Sócrates
também sujeitos a avaliação de desempenho?

Os funcionários públicos que tenham uma avaliação de desempenho negativa durante 2 anos consecutivos vão ser alvo de um processo disciplinar que, por seu turno, poderá resultar no despedimento, disse hoje o secretário de Estado da Administração Pública. Nesta matéria gostava que os membros do Governo também estivessem enquadrados pela mesma avaliação. Seria o bom e bonito…

João Figueiredo afirmou que se um funcionário público tiver em dois anos consecutivos uma avaliação negativa vai abrir-se um processo disciplinar, para se apurar se os deveres profissionais foram violados. Caso se confirme que houve "violação reiterada e culposa dos deveres profissionais, procede-se à cessação do vínculo".

Nesta matéria gostava que os membros do Governo também estivessem enquadrados pela mesma avaliação. Seria o bom e bonito…

"A cessação resulta do processo disciplinar e não da avaliação de desempenho", clarificou João Figueiredo. A avaliação de desempenho é feita pelos superiores hierárquicos, depois harmonizada por um conselho coordenador de avaliação que existe nos serviços e que garante a imparcialidade e justiça.

Nesta matéria gostava que os membros do Governo também estivessem enquadrados pela mesma avaliação. Seria o bom e bonito…

Isaías Samakuva acertou em cheio
- Tribunal de Contas acusou o tiro

O discurso à Nação feito por Isaías Samakuva já está (ainda bem) a fazer estragos. O presidente do Tribunal de Contas (TC) de Angola reagiu considerando que já não há tanta corrupção no país como havia antes da instituição daquele órgão fiscalizador há seis anos, embora reconheça que o fenómeno não foi ainda "eliminado". E, por não ter melhor argumento, justificou que o líder da UNITA não é “uma voz autorizada para falar do assunto”. Pois não. Não a pratica...

"Não posso dizer que em seis anos tenha sido eliminado o fenómeno corrupção, continuamos a combatê-lo, mas o reforço na fiscalização preventiva permite-nos concluir que já não há em Angola a mesma corrupção de ontem", disse Julião António, dizendo que o único dono da verdade é o TC por ser quem “controla a aplicação do Orçamento Geral do Estado".

Vê-se bem que em Angola é muita gente (do MPLA) em altos cargos que não sabe o que diz e, também é verdade, não diz o que sabe.

"O quadro de antes do início do funcionamento do TC difere bastante do quadro actual. O TC funciona há seis anos e os resultados são animadores", reiterou Julião António certamente lendo o manuel de instruções do partido.

O presidente do TC afirmou ainda que se antes não havia prestação de contas, com este órgão, e só no ano passado houve mais de 700 processos para apreciação e recomendações, considerando que se trata de "um indicador de que o país mudou".

Mudou? Mudou sim senhor. Para pior, como bem sabem os poucos que têm milhões e os milhões que têm pouco ou nada. Ou seja, todos sabem.

"É raro que algum contrato (público) com incidência financeira entre em execução sem que passe pelo Tribunal de Contas", por isso, "não se pode dizer que o país está na mesma", referiu em declarações à Lusa o máximo responsável da fiscalização das conta spúblicas em Angola.

Dando uma no cravo e outra na ferradura, Julião António diz que se é certo que ainda "não é uma realidade efectiva" a existência de ética na gestão do erário público, o actual padrão de comportamento dos gestores públicos já se modificou.

Claro que modificou. Há mais gente a comer na gamela da corrupção. Apenas isso.

terça-feira, março 06, 2007

Dois jornalistas assassinados por semana

Mil jornalistas foram assassinados em trabalho nos últimos 10 anos em todo
o mundo, o que significa uma média de duas mortes por semana, segundo
um estudo do Instituto Internacional
para a Segurança da Imprensa (INSI), hoje divulgado.

O relatório adiantou que apenas um em cada quatro jornalistas assassinados morreram num cenário de guerra ou no contexto de um conflito armado.

"A maioria dos profissionais que morreram foram assassinados porque estavam a desenvolver o seu trabalho, tendo sido eliminados por autoridades hostis ou por criminosos quando tentavam denunciar os meandros mais obscuros das suas sociedades", afirmou o director do INSI, Rodney Pinder, na apresentação do estudo, hoje realizada em Londres.

O relatório, intitulado "Matar o mensageiro: o custo mortal das notícias", revela que em dois terços dos casos relativos ao assassinato de profissionais de comunicação social, os alegados criminosos não foram ainda identificados e as probabilidades de reconhecimento são quase nulas.

Por países, o estudo destaca que o Iraque, com 138 mortes, a Rússia (88) e a Colômbia (72) são os lugares mais perigosos para os profissionais dos media.

Os países latino-americanos, onde a maioria dos crimes estão associados ao narcotráfico, estão em destaque entre os 20 países com mais casos de morte de jornalistas, nomeadamente o México (31 mortes), Brasil (27), Peru (16) e Guatemala (13).

Apesar destes valores, Rodney Pinder destacou que a América Latina tem registado um decréscimo no número de jornalistas assassinados, alertando, no entanto, que esta situação se deve ao facto de existirem muitas pressões junto dos profissionais para não cobrirem certas matérias.

"Em muitos países, o assassinato tornou-se na forma mais fácil, barata e efectiva de silenciar as informações mais incómodas", reforçou o responsável.

Os anos de 2004 e de 2005 foram os mais mortíferos com 131 e 149 assassinatos, respectivamente, segundo o estudo da INSI, uma organização formada por empresas de comunicação social, grupos de defesa da liberdade de imprensa e sindicatos que tem como objectivo principal zelar pela segurança dos jornalistas.

A divulgação deste estudo internacional serviu também efectuar um apelo, entre outras entidades, às Nações Unidas, aos governos, às forças de segurança e as empresas de media que apoiem medidas que permitam reforçar a segurança dos profissionais de informação.

O responsável defendeu ainda a necessidade de avançar com um debate público sobre esta temática, uma vez que "jornalistas não merecem o silêncio, mas sim o reconhecimento e a adopção de medidas reais".

Guerra em Angola está ao dobrar da esquina

Alguns sectores do MPLA estão interessados, continuam interessados, em que a guerra volte ao país. Se o presidente do MPLA, e da República de Angola, José Eduardo dos Santos, não colocar a casa em ordem será isso mesmo que acontecerá. Temendo, com ou sem razões para isso, o sucesso eleitoral da UNITA, os radicais ligados ao poder já começaram a lançar o pânico. E começaram logo por fazer tiro ao alvo com Isaías Samakuva.

Como muitos jornalistas (alguns deles a trabalhar em Angola) sabem, existem informações de que alguns dos altos quadros da UNITA constam de uma lista de alvos a abater. Até agora o assunto foi mais ou menos abafado, mesmo nos media portugueses. Veja-se como o atentado contra o presidente do Galo Negro passou ao lado de grande parte desses órgãos de suposta informação.

Compreendo a dificuldade dos media públicos de Angola falarem do assunto sem ser, como agora aconteceu, pela óptica oficial. Aliás, não me admiraria que alguns deles chegassem à conclusão de que os tiros contra Samakuva foram disparados por elementos da UNITA… disfarçados de polícias.

Num cenário em que os poucos que têm milhões continuam a ter cada vez mais milhões e em que, no mesmo país, muitos milhões não têm sequer o que comer, não custa a crer que a linguagem das armas volte a ser equacionada.

Não creio que Homens como Paulo Lukamba Gato, Alcides Sakala e muitos, muitos, outros, aceitem trair um povo que neles acreditou e que à UNITA deu o que tinha e o que não tinha. E é esse povo que reclama por justiça e que a vê cada vez mais longe.

Sabendo que muitos deste Homens, que também deram tudo à UNITA, nunca trairão o seu povo, o MPLA opta por os pôr fora de combate. Começou por uma oferta pública de compra que rendeu, reconheça-se, alguns dividendos. Surgiu uma coisa chamada UNITA-Renovada, alguns militares passaram-se para o lado do MPLA e até ajudaram a matar Jonas Savimbi.

Apesar dos milhões envolvidos, a compra não teve êxito total e a UNITA manteve-se coesa e coerente. Vai daí, se não há dinheiro que compre os dirigentes da UNITA opte-se por comprar quem os cale, se possível de forma definitiva.

A UNITA sabe que é assim. Até agora aguentou todos os ataques e humilhações. No entanto, a sua paciência poderá chegar rapidamente ao fim. E quando tal acontecer, o mais certo é voltarem a ouvir-se as metralhadoras.

sexta-feira, março 02, 2007

Líder da distrital do Porto do CDS/PP está
sempre com quem lhe parece que vai ganhar

O líder da distrital do Porto do CDS-PP, Álvaro Castelo-Branco, defendeu hoje a proposta de eleições directas feita por Paulo Portas e garantiu que a maioria das concelhias do distrito também "é favorável". Não precisava de o fazer. Todos sabem que ele faz tudo para estar ao lado de quem lhe parece seja, ou venha a ser, o vencedor. Que o diga Manuel Monteiro.

"Sou a favor, sempre fui a favor das eleições directas. E não acho normal que Ribeiro e Castro (líder do CDS-PP), que foi eleito em directas há dois anos, venha agora dizer que não", afirmou Álvaro Castelo-Branco, demonstrando a sua conhecida capacidade de flutuação.

O dirigente do CDS, também vice-presidente da Câmara do Porto, garantiu que "a esmagadora maioria das 18 concelhias do Porto é favorável às eleições directas". Essas concelhias, se é que existem como estrutura organizada, não são mais do que meros anexos da distrital.

O ex-líder do CDS Paulo Portas assumiu quinta-feira a recandidatura à presidência dos democratas-cristãos, anunciando que irá pedir em Conselho Nacional a realização de eleições directas.

"Se o Conselho Nacional aprovar este caminho, os militantes já me conhecem - serei consequente, isto é, serei candidato à presidência do CDS", afirmou Paulo Portas, numa declaração, sem direito a perguntas, no Centro Cultural de Belém.

Que mal terá feito Ribeiro e Castro para ser tão apunhalado, ainda por cima pelas costas, por gente que se diz cristã?

Sócrates continua a ver a banda passar

O Banco de Portugal revela agora (ver Manchete do Notícias Lusófonas) que, apesar do alarde do Governo de José Sócrates, há um recuo do investimento português em Angola, mau grado Luanda ser o maior destino dos capitais portugueses nos países africanos lusófonos.

Neste país, o investimento português recuou o ano passado 15 por cento, para 131,5 milhões de euros, ainda assim muito acima da média dos últimos anos.

Em 2004, o investimento português ascendeu a 69,6 milhões de euros, mais do dobro do registado no ano anterior, verificando-se assim uma tendência de subida que, contudo, foi interrompida no ano passado em pleno consulado socratiano.

Podem, todavia, estar descansados.

Em Angola vão agora ser construídos onze novos hotéis, um investimento superior a 435 milhões de euros e, mais uma vez, a mina servirá para alimentar a economia lusa.

Curiosa é a opinião de Daniel Pedrosa, da Câmara de Comércio Portugal – Moçambique, para quem o país do Índico “tem sido esquecido no discurso oficial, em relação a Angola, por exemplo”.

Pedrosa explica que “o primeiro-ministro português foi a correr a Moçambique só para assinar o acordo de transferência de Cahora-Bassa”, acrescentando que “os moçambicanos esperam que um dia destes se anuncie uma visita de trabalho ao país, onde ainda há muitas oportunidades".

Mais uma vez se verifica que o Governo de José Sócrates tem em relação aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa apenas algumas vagas, muito vagas, ideias. Nem o pragmatismo chinês ajudou Lisboa a perceber a diferença entre saber tudo e fazer alguma coisa.

Sócrates e os seus sipaios são detentores das verdades absolutas mas, ao contrário dos comuns mortais, desconhecem que há uma substancial diferença entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar.

Sócrates e os seus sipaios são daqueles que nunca fracassam…

quinta-feira, março 01, 2007

PSD acusa a RTP de propaganda socialista
(antes o PS acusava-a de estar com o PSD)

A RTP, televisão pública de Portugal, escusou-se hoje a comentar as acusações do PSD de que a empresa se transformou numa televisão oficial do Governo, por pressão e controlo do executivo. É tudo uma questão de memória. Todos os governos pressionam e tentam controlar a RTP, tal como o fazem com a restante Imprensa.

Na terça-feira, o secretário-geral do PSD, Miguel Macedo, acusara o Governo de "apertar o controlo sobre a RTP", estação que considera estar a passar de "televisão pública a televisão oficial do Governo".

Embora não seja uma verdade absoluta, tem algum fundamento. Tem na RTP como tem nos restantes meios e não é um exclusivo do Partido Socialista. Basta ver como, depois de eleições, os jornalistas afectos ao vencedor mudam de trincheira e os afectos aos perdedores regressam à anterior.

O secretário-geral social-democrata garantiu que o PSD irá fazer uma participação à Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), referindo-se ao progtama "Prós e Contras", verificados segunda-feira à noite na estação pública.

Faz bem. Talvez se consiga saber quem são os jornalistas assessores e os assessores jornalistas.