quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Jornal de Angola põe (e bem) o dedo na ferida

Sob o título «O “furacão” português», o Editorial de hoje do Jornal de Angola diz algumas verdades bem duras sobre Portugal. Ainda bem. As verdades são para serem ditas, doa a quem doer. De facto, como escreve o autor, “estava a tardar a altura em que o nome do Presidente de Angola viesse a ser envolvido nos numerosos escândalos que atravessam actualmente a sociedade portuguesa”.

A propósito da manchete do “Diário de Notícias”, segundo a qual a “filha do Presidente de Angola” estaria a ser visada por uma investigação da Polícia portuguesa, o JA diz que “Isabel dos Santos estaria a ser alvo de investigação apenas por ser a filha do Presidente de Angola e apenas porque uma sociedade a ela ligada faria parte de uma lista de clientes da PIC International Consultants, empresa que foi alvo de buscas no âmbito do escândalo “Furacão” que envolve bancos e empresas portuguesas”.

Pelo menos em termos mediáticos, Isabel dos Santos é notícia por ser filha de quem é.

“Já se sabia, pelo escândalo da Moderna e da Casa Pia, que há hoje um “vale tudo” em certos círculos portugueses, incluindo da Justiça. É, infelizmente, esta a lógica que hoje vinga.”, diz o JA com toda a razão na linha, aliás, dos poucos Jornalistas dos media portugueses.

“Quem conhece os jornalistas portugueses, sabe que são muito apegados ao respeito pelo seu Chefe de Estado. Saibam eles, que os angolanos também muito prezam o respeito à pessoa do seu Presidente”, afirma o JA.

É uma justa e oportuna chamada de atenção. É que, muitas e muitas vezes, os jornalistas portugueses viram as baterias contra personalidades estrangeiras por lhes faltar coragem, ou tomates, para o fazerem em relação às suas próprias individualidades.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Há poucas coisas que não se definem, sentem-se

O que me une ao Fernando Frade (o meu – e não só – eterno Fino) é algo cujas palavras não chegam para definir.

É um misto de amizade (e)levada ao máximo da potência humana com um amor solidificado nas quentes terras angolanas.

Por isso, mesmo que nos últimos trinta e tal anos tenhamos andado a vaguear por mares diferentes, continuamos unidos. Por alguma razão eu digo que igual ao Fino poderá haver, mas melhor garanto que não há.

Estivemos juntos (como a foto documenta) no lançamento do meu mais recente livro, no passado dia 23 de Setembro de 2006, exactamente na Casa de Angola, em Lisboa.

Basta olhar para se ver que somos, tal como na nossa saudosa Nova Lisboa, os mesmos malucos de sempre.

Mas, podem crer, com malucos assim vale a pena ser feliz…

domingo, fevereiro 25, 2007

Navio de ajuda alimentar da ONU
assaltado por piratas na Somália

Um navio de transporte de ajuda alimentar das Nações Unidas destinada ao nordeste da Somália foi hoje assaltado por piratas, informou uma fonte da ONU. Não está mal. Piratas mostram o que valem… sendo que o tesouro é agora comida.

O navio, o NV Rozen, tinha acabado de entregar 900 toneladas de alimentos na região semi-autónoma de Puntland, no nordeste da Somália, quando os piratas atacaram, disse Stephanie Savariaud, uma porta-voz do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU.

Desconhece-se se algum dos 12 membros da tripulação a bordo - seis do Sri Lanka e seis do Quénia - foi ferido no ataque. "Sabemos que foi assaltado por piratas, mas não sabemos quantos piratas lá estão", disse Savariaud.

Andrew Mwangura, chefe do ramo queniano do Programa de Assistência Seafarers, disse que "os piratas ainda não fizeram qualquer pedido".

O navio, que foi contratado pelo PAM para entregar ajuda alimentar na Somália, está sequestrado perto da ilha de Ras Afun, junto à costa de Puntland.

A embarcação perdeu o contacto com o seu porto de origem, Mombasa, no Quénia, e não é claro se os assaltantes estão armados, disse Mwangura.

Os ataques de piratas são frequentes na costa da Somália, onde não existe um governo eficiente para lhes dar resposta. O país do Corno de África sobrevive no caos desde que senhores da guerra derrubaram um ditador em 1991 e depois se voltaram uns contra os outros.

Em 2005, foram registados 35 ataques de piratas, contra dois em 2004, segundo o Departamento Marítimo Internacional.

Os piratas atacam navios de passageiros e de carga para pedirem resgate s ou para saque. A costa da Somália, com 3.000 quilómetros, é a mais extensa de África.

sábado, fevereiro 24, 2007

Deserções na UNITA - Propaganda ou realidade?

O insuspeito Jornal de Angola, paradigma da liberdade de expressão e da ética jornalística, diz que 258 populares provenientes dos campos de refugiados da Zâmbia e Namíbia, entre os quais o filho do antigo vice-presidente da UNITA, Jeremias Calandula Tchitunda, ingressaram nas fileiras do MPLA.

Se o JA diz é porque é verdade. É, pelo menos, a verdade oficial do dono. Creio, contudo, que neste caso (como em todos os similares) o jornal agora dirigido por José Ribeiro fala mesmo verdade.

Segundo as palavras atribuídas ao filho de Jeremias Calandula Tchitunda, que foi secretário provincial da Jura na província do Moxico, a mudança de trincheira deveu-se ao facto de a UNITA revelar falta de organização e de democracia e, ainda, de os objectivos serem pouco claros.

Daqui até às eleições serão muitas as notícias que o JÁ, o Angonotícias, a Angop e quejandos vão publicar sobre gente da UNITA que, por ver que tem o prato vazio, dá o salto para o lado do prato cheio.

E, convenhamos, ao contrário da UNITA, ao MPLA não falta com que encher os pratos de quem tem, de quem continua a ter, fome. Não admira, por isso, que a barriga vazia seja má conselheira.

A mudança não significa, julgo, que na altura do voto todos os que mudaram de prato votem no MPLA. Mas que alguns vão votar em quem está no poder, disso não tenho dúvidas.

Não creio que este seja o caso do filho de Jeremias Tchitunda. Por isso preocupa-me que se fale de falta de organização e de democracia na UNITA. Não conheço a resposta, se é que a deu, de Isaías Samakuva. Mas era bom que a desse e que, sobretudo, olhasse para todo a outra Angola.

Para a Angola que está muito para lá de Luanda.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Vatuva garante a transladação
de Savimbi para junto dos pais

O secretário-geral da UNITA, Mário Vatuva, garantiu hoje no Luena, no leste de Angola, certamente convicto de que Angola é um Estado de Direito, que os restos mortais de Jonas Savimbi serão transladados para a sua terra natal, na província do Bié, onde ficarão sepultado junto ao túmulo dos seus pais na comuna de Lopitanga, no município do Andulo.

"Não temos ainda datas definitivas para a transladação dos restos mortais do Dr. Savimbi, mas temos o compromisso do partido e dos militantes e reiteramos aqui que os restos mortais de Savimbi vão ser levados para junto dos seus familiares", salientou Vatuva, certamente convicto de que Angola é um Estado de Direito.

O secretário-geral da UNITA acrescentou que o partido vai iniciar os trâmites para a exumação do corpo, facto que até agora não tinha acontecido por haver condicionantes de ordem ilegal, como seja a proibição de o fazer até estarem cumpridos cinco anos da morte.

Certamente convicto de que Angola é um Estado de Direito, Vatuva diz que, a partir de agora, “tudo dependerá da vontade do partido e dos militantes".

Porque a convicção de Vatuva quanto a Angola ser um Estado de Direito é muito maior do que a minha, espero que tenha razão e que, um dias destes, Savimbi descanse no local certo.

Angola aposta no capital humano
- Não sigam o exemplo português

O investimento no capital humano, por forma a elevar a qualidade, bem como multiplicar a quantidade da mão de obra nacional qualificada a todos os níveis é um dos principais desafios da reconstrução nacional, segundo o ministro da Administração Pública, Emprego e Segurança Social, Pitra Neto. Gostei. Falta só saber se, como em Portugal, esse investimento não é seleccionado a partir do currículo partidário dos candidatos.

O ministro, que discursava na abertura do encontro sobre "Reconstrução Nacional e Formação Profissional - Desafios e Soluções", disse ser necessário organizar e estruturar a capacidade formativa do país, tendo em conta as necessidades e potencialidades da economia, do mercado de emprego e da sociedade em geral.

Gostei. Falta só saber se, como em Portugal, esse investimento não é seleccionado a partir do currículo partidário dos candidatos.

A construção de escolas rurais de capacitação, pavilhões de artes e ofícios, centros polivalentes de formação profissional e itinerante, segundo o ministro, é fundamental para este desenvolvimento.

Gostei. Falta só saber se, como em Portugal, esse investimento não é seleccionado a partir do currículo partidário dos candidatos.

Com este objectivo é ainda importante o aperfeiçoamento dos sistemas de coordenação entre as instituições que se ocupam da formação profissional nos distintos organismos públicos e privados, bem como a cooperação entre os diferentes intervenientes nesta área.

Gostei. Falta só saber se, como em Portugal, esse investimento não é seleccionado a partir do currículo partidário dos candidatos.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Portugal num... monumental esforço
dá a Moçambique vinte e cinco tendas

As vítima das cheias em Moçambique (um país, recorde-se, lusófono) nomeadamente os mais de 120 mil desalojados podem estar descansados. Porquê? Porque, num monumental esforço de ajuda, Portugal doou 25 (não há engano, são mesmo vinte e cinco) tendas ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

A doação, canalizada através da representação diplomática portuguesa em Maputo, visa contribuir (decisivamente, digo eu) para fazer face à escassez de abrigos existentes nos centros de acolhimento para o elevado número de pessoas que fugiram da subida das águas.

"As autoridades portuguesas estão a seguir os trágicos acontecimentos em Moçambique atentamente e com muita preocupação", disse o embaixador português em Moçambique, José de Freitas Ferraz.

Ainda bem que Lisboa segue os “trágicos acontecimentos” com “muita preocupação”. É que se assim não fosse, daria talvez umas duas tendas…

Para se ver o enorme esforço de Portugal (25 tendas sempre são 25 tendas), registe-se que a Agência Catalã de Cooperação para o Desenvolvimento (ACCD) e a Cruz Vermelha da Catalunha enviaram cinco mil mantas, 3.000 lonas para tendas de campanha, mil "kits" de cozinha e 2.300 bidões de água de 20 litros cada.

Não fosse o drama dos moçambicanos, ficaria satisfeito se as autoridades de Maputo devolvessem as 25 tendas com um cartão a dizer: “Ponham-nas ao serviço dos vossos mendigos”.

Em memória do nosso Presidente

O meu amigo Uabalumuka comentou o meu texto «Em memória do meu Presidente» falando do que eu não escrevi, também sobre o presidente dele. Afinal o mesmo que o meu: Jonas Malheiro Savimbi. É um texto que merece, e de que maneira!, saltar dos comentários para ter expressão frontal. Ei-lo:

Hoje, por ser hoje, permite-me que escreva as palavras que não escreveste. Não vou falar do luto que o Povo da UNITA sentiu e sente ainda. Não vou falar das traições que levaram o teu e meu Presidente a morrer de arma na mão e a ser exibido como troféu de caça pelos carrascos ao serviço da cleptocracia angolana. Não vou falar do seu génio, das suas virtudes e dos seus pecados. Não vou falar dos trinta e seis anos de luta pela liberdade NO INTERIOR DE ANGOLA.

Hoje quero falar-te da Esperança. Da Esperança do meu Povo de um dia poder chorar os seus mortos. Da Esperança do meu Povo em ver pão à sua mesa. Da Esperança do meu Povo em ver a Liberdade e a Democracia nas suas vidas. Quero falar da renovação dessa Esperança quando todos os anos recordamos a morte do Mais Velho.

Quero falar-te do que se diz em Luanda, em Angola, quando se fala do Dr. Jonas Savimbi... e fala-se de Esperança. Esperança que todos os ideais da sua luta aconteçam enfim.

E apesar do desespero do Governo, tentando que todos esqueçam a morte do Mais Velho, ele é, permanece, ergue-se como um mártir, como um herói na vida sofrida dos Angolanos.

Portanto pouco a pouco, este dia de luto, transforma-se no dia da memória e da Esperança.

Como diria o poeta:

Um diateremos tempo
Para choraros nossos mortos.
Porque agorao tempo é outro,
um tempocurto demais
para tantas coisas fazer.
Temos masmorras
para abrir,
crianças para salvar,
cidades a construir
tantos campos p'ra lavrar.
E temos de mostrar
ao mundo,
que a besta
mudou de nome,
mas continua a matar.

Um abraço, também para ti, meu velho.

Em memória do meu Presidente

Quando, há cinco anos, se confirmou a morte de Jonas Savimbi, escrevi o texto que se segue e que, por uma questão de honra, republico todos os anos nesta altura e republicarei sempre. Mau grado a vontade dos que, em Angola e Portugal, nasceram a saber tudo e são donos divinos da verdade, é uma posição que manterei ao longo dos anos. Esta posição tem elevados custos. Até agora fui obrigado a perder algumas batalhas, mas ainda não fui derrotado. E não fui porque não desisti de lutar. Tal como Jonas Savimbi.

O Povo Angolano, Angola, África e todos os que pugnam pelos ideais de liberdade e democracia no Mundo, estão de luto. Luto por diversas razões.

O Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente da UNITA, tombou heroicamente em combate! Tombou heroicamente em combate o meu Presidente.

Tão heroicamente que as Forças Armadas de Angola (ou pelo menos parte delas) tiveram necessidade de O humilhar... mesmo depois de morto. Trataram o meu Presidente como um cão raivoso, como um troféu de caça. Até na morte Jonas Savimbi atemorizou os militares de José Eduardo dos Santos.

Os adversários, ou até mesmo os inimigos, merecem respeito. E isso não aconteceu. As FAA não humilharam Jonas Savimbi, humilharam uma grande parte do Povo Angolano.

A África perdeu um dos seus mais insignes filhos, cuja vida e obra O situam na senda dos arautos da História Africana como N'Krumahn, Nasser, Amílcar Cabral, Senghor, Boigny e Hassan II.

O Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente da UNITA, o meu Presidente, tombou em combate ao lado das suas tropas e do Povo mártir, apanágio só concedido aos Grandes da História.

Deixou-nos como maior e derradeiro legado a sua coragem e o consentimento do sacrifício máximo que pode conceder um combatente da liberdade, a sua Vida.

Fiel aos princípios sagrados que nortearam a criação da UNITA, o Dr. Savimbi, rejeitando sempre e categoricamente os vários cenários de exílios dourados, foi o único dos líderes angolanos que sempre viveu e lutou na sua Pátria querida.

A ela tudo deu e nada tirou, ao contrário de outros com contas, palácios e mansões no estrangeiro.

Fisicamente o meu Presidente morreu. Fisicamente o meu Presidente foi humilhado. Mas uma coisa é certa. Não há exército que derrote, mate ou humilhe uma cultura, um povo, uma forma eterna de ser e de estar.

Jonas Savimbi, o meu Presidente, continuará a ter quem defenda essa cultura, esse povo, essa forma eterna de ser e de estar.

«Há coisas que não se definem - sentem-se». Foi isto que em 1975 me disse, no Huambo, Jonas Malheiro Savimbi. É isto que José Eduardo dos Santos nunca compreendeu. A UNITA não se define - sente-se. Jonas Malheiro Savimbi não se define - sente-se. Angola não se define - sente-se.

E porque se sente, e não há maneira de matar o que se sente, é que Jonas Malheiro Savimbi, o meu Presidente, continuará vivo. Vivo no esforço pela paz em Angola, vivo pela dignificação dos angolanos, vivo pela liberdade, vivo pela coerência... vivo porque os heróis não morrem nem são humilhados.

Obrigado Presidente.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

É de rir. Nino Vieira quer uma CPLP «forte e coesa»

A Guiné-Bissau apresentou hoje o plano de actuação que a presidência guineense pretende ver implantado na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) no biénio 2007/08, em que destaca a necessidade de uma organização "forte e coesa". É para rir. Se a CPLP fosse forte e coesa Nino Vieira teria, como todos os ditadores, a vida difícil.

"Destacamos todo o aspecto técnico que deve sustentar qualquer país que assuma a presidência da CPLP, mas também quisemos ser um pouco ousados. Queremos uma comunidade forte e coesa, que a integração e a solidariedade dos países membros seja isso mesmo, através da institucionalização do seu funcionamento, da qualidade das suas instituições e ainda da aproximação das sociedades civis", disse presidente do Conselho de Ministros da organização lusófona, António Isaac Monteiro, também ministro dos Negócios Estrangeiros guineense.

“Forte e coesa” é na tradução guineense, isso sim, mais dinheiro e apoios para que os poucos que têm milhões continuem a explorar os milhões que têm muito pouco, ou nada. Apenas isso.

"Temos de estar cada vez mais próximos, procurar fazer que cada um dos povos, cada uma das sociedades, possam conhecer-se melhor e ter uma comunidade não só linguística mas também de povos, sentimentos e de solidariedade", sustentou i ministro, apelando à "colaboração" da comunicação social.

Colaboração da comunicação social é, na tradução guineense, apoio e cobertura para que não se diga que os poucos que têm milhões continuam a explorar os milhões que têm muito pouco, ou nada. Apenas isso.

Na área da concertação política, além da organização de visitas do presidente em exercício a todos os Estados membros, pretende promover a concertação diplomática e a entrada de novos membros observadores e embaixadores, seminários sobre prevenção de conflitos e de consolidação da paz.

Pois. Desde que… Sendo que desde que é, na tradução guineense, apoio e cobertura para que os poucos que têm milhões continuem a explorar os milhões que têm muito pouco, ou nada. Apenas isso.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Pobres e mal pagos… mas com direito ao aborto

De acordo com dados recentes publicados pela Comissão Europeia, 20 por cento dos portugueses viviam em 2004 abaixo do limiar de pobreza - fixado em 60 por cento do rendimento médio nacional depois de incluídas as ajudas sociais - contra uma média comunitária de 16 por cento. Mas será isso importante? Claro que não… até porque, como diz José Sócrates, em matéria de aborto passamos a estar ao nível dos mais evoluídos!

Entre os Vinte e Sete países da União Europeia, apenas a Polónia e a Lituânia estavam em pior situação, com 21 por cento de pobres. Estes são, no entanto, países com níveis de riqueza particularmente baixos: o Produto Interno Bruto por habitante da Polónia ascendia no mesmo ano a 50,7 por cento da média comunitária e o da Lituânia a 51,1 por cento. Em Portugal, o PIB por habitante representava na mesma altura, 74,8 por cento da UE.

Mas será isso importante? Claro que não… até porque, como diz José Sócrates, em matéria de aborto passamos a estar ao nível dos mais evoluídos!

No extremo oposto está a Suécia, com 9 por cento de pobres, e um PIB por habitante equivalente a 120 por cento da média europeia. Lá chegarão os portugueses. Não começaram pela riqueza mas já têm o aborto. Não se pode ter tudo, convenhamos.

Portugal, segundo o Público, tem o pior resultado da UE num outro indicador, o dos trabalhadores pobres, o que significa que o salário não protege contra a precariedade: segundo os mesmos dados, 14 por cento dos portugueses com um emprego vivem abaixo do limiar de pobreza, contra 8 por cento no conjunto dos Vinte e Sete.

Mas será isso importante? Claro que não… até porque, como diz José Sócrates, em matéria de aborto passamos a estar ao nível dos mais evoluídos!

Do mesmo modo, e tendo em conta que o envelhecimento da população será mais rápido em Portugal que em muitos outros Estados e que os seus custos com a saúde são mais elevados, Bruxelas aconselha o Governo a aplicar a reforma das pensões, melhorar a eficácia do sistema de saúde e resolver o problema do financiamento "regressivo" da saúde, incluindo através da redução dos custos financeiros com os grupos mais desfavorecidos.

Lá chegarão os portugueses. Não começaram pela riqueza mas já têm o aborto. Não se pode ter tudo, convenhamos.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

NL e Jorge Eurico dão lição de bom Jornalismo

O Notícias Lusófonas mostrou, mais uma vez, as vantagens de se ser jornalista 24 horas por dia. Pela “pena” de Jorge Eurico foi o primeiro, ontem, e com muitas horas de antecedência a dar a notícia (manchete) sobre a detenção em Cabinda da activista Sarah Wikes, da Global Witness.

Por alguma razão uma das máximas do NL é “leia hoje aqui o que encontrará, talvez, amanhã noutro jornal”. Assim foi, na maioria dos casos. Hoje alguns deram a notícia, outros vão dá-la amanhã e outros ainda esperam ordens do MPLA.

“Já o dissemos, mas não é demais repetir que o Governo angolano continua a provar que não deixa os seus créditos por mãos alheias quando os assuntos são desrespeitar os Direitos Humanos e - tal como João Melo, deputado à Assembleia Nacional pelo MPLA, o confirmou num colóquio realizado recentemente em Luanda - vincar que em Angola, contrariamente ao que era suposto, possível e desejável, ainda não há espaço para determinadas Liberdades, sobretudo para a de Expressão e outras que fazem mossa aos antigos marxistas hoje convertidos em "novos cristãos" de uma pretensa democracia que os angolanos não conhecem nem nunca sentiram de facto”, escreveu Jorge Eurico.

Por este caso, entre tantos, tantos outros, se compreende a razão porque o Notícias Lusófonas é tão incómodo para os poderes instituídos, tenham ou não sustentabilidade democrática.

Também por este caso (entre muitos, muitos outros) se compreende a razão porque Jorge Eurico é considerado persona non grata nos meios ditatoriais de Luanda.

Desde sempre o NL, bem como – neste caso – Jorge Eurico, mostram que a Liberdade de informação é algo que é difícil de praticar quando os alvos são os detentores divinos das verdades absolutas.

Mesmo assim, contra (quase) todos e contra (quase) tudo, continuam a dar claros exemplos de como se faz Jornalismo numa sociedade de direito.

É claro que o Governo angolano, sobretudo a sua vertente ditatorial (MPLA), vai pôr mais uma cruz na história do NL e do Jorge Eurico. E já são tantas as que lá colocou que ambos não estranham.

A grande vantagem, tanto do NL como do Jorge Eurico, é que por cada cruz que o MPLA coloca, o povo angolano coloca dois ou mais “muito obrigado”.

Por isso, os poucos que têm milhões não conseguirão derrotar os milhões que têm pouco, ou nada. Estes estão, cada vez mais, ao lado do Notícias Lusófonas e do Jorge Eurico.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

UNITA quer Savimbi no Munhango

Segundo a manchete de hoje do Notícias Lusófonas, a UNITA quer transladar os restos mortais de Jonas Malheiro Savimbi, enterrado no Luena, na província do Moxico, para a sua terra natal, Munhango, província do Bié, quando passam cinco anos sobre a sua morte.

É isso que a lei angolana estabelece, é isso que o povo (e não é tão pouco quanto isso) afecto ao Galo Negro deseja. Espero que, mesmo que o não queira, Eduardo dos Santos o permita. A bem da paz.

A informação foi dada pelo líder parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Alcides Sakala, um dos mais íntegros e fiéis seguidores de Jonas Savimbi, um dos mais ilustres e capazes políticos angolanos.

