Impedido pela razão da força (dos que são donos do poder e dos que, por inércia, com eles pactuam) de utilizar a força da razão para escrever sobre Angola, reproduzo um texto do Notícias Lusófonas intitulado «27 de Maio foi um contra-golpe. Agostinho Neto temia perder o poder».
«Os acontecimentos de 27 de Maio de 1977 em Angola, que provocaram milhares de mortos, foi um "contra-golpe" resultado de uma provocação, longa e pacientemente planeada, tendo como responsável máximo Agostinho Neto, que temia perder o poder. Esta é uma das principais conclusões do livro "Purga em Angola (O 27 de Maio de 1977)", da autoria dos historiadores portugueses Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, agora lançado em Lisboa.
«Os acontecimentos de 27 de Maio de 1977 em Angola, que provocaram milhares de mortos, foi um "contra-golpe" resultado de uma provocação, longa e pacientemente planeada, tendo como responsável máximo Agostinho Neto, que temia perder o poder. Esta é uma das principais conclusões do livro "Purga em Angola (O 27 de Maio de 1977)", da autoria dos historiadores portugueses Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, agora lançado em Lisboa.
Há 30 anos, Nito Alves, então ministro da Administração Interna sob a presidência de Agostinho Neto, liderou uma manifestação para protestar contra o rumo que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) estava a tomar. Segundo o livro "havia que evitar que os 'nitistas' chegassem ao Congresso, anunciado para finais de 1977" porque "existia o sério risco de conquistarem os principais lugares de direcção".
"A preocupação de Neto e dos seus era, pois, o poder. E pelo poder fariam tudo", acrescenta.
Dalila Mateus afirma que as informações constantes no livro não serão "a verdade completa" sobre o 27 de Maio, mas serão, "certamente, a verdade possível, que não estará muito longe da realidade".
Por seu lado, Álvaro Mateus afirma que o objectivo é recordar "um passado sombrio, na esperança de que não se volte a repetir".
Na versão oficial, através de uma declaração do Bureau Político do MPLA, divulgada a 12 de Julho de 1977, o 27 de Maio foi uma "tentativa de golpe de Estado" por parte de "fraccionistas" do movimento, cujos principais "cérebros" foram Nito Alves e José Van-Dunem, versão que seria alterada mais tarde para "acontecimentos do 27 de Maio".
Nito Alves e José Van-Dúnem tinham sido formalmente acusados de fraccionismo em Outubro de 1976. Os visados propuseram a criação de uma comissão de inquérito, que foi liderada pelo actual Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, para averiguar se havia ou não fraccionismo no seio do partido.
As conclusões desta comissão nunca chegaram a ser divulgadas publicamente mas, segundo alguns sobreviventes, revelariam que não existia fraccionismo no seio do MPLA.
De acordo com o livro, o próprio José Eduardo dos Santos e o primeiro-ministro de então, Lopo do Nascimento, seriam também alvos a abater pela cúpula do MPLA. O actual Presidente terá sido salvo pelo comissário provincial do Lubango, Belarmino Van-Dúnem.
Os apoiantes de Nito Alves consideravam que o golpe já estava a ser feito por uma ala maoísta do partido, liderada pelo secretário administrativo do movimento, Lúcio Lara, e que terá instrumentalizado os principais centros de decisão do partido e os media, em especial o Jornal de Angola, pelo que consideraram que a manifestação convocada por Nito Alves foi "um contra-golpe".
Os autores do livro chegam à mesma conclusão depois de cruzarem a informação recolhida, desde entrevistas a sobreviventes, ex-elementos da polícia política (DISA) e antigos responsáveis do MPLA, a notícias ou arquivos da PIDE e do Ministério dos Negócios Estrangeiros português.
De acordo com o estudo, "a purga no MPLA atingiu enormes proporções" e é citado um livro laudatório de Agostinho Neto em que se assinala que "o número de militantes do MPLA, depois das depurações, baixara de 110.000 para 32.000".
Em relação ao número de mortos, os autores optam pela versão dos 30.000, justificando que "no meio-termo estará a virtude", depois de analisarem dados tão díspares que vão dos 15.000 aos 80.000.
O livro tenta reconstruir os acontecimentos antes, durante e pós 27 de Maio de 1977 e dá conta de testemunhos que referem os horrores a que os chamados fraccionistas foram submetidos, desde prisões arbitrárias, a tortura, condenações sem julgamento ou execuções sumárias.
O apontado líder do alegado golpe de Estado terá sido fuzilado, mas o seu corpo nunca foi encontrado, tal como o dos seus mais directos apoiantes como José Van-Dúnem e mulher, Sita Valles, que foi dirigente da UEC, ligada ao Partido Comunista Português, do qual se desvinculou mais tarde, e foi expulsa do MPLA.
Em Abril de 1992, o governo angolano reconhece que foram "julgados, condenados e executados" os principais "mentores e autores da intentona fraccionista", que classificou como "uma acção militar de grande envergadura" que tinha por objectivo "a tomada do poder pela força e a destituição do presidente (Agostinho) Neto".
Segundo os autores do livro, "as principais responsabilidades" do 27 de Maio "recaem por inteiro sobre Agostinho Neto" que "não se preocupou com o apuramento da verdade, dispensou os tribunais, admitiu que fizessem justiça por suas próprias mãos".
O então Presidente da República "acabaria por se revelar o chefe duma facção e não o árbitro, o unificador. Dominado pela arrogância, pela inflexibilidade e pela cegueira, foi incapaz de temperar a justiça com a piedade", referem.
Quanto à herança do 27 de Maio, o livro conclui que "Angola perdeu muitos dos seus melhores quadros: combatentes experimentados em mil batalhas, mulheres combativas, jovens militantes, intelectuais e estudantes universitários".
"Os vencedores do 27 de Maio parece terem conseguido o milagre de fazer desaparecer os que sonhavam com um futuro melhor, mais igualitário e mais fraterno para os angolanos", dizem, acrescentando que se "impôs no país um clima de medo e de violência" porque falar do 27 de Maio se tornou "um tabu".
Destacando que este é um livro "para gente boa", Álvaro Mateus cita uma frase de Martin Luther King: "O que mais nos preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem carácter, nem dos sem moral. O que mais nos preocupa é o silêncio dos bons".»
8 comentários:
Acabei agora de ler o livro. E apesar de por diversas vezes, ter falado com a Dalila e o Álvaro Mateus sobre o mesmo(em particular quando "desconhecidos" lhes enviavam recados para que o livro ou não fosse escrito ou fosse direccionado para outro lado, não esperava ao lê-lo, um tal choque. Esperava a veracidade histórica, esperava a seriedade da escrita, a sitematização clara da análise, tudo isso encontrei. O que não esperava, foi a crueza da realidade, o absurdo dos factos narrados, a maldade demoníaca dos autores.
Imagino o que terá custado à Dalila escrever, estudar, analisar todo o material histórico para realizar esta obra, porque já a vi parar uma apresentação de um livro, por não conter as lágrimas ao recordar entrevistas a ex-prisioneiros da Pide.
Imagino também como terá sido o sofrimento de todas as pessoas envolvidas. Se os mortos foram 30.000, os seus familiares, vizinhos e amigos terão sido centenas de milhares.
Mas a besta, a besta maligna, voltou a fazer o mesmo em 1992, quando massacrou os líderes da UNITA que em Luanda negociavam um governo em Paz, e aproveitou para assassinar milhares de inocentes cujo único crime foi o de serem oriundos do sul do País.
São estas pessoas que o governo português se prepara para receber em apoteose para a cimeira da UE/África.
Passados 30 anos dos acontecimentos narrados tão magistralmente neste livro, passados 15 anos sobre a reptição do mesmo tipo de acontecimentos, são ainda as mesmas pessoas (?) que governam Angola, e que virão disfarçados de "democratas" que nunca foram nem serão, à citada cimeira.
Talvez seja a altura de dizermos, angolanos e portugueses, BASTA!!!
Uabalumuka
Emanuel Lopes
Faço minhas as tuas palavras, caro Uabalumuka.
Estamos juntos.
Orlando Castro
Meus Caros
Depois de ler o Livro,e tudo escrito neste site so tenho a dizer o seguinte:
"Acham que fazer recordar todo esse sofrimento é o mais correcto?Se o interesse é atingir o MPLA devo dizer que há outras maneiras!que o MPLA errou todos nos ja sabemos, assim como todos os partidos no mundo! Quem são os portugueses para falar de angola?os Angolanos querem apenas que lhes deixem crescer, escrevam livros sobre portugal, sobre o defice,o racismo que existe, o facto de a bem pouco tempo serem ainda uma aldeia,... etc, e agradeçam muito ao facto de fazerem parte da união europeia.Para terminar gostaria de deixar uma frase de um filosofo a proposito dos problemas de angola e do mundo.
"O que o homem não faz o tempo Faz"
Por mais que muitos queiram que angola não se desenvolva, angola vai se desenvolver.
A historia se encarregará em julgar estes homens do MPLA.
não li este Purga em Angola mas, tive contacto com o Nuvem Negra. uma verdadeira barbariedade que a história se responsabilizará a contar.
são tantos regimes que o mundo ja conheceu, hoje estão a onde?
vamos esperar.
Li e reli o livro.Aborda o acontecimento(s) de forma correcta,fiel ao espaço e tempo,com uma escrita muito bem estruturada,concisa,pormenorizada e de excelente qualidade jornalística.Em relação á purga de que foram vítimas milhares de pessoas,militantes,simpatizantes,familiares,amigos,crianças,e em todas as circunstâncias de que foram vítimas, aos mortos toda a minha compaixão,aos vivos também e boa sorte.
presados carissimos
penso quando se fala de comentarios devemos analisar aquilo que lemos e escrevemos
acho o livro purga mesmo holocastou livros muito bons que narram a verdade sobre o 27 de maio 1977 assunto esse que ao longo dos 34 anos ouco por intermedio de pessoas buscas, recolhas etc,
penso nao se tratar de ser um portugues a escrever ou um angolano mas pessoas que viveram essa etapa viram barbaridades e agora traduzem nas em palavras tudo aquilo que viveram e que aliais eu pessoal mente acho justo as geracoes vindouram terem conhecimento da historia nao concordo quando comentariastas fanaticos usam se do espaco e de uma verdade para fazerem comentarios fanaticos por e simplismente porque nao querem saber da verdade do 27 de maio narrado por individuos que viveram e sentiram na pele e foram atormentados por esse holocausto
sito excertos do hino nacional de angola honremos o passado a nossa historia e construimos um passado um homem novo
atabaque-
Rogo a todos Angolanos que amam a pátria, a informarem-se mais porque so assim poderemos levar adiante o desígnios que levaram os nossos heróis a consquistarem a arduamente a Independência.
"Conheça a Verdade e Ela te libertará"
Senhora Dalina grnde trabalho estas de parabens,e muito gratos pena sua passagem de mensagem,pk com esse livro aprende saber muito mais dos meus ante-passado...
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