«Andou hoje parte da blogosfera preocupada com um artigo de Pezarat Correia que, alegadamente, terá sido censurado pelo DN.
Provavelmente, Pezarat Correia não foi censurado. Até porque o bom senso da opinião, mesmo que possa não colher maioria, é suave… Desconheço os pormenores. Mas, provavelmente, aconteceu a Pezarat Correia exactamente o mesmo que, no início deste mês, sucedeu a autores como Alice Vieira, Óscar Mascarenhas e Honório Novo, pelo menos, presenteados, com uma carta, do tipo circular, em tom intimista, como se lê no Clube de Jornalistas.
A carta, já da era da nova Direcção do JN – formada por Manuel Tavares, Alfredo Leite, Fernando Santos, Ana Sousa Dias, Jorge Fiel e Paulo Ferreira –, reza assim:
O “Jornal de Notícias” inicia uma nova etapa da sua longa e memorável existência com novos objectivos e novas âncoras conforme “o nosso compromisso”, publicado no dia do 123º aniversário do nosso jornal.
O JN necessita de voltar a ter um grande foco nas razões de proximidade que fizeram dele mais que um jornal, o sítio onde as pessoas encontravam refúgio e ganhavam voz para os grandes desafios e trabalheiras do quotidiano.
Uma das tarefas que a Direcção editorial, e eu próprio, temos, desde já, pela frente é a de aconchegar a opinião que é publicada pelo JN a estas razões de proximidade, pelo que vamos reduzir drasticamente as colunas de opinião produzidas no exterior do ambiente das nossas Redacções do Porto e Lisboa e em contrapartida fazer crescer as análises dos nossos jornalistas a propósito dos temas e assuntos noticiados.
Reconheço que perder a opinião da minha Cara Alice Vieira é seguramente um risco inerente à qualidade do pensamento e da escrita que assina e muito tem honrado o JN, mas há uma nova aposta que vale a pena ser vivida em nome de um jornalismo e de um jornal mais próximo das nossas gentes sem deixar de olhar todos os horizontes.
Cara Alice Vieira, a interrupção da nossa parceria não significa que o JN deixe de ouvir as suas opiniões a propósito dos vários temas e assuntos da vida real que continuaremos a noticiar e a tentar aprofundar na busca de todas as explicações e também das boas causas.
E porque esta não é uma despedida, gostaria que continuasse a considerar o JN como a sua casa e que sempre que lhe aprouvesse abrisse a porta e me viesse visitar. Sem ter de se anunciar, que é o modo de receber os amigos.
O Director
Manuel Tavares
É sobre este teor que não resisto a contar um episódio que me chegou precisamente hoje. Há anos, durante uma conversa/discussão de jornalistas em serviço durante um congresso do Partido Socialista, um jornalista referiu o verbo “aconchegar” e o outro atirou-se-lhe como o gato ao bofe, gritando que “aconchegar” era mesmo coisa de gajo, de tanto o fazerem aos tomates…
Quem não percebeu pode voltar atrás, e ler o texto da “carta”.
Quem percebeu fica a saber, para já, se é que o ignora, que sou um dos visados no manifesto dos 122, que por acaso foram 123. E acrescento ainda que factos como estes não são mais do que o prolongamento de passadas seguras, antigas e actuais, rumo à descaracterização dos títulos da Controlinveste.
Hoje da Controlinveste, hoje e amanhã de outro qualquer grupo de Comunicação Social. Tudo feito, claro está, em nome da optimização de recursos, ou da contenção de custos. Sempre, rumo ao silenciamento das vozes dissonantes. Ainda que sob a melhor capa das boas intenções.»
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