"Estamos agora em condições de analisar e materializar a intenção de transladar os restos mortais do líder fundador, Jonas Savimbi, do Moxico para a sua terra natal", disse Sakala, certamente convicto da boa fé do governo e do presidente da República.

Embora eu não esteja tão optimista quanto a essa boa fé, espero que governo e Presidência tenham a noção do que é um Estado de Direito e permitam que a transladação do mais Velho seja feita, assim como a de muitos outros membros do partido assassinados em Luanda.

Sei que governo e Presidência ainda não têm a lucidez suficiente para reconhecer que, como Agostinho Neto, também Jonas Savimbi e Holden Roberto deverão ser reconhecidos como heróis nacionais.

Precisam de tempo? Admitamos que sim. Permitir a transladação seria um bom início, um bom exemplo de elevada estatura moral de Luanda.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Terá valido a pena ser militar da UNITA?

Segundo a AngolaPress, 2635 ex-militares da UNITA beneficiaram de diversos meios agrícolas, durante o ano transacto, no município do Andulo, a 130 quilómetros a norte do Kuito, capital biena. De acordo com a administradora do Andulo, Maria Lucia Chicapa, 1103 deles receberam gado de tracção animal, com as respectivas charruas, enxadas, catanas, limas e sementes diversas da Organização Não Governamental americana "Care Internacional".

Terá valido a pena ser militar da UNITA? A pergunta é minha embora julgue ser comum a muitos desses soldados.

Acrescentou a administradora que outros 1115 ex-militares, também da UNITA, receberam igualmente instrumentos de produção como gado de tracção animal, charruas, enxadas e sementes, num gesto da ONG nacional “ADMA”, que opera na região.Além dos meios de produção, a administradora informou que 258 outros ex-soldados beneficiaram de formação sócio-profissional nas especialidades de carpintaria, construção civil, corte e costura, serralharia, alfaiataria, pesca e mecânica de bicicletas, numa iniciativa da administração municipal e parceiros.

O gesto, adiantou a administradora, enquadra-se no âmbito do Programa Geral de Desmobilização e Reintegração social de ex-militares (PGDR), em curso no país.

Terá valido a pena ser militar da UNITA? A pergunta é minha embora julgue ser comum a muitos desses soldados.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Mário Soares (em duplicado) nesta... CPLP

As fundações Portugal/África e Mário Soares solicitaram a adesão como "observadores consultivos" da Comunidade dos Países da Língua a Portuguesa (CPLP), disse hoje o presidente das duas instituições e antigo chefe de Estado português. Todos sabem que a CPLP (embora não fosse essa a sua génese) é um elefante branco. Mas ninguém se importa, desde que caiba mais um…

Segundo Mário Soares, que falava no final de um encontro de trabalho com o secretário-executivo da CPLP, Luís Fonseca, as duas fundações a que preside pretendem colaborar com a organização ligada à lusofonia, estando ainda em estudo a forma como o poderão fazer.

Ou seja, com tanta colaboração esta CPLP vai arriar um dias destes. Se a ideia é essa, venham mais ajudas.

"Temos arquivos importantes sobre os países da CPLP, historicamente muito importantes para os respectivos Estados, e vamos agora ver, nos próximos meses, a forma como as duas fundações podem colaborar", sublinhou o antigo chefe de Estado português. Por seu lado, Luís Fonseca confirmou o pedido de adesão e indicou que o Comité de Concertação Permanente (CCP) da CPLP já deu um parecer favorável, devendo a oficialização ocorrer na próxima reunião do Conselho de Ministros da organização, a realizar em Julho.

Favorável? Ainda bem. Com tanta colaboração esta CPLP vai arriar um dias destes. Se a ideia é essa, venham mais ajudas.

Luís Fonseca lembrou à Lusa que o processo de envolvimento da sociedade civil na CPLP "está ainda no seu início", pois foi em Julho de 2006, durante a VI Cimeira da Comunidade, realizada em Bissau, que 18 organizações da sociedade civil obtiveram o estatuto de "observador consultivo".

"Por enquanto, a maioria desses observadores é originária de Portugal e estamos a fazer um esforço para que outras instituições de outros países possam também candidatar-se. Acredito que não haverá nenhuma dificuldade em serem aceites como tal", afirmou.

Na VI cimeira da organização, os chefes de Estado e de Governo dos "oito" ratificaram a entrada de 18 instituições com o estatuto de "observadores consultivos" e a entrada, como "observadores associados" da Guiné Equatorial e das ilhas Maurícias.

Obtiveram o estatuto de "observador consultivo" o Conselho Empresarial da CPLP, Fórum da Juventude da CPLP, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e Associação dos Comités Olímpicos de Língua Portuguesa.

Entraram também a Fundação para a Divulgação das Tecnologias de Informação, Fundação Bial, Assistência Médica Internacional (AMI), Saúde em Português, Círculo de Reflexão Lusófona, Fundação Luso-Brasileira e Academia Brasileira de Artes. As restantes cinco organizações são a Associação das Misericórdias de Portugal, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Fundação pata o Desenvolvimento da Comunidade, Associação das Universidades de Língua Portuguesa e Comunidade Sindical dos Países de Língua Portuguesa.

Uf. Com tanta colaboração esta CPLP vai arriar um dias destes. Se a ideia é essa, venham mais ajudas.

sábado, fevereiro 10, 2007

Vejo cada vez mais capatazes na primeira fila

A propósito de qualquer coisa, ou de uma coisa qualquer, olho o horizonte limitado que me rodeia e tenho, obrigatoriamente, de concluir que na primeira fila do teatro da vida está a estupidez, colectiva ou individual. E está na primeira fila, na ribalta, porque quer ser vista. A inteligência, essa está lá atrás porque – modesta como sempre – apenas quer ver.

Um amigo, dos que está cá atrás, diz-me que um dos que está lá na primeira fila pediu para sair. Dito de outra forma, pôs o lugar à disposição. Ao justificar que essa atitude é bem nobre, o meu amigo teve de mudar de lugar e ir bem mais lá para a frente. É que, quer se queira ou não, só pede para sair quem afinal quer ficar.

No entanto, ao questionar a alusão à mudança de lugar, o meu amigo mostrou que é dos que pode e deve ficar cá atrás. Se entre a ignorância e a sabedoria só vai o tempo de chegar a resposta, só alguém inteligente é capaz de esperar pela chegada da resposta. Os que sabem tudo, esses estão na primeira fila…

Cá atrás estão igualmente os que entendem que se um jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos problemas é, com certeza, um imbecil. Ainda mais atrás estão os que consideram que se o jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso.

… vejo cada vez mais capatazes na primeira fila.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Não brinque com o Povo, sr. presidente de Angola

O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, continua gozar com povo angolano, passando-lhe um atestado de debilidade mental. Hoje, em Luanda, disse que o MPLA, partido no poder em Angola desde a independência do país, em 1975, está contra "qualquer forma de ditadura".

"O MPLA é contra qualquer forma de ditadura, porque defende a democracia", referiu o Chefe de Estado e líder do principal partido de Angola.

Deve ser por isso que, sem eleições, José Eduardo dos Santos é um dos mais antigos ditadores (perdão, democrata) em funções no mundo.

Discursando na abertura da sétima reunião ordinária do comité central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no Futungo de Belas, arredores de Luanda, José Eduardo dos Santos rejeitou a ideia de que existam nos textos do partido ou na Constituição angolana quaisquer princípios totalitários.

"Não há nos documentos fundamentais do nosso partido, nem na Lei Constitucional da República de Angola nenhuma orientação ou princípio que consagre o poder totalitário de uma classe social através da ditadura do proletariado", salientou.

O Presidente angolano aproveitou a ocasião para condenar abertamente algumas teses alegadamente postas a circular por elementos do MPLA na defesa da "ditadura do proletariado".

"Têm circulado alguns textos ultimamente, onde essa ditadura é considerada como sendo necessária para o desenvolvimento de Angola e onde também são apresentados conceitos e ideias abandonados por quase todos os partidos de esquerda ", disse o líder do MPLA.

