"Será uma concentração para o apelo ao respeito pelos direitos humanos em Angola e onde tocaremos temáticas como o apelo ao fim dos desalojamentos forçados que têm ocorrido em torno de Luanda, no âmbito dos quais já foram desalojadas cerca de 10 mil famílias", sublinhou o director executivo.
Pedro Krupenski disse ainda que as restantes temáticas "dizem respeito àquilo que tem sido visível em Angola relativamente às limitações à liberdade de expressão, de opinião, de associação e à própria liberdade de constituição da sociedade civil organizada, que tem encontrado vários limitações, sobretudo se o trabalho que desenvolve vai contra aquilo que é a opinião dominante".
"Tem havido várias prisões arbitrárias e julgamentos não justos, por isso, a Amnistia resolveu escolher o dia 25, Dia de África, para envolver o maior número de pessoas neste apelo, que será um apelo silencioso, que contará com um conjunto de palavras de ordem escritas em cartaz", acrescentou.
"Que Angola seja também o "El Dorado" dos Direitos Humanos", "Sim à Liberdade de Opinião", "Fim aos desalojamentos forçados em Angola" e "Negócios com Angola só com compromisso de respeito pelos Direitos Humanos" são algumas das frases que irão constar nos cartazes.
Durante a concentração, a Amnistia Internacional Portugal irá também promover a assinatura da petição que lançou no final do ano passado para que os "desalojamentos forçados encontrem rápido termo e para que os que já foram desalojados sejam, de alguma forma, compensados e devidamente realojados".
Pedro Krupenski espera que a concentração "demonstre às pessoas relevantes que há gente preocupada com o que se passa lá (em Angola) e dispostas a contribuir com o que for necessário para que a situação se resolva rapidamente no respeito dos direitos das pessoas".
Ao que parece, por estratégia política ou por qualquer outra razão... humanitária, a Amnistia Internacional Portugal, bem como todas as autoridades portuguesas (do Presidente da República ao governo, passando pelo Parlamento) teme falar do mais paradigmático caso de violação dos direitos humanos: Cabinda.
De facto, mau grado o silêncio internacional, as autoridades coloniais angolanas não estão com meias medidas e, na colónia de Cabinda, prendem e até matam todos os que pensam de forma diferente do poder instituído em Luanda pelo MPLA.
Ainda no passado sábado, a propósito de uma marcha em defesa dos direitos humanos, um fortíssimo dispositivo repressor (militares e polícias) de Angola cercou e invadiu as casas dos principais activistas dos direitos humanos, procurando provas que sustentem a sentença há muito tomada pelo regime de José Eduardo dos Santos.
Até os locais de culto foram cercados. De acordo com o regime de Angola, na sua colónia e Cabinda todos são suspeitos até prova em contrário. Muitas das pessoas que apenas se limitaram a sair à rua para ver o que se passava foram detidas. A razão da força do MPLA volta a valer mais do que a força da razão dos que lutam pelos direitos humanos.
A manifestação visava, recorde-se, contestar a “detenção arbitrária” de activistas dos direitos humanos. Detenção arbitrária à luz de qualquer Estado de Direito o que, convenhamos, não se aplica a Angola e muitos menos à sua colónia de Cabinda.
Desde Janeiro, estão detidos sem culpa formada e em condições execráveis um advogado, Francisco Luemba, um padre, Raul Tati, um engenheiro, Barnabé Paca Peso, dois economistas, Belchior Tati e António Panzo, um funcionário da petrolífera Cabinda Golf, André Zeferino Puati (cujo “julgamento” começou esta manhã), e um ex-polícia, José Benjamin Fuca.
Embora a acção da Amnistia Internacional seja em frente ao Consulado de Angola em Lisboa... ele é também um alerta a Portugal que, pensam as pessoas de bem, deveria reagir ao quese passa, desde logo porqie é responsável pelo que se passa em Cabinda.
Mas a verdade é que a Amnistia Internacional tem poucas esperanças, tanto em relação a Angola como a Portugal. Talvez reste alguma esperança em relação a uma reacção da União Europeia. Recorde-se que o padre Jorge Casimiro Congo foi ao Parlamento Europeu (Bruxelas), a convