terça-feira, julho 31, 2007

Resposta a Evy Eden Martins Prola

A propósito do texto anterior ("Conferência no Porto sobre as eleições em Angola - 200 angolanos de primeira e alguns de segunda ") recebi um comentário de Evy Eden Martins Prola (integralmente reproduzido no local próprio) sobre o qual faço as seguintes reflexões.

“Não pense em angolanos de 1ª ou de 2ª. Pois ao fazer este exercício mental, está a reanimar memórias... brancos de 1ª e de 2ª...lembra...!”, diz – com toda a razão - Evy Eden Martins Prola. E tem razão, mau grado eu continuar a ser tratado pelos portugueses como angolano e pelos angolanos como português…

"Discordo de si quanto ao número de pessoas de raça branca presentes. Contou todos/as da Figueira da Foz, Leiria, Coimbra, Porto, Lisboa, Braga, Algarve, Minho e outros?!”

Eu saí antes, mas estive na Faculdade de Economia do Porto das 16 às 17,30 horas. Se calhar estavam, ao contrário do que afirmei, mais de meias dúzia de brancos. Como talvez estivessem mais (ou talvez menos) de 200 participantes. Continuo, “revisto” o filme a não ver mais de meia dúzia. Da mesma opinião é o cidadão que me acompanhou ao evento.

"Novamente discordo de si. Se lhe deram a resposta que diz ter recebido, devia ter procurado reclamar com os/as responsáveis máximos/as do evento. Não se pode PRESUMIR e julgar todos por um/a”.

Evy Eden Martins Prola, pode e deve se assim o entender discordar do que escrevo. Não pode nem deve é dizer “se lhe deram”. Este “se” está a mais e é ofensivo. Acresce que eu não julgo a floresta pela árvore. Não posso, contudo, deixar de alertar para a existência de uma, ou várias, árvores que estão doentes e que podem contagiar outras. Eu sei que a organização, bem como a esmagadora maioria dos presentes, não daria aquela resposta. Mas o certo é que no seu seio existe quem a tenha dado.

"Garanto-lhe que todas as pessoas de raça branca próximas de mim, pela disposição na ocupação dos lugares nas cadeiras, e outras que meu olhar alcançava, receberam convites para se manifestar através de perguntas escritas, os tais papéis que reclama não ter recebido!”, diz Evy Eden Martins Prola.

Ainda bem. Ainda bem que eu e o outro amigo que me acompanhava (também branco) fomos uma excepção. Excepção porque não tivemos direito aos papéis. Excepção porque recebemos uma explicação incorrecta. Digamos que a excepção confirmou a (boa) regra. Creio, porém, que era dispensável esta excepção…

Agradeço a Evy Eden Martins Prola a correcção quanto à cônsul em Lisboa cujo nome que referi ainda consta como tal no site da Embaixada de Angola em Lisboa.

Existem razões ponderáveis para que em Portugal, tal como em Angola, os eventos nunca comecem a horas. Isso não impede que considere um abuso perante as pessoas que cumprem rigorosamente os horários. Aliás, a Conferência estava marcada para as 16 horas e a essa hora já lá estavam muitas pessoas à espera. Espera de uma hora.

Reconheço o exagero do termo “faustoso” quando me referi ao beberete programado para o fim da sessão.

Por último, cara Evy Eden Martins Prola deixe-me dizer-lhe que todas as críticas são bem recebidas e que não me auto-excluo da condição eterna da angolano, como não reconheço a ninguém legitimidade para me dizer se sou ou não angolano. E exactamente por isso é que não posso pactuar com casos como o relatado, mesmo que sejam a excepção.

sábado, julho 28, 2007

Conferência no Porto sobre as eleições em Angola
- 200 angolanos de primeira e alguns de segunda

Hoje à tarde, na Faculdade de Economia do Porto (Portugal) realizou-se uma conferência sobre o processo eleitoral em Angola. Caetano de Sousa, presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), foi o orador principal do evento ao qual compareceram cerca de 200 angolanos de primeira e mais meia dúzia de segunda.

Com uma hora de atraso, o encontro começou com o aplauso da assistência à entrada do Embaixador de Angola, Assunção Afonso Sousa dos Anjos, bem como das cônsules em Lisboa e no Porto, respectivamente Elisabeth Simbrão e Maria de Jesus dos Reis Ferreira, e ao orador convidado.

Por deficiências sonoras, que nada preocuparam a assistência, pouco percebi do que disse o Embaixador ou do que afirmou Caetano de Sousa. Também é certo que, diga-se em abono da verdade, abandonei a sessão no início da intervenção do presidente da CNE.

E abandonei a sessão porque descobri que, afinal, o meu lugar não era ali. E descobri graças à oportuna explicação de gente ligada à organização, presumo que do Consulado no Porto.

Explico. No meio dos tais 200 cidadãos presentes estavam pouco mais de meia dúzia de brancos, mesmo contando com o meu velho amigo Ricardo Pereira que ali se encontrava a fotografar ao serviço do Consulado.

Durante a sessão algumas pessoas foram distribuindo pela assistência um pequeno papel que, tempos depois recolhiam. Presumo que se tratava de perguntas sobre o processo eleitoral e destinadas aos oradores.

Reparei (talvez por deficiência profissional) que esses papéis não eram entregues aos cidadãos brancos que, se não eram angolanos eram, pelo menos, amigos de Angola. Não creio que estivessem ali como penetras apenas para o faustoso beberete que estava a ser montado para o fim da festa.

Interpelei então uma das pessoas que distribuía os ditos papéis, perguntando-lhe se eu não teria direito a um deles.

A resposta foi clara e inequívoca:

“- Isto é só para angolanos”.

A tradução desta afirmação é fácil, já que nenhum dos 200 cidadãos presentes trazia qualquer rótulo a dizer: “Sou angolano”. Ou seja, queria dizer: “Isto é só para angolanos negros”.

Assim sendo, e porque sou angolano… mas branco, não tive outro remédio que não fosse abandonar a sala. Triste, é certo. Magoado, é claro. Mas como nada posso fazer quanto ao local em que nasci, ao país que amo, e muito menos quanto à minha cor, a solução foi vir embora.

sexta-feira, julho 27, 2007

Vivam as sinergias de grupo

À convergência das partes de um todo que concorrem para um mesmo resultado chama-se sinergia. Hoje em Portugal, numa altura em que pela mão de José Sócrates o país parece ter descoberto a pólvora, as sinergias afiguram-se como um milagroso remédio que tudo cura, nem que isso signifique engordar a conta bancária dos poucos que têm milhões em detrimento dos muitos milhões que têm cada vez menos.

