quinta-feira, junho 09, 2011

Carta aberta aos que pensam sem fugir

Caro Amigos,

Há uns tempos disse a quem de direito do Jornal de Notícias que, ao contrário do que era meu entendimento (provavelmente errado), os bons exemplos não partiam de cima. E não partiam porque sempre que sobem na hierarquia os Jornalistas vão mudando de profissão: deixam de ser jornalistas e passam a ser Coordenadores, Editores, Editores Executivos, Directores etc..

Há uns tempos disse a quem de direito que, se os exemplos não partem de cima, a responsabilização pelo que de mau se faz (e sobejam os exemplos) também não é assumida dessa forma. A cadeia descendente de Comando só existe para o que é bom...

Há uns tempos disse a quem de direito que, se o chefe é o primeiro a chegar e o último a sair, os seus colaboradores ficam sem margem de manobra para chegarem mais tarde e saírem mais cedo; disse que se o chefe dá o exemplo de capacidade de trabalho, os seus colaboradores têm (mesmo que isso lhes custe) de entrar na mesma onda; disse que se o chefe premeia a competência e castiga a incompetência (porque não basta só a primeira ou só a segunda), os incompetentes ou «dão da perna» ou sujeitam-se a entrar para o «carro vassoura».

Há uns tempos disse a quem de direito que, se o chefe o for de forma natural, a sua posição é respeitada e incentivada pelos seus colaboradores; disse que se o chefe for imposto por decreto (leia-se: sem ser por critérios de competência), os seus colaboradores não passarão de voluntários devidamente amarrados, o que - inevitavelmente - terá (maus) reflexos no trabalho que produzem.

Há uns tempos disse a quem de direito que um chefe não é apenas o que comanda mas, sobretudo, o que dá o exemplo. Disse que pensar-se que se é bom chefe só porque se usa gravata ou porque alguém lhes deu o título, é, mais ou menos, como eu pensar que sou pintor só porque conheço as cores do arco-íris, mesmo que sejam todas.

Há uns tempos disse a quem de direito que estamos todos os dias em cima de um tapete rolante que anda para trás. Disse também que se nos limitarmos a caminhar, ficamos com a sensação de que avançamos mas, de facto, estamos sempre no mesmo sítio. Disse ainda que, por incompetência, alguns chefes ao verem o tapete a andar para trás julgam que vão no direcção errada e começam a caminhar no sentido da rotação do tapete...

Há uns tempos disse a quem de direito que enquanto uns entendem que a única forma de se valorizarem é aprenderem com quem sabe mais (e saber que nada sabemos é a melhor forma de sabermos alguma coisa), outros pensam que essa suposta valorização passa por amesquinhar quem sabe mesmo mais. Disse também que enquanto uns perguntam o que não sabem, e só são ignorantes durante o tempo que leva a chegar a resposta, outros (receosos que se saiba que, afinal, não sabem tudo) preferem ficar ignorantes toda a vida.

O resultado está á vista! Fui, ao fim de 18 anos de JN, embrulhado com outros colegas no primeiro despedimento colectivo da história da imprensa portuguesa.

Um abraço do,

Orlando Castro

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