terça-feira, setembro 18, 2007

Vale a pena dar voz a quem a não quer ter?

Nada melhor do que ter um problema para saber de que lado estão os que nos rodeiam. No meu caso, foi grato verificar que dois ou três, dos muitos mais amigos que eu pensava ter, me manifestaram solidariedade. Também foi bom, apesar de tudo, ver que dos que estão do outro lado da barricada há alguns que se preocupam.

Acredito que tenha dado especial gozo a alguns dizer-me: “eu bem te avisei” ou, ainda, “será que já viste que estás do lado errado?”. A mim não deu gozo mas, é claro, ajudou-me a pensar.

“Continuo a pensar que estou no lado certo da barricada”, disse a um deles. A resposta, incisiva e penetrante, não se fez esperar: “Se estás do lado certo, onde estão agora os que deviam estar ao teu lado, como estiveram noutras alturas?”.

Fiquei sem resposta. É que, de facto, os que eu contava estarem ao meu lado, ou não deram sinal de vida ou, por conveniência, estão com um pé já do outro lado da barricada.

Ponderado o assunto, ainda não é desta (certamente nunca será) que passo para o outro lado. Não deixo, contudo, de cada vez mais me questionar se vale a pena querer dar voz aos que voluntariamente a não querem ter.

Por tudo isto, em vez de escrever o que penso, penso no que (não) escrevo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Orlando,

Não sou angolano, mas sou um africano que, apesar de não perceber as razões da nossa teimosia em seguirmos a caminhada em direcção ao retrocesso, desde cedo aprendi a sentir e a pensar África como um todo, partindo dos problemas da minha pátria – Guiné-Bissau. Por esse motivo, quase diariamente acedi ao seu blog, entre outros. Devo dizer-lhe que deixar de escrever sobre Angola é, de alguma forma, colaborar com um poder ilegal (não democrático) que, aos olhos do mundo e da amnistia internacional em particular, também é opressor do próprio povo.
Os libertadores do que quer que seja e, muito mais de consciências, não devem fazer depender as suas tarefas de apoios das massas. Esses apoios já existem, mas só o poderá sentir quando conseguir libertar as consciências da opressão a que foram submetidos durante décadas ou até séculos, se tivermos em conta a opressão colonial. É claro que não é um trabalho que dá frutos a curto prazo, mas temos de ser persistentes. Parar ou ceder, será permitir o avanço dos que estão do outro lado da barricada… Informar e formar é dos melhores meios de libertação de consciências e é o trabalho que África mais necessita neste momento, para pôr fim a praga que é o poderio e o constante abuso dos mais elementares direitos do homem por parte desses pseudo-libertadores da pátria.
Por outro lado, não pode nem deve esperar apoios daqueles a quem dirige o seu trabalho, se não os explicar as suas razões e nem tão pouco criar meios para ouvi-los…

Deixo-lhe aqui o meu apelo para que não abandone essa nobre tarefa que abraçou há algum tempo, mesmo não sentindo o apoio daqueles que, de certeza, estão do seu lado. O importante não é estar do lado da maioria, mas sim do lado da verdade e da dignidade humana.

Termino citando um conterrâneo meu, que forneceu ao site de um outro conterrâneo (Didinho), um grande contributo aos jovens guineenses e africanos em geral, porque são esses os que devem ser os exemplos e as referências para os nossos jovens.

"A tinta de um sábio é muito melhor que o sangue de um mártir. A sabedoria é a luz…
Professor Mamadu Lamarana Bari


Aquele Kandandu

ELCAlmeida disse...

Se servir dizer faço minhas as palvras anteriores, aqui fica o meu apoio complementar ao já escrito no Notícias Lusófonas.
kandandu
EA

Anónimo disse...

Se as pessoas estão alienadas -como, por exemplo, as que seguem acritica/ o catolicismo- talvez não sejam tão responsáveis assim.
Temos de lutar , esperando que um dia tomem consciência do seu erro.
A nossa força é a de sabermos que temos razão, não é?
Ciao!