José Eduardo dos Santos disse que os referidos textos são elaborados por "tendências entre aspas" que não se manifestam abertamente e que não pertencem ao MPLA.

"As correntes de opinião no seio do MPLA são promovidas na base dos princípios e objectivos estabelecidos nos seus estatutos e programa", frisou o Presidente.

Nesse sentido, José Eduardo dos Santos instou os comités do partido a "desmascarar as ideias e atitudes oportunistas" das pessoas que se escondem por detrás destes textos.

Para o líder do partido no poder desde a independência, em 1975, estas acções são fomentadas por pessoas que se querem infiltrar no MPLA para, a partir de dentro, desorientar as organizações de base e enfraquecer o partido na véspera das eleições legislativas.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Nélio Carvalho, já pode mandar a conta ao MPLA

Alguém que assina como Nélio Carvalho resolveu contestar parte do que aqui escrevo. Tem esse direito, mesmo dizendo que “não admiro você pelo que escreve” e manifestando-se “assustado” pelo meu “ódio pelo MPLA e pelos angolanos ou mesmo por Angola”.

Não sei, mas posso imaginar, como e onde Nélio Carvalho descobriu esta, mais uma, mentira. Não gosto do MPLA mas isso não é suficiente para o odiar. Muito menos poderia odiar o meu povo e o meu país. Pena é que, para alguns, não se sendo do MPLA se deixe de ser angolano.

«Afinal de contas gente como você que durante séculos (5 séculos) locupletaram-se no poder às custas dos nativos, roubaram, exploram e mataram com o objetivo de escravizar e colonizar o país. Têm infinitos motivos para sentir raiva e odiar a nação angolana», diz Nélio Carvalho, cidadão impoluto e candidato ao Nobel da santidade.

Não sei se Nélio Carvalho aceitaria igual raciocínio se acaso tivesse na 55ª geração uma familiar que tivesse andado a vender o corpo numa qualquer favela. Paciência.

«…Tenho certeza que você é desse tipo de pessoas que preferiria viver em outros tempos, simplesmente para não ver e presenciar esse tipo de acontecimento. Infelicidade sua. Pois, fique sabendo que, igualmente, existem milhões de pessoas, principalmente, no território que compreende Angola, orgulhosas desse fato, e acima de tudo de serem do MPLA», diz este aprendiz de feiticeiro, dando ao MPLA o divino privilégio de ser dono da verdade.

«É de conhecimento que gente como vocês, sempre, estiveram e estão dispostos a apoiar assassinos, débeis mentais em nome da luta contra o comunismo, e outras coisas que cheira a Progresso e Revolução. Por isso, durante todos esses anos , e a guerra fria, vocês estiveram ao lado de Savimbi e Holden Roberto», escreve Nélio Carvalho, acrescentando que «o MPLA ao lado do povo angolano é infalível, é certo, vitorioso, incansável, imbatível, implacável»

Tem razão, caro Nélio. O MPLA é mesmo implacável…

PS. Agora só tem de mandar a conta ao presidente… do MPLA e da sua Angola.

Entender a mensagem sem olhar ao mensageiro

Os adversários, sejam ou não inimigos, dizem-nos muitas vezes verdades que são amargas, não por elas próprias mas, isso sim, por serem ditas por quem nos traiu. Façamos, contudo, o exercício de meditar na mensagem sem cuidar de saber quem é o mensageiro.

«A UNITA perdeu a visão nacionalista, em consequência da profunda crise interna atravessa, estando o partido reduzido a grupos que alimentam a calúnia e a intriga».

Será falso que tenha perdido a visão nacionalista? Vive, ou não, uma profunda crise, em muitos casos alimentada por alguns grupos que tentar demarcar o seu espaço de influência?

«Não compreendo que, em época de eleições legislativas e presidenciais, a UNITA esteja pouco preocupada em unir as pessoas».

É verdade? À distância, ou seja a partir de Portugal, tenho a ideia de que o esforço de inclusão é muito rudimentar, mau grado algumas tentativas nesse sentido.

“Hoje as pessoas só se interessam em caluniar, em «enterrar» colegas, e não em descobrir teses de melhor governação ou de melhor associação”.

A acusação é grave. Mas será que não tem um fundo de verdade? Não se estará, de facto, a falar mais de pessoas do que de ideias?

«A UNITA deixou de discutir os problemas fundamentais do país. Está a falar da desmobilização, da defesa civil e pouco faz pela real situação dos desmobilizados, das viúvas e dos órfãos que não têm de comer e que precisam não da esmola mas de pão, de trabalho, de um futuro».

O que responde a Direcção da UNITA a uma acusação que, aliás, é partilhada à boca pequena por muitos dos seus simpatizantes?

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

África é uma chucha para a China
porque a CPLP nem mamar sabe

Diz o Notícias Lusófonas em Manchete que a China está a deixar a léguas a Lusofonia. Também não é difícil deixar a grande distância uma coisa que existe apenas no imaginário de meia dúzia de sonhadores mais (de)votados ao idealismo do que ao materialismo.

«O Continente africano, a “Belle Afrique”, afigura-se, cada vez mais, como um novo el Dourado para a China», escreveu no Correio da Semana (São Tomé) de 25 de Novembro do ano passado um outro idealista da Lusofonia, de seu nome Eugénio Costa Almeida.

Mas escreveu mais: «Actualmente cerca de 10% do comércio africano é feito com a China. É de África que chega o crude que sustenta a emergente economia chinesa – o maior desenvolvimento económico da actualidade – com particular destaque para Angola – actualmente perfila-se como o principal fornecedor de petróleo, tendo destronado a Arábia Saudita, o até agora maior abastecedor –, Sudão e, em breve, a Nigéria – que, por certo e para satisfazer o largo apetite chinês, terá de ir buscar muito dele à plataforma marítima santomense e à da Guiné-Equatorial; com que custos? – e, também muito em breve, de Moçambique de onde chegará o gás.»

Nesta análise está tudo dito. Está dito o que faz a China e, é claro, o que não fazem (com excepção do Brasil) os restantes países desse elefante branco pomposamente chamado de Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Embora amamentando o elefante, o Brasil lá vai fazendo a sua própria colheita sendo que o seu fluxo comercial com os países africanos mais que duplicou nos últimos quatro anos.

O resto são cantigas, por muito que nos doa (e dói mesmo) o facto de África (sobretudo os países lusófonos) ser – como bem disse mais uma vez o Eugénio Costa Almeida – uma chucha para a China.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Os escritores de primeira (os do MPLA)
e os de segunda (da FNLA e da UNITA)

«Ainda hoje assistimos a este mesmo espectáculo que poucos são os escritores provenientes da FNLA ou da UNITA por que estão preocupados com a reivindicações principais como a organização do Estado angolano, da nação angolana, o ordenamento do território, o pluralismo que ainda é uma palavra vã em Angola e que já não deveria ser. Lutamos durante 30/40 anos e ainda não sabemos o que é o pluralismo», afirmou em entrevista ao Notícias Lusófonas o delegado da FNLA em Portugal, Jaime Araújo Júnior.

Embora muito, ou quase tudo, o que Jaime Araújo Júnior afirmou ao NL seja de relevante interesse, permito-me destacar esta questão para, é claro, dar largas ao poder (passe o exagero) das minhas ideias já que as ideias de poder estão do outro lado, na circunstância do lado do MPLA.

Ao contrário do que afirma Jaime Araújo Júnior, há muitos (e bons, digo eu) escritores provenientes da FNLA e da UNITA. Não são, isso é verdade, tão conhecidos como os originários do MPLA. Aliás, como em qualquer ditadura, a máquina de propaganda favorece, enaltece e divulga os que lhe são afectos. Todos os outros são considerados menores.

No caso de Angola, não se fala ou, pelo menos, não se falou durante muitos anos de escritores angolanos já que angolanos eram só exclusivamente os que estavam ao lado do poder. Todos os outros, embora bons, eram matumbos ao serviço de todos os piores imperialismos, com o excepção do então soviético.

Jaime Araújo Júnior, apesar da afirmação tão peremptória está a reconhecer a existência dos escritores afectos à FNLA e à UNITA quando justifica que eles estão, em síntese, preocupados com a tentativa de transformar Angola num Estado de Direito.

Exactamente, como salienta Jaime Araújo Júnior, por ainda hoje Angola não ser, nem praticar, o pluralismo é que entre um néscio do MPLA e um génio de qualquer outro partido, ou mesmo sem partido, o poder de Luanda não tem dúvidas em escolher o néscio.

Se, por exemplo, um desconhecido adepto do MPLA lançar um livro em Portugal o que é que acontece? Da Casa de Angola em Lisboa à Embaixada, passando pelo próprio Governo português, todos abrem portas, engalanam salas, imprimem convites, arregimentam simpatizantes e ordenam aos seus servos jornalistas para fazer a cobertura do lançamento, para ouvir o autor etc. etc..

No entanto, e não faltam exemplos, se for um amigo da FNLA ou da UNITA o que é que acontece? A sala fica vazia e, em alguns casos, até nem lá aparecem os responsáveis políticos dos partidos a que o escritor é afecto.

Por tanto, meu caro Jaime Araújo Júnior, muito do que está mal é da responsabilidade dos dirigentes políticos, neste caso, da FNLA e da UNITA que são capazes de honrar o pluralismo apoiando com a sua presença um escritor afecto ao MPLA, mas inibem-se de dar a cara pelos “seus”.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Justiça (?), Casa Pia e Jornalistas

Dezasseis jornalistas portugueses comparecem amanhã, dia 6, na 1.ª Vara Criminal do Porto, para serem julgados por crimes de violação do segredo de justiça, no âmbito da sua actividade de acompanhamento noticioso do chamado “Processo Casa Pia”. Para além da mais que merecida solidariedade, permito-me a este propósito dizer outras coisas. Pouco agradáveis? Sim, certamente para os donos deste quintal à beira mar qualquer coisa…

Em Novembro de 2002, o Editorial do Notícias Lusófonas tinha o título «Feios, porcos e maus». António Ribeiro dizia que é «assim que nós, portugueses, vamos ficar para a História se não for convenientemente investigado e esclarecido o caso de pedofilia que envolve a Casa Pia de Lisboa e exemplarmente punidos todos os que nele participaram e também aqueles que, por negligência ou omissão, permitiram a continuação de tais práticas durante mais de duas décadas.»

Na altura escrevi que não podia estar mais de acordo. Hoje volto a escrever que não posso estar mais de acordo. E, pelos vistos, todos estão de acordo, até mesmo aqueles que em tempo útil deveriam ter feito alguma coisa para evitar tão monumental escândalo.

A desvergonha «made in Portugal» não tem limites. Hoje serão certamente (muito) poucos os que acreditam que vai haver justiça neste caso de pedofilia da Casa Pia. Continuo a acreditar que não vai haver justiça.

E não vai porque, para além dos políticos (e similares: polícias, tribunais, jornalistas etc.) serem feios, porcos e maus são, ainda, cobardes. São os desse tempo por calarem e são os de hoje por estarem voluntariamente amarrados.

Quem matou Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa, Ferreira Torres etc. etc.?

Ninguém, em termos de justiça. Todos nós, em termos morais.

Sermos feios, porcos e maus parece algo que está no sangue, salvo algumas (muito poucas) excepções. Tão poucas que até os Jornalistas que agora falam do assunto vão, como o foram os que no início da década de 80 avançaram, ficar calados.

E esse silêncio será recompensado. É só uma questão de tempo. Não tardará muito e estarão como directores ou administradores de um qualquer órgão da comunicação social...

Os Jornalistas mais teimosos poderão, a todo o momento, entrar para a lista de dispensáveis... pelos altos serviços prestados.

Deixem-me, também por comodismo mas sobretudo por estar de pleno acordo, continuar a citar o brilhante texto do António Ribeiro. «O que aqui está em causa não se pode compadecer com os proverbiais brandos costumes portugueses nem com o velho hábito de deixar tudo nas meias tintas. O que aqui está em causa são crimes praticados contra crianças indefesas - antes de mais por serem crianças e depois por serem crianças provenientes de lares pobres ou pura e simplesmente de lares nenhuns - que tinham como único suporte instituições para as acolher, educar e preparar para o futuro.»

É exactamente isso. E por ser isso é que, mais uma vez, ninguém se lembra de ter ouvido falar em tal crime. Presidentes da República, ministros, secretários de Estado, deputados, procuradores gerais da República, magistrados, polícias etc. foram todos atingidos por uma conveniente amnésia.

Tão conveniente que, creio, até poderá um dia destes dar direito a uma comenda pelos altos serviços prestados à Nação...

Diz o António Ribeiro (num texto que, permitam-me a opinião, é uma verdadeira obra prima) que «são crimes hediondos praticados por adultos que, acoitados na impunidade do poder e na conivência dos silêncios comprados, praticaram sevícias que mutilaram física e psiquicamente centenas de crianças e as marcaram para o resto das suas vidas. Aquelas que não se mataram. De nojo. De medo. De desespero.»

É isso mesmo. Crimes hediondos, impunidade, silêncios comprados e mutilação física e psicológica. Convenhamos, contudo, que os silêncios continuam a ser comprados para encobrir esses crimes hediondos. Tal como foram outros, tal como serão outros.

Portugal começa a deixar de ser um país (Nação há muito que o deixou de ser) para passar a ser, apenas e tão só, um lugar muito mal (muito mal) frequentado.

Em honra do mais Velho, esteja onde estiver

Embora só no próximo dia 22 passe mais um aniversário da morte de Jonas Savimbi, o meu Presidente, escrevo hoje sobre Ele. Escrevo porque me apetece, porque sei que os meus inimigos terão calculado que o tempo me faria mudar de ideias, tantas foram, são e continuarão a ser as pressões pessoais, profissionais, económicas e outras para que eu vire a casaca. Desiludam-se. Há coisas que nunca mudam. E, além de tudo, o mais Velho, esteja onde estiver, merece.

Que melhor forma haverá para mostrar a quem estiver interessado que continuo o mesmo?

Nada melhor do que repetir mais uma vez e tantas quantas forem preciso, o que escrevi a propósito da morte do Presidente da UNITA a 22 de Fevereiro de 2002. As palavras voam, mas os escritos são eternos.

O Povo Angolano, Angola, África e todos os que pugnam pelos ideais de liberdade e democracia no Mundo, estão de luto. Luto por diversas razões. O Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente da UNITA, tombou heroicamente em combate! Tombou heroicamente em combate o meu Presidente.

Tão heroicamente que as Forças Armadas de Angola (ou pelo menos parte delas) tiveram necessidade de O humilhar... mesmo depois de morto. Trataram o meu Presidente como um cão raivoso, como um troféu de caça. Até na morte Jonas Savimbi atemorizou os militares de José Eduardo dos Santos.

Os adversários, ou até mesmo os inimigos, merecem respeito. E isso não aconteceu. As FAA não humilharam Jonas Savimbi, humilharam uma grande parte do Povo Angolano.

A África perdeu um dos seus mais insignes filhos, cuja vida e obra O situam na senda dos arautos da História Africana como N'Krumahn, Nasser, Amílcar Cabral, Senghor, Boigny e Hassan II.

O Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente da UNITA, o meu Presidente, tombou em combate ao lado das suas tropas e do Povo mártir, apanágio só concedido aos Grandes da História. Deixou-nos como maior e derradeiro legado a sua coragem e o consentimento do sacrifício máximo que pode conceder um combatente da liberdade, a sua Vida.

Fiel aos princípios sagrados que nortearam a criação da UNITA, o Dr. Savimbi, rejeitando sempre e categoricamente os vários cenários de exílios dourados, foi o único dos líderes angolanos que sempre viveu e lutou na sua Pátria querida. A ela tudo deu e nada tirou, ao contrário de outros com contas, palácios e mansões no estrangeiro.

