quarta-feira, janeiro 10, 2007

Num Estado de Direito é viável ter um
ministro que é director de uma rádio?

A propósito da escolha do jornalista Sebastião Lino para director do Canal “A” da Rádio Nacional de Angola, dou comigo a pensar que o Estado de Direito ainda está longe, muito longe, de Luanda. Não pela escolha de Sebastião Lino (que me dizem ser competente), mas pelo facto de o director daquela rádio ser ao mesmo tempo... ministro da Comunicação Social. De seu nome Manuel Rabelais.

"A estratégia do Governo tem como finalidade revolucionar o sector, com vista a oferecermos à sociedade um ambiente legal que permita o exercício da liberdade de expressão de forma livre, plural, isenta e responsável", afirmou recentemente Manuel Rabelais (na foto).

Será isto compatível com o facto de o ministro ser ao mesmo tempo director de um órgão de comunicação social? Não creio. Não é possível ter uma informação livre, plural, isenta e responsável quando o director é também ministro.

Talvez um dia destes o Estado angolano deixe de ser dono e senhor da Comunicação Social. É que, agora, integram o sector público a Rádio Nacional de Angola (RNA), com estúdios centrais em Luanda e 18 emissoras provinciais, a Televisão Pública de Angola (TPA), com delegações nas diferentes províncias e com emissões locais em Cabinda, Lubango (Huíla) e Benguela, bem como (o que só por si é um claro exemplo) o único diário, o Jornal de Angola, com correspondentes em todas as províncias, e uma agência nacional de notícias (Angop), que também se estende por todo o país.

No campo das intenções (que importa registar porque as palavras voam mas os escritos são eternos), o ministro angolano da Comunicação Social defende que a Imprensa angolana tem de ser um sector "moderno, dinâmico, forte, sério responsável e objectivo".

Manuel Rabelais reitera a necessidade de existirem profissionais "bem formados e competentes", para o exercício de um jornalismo "isento, plural, responsável e patriótico", acrescentando que "o sector da comunicação social tem de ser moderno, dinâmico, forte, sério, responsável e objectivo, capaz de interagir com outros sectores e assim contribuir e influenciar positivamente nos esforços do Estado e da sociedade".

Será?

Não creio. Não é possível ter uma informação livre, plural, isenta, responsável etc. etc. quando o director é também ministro.

Sem comentários: