sexta-feira, junho 03, 2011

Domingo ainda se irá a tempo?

Que a economia portuguesa entrou, entra e entrará, mais uma vez e sempre para o lado dos mais fracos, em derrapagem e que, a todo o momento, pode fazer mais um buraco no fundo, já quase todos sabemos.

Se calhar o país ainda está a tempo de evitar que o povo saia à rua para, ao estilo da Grécia, dizer que não podem ser sempre os mesmos a pagar a crise.

Numa coisa, reconheço, José Sócrates tem razão. Agora não são exactamente os mesmos a pagar a crise. Ou seja, são os mesmos de sempre e mais uns milhares que até agora tinham escapado (800 mil desempregados, 20% da população na pobreza). Do outro lado, aí sim, continuam sempre os mesmos (políticos, banqueiros, administradores, gestores e empresários).

Chegados a esta fase negra, já não adianta mudar de ministros, mudar de políticas, mudar de governo. Como não é possível mudar de país, o melhor mesmo é mudar de políticos.

Mas mesmo assim a coisa está feia. É que a esmagadora maioria dos políticos portugueses é farinha do mesmo saco. Às segundas, quartas e sextas viram à direita, às terças, quintas sábados à esquerda e ao domindo vagueiam pelo centro.

Portanto, se calhar o melhor mesmo é mudar de sistema. É que, convenhamos, entre um sistema em que poucos roubam e um em que muitos roubam, não me parece difícil escolher.

E para a economia voltar a funcionar é urgente dar oportunidade ao primado da competência e não, como o fazem os últimos governos das ocidentais praias lusitanas, ao da filiação partidária, do compadrio, da corrupção e de outras virtudes horizontais.

Como diz o meu amigo Gil Gonçalves, e a pensar como ele há cada vez mais gente, é preciso que haja outro 25 de Abril daqueles a sério: “Não para tirar uns e pôr outros e continuar tudo pior... para roubarem”.

Isto porque, diz ele e cada vez mais boa gente, nem no tempo do Salazar faziam essas coisas. “Agora rouba-se democraticamente. Aliás, cada vez mais me convenço, que a democracia inventou-se para se poder roubar à vontade”.

E a vida tem destas coisas. Depois admirem-se que entre uma ditadura de barriga cheia e uma democracia com ela vazia, os portugueses não tenham dúvidas em escolher. E, note-se, já há muita gente que nem sabe se tem barriga...

De vez em quando, como se não tivesse nada a ver com o que se passa nas ocidentais praias lusitanas, Cavaco Silva vai dando uns palpites. Há um ano, no dia 10 de Junho, disse ser inaceitável o alheamento dos portugueses da vida pública.

É verdade. Mas de quem será a culpa? Dos cidadãos que cada vez mais são vistos pelos políticos como mera mercadoria ou, na melhor das hipóteses, como números, ou daqueles que se julgam donos do reino por pertencerem a uma casta diferente?

Cavaco Silva disse também que “em tempos reconhecidamente difíceis como aqueles em que vivemos, não é aceitável que existam portugueses que se considerem dispensados de dar o seu contributo, por mais pequeno que seja”.

Não é, Senhor Presidente, uma questão de se considerarem “dispensados de dar o seu contributo”, é antes uma questão de não aceitarem passar um cheque em branco a políticos em quem não acreditam. Mudem-se os políticos e as políticas e os portugueses passarão a estar na primeira linha do combate democrático.

Tudo isto é sintoma, claro, de que ou os políticos portugueses deixam de cantar no convés enquanto o navio se afunda, ou sujeitam-se a que o Povo saia à rua e os afunde. Vejamos se domingo já não será tarde...

2 comentários:

Fada do bosque disse...

É mesmo Orlando... Só mudando de políticos!
O político Mário Soares assevera que os meios de comunicação sociais (jornais e televisões) são, igualmente, propriedade dos banqueiros internacionais:

Mário Soares no Programa "Prós e Contras" [27-04-2009]

Mário Soares: [...] Pois bem, agora um jornal, não há! Uma pessoa não pode formar um jornal, precisa de milhares de contos para formar hoje um jornal e, então, para uma rádio ou uma televisão, muito mais. Quer dizer, toda a concentração da comunicação social foi feita e está na mão de meia dúzia de pessoas, não mais do que meia dúzia de pessoas.

Fátima Campos Ferreira: Grupos económicos, é?

Mário Soares: Grupos económicos, claro, grupos económicos. Bem, e isso é complicado, porque os jornalistas têm medo. Os jornalistas fazem o que lhes mandam, duma maneira geral. Não quer dizer que não haja muitas excepções e honrosas mas, a verdade é que fazem o que lhes mandam, porque sabem que se não fizerem aquilo que lhe mandam, por uma razão ou por outra, são despedidos, e não têm depois para onde ir. [...]

Fada do bosque disse...

Quando puder Orlando, veja este pequeno
filme