Fisicamente o meu Presidente morreu. Fisicamente o meu Presidente foi humilhado. Mas uma coisa é certa. Não há exército que derrote, mate ou humilhe uma cultura, um povo, uma forma eterna de ser e de estar.

Jonas Savimbi, o meu Presidente, continuará a ter quem defenda essa cultura, esse povo, essa forma eterna de ser e de estar.

«Há coisas que não se definem - sentem-se». Foi isto que há 32 anos me disse, no Huambo, Jonas Malheiro Savimbi. É isto que José Eduardo dos Santos nunca compreendeu.

A UNITA não se define - sente-se. Jonas Malheiro Savimbi não se define - sente-se. Angola não se define - sente-se.

E porque se sente, e não há maneira de matar o que se sente, é que Jonas Malheiro Savimbi, o meu Presidente, continuará vivo. Vivo no esforço pela paz em Angola, vivo pela dignificação dos angolanos, vivo pela liberdade, vivo pela coerência... vivo porque os heróis não morrem nem são humilhados.

Obrigado Presidente!

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Mãos à obra Senhor Ministro da Saúde

No "Alto Hama" do Notícias Lusófonas publiquei, no passado dia 23 de Janeiro, sob o título "A alternância não se compra - conquista-se", o texto que se segue. A repetição aqui mais não pretende ser do que uma humilde homenagem ao novo Ministro da Saúde de Angola: Anastácio Sicato.

«A UNITA será poder em Angola no dia em que os angolanos o quiserem. Porque a UNITA é pertença do povo angolano. No nosso país, o processo de democratização é irreversível. Ora, a alternância de poder é uma característica inerente aos sistemas democráticos,» afirmou ao NL, em 26 de Junho do ano passado, Anastácio Sicato, delegado da UNITA em Portugal.

As afirmações de Anastácio Sicato continuam actuais, sobretudo porque já existe um calendário eleitoral feito, diga-se, à medida do MPLA de Eduardo dos Santos. Mas, no que respeita à UNITA no exterior, nomeadamente em Portugal, urge perguntar o que está a ser feito para justificar, ou apressar, essa alternância de poder.

Não falo de ideias. Essas não faltam. Falo de coisas concretas, de projectos viáveis, de iniciativas com cabeça, tronco e membros. Provavelmente por manifesta ignorância da minha parte, não vejo que a UNITA sobretudo mas não só em Portugal esteja a dar o seu contributo para que os angolanos possam – se assim o entenderem – conhecer um outro Governo e um outro presidente da República.

Anastácio Sicato dizia na referida entrevista, dada ao Jornalista Jorge Eurico, que “tarde ou cedo, o MPLA e o Presidente José Eduardo dos Santos acabarão por ceder o poder a outros”.

Mas será que a UNITA está apostada em fazer com que se antecipe a alternância? Quando olho para sites como o Kwacha.net ou Unitaeuro.com fico com a sensação de que a UNITA está à espera que o poder em Angola caia de maduro, nada fazendo para mostrar aos angolanos que quando o fruto não presta deve ser retirado mesmo verde.

Quando vejo que a UNITA, ao contrário do MPLA, desperdiça tantos e tantos valores que lhe são afectos e que estão espalhados por esse mundo fora, fico com a ideia de que a alternância, se acontecer, se deverá mais ou sobretudo à incapacidade do MPLA do que à acção da UNITA.

Não basta, como disse Sicato, afirmar “que a verdadeira soberania pertence ao povo e a mais ninguém”.

É preciso que o povo saiba que tem esse poder e, mais importante, saiba quais são as alternativas.

Não chega, caro Anastácio Sicato, dizer que “só a alternância consolida os regimes democráticos”. A alternância não se compra, conquista-se. E para a conquistar é preciso trabalhar muito. Muito mesmo.

Mãos à obra Senhor Ministro da Saúde. Tem muito por onde trabalhar e por quem trabalhar. Os Angolanos agradecem.

Congresso Internacional (de uma outra) Lusofonia

Vai decorrer entre os próximos dias 8 e 10, na Sociedade de Geografia de Lisboa, o 1º Congresso Internacional da Lusofonia, realizado pela FLUBE e pela Universidade Lusófona com os patrocínios das Fundações Calouste Gulbenkian, Oriente e Luso-Americana.

Professores, doutores, professores doutores, professores doutores arquitectos, engenheiros e embaixadores preenchem o quadro dos oradores.

Fica garantido o êxito da iniciativa.

«A educação e a formação como factor de desenvolvimento e afirmação da lusofonia», « Quais as prioridades estratégicas a desenvolver na Lusofonia no contexto educativo desde o pré-escolar à investigação», «Estado de desenvolvimento da educação nos países Lusófonos», «Haverá diferenças histórico-culturais na Lusofonia que obriguem à existência de processos educativos diferentes, dos que imperam na comunidade educativa global», «Estratégia para o desenvolvimento do ensino superior e o Processo de Bolonha», «A cultura como elemento de integração intercultural e de desenvolvimento comunitário», «A “Língua Portuguesa” como expressão real e cultural do mundo lusófono. Estratégia para o seu desenvolvimento. Deverá ser desenvolvimento global ou regional?», «A comunicação social, a democracia, a globalização como vertentes do desenvolvimento cultural, comum ou divergente», são alguns dos temas em debate.

Fica garantido o êxito da iniciativa.

Embora reconheça a validade dos temas e o alto nível intelectual dos oradores, continuo a pensar que a Lusofonia precisa, nesta altura, é de quem debata a melhor forma de dar de comer a quem tem fome (e são muitos milhões, muitos mesmo).

Mas essa é, certamente, uma outra Lusofonia. A Lusofonia dos milhões que têm pouco, ou nada, e não a dos poucos que têm milhões.

Mais de 90 mortos em confrontos no Baixo Congo

A província do Baixo Congo começou hoje a voltar à normalidade depois dos confrontos registados até quinta-feira à noite, que provocaram 91 mortos, segundo fontes locais citadas por estações de rádio.

Os confrontos envolveram militantes de um partido político derrotado nas últimas eleições locais e forças policiais do Baixo Congo, no extremo ocidental da República Democrática do Congo (RDCongo, ex-Zaire).

Segundo noticiou hoje a Rádio Okapi, que depende da missão da ONU na RDCongo, além dos 91 mortos, os confrontos provocaram também 16 feridos com gravidade. Estes dados não foram ainda confirmados por fonte oficial.

A Rádio Okapi disse que os confrontos mais graves foram registados na cidade de Moanda e deles resultaram 36 mortos, incluindo 29 militantes do grupo político religioso Bundi Dia Kongo (BDK).

Na cidade de Boma, os incidentes causaram 26 vítimas mortais, duas das quais agentes de segurança.

Na capital da província, em Matadi, registaram-se 16 mortos, segundo fontes hospitalares, 15 partidários do BDK e um polícia.

Finalmente, na cidade de Sondololo foram mortas 14 pessoas que tinham feito uma barricada para se oporem às forças de segurança, noticiou a Rádio Okapi.

O BDK foi derrotado nas eleições do governador da província que se disputaram no sábado passado (27 de Janeiro), mas não aceitou os resultados e convocou manifestações para exigir a anulação da votação.

A RDCongo encontra-se ainda num processo de transição iniciado em finais de 2002, quando terminou um conflito de seis anos, que fez quatro milhões de mortos, não só nos confrontos, mas também em consequência da vaga de fome e doenças resultantes da guerra.

Ponto alto deste processo de transição foi a eleição a 29 de Outubro, de Joseph Kabila como Presidente da RDCongo, cargo que tinha assumido a 26 de Janeiro de 2001, depois do assassínio do pai, Laurent Kabila, que tinha assumido a chefia do Estado depois do derrube de Mobutu Sese Seko, em meados de Maio de 1997.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Que importa? - São pretos!

A República Centro-Africana sofre de pobreza extrema, e os indicadores relativos à infância reflectem essa realidade: mais de uma em cada cinco crianças não sobrevive até ao seu quinto aniversário, dado que a taxa de mortalidade dos menores de cinco anos aumentou de 157/1000 mortes em 1995 para 220/1000 em 2003.

Mas como são pretos… Vejam, por favor, o destaque que os media (não) vão amanhã dar a estes dados revelados hoje pela UNICEF.

Do mesmo modo, a mortalidade materna aumentou de 683 mortes por 100.000 nados-vivos em 1988 para 1355/100.000 em 2003. A cada seis minutos, uma mulher morre de causas relacionadas com o parto. A má nutrição crónica situa-se nos 32% e 71% das pessoas vive abaixo do limiar de pobreza.

Mas como são pretos… Vejam, por favor, o destaque que os media (não) vão amanhã dar a estes dados revelados hoje pela UNICEF.

Antes do conflito, as instalações escolares já eram escassas. Hoje, estima-se que um terço dos edifícios das escolas existentes está destruído. A maior parte dos professores fugiu. Uma missão recente das Nações Unidas o Leste do país refere que as crianças não têm ido à escola nos últimos cinco anos.

Mas como são pretos… Vejam, por favor, o destaque que os media (não) vão amanhã dar a estes dados revelados hoje pela UNICEF.

O país detém a mais elevada taxa de prevalência de infecção por VIH na África Central e Ocidental (15 por cento) e 140.000 crianças ficaram órfãs devido à SIDA, das quais 24.000 vivem com o VIH. Mais de 6.000 crianças estão a viver nas ruas, metade das quais na capital, Bangui.

Mas como são pretos… Vejam, por favor, o destaque que os media (não) vão amanhã dar a estes dados revelados hoje pela UNICEF.

Associação dos Antigos Estudantes do Huambo

Ainda e sempre o sonho de ajudar aquela terra que nos viu nascer e crescer, de contribuirmos para a sua prosperidade e desenvolvimento Nem sempre o nome diz tudo. Mas neste caso identifica-nos fielmente: Associação dos Antigos Estudantes de Nova Lisboa - Huambo / Angola.

Congrega todos aqueles que um dia tiveram a fortuna de estudar naquelas terras altas e floridas do Huambo. Mas o que não ressalta do nome é como nasceu e porque existe. Foi com o termo do já longínquo ano lectivo de 1961/ 62 que os primeiros finalistas do Liceu Nacional de Nova Lisboa rumaram à, então, Metrópole para aí prosseguirem os seus estudos universitários.

Quase todos eles iam dar os primeiros passos nessa aventura do futuro, transplantados numa terra que lhes era estranha. Cedo sentiram a necessidade de preservar os importantes laços criados durante a infância e juventude, como uma âncora de ligação à terra, como uma ponte que facilitasse a passagem para esse novo mundo que se propunham descobrir. E os jantares - convívio foram assumindo regularidade.

Terminados os estudos, regressaram uns e ficaram outros. E estes conservaram a tradição de convívio. Com a descolonização deu-se o reencontro. Por todo o lado se descobriam antigos colegas, velhos conhecidos de outros tempos e de outras terras, que abruptamente confundiam passado e presente num amálgama de emoções incontidas. Os jantares, que mantinham a sua frequência, passaram a animar-se com a presença de cada vez mais alunos do Liceu.

Cada encontro era a alegre festa de quem recupera o passado, a excitação de quem descobre que venceu o tempo.

-Eh pá, tu estás na mesma!... Lembras-te de fulano... também cá está ... Olha a Manela...os anos não passaram por ti... Olha a Drª Dorinda... e a Drª Dárida também... Eram os beijos e os abraços a cada novo conviva que vinha acrescentar mais uma pedra à reconstrução do futuro com outros alicerces.

Cedo nasceu a ideia de passar dos meros encontros para algo de mais sólido e consistente: uma Associação de Antigos Alunos do Liceu de Nova Lisboa. Da ideia à acção foi um ápice e em 12/05/1993, no D.R. nº 110 – III Série, são publicados os primeiros estatutos da Associação Com muita carolice e empenho, os membros dos Órgãos Sociais foram mantendo viva a chama associativa, ao longo dos anos, através de convívios, visitas culturais e outras realizações.

Mas as gentes do Huambo guardam no coração um cantinho muito especial para tudo quanto lhes recorde a terra. Colegas de outros estabelecimentos de ensino, da Escola Industrial e Comercial, dos Colégios Alexandre Herculano, D. João de Castro, S. José de Cluny, ...das Escolas de Agronomia e Veterinária, ... passaram a manifestar interesse em conviver com a Associação, estar presentes nas suas actividades, encontrar amigos, sentir pulsar a vida em torno de um profundo sentimento de grande identidade.

Daí ao alargamento do âmbito da Associação foi um passo. Sufragada em Assembleia Geral a proposta de transformação da AAENL em Associação dos Antigos Estudantes de Nova Lisboa / Huambo, por unanimidade, logo se iniciaram os trâmites necessários à alteração estatutária.

Em 09/04/2002, no D.R. nº 83 (Suplemento) – III Série, são publicados os novos estatutos que vêm dar personalidade ao desejo de quantos querem preservar os laços que estabelecem a ligação sólida entre um passado que se reencontra com um futuro de esperança.

E o que pretendemos com esta Associação?

- Para além do que pode saber-se através dos Estatutos, onde estão expressamente consagrados os objectivos, e do Plano de Actividades que contém o essencial do nosso projecto, ( e que podem ser consultados neste site ) como seria bom se conseguíssemos, ainda, vir a contribuir com algum do nosso esforço e capacidade para realizar, um pouquinho daquele sonho que sustentámos em meninos, de virmos a ser úteis à terra que nos viu nascer e crescer, de contribuirmos para a sua prosperidade e desenvolvimento.

Contactos: A.A..E. Nova Lisboa // Huambo – Angola Rua Acácio Leitão, Nº 30 – 1º Dtº 2400-077 LEIRIA (Sede Provisória)

A.A..E. Nova Lisboa // Huambo – Angola Praceta João de Barros, Nº 1 – 6º Esqº Torre da Marinha 2840-410 SEIXAL


Nota: Artigo publicado no Notícias Lusófonas


Aborto? Não, Obrigado!

Tal como no referendo anterior, a sociedade portuguesa mobiliza-se para discutir a questão do aborto, rotulada de interrupção voluntária da gravidez para que, creio, todos percebam melhor.

Uns, os que já nasceram, não têm problemas em ser a favor do “sim”, a favor de uma lei que sabem nunca os atingir. Os outros, os do “não”, onde me incluo, não querem para os outros o que não querem para eles.

Ou seja, se eu tive direito à vida… todos os outros devem ter o mesmo direito.A tudo isto acresce que defender o “sim” é a mais pura e paradigmática forma de cobardia. Ou seja, se a sociedade não consegue dar condições de vida (aos pais, mas sobretudo às mães), então mate-se quem não tem direito de defesa.

Noutro patamar, seria mais ou menos como a sociedade não ter capacidade para combater o roubo de carros e, para resolver a questão, decidisse legalizar essa actividade, descriminalizando os autores.

Eu sei que, para muitos socialistas, sociais-democratas, comunistas e afins é mais fácil dizer a uma mãe que pode e deve abortar do que lhe dar condições de dignidade que lhe permitam criar o filho. Para mim isso é cobardia e aceitação da falência de uma sociedade solidária e digna.

Por isso: Aborto? Não, Obrigado!

(Se calhar, já que a legalização do aborto não tem efeitos retroactivos – é pena! -, a melhor forma de nos vermos livres de futuros políticos medíocres como os que agora proliferam por aí seria votar “sim”. Mesmo assim… voto “Não”).

Nota: Até ao referendo este texto terá direito à vida.
Volta e meia estará por aqui. Para que não restem dúvidas.