Numa actividade “sinergética” todos os meus neurónios convergem no sentido de me dizerem que, mais uma vez, o mexilhão é que se vai lixar.

Mas talvez não seja bem assim. Creio, pelo menos em teoria, que – por exemplo – os deputados portugueses convergem todos no sentido de dotar o país com melhores leis.

Assim, usando a sinergia parlamentar, creio que o país (refiro-me a Portugal) poderia ter menos deputados, sem que isso signifique perda de trabalho. Antes pelo contrário.

É tudo uma questão se sinergia de grupo.

Ou seja, quando o PSD tivesse alguma dificuldade na análise económica contaria com o apoio de um deputado do BE. Nada mais do que racionalizar as sinergias do grupo, neste caso dos deputados.

No caso do CDS ter falta de gente para analisar a compra de submarinos sempre podia, apelando à sinergia do grupo de deputados, contar com uma ajudinha do PC.

Nesta altura o único que não tem problemas, e que até poderia governar o país em regime de partido único, é o PS, mas creio que mesmo assim não enjeitaria uma mãozinha dos Verdes.

Sou, portanto, a favor das sinergias de grupo, desde que o exemplo parta de cima, ou seja da Presidência da República, do Parlamento, do Governo e por aí fora.

quarta-feira, julho 25, 2007

Sócrates, Alegre, os Jornalistas e a pistola


"Sócrates reduz a política à sua pessoa". Não. A frase não é minha, embora reflicta a minha opinião. Aliás, de há muito que aqui digo (aqui e onde posso, sendo que não posso em todos os sítios que gostaria) que o primeiro-ministro de Portugal tem todas as características de um ditador. Só quando chegou ao poder a enfermidade foi conhecida, mas cada dia que passa tende a agravar-se.

Num artigo de opinião do jornal Público, intitulado "Contra o medo", Manuel Alegre critica "a confusão entre lealdade e subserviência" que, segundo o socialista, se verificam no Governo de José Sócrates.

"Há um clima propício a comportamentos com raízes profundas na nossa História, desde os esbirros do Santo Ofício até aos bufos da PIDE", escreve Manuel Alegre, acusando o Partido Socialista de "auto-amordaçar-se". Por outro lado, o Estatuto dos Jornalistas (aprovado no Parlamento apenas com os votos dos PS. Recorde-se.) afirma-se como "um risco para a liberdade de Imprensa".

Não creio que por enquanto (eu sei que sou optimista) José Sócrates seja dos que pegam na pistola quando ouvem falar de jornalistas. E não pega por duas razões: Por um lado, se tal for necessário tem lá os lacaios que se prestam a tal serviço, por outro, os países mais civilizados da Europa (e não só) usam meios mais sofisticados para calar as vozes incómodas.

De facto, não é preciso dar um, ou quantos forem precisos, tiro no Jornalista mais Jornalista e menos produtor de conteúdos.Basta, no Natal, por exemplo, oferecer-lhe uma pistola. Depois faz-se uma reestruturação empresarial (sinónimo óbvio de despedimentos). Quando o Jornalista descobrir que não tem dinheiro para pagar o empréstimo da casa ou os estudos dos filhos... dá um tiro na cabeça.

Sócrates lá terá as suas razões. Convenhamos que a verdade às vezes incomoda, seja em Portugal, na Rússia (Anna Politkovskaia) ou em Moçambique (Carlos Cardoso).

Aliás, foi comovedor ver todos aqueles que estão de pistola em punho saírem à rua para condenar o que se passou na Rússia, por exemplo, e dizer que a liberdade de Imprensa é um valor sagrado.

Sagrado sim desde que não toque nos interesses instalados, desde que só diga a verdade oficial.

terça-feira, julho 24, 2007

Prémio literário Ferreira de Castro
para jovens dos países lusófonos

A Associação do Prémio Nacional de literatura Juvenil Ferreira de Castro, com sede em Oliveira de Azeméis, Portugal, no âmbito das suas actividades leva a efeito um Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro junto dos jovens PALOP.

Este prémio literário, junto dos jovens dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, reflecte princípios instituídos pela Associação, a saber:

a) Intercâmbio: A Associação goza do direito de promover intercâmbios e cooperações com Associações e Organismos Nacionais e Estrangeiros, com os mesmos objectivos;

b) Divulgação: Divulgar os trabalhos premiados;

c) Homenagem: Promover actividades pedagógicas, culturais, recreativas e literárias que visem homenagear o Escritor Ferreira de Castro.

Com esta iniciativa pretende-se promover:

* acções diversificadas, dirigidas ao público estudantil, no âmbito da Literatura Juvenil;
* uma cooperação com organizações e instituições nas áreas da educação e cultura;
* acções destinadas à consolidação do uso e do ensino da Língua Portuguesa como língua de comunicação, de trabalho e de cultura.

Esta iniciativa é destinada aos jovens dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, nas faixas etárias dos 12-15 anos (Escalão A) e dos 16-20 anos (Escalão B) nas modalidades de prosa e poesia, contando com o Alto Patrocínio Institucional/Financeiro das Fundação Portugal-África e do Alto Patrocínio Institucional do Instituto Camões e da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Os concorrentes poderão concorrer com um número ilimitado de trabalhos, sem limite de páginas sendo que o tema dos trabalhos, a concurso, é livre.

O regulamento do concurso encontra-se disponível na página electrónica da Associação: http://www.apnljfc.pt/

segunda-feira, julho 23, 2007

Poderão os camaleões avaliar os primatas?

Porque muitos, cada vez mais, fogem sem pensar, é preciso que alguns (cada vez menos) pensem sem fugir. Quando será que em Portugal veremos os trabalhadores a serem avaliados de forma objectiva e imparcial, sem que para essa avaliação contem o cartão do partido, os jantares com o chefe ou a prenda de anos no aniversário do director?

É claro que todos devemos ser avaliados pelo mérito, sendo que este é perfeitamente mensurável e não necessita de análises subjectivas. Acresce que só quem for competente pode avaliar a competência. Ora, como cada vez mais a competência é – em Portugal - substituída pela subserviência, não adianta instituir o primado da transparência quando todos os seus agentes são opacos.

As tecido laboral em Portugal está a mudar? Está. Durante muitos anos, as avaliações laborais (fossem nas empresas do Estado ou nas privadas) pareciam sérias mas não eram. Hoje não parecem nem são.

Hoje, sejam a empresas do Estado ou privadas, o ambiente é de valorização exponencial do aparente, do faz de conta, do travesti profissional que veste a farda que mais jeito dá ao capataz que está acima.

Não admira por isso que, na eventualidade (rara, raríssima) de alguém questionar o veredicto superior (tão superior quanto a sua similitude com os camaleões) corre o risco de ver a avaliação reduzida ainda mais. Reduções, é claro, proporcionais às vezes que ousar questionar o dono da verdade.

O presente é, ou parece ser, de todos aqueles que às segundas, quartas e sextas são do PS, às terças, quintas e sábados do PSD e ao domingo negoceiam com o PC, com o BE e com o CDS.

Pelo meio deste circuito aparecem sempre os sipaios que acalentam a esperança de um dia serem chefes de posto e que, no cumprimento de ordens superiores, passam ao papel a avaliação pré-determinada, mesmo que no lugar da assinatura tenham de pôr a impressão… digital.

sábado, julho 21, 2007

Em Angola o Ocidente prefere
um regime corrupto e ditatorial

«A metodologia que Isaías Samakuva seguiu para ganhar o X Congresso e ser reeleito presidente da UNITA deve servir de exemplo porque corresponde ao que o MPLA vai fazer para vencer eventuais eleições em Angola», afirmou ao Notícias Lusófonas o jornalista Orlando Castro. Ou seja, «tal como Samakuva controlou o aparelho do partido, o MPLA vai controlar o aparelho do Estado e – tal como na UNITA – os votantes preferem um prato cheio de fuba à promessa de uma panela a abarrotar de carne».

Notícias Lusófonas - Isaías Samakuva sabe o que fazer agora que venceu o Congresso e atendendo aos desafios eleitorais?

Orlando Castro - Tal como soube dar a volta às aliciantes propostas de Abel Chivukuvuku para vencer este Congresso, Samakuva sabe como se pode vencer o MPLA. Recordo que durante anos foi ele que liderou a logística do aparelho da UNITA e, numa fase mais recente, geriu os enormes fluxos monetários do partido. Pena é que, estatutariamente, tenha de ser o líder do Galo Negro a concorrer às Presidenciais. Uma proposta eleitoral com Samakuva como chefe do Governo e com Chivukuvuku como candidato ao lugar de Eduardo dos Santos teria com certeza o apoio maioritário dos angolanos.

NL - Eventuais eleições? Não acredita que as haverá?

OC - Nesta matéria como em muitas outras, espero para ver. Para mim a estratégia do partido que comanda Angola desde 1975 continua a ser a de fingir, a de dar a ideia para o exterior que a democracia existe no país. Mas isso é falso. A democracia não é uma coisa abstracta. Tem parâmetros que a definem. E esses não existem. Alguém vê os tribunais a julgar? Não. Alguém vê o Parlamento a legislar? Não. Alguém vê o Governo a governar? Não. Quem manda, quem se substitui aos tribunais, à Assembleia Nacional e ao Governo é uma entidade não eleita que dá pelo nome de Presidência da República. Eleições? Quero ver para crer.

NL - Mas é preciso começar por algum lado?

OC - É claro que é e a UNITA, como ficou demonstrado neste Congresso, mostrou que sabe o que é a democracia e adoptou-a definitivamente. Tê-lo-á feito de forma consciente? Tenho algumas dúvidas que todos os seus dirigentes queiram a democracia, mas pelo exemplo dado estão no bom caminho. Aliás, Samakuva sabe que essa é a única via que tem para mostrar ao ao mundo que as democracias ocidentais estão a sustentar um regime corrupto e um partido que quer perpetuar-se no poder.

NL - E a UNITA terá a partir e agora um novo alento, um alento decisivo?

OC - Novo alento terá, com certeza. Decisivo já não sei. Vamos ver a equipa que Samakuva porá no terreno para sabermos se é uma equipa, se um conjunto de jogadores, ou apenas uns tantos amigos e apoiantes. O mal do actual presidente, eventualmente por uma dura escola ao lado de Jonas Savimbi, é ter medo de arriscar.

NL - E esse medo tem nomes, rostos?

OC - Tem. Teve pelo menos até este Congresso. Samakuva deu poderes e influência a membros do partido que, para além do umbigo, do próprio umbigo, passaram os últimos quatro anos a bloquear iniciativas válidas só porque partiam de outras pessoas. Ou seja, olharam para o mensageiro e não para a mensagem. São disso exemplos, entre outros, Adalberto da Costa Júnior , Carlos Fontoura e Daniel “Maluka”.

NL - E o futuro é, então, sombrio?

OC - Depende. O Congresso da UNITA, apesar de tudo, mostrou que é possível a democracia funcionar em Angola e, porque não dizê-lo?, em África. Mas será isso suficiente? Não. Não é. O mundo ocidental esteve, mais uma vez, de olhos fechados para o enorme exemplo que a UNITA deu. Em 2003, abriu bem os olhos porque esperava o fim do partido. Isso não aconteceu. Agora vamos ver. O Ocidente vai – na minha opinião – querer continuar a ter boas relações que um regime corrupto e ditatorial. Porquê? Porque em democracia, como pretende a UNITA, isso não é possível.

NL - Então o futuro não é sombrio, é tenebroso…

OC - Como dizia o meu amigo Aurélio Vida de Deus, num artigo recente publicado no Notícias Lusófonas, o Ocidente “não vai reagir porque não interessa que a Democracia funcione em Angola, assim como não interessa que haja eleições, ao fim e ao cabo Angola está em Paz há cinco anos e nenhum governo “democrático” exige que haja eleições neste País”.

Nota: Entrevista feita por Norberto Hossi e ontem publicada no Notícias Lusófonas
http://www.noticiaslusofonas.com/

terça-feira, julho 17, 2007

A troco de um pratito de lentilhas
ponham-se os jornalistas na Ordem (II)

“Não acha que, ao entregar ao Presidente da República um documento assinado por mais de 700 jornalistas, o MIL – Movimento Informação é Liberdade revela que tem amplitude para nele colher todos os jornalistas e não só altos responsáveis das hierarquias dos diferentes media?”, pergunta-me um leitor deste espaço que se identifica como Albano Lima.

Claro que tem amplitude para isso e, digo eu, para muito mais. Respeito e até compreendo todos aqueles que dizem querer defender a classe. Até compreendo todos aqueles jornalistas que saltaram das Redacções para se tornarem criados de luxo (assessores) do poder vigente e que, acabada a mama, regressaram às Redacções para importantes cargos de chefia ou direcção.

Deixe-me, caro Albano Lima, contar-lhe um episódio que se calhar justifica algumas, ou talvez muitas, das presenças nessa lista do movimento pró-Ordem dos Jornalistas.

Em Angola, um Chefe de Posto (autoridade colonial nos pontos mais recônditos do território) chamou um sipaio e disse-lhe para arranjar alguns voluntários para fazer umas obras na localidade.

Horas depois o sipaio chegou e disse ao Chefe de Posto:

“- Estão lá fora os voluntários… devidamente amarrados”.

Quero com isto dizer, permitam-me que seja explícito, que muitos dos súbditos de sua majestade o poder estão sempre, estarão sempre, onde estiver o capataz. E se este achou por bem assinar o manifesto… o melhor é fazer o mesmo.

A troco de um pratito de lentilhas
ponham-se os jornalistas na Ordem

Há MIL e uma razões para os Jornalistas (e similares) não andarem satisfeitos. Em vez de sermos a solução para o problema, estamos a ser o problema para a solução. Agora, à falta de melhor (imagino o grau de satisfação do ministro Augusto Santos Silva) resolvemos estar uns contra outros, Sindicato contra a (eventual) Ordem, (eventual) Ordem contra o Sindicato. E como completos imbecis e criminosos, escondemo-nos atrás do novo Estatuto do Jornalista para que ninguém repare que, afinal, muitos de nós (sejam adeptos do Sindicato ou da Ordem) temos de nos descalçar se alguém nos mandar contar até 12.

A classe jornalística, já sobejamente dividida, sofreu mais um golpe. De um lado os adeptos da Ordem, no caso subscritores do Movimento Informação é Liberdade (MIL), do outro os apologistas do Sindicato. É claro que, como em tudo, há quem esteja dos dois lados. Nada como jogar pelo seguro.

Por outras palavras, de um lado estarão os auto-denominados “pesos pesados” (Ordem-MIL) e do outro os índios (Sindicato). Como também convém à estratégia das partes, em qualquer dos lados há dos dois tipos de jornalistas.

Creio que pelo facto de ter entre os seus subscritores alguns directores de órgãos de comunicação social, o movimento pró-Ordem (ou MIL) tem a seu favor a total cobertura da Imprensa portuguesa, ao contrário do Sindicato que – goste-se ou não – tem liderado esta luta. Esta e muitas outras.

O Mil (ou movimento pró-Ordem) conseguiu 700 (setecentas) assinaturas e o facto foi destacado, bem destacado, em tudo quanto é sítio. Sobre o mesmo assunto, o Sindicato conseguiu mais de 3000 (três mil) e não teve espaço similar, antes pelo contrário. Muito antes pelo contrário.

Bem dizem as regras basilares da manipulação das massas, uma obra certamente cara ao Governo português: a troco de um prato de lentilhas os capatazes fazem tudo o que se quer, mesmo quando dizem que estão contra.

Ámen.

domingo, julho 15, 2007

A Ibéria de Saramago... a bem da Espanha

O prémio Nobel da Literatura (não sei como é que isso foi possível, mas que foi, foi) José Saramago prevê, numa entrevista publicada hoje no "Diário de Notícias", que Portugal vai acabar por tornar-se uma província de Espanha e integrar um país que se chamaria Ibéria para não ofender "os brios" dos portugueses. Se calhar tem razão.

O escritor, que reside há 14 anos na ilha espanhola de Lanzarote, considera que Portugal, "com dez milhões de habitantes", teria "tudo a ganhar em desenvolvimento" se houvesse uma "integração territorial, administrativa e estrutural" com Espanha.

Se for, na minha opinião, tão bom futurólogo como é escritor, podemos estar descansados. Continuaremos a ser os mais europeus do norte de África.

Portugal tornar-se-ia assim, sugere o Nobel português, mais uma província de Espanha: "Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla La Mancha e tínhamos Portugal".

"Provavelmente [Espanha] teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria. Se Espanha ofende os nossos brios, era uma questão a negociar", disse o escritor, membro do Partido Comunista Português desde 1986.

Questionado sobre a possível reacção dos portugueses a esta proposta, Saramago disse acreditar que aceitariam a integração, desde que fosse explicada: "não é uma cedência nem acabar com um país, continuaria de outra maneira. (...) Não se deixaria de falar, de pensar e sentir em português".

Com o mérito (reconheça-se) de vender que se farta os seus livros, a que alguns chamam de literatura, Saramago é livre (mesmo pertencendo ao PC) de dizer o que bem entende. Aliás, entre um génio e um eunuco mental a quem foi dado um Nobel… todos sabemos a quem a Imprensa dá destaque.

Na visão do escritor, Portugal não passaria a ser governado por Espanha, passaria a haver representantes de ambos os países num mesmo parlamento e, tal como acontece com as autonomias espanholas, Portugal teria também o seu próprio parlamento.

Numa entrevista de quatro páginas ao DN, Saramago diz que em Agosto começa a escrever um novo livro (certamente mais uma obra de arte da literatura ibéria) e fala também da sua fundação, recentemente constituída, que deverá "intervir social e culturalmente, preocupar-se com o meio ambiente e outras questões", também na província espanhola de Portugal.

A Fundação José Saramago, que será presidida pela mulher do escritor, terá sede na capital provincial de Portugal (Lisboa) e prolongamentos em Lanzarote, na terra do escritor, Azinhaga, e na terra de Pilar, Castril.

Tudo, é claro, a bem da Ibéria saramaguiana.

Ao fim de 32 anos o Mungo volta a ter água potável

Privados de água potável desde 1975, altura em que iniciou o conflito armado no país, os munícipes do Mungo, na província do Huambo, voltam a contar com água potável na localidade em consequência do arranque, sexta-feira, do sistema de captação e distribuição deste produto.

Instalado na zona do Cabanda, o novo sistema de captação e distribuição de água do Mungo, que funciona por bombagem, é suportado por quatro tanques de 100 metros cúbicos cada e vai beneficiar, numa primeira fase, um total de 10 mil pessoas.

Trinta metros cúbicos de água por hora é a capacidade de produção da estrutura erguida pela empresa Tecno-águas no quadro do Programa de Aumento e Melhoria dos Serviços Sociais Básicos às Populações.

O projecto, orçado em cerca de 25 milhões de kwanzas, inclui oito chafarizes públicos dos quais seis construídos de raiz e dois reabilitados para inicialmente abastecer os habitantes da sede municipal e algumas instituições, como o palácio, hospital e a administração local.

De acordo com o director provincial do Huambo de Energia e Aguas, Adolfo Elias Gomes, o empreendimento é o primeiro do género a ser erguido numa sede municipal, realçando desta forma o esforço do governo na resolução dos problemas sociais básicos.

Adolfo Elias Gomes referiu que durante os três primeiros meses as pessoas vão consumir água gratuitamente, mas que nos meses subsequentes as pessoas terão de pagar entre 50 a 100, um valor ainda por ser definido pela administração local.

Segundo acrescentou, a rede de distribuição será extensiva as demais comunas do município numa segunda fase.

O município do Mungo conta com uma população de 122 mil e 151 habitantes, estando a 150 quilómetros da sede provincial do Huambo.

Texto publicado em http://huambodigital.net

sábado, julho 14, 2007

Chivukuvuku e Samakuva, os filhos e os enteados

O recado foi-me transmitido por um amigo da UNITA, verdadeiro amigo porque diz o que pensa, no dia 18 do mês passado. Ficou em carteira à espera da altura exacta para ser, na minha opinião, publicado. Perante a Manchete do Notícias Lusófonas (“Samakuva e Chivukuvuku – Angola merece o melhor”) é altura de revelar essa mensagem. Em síntese dizia: “Vê se deixas de defender o Abel e de atacar o Adalberto”. Citando o Mais Velho, se a UNITA não se define – sente-se, sou livre de dizer o que penso.

Então quem será o próximo líder da UNITA? Tudo leva a crer que voltará a ser Isaías Samakuva. Não é relevante quem para mim seria, no contexto dos dois candidatos, o melhor líder.

Mesmo assim, apesar do recado, penso que o Galo Negro cantaria mais alto, eventualmente bem mais alto do que o MPLA, se Abel Chivukuvuku vencesse.

Chivukuvuku entende, e bem, que a UNITA ainda não é a força com a necessária dinâmica de vitória para enfrentar o MPLA nas próximas eleições legislativas, previstas agora para 2008. E tem razão.

A seriedade, honestidade e patriotismo da Samakuva não são suficientes para lutar contra uma máquina que está no poder em Angola desde 1975. Talvez Chivukuvuku também não consiga pôr a UNITA a lutar taco a taco com o MPLA. Tem, contudo e na minha opinião, a vontade de partir a loiça sem temer levar com os estilhaços. Será um bom, embora tardio, princípio.

"Depois de ter avaliado o contexto que Angola vive - em que não está claramente visível que hoje somos uma alternativa ganhadora - e consultado vários colegas de direcção do partido e militantes, tomei a decisão consciente de candidatar-me com um único propósito: fazer da UNITA uma efectiva alternativa que possa ganhar as eleições em 2008 e instaurar em Angola um modelo positivo de governação”, afirmou em Janeiro deste ano Chivukuvuku.

É mesmo isso. Também é isso que Samakuva quer, eu sei. Faltou-lhe, no entanto, engenho, arte e colaboração dos seus mais próximos quadros para dizer aos angolanos que o rei ia, como ainda vai, nu.

A UNITA tem de lutar por ser uma alternativa efectiva para 2008. Samakuva teve a árdua, e não menos importante, tarefa de pôr algumas divisões da casa em ordem. Talvez por isso, tenha sido demasiado (para o meu gosto) passivo, demasiado politicamente correcto.

Chegou a altura de a UNITA ter alguém na liderança que alie à seriedade, honestidade e patriotismo da Samakuva a capacidade de pôr o país a mexer, não temendo dizer as verdades que os angolanos querem ouvir, não temendo dizer quais são as soluções necessárias para que Angola deixe de ser apenas Luanda.

"Por norma eu não entro em coisas que não têm pernas para andar. E se as pessoas me viram a anunciar que sou candidato é porque houve um tempo de maturação, houve um tempo de análise, houve um tempo de estudo, houve um tempo de consulta, houve um tempo de preparação", diz Chivukuvuku.

Abel Chivukuvku não concorda que o MPLA seja um partido tão forte que lhe possa tirar o sono, pelo que considera que a UNITA, sob a sua direcção, estará em melhores condições de mobilizar a seu favor os 70% dos pobres que constituem a população angolana.

Se assim for… Se Chivukuvuku conseguir pôr os poucos que dentro da UNITA têm “milhões” a trabalhar pelos milhões que, também dentro da UNITA, têm pouco ou nada, então Angola terá futuro.

Como diz o NL, Angola merece o melhor. Está nas mãos dos actuais filhos puros da UNITA escolher, já que muitos que só foram filhos puros enquanto Jonas Savimbi presidiu, são agora enteados, sem direito a voto.

quinta-feira, julho 12, 2007

Imbecis e criminosos, criminosos e imbecis


Se o Jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos problemas é, com certeza, um imbecil. Se o Jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso. A tendência actual é para que sejamos todos imbecis e criminosos.

Será que actualmente a Comunicação Social portuguesa continua a ter credibilidade suficiente para que os leitores assumam como verdadeira qualquer coisa que nela seja divulgada?

Não. Não continua. O “produto” jornalístico deixou de ser uma referência de credibilidade e passou a ser uma correia de transmissão de interesses cada vez menos claros.

Quem analisar a Imprensa portuguesa encontra, na maioria dos casos, pouca informação, rara formação e quase nula investigação. Por outras palavras. A Imprensa (no seu mais lato sentido) deixou de ter a sua própria personalidade jornalística, travestindo-se no que os outros querem que ela seja.

Isto acontece ainda porque, dada a precariedade profissional, a grande maioria aceita fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar), este aceita fazer tudo o que o director manda, este aceita fazer tudo o que a Administração manda, e esta aceita fazer tudo o que dê lucro.

Pobres dos países ricos,
ricos dos países pobres

O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, desloca-se sexta-feira aos Estados Unidos para assinar um acordo de financiamento com o Millennium Challenge Corporation (MCC), avaliado em 369 milhões de euros, no âmbito do Millennium Challenge Acount (MCA).

Ou seja, Guebuza vai de mão estendida pedir ajuda aos pobres do países ricos para dar aos ricos do seu pobre país.

Ao abrigo desse acordo, o governo norte-americano compromete-se a atribuir uma verba aos países que estejam a demonstrar um desempenho excelente na boa governação, desenvolvimento do capital humano e na criação de um ambiente favorável de negócios.

Desempenho excelente na boa governação? Estaremos a falar do mesmo país?

Uma nota do gabinete da Presidência moçambicana indica que o donativo será canalizado, durante cinco anos, para projectos de água e saneamento, reabilitação de estradas e Barragem de Nacala, norte do país.

Estou mesmo a ver. Água? Saneamento? Reabilitação de estradas?O valor será igualmente aplicado em projectos de registo e cadastro informatizado de terras e apoio ao combate ao amarelecimento letal do coqueiro nas províncias do Niassa, Cabo Delgado, Nampula, norte, e Zambézia, centro.

Nesta deslocação a Washington, o chefe do Estado moçambicano far-se-á acompanhar pelos ministros da Planificação e Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia, das Obras Públicas e Habitação, Felício Zacarias, e pelo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Eduardo Koloma.

Não está mal. Comitiva de alto nível… não vão os pobres dos países ricos acharem que os ricos dos países pobres são uns pés descalços.

Nota: O Observador é um jornal de Moçambique dirigido pelo Jornalista Jorge Eurico

quarta-feira, julho 11, 2007

Na governação Angola é o pior dos lusófonos

Na governação Angola é o pior dos lusófonos Angola tem, entre os países lusófonos, a pior a classificação na maioria dos indicadores de governação do Banco Mundial, incluindo corrupção e eficácia governamental. No relatório Indicadores Globais da Governação 1998-2006, Angola surge no indicador "controlo da corrupção" no percentual 8,7, o que significa que apenas 8,7 por cento dos 212 países incluídos estão abaixo deste nível.

A Guiné-Bissau surge com 15,5 e Timor-Leste com 19,9. Os dois melhores neste aspecto são Portugal (82,5) e Cabo Verde (72,8), que surge bem à frente do Brasil (47,1).

Os dados do relatório, da autoria dos economistas Daniel Kaufmann, Aart Kraay e Massimo Mastruzzi, são calculados pelo Banco Mundial a partir de diversas fontes, como institutos de pesquisa, centros de análise, organizações não-governamentais e outro tipo de organizações internacionais.

No "painel" de avaliação dos seis indicadores estão a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Economist Intelligence Unit, Banco de Desenvolvimento Africano (BAD), Afrobarómetro, Gallup ou Departamento de Estado norte-americano, num total de 33 fontes e dezenas de milhar de inquiridos.

Além da corrupção, o estudo abrange os indicadores "voz e responsabilização", "estabilidade política e ausência de violência", "qualidade da regulação", "cumprimento da lei" e "eficácia governamental". Neste último, Angola surge com 10,9, novamente abaixo da Guiné-Bissau e Timor-Leste.

Bem maior é a diferença entre com os restantes "oito" no que diz respeito a "voz e responsabilização", que mede a participação dos cidadãos na política - Angola está com 11,5, e o segundo pior, a Guiné-Bissau, com 33,7.

O cumprimento da lei é o pior resultado de Angola (7,1), e também da Guiné-Bissau (9,0). O melhor resultado, cuja recuperação merece até destaque do Banco Mundial, é na estabilidade política, em que Angola surge com 28,8, ligeiramente acima da Guiné-Bissau (26,4).

Na qualidade da regulação, Angola (7,1) surge ligeiramente melhor do que Timor-Leste (6,8). A melhor classificação de Timor-Leste é na "voz e responsabilização" (38,5), tal como na Guiné (33,7).

Em São Tomé e Príncipe, mostram os números apresentados pelo Banco Mundial, o pior é a eficácia do governo (20,9) e o melhor a estabilidade política e ausência de violência (64,4).

O melhor em Cabo Verde e em Moçambique é a ausência de violência (78,8 e 63,9, respectivamente) e o pior a qualidade da regulação (45,4 e 30,7).

O Brasil destaca-se na voz e responsabilização (58,7) e o pior é o cumprimento da lei (41,4).
Portugal apresenta a sua pior classificação na estabilidade política (76) e a melhor em voz e responsabilização (90,4).

Para os autores do estudo, os números dão conta de melhorias a nível mundial na governação, e particularmente no combate à corrupção, incluindo em África.

"A notícia auspiciosa é que um número considerável de países, mesmo em África, está a mostrar que é possível fazer progressos significativos na governação num período de tempo relativamente curto; estas melhorias são cruciais para a eficácia da ajuda e para um crescimento sustentado a longo prazo", afirma Daniel Kaufmann, co-autor do estudo.

De acordo com os autores do estudo, a corrupção movimenta anualmente um bilião de dólares em todo o mundo.

Manchete de hoje do Notícias Lusófonas

Antes que o PS decrete a proibição de escrever…

O Estatuto do Jornalista aprovado pelo PS é inaceitável, dizem os profissionais portugueses. Nada disso, comenta o dono da verdade, ou seja o governo. Embora seja perigoso lutar contra uma ditadura como a que vigora em Portugal, é preciso que se diga que o governo e o Partido Socialistas escreveram mesmo a página mais negra na história do Jornalismo do pós-25 de Abril.

Apesar de sucessivos apelos, incansáveis iniciativas e documentos de esclarecimento e de aviso para os graves erros e riscos contidos na Proposta de Lei do Governo e nas propostas do Partido Socialista, o executivo e a maioria foram insensíveis aos argumentos e posições dos Jornalistas.

Mas também foram incapazes de gerar um Estatuto consensual (até no Parlamento), no qual os jornalistas portugueses se revissem e reconhecessem como instrumento legal fundador de um jornalismo mais livre e mais responsável.

O Estatuto aprovado não garante mais a protecção do sigilo profissional dos jornalistas. Pelo contrário, diminui tais garantias, ao elencar um conjunto de circunstâncias em que esse direito-dever pode ceder, bastando aos tribunais invocar dificuldade em obter por outro meio informações relevantes para a investigação de certos crimes.

Assim (e o PS lá sabe as suas razões…), os jornalistas enfrentarão maior resistência de fontes confidenciais que poderiam auxiliar a sua investigação de fenómenos como o tráfico de droga e até, como se insinuou nos debates, de corrupção, entre outros crimes que os profissionais da informação têm o direito e o dever de investigar e denunciar.

A falta de garantias de autonomia editorial e de independência e os riscos deontológicos criados pelo novo Estatuto comprometem a aceitação, pelos jornalistas, de um regime disciplinar que é injusto porque aplicável num contexto de fragilidade, no qual não estão em plenas condições de assumir livremente as suas responsabilidades.

O Estatuto aprovado não cria condições para uma efectiva autonomia editorial e independência dos jornalistas (e o PS lá sabe as suas razões…), antes as agrava, fragilizando ainda mais a posição destes profissionais face ao poder das empresas.

As condições em que a revisão do Estatuto foi aprovada demonstram que o PS não foi capaz de honrar o mérito da aprovação por unanimidade da versão que ainda se encontra em vigor – feito histórico elogiado além-fronteiras.

Foto: Imagem do Jornalismo português. Criação do ministro Augusto Santos Silva com o alto patrocínio do Partido Socialista e do seu capataz José Sócrates.

segunda-feira, julho 09, 2007

A sétima Gala Mobis

No passado dia 30, Fernando Serrasqueiro, Secretário de Estado português do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, encerrou a VII Gala Prémio Mobis, que decorreu no Casino Estoril na presença de mais de 500 pessoas, com um discurso em que destacou o bom momento do sector do mobiliário, muito alavancado nas exportações e em que desafiou os empresários a continuar a trabalhar para os bons resultados.

A iniciativa do jornal “Mobiliário em Notícia” inclui desde 2000, ano em que se realizou a primeira Gala Mobis, a atribuição de um prémio ao jornalista ou órgão de comunicação social que mais se tenha distinguido na defesa e divulgação do sector que de 2005 para 2006, por exemplo, viu as vendas crescerem 41,4% no mercado espanhol.

Por falta de comparência não foi atribuído este ano o prémio Jornalista.

Tive o prazer, honra e privilégio de ter sido o primeiro jornalista a, em 2000, receber este prémio (foto). Lamento, contudo, que os media portugueses continuem a apostar num equívoco dramático. Em vez de serem uma solução para os problemas da economia portuguesa são, cada vez mais, um problema para a solução.

É tão incompetente a forma como alguns confundem a estrada da Beira com a beira da estrada que, quando descobrirem que não resulta pedir a ajuda do lobo para derrotar o cão, já terão sido comidos pelo lobo.

sábado, julho 07, 2007

Há leis e razões que os jornalistas
(des) conhecem... a bem da Nação

Segundo a lei vigente em Portugal, «são considerados jornalistas aqueles que, como ocupação principal, permanente e remunerada, exercem funções de pesquisa, recolha, selecção e tratamento de factos, notícias ou opiniões, através de texto, imagem ou som, destinados a divulgação informativa pela imprensa, por agência noticiosa, pela rádio, pela televisão ou por outra forma de difusão electrónica».

Segundo a lei vigente em Portugal, «não constitui actividade jornalística o exercício de funções referidas no número anterior quando desempenhadas ao serviço de publicações de natureza predominantemente promocional, ou cujo objecto específico consista em divulgar, publicitar ou por qualquer forma dar a conhecer instituições, empresas, produtos ou serviços, segundo critérios de oportunidade comercial ou industrial».

Segundo a lei vigente em Portugal, «é condição do exercício da profissão de jornalista a habilitação com o respectivo título, o qual é emitido por uma Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, com a composição e as competências previstas na lei».

Segundo a lei vigente em Portugal, «nenhuma empresa com actividade no domínio da comunicação social pode admitir ou manter ao seu serviço, como jornalista profissional, indivíduo que não se mostre habilitado, nos termos do número anterior, salvo se tiver requerido o título de habilitação e se encontrar a aguardar decisão».

Segundo a lei vigente em Portugal, «os directores de informação dos órgãos de comunicação social e os administradores ou gerentes das respectivas entidades proprietárias, bem como qualquer pessoa que nelas exerça funções, não podem, salvo com autorização escrita do jornalista envolvido, divulgar as suas fontes de informação, incluindo os arquivos jornalísticos de texto, som ou imagem das empresas ou quaisquer documentos susceptíveis de as revelar».

Segundo a lei vigente em Portugal, «os jornalistas não podem ser constrangidos a exprimir ou subscrever opiniões nem a desempenhar tarefas profissionais contrárias à sua consciência, nem podem ser alvo de medida disciplinar em virtude de tal recusa».

Segundo a lei vigente em Portugal, «os jornalistas podem recusar quaisquer ordens ou instruções de serviço com incidência em matéria editorial emanadas de pessoa não habilitada com título profissional ou equiparado».

Segundo a lei vigente em Portugal, «os jornalistas têm direito a participar na orientação editorial do órgão de comunicação social para que trabalhem, salvo quando tiverem natureza doutrinária ou confessional, bem como a pronunciar-se sobre todos os aspectos que digam respeito à sua actividade profissional, não podendo ser objecto de sanções disciplinares pelo exercício desses direitos».

(Gargalhadas e comentários do tipo «não brinques connosco», «em que país vives?», «deixa de sonhar», etc. não são para aqui chamados... )

Nota: Este texto foi publicado em:
http://www.orlandopressroom.com/ em 08 de Julho de 2001

PS (não Post Scriptum mas Partido Socialista): Segundo a «lei» portuguesa, há sempre razões que a lei desconhece, há sempre leis que a razão desconhece e há sempre leis e razões que os jornalistas (des)conhecem... a bem da Nação.

sexta-feira, julho 06, 2007

Jornalistas do MPLA dão o exemplo

Numa altura em que os jornalistas portugueses parecem apostados em dividir-se ainda mais, uns colocando-se ao lado do respectivo Sindicato e outros na linha de uma eventual Ordem, poucos se colocando ao lado do importante – o Jornalismo, aconselho a que sigam o exemplo que chega de Angola.

De facto, segundo uma notícia da AngolaPress, os jornalistas da província do Uíge, filiados no MPLA, constituíram o seu comité de especialidade integrado por 25 profissionais de classe dos diversos órgãos estatais.

Digam lá que não é um bom exemplo? Bem que os portugueses poderiam constituir um comité dos filiados no PS, no PSD, no PC, no BE, no CDS etc.

Para a segunda secretária do comité provincial do MPLA no Uíge, Catarina Pedro Domingo, o acto foi importante, porquanto a constituição da estrutura corresponde com a vontade expressa dos profissionais.

Segundo ela, o comité ora constituído vai dedicar-se a promoção e divulgação cultural da região, superação técnico-profissional dos jornalistas, tendo enaltecido a forma tão sábia como os profissionais locais têm contribuído na informação e formação da população, visando a consolidação da paz e democracia no país.

Estão a ver? Ponham os olhos em Angola. Para quê Sindicato ou Ordem se nos bastam comités partidários?

Ao menos, digo eu, não veríamos os jornalistas portugueses a dizer que são independentes (há alguns mas são cada vez menos – a isso obrigam as contas a pagar).

Além disso, importa não esquecer que ser do PS é o que está a dar…

quinta-feira, julho 05, 2007

Povo imbecilizado e resignado, humilde,
macambúzio, fatalista e (já agora!) sonâmbulo

Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, semcarácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto defazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.

Nota: Texto de Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.

terça-feira, julho 03, 2007

Repto aos (poucos) Jornalistas da nossa praça


«Não se é Jornalista sete ou oito horas por dia, a uns tantos euros por mês. É-se Jornalista 24 horas por dia, mesmo estando desempregado». Se não for possível deixar às gerações vindouras algum património, ao menos lutemos, nós os jornalistas, para lhes deixar algo mais do que a expressão exacta da nossa incompetência e cobardia. Porque não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, permito-me a ousadia de tentar o impossível já que - reconheçamos - o possível fazemos nós todos os dias (o que mais me preocupa é o silêncio dos bons, como disse Martin Luther King).

Presidir à UE com sapatos de alta qualidade
mas o mesmo não se pode dizer das… meias

O primeiro-ministro português, José Sócrates, definiu a negociação e a conclusão do tratado como «a prioridade das prioridades» da presidência portuguesa da União Europeia (UE), que Portugal assumiu por seis meses.

Lisboa e o seu Governo pouco socialista e cada vez mais “socratinano” está a pôr-se em bicos de pés para ver se alguém a vê. Ainda não percebeu que pouco, ou quase nada, conta para esta Europa a duas velocidades, para esta Europa onde o fosso entre filhos e enteados é cada vez maior.

Na Sala Tejo do Pavilhão Atlântico, sede da presidência, em Lisboa, José Sócrates sentou-se no centro de um palco, rodeado pelos jovens dos 27 países da União, para discutir «A tua Europa, o teu futuro» – o acto inaugural e simbólico da presidência portuguesa.

Ou seja, Sócrates quer dar uma imagem que, de facto, não corresponde à realidade. No aspecto formal – ou de jure – Portugal preside. Mas é apenas isso, uma formalidade.

Presidente do Conselho Europeu, que reúne os chefes de Estado e de Governo da UE, de calças de ganga e sem gravata, como os restantes ministros presentes – Luís Amado (Negócios Estrangeiros) e Pedro Silva Pereira (Presidência) –, José Sócrates definiu o tratado como a «prioridade das prioridades » do seu trabalho.

É simpático. É bonito... para inglês ver. Ou, melhor, para europeus verem.

Em matéria de rótulos, de embalagens, de imagens, Sócrates até é bom, que o digam os portugueses. Em matéria de conteúdo, em matéria do que é essencial, Sócrates não presta. Que o digam os portugueses.

E o primeiro-ministro português acredita que a conclusão do processo será possível até Dezembro, final da presidência, porque nota «empenhamento dos líderes europeus» nesse sentido.

«O tratado será um sinal de confiança na Europa», disse o primeiro-ministro, certamente querendo enganar os portugueses pois, creio, na Europa ninguém será enganado.

Os jovens presentes no debate com o primeiro-ministro português participam actualmente no programa Erasmus da União Europeia, através do qual muitos milhares de jovens europeus já tiveram experiências de ensino em universidades de outros Estados da UE.

Estão, por isso, cientes de que Portugal não passa de um país que por ser de segunda linha apenas é o primeiro... dos últimos.

Portugal assumiu até 31 de Dezembro próximo a presidência do «bloco comunitário europeu», actualmente com 27 países membros, naquela que será a maior operação político-diplomática e de segurança jamais organizada e conduzida pelo país. Portugal está assim na ribalta da política europeia.

Também está na ribalta de muitas outras coisas. Caso do desemprego, do fraco crescimento económico, do compadrio, da corrupção, do primado da subserviência etc.

Mas, durante seis meses, sempre vai poder dizer que presidiu à UE. Já não é mau.

Os sapatos são de alta qualidade, brilham como os dos restantes parceiros europeus e evitam que se veja o que todos sabem, mas que poucos dizem: as meias estão rotas.

Nota: Artigo publicado no Jornal moçambicano “O Observador”
Foto: José Sócrates é... o que está a seguir a Eduardo dos Santos

segunda-feira, julho 02, 2007

Um raro exemplo de quem faz
e não de quem diz que vai fazer

O Emídio Brandão faz o favor de ser meu amigo. É daqueles que, mesmo estando ausente, está sempre presente. Os amigos que tenho contam-se pelos dedos de uma mão. E o Emídio (ou o Patrão, como o trato) está nessa mão.

Homem de acção, tem obra feita em muitos sítios e ao longo de muitos anos. A sociedade portuguesa ainda não o reconheceu como ele merece e já mais do que justificou. E ao não o reconhecer como tal só mostra que, afinal, ele está no caminho certo.

Se o Emídio Brandão quisesse ser reconhecido não fazia, diria apenas que ia fazer. Mas ele, com força, galhardia e honestidade não promete – faz. Não reage, - age.

O sucesso da VII Gala Prémio Mobis, tal como as anteriores, revelou que o “Patrão” sabe o que faz. Revelou, igualmente, que há muita gente (de fraca qualidade, diga-se em abono da verdade) que tem medo de todas as iniciativas que têm a chancela do Emídio Brandão.

A forma como a dita grande imprensa (no seu mais lato sentido) passou ao lado do essencial (a Gala e o que ela representa) mostra que só está preocupada com o acessório, com a aparência.

Ainda bem que o sector do mobiliário tem ao seu lado o jornal “Mobiliário em Notícia” (outro dos “filhos” do Emídio Brandão) e não se deixa enganar por aqueles para quem a obra prima do Mestre a prima do mestre de obras são a mesma coisa.

Luanda bate o pé (mesmo que descalço) à Europa

Estou a gostar de ver, se bem que tema que esta nova filosofia do olho por olho, dente por dente nos possa levar a ficarmos cegos e desdentados. Mas que estou a gostar de ver a forma vigorosa como Angola enfrenta a questão da TAAG e da Cimeira UE/África, isso estou. A Europa proíbe voos da TAAG, Luanda proíbe voos da TAP e da Air France. A Europa não quer Mugabe, Luanda impõe a presença de Mugabe. É assim mesmo…

O governo angolano admite retaliar caso se concretize a suspensão dos voos da companhia aérea TAAG para a Europa suspendendo os voos da TAP e da Air France para Luanda.

Recorde-se que a Comissão Europeia decidiu na quinta-feira incluir a TAAG na lista negra de companhias aéreas impedidas de voar para Europa. Esta decisão implica a suspensão de seis voos semanais da TAAG para Lisboa.

Explicando ao Correio da Manhã o que está em causa, o vice-ministro dos Transportes, Hélder Preza, disse que “Angola não tem qualquer relação directa com a União Europeia sobre esta matéria”, adiantando que os argumentos avançados pela UE “não têm grande fundamento”. Frisou depois que “Angola tem acordos bilaterais com Portugal e França, países para onde a TAAG opera”.

Segundo Hélder Preza, “se esses dois países com os quais temos relação directa nos notificarem sobre a eventual possibilidade de a TAAG deixar de operar, nessa altura vamos equacionar o problema e agir em conformidade. Poderemos aplicar o princípio da reciprocidade, no quadro dos acordos bilaterais existentes com Portugal e França”, acrescentou.

Entretanto, à margem da IX.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, no Ghana, o embaixador de Angola disse ao “Jornal de Angola”, que Robert Mugabe vai mesmo participar na Cimeira África-União Europeia a ter lugar em Dezembro próximo em Lisboa, capital portuguesa.

Numa demonstração inequívoca de força e de poder (parece-me, contudo, que sem razão) Manuel Augusto pôs-se ao lado (espero que não seja por baixo) do Zimbabué na guerra que este país mantém com o Ocidente, pouco se importando com o que diz George W. Bush ou murmura José Sócrates.

Se Mugabe não for a Lisboa, África também não vai, diz Angola. Espero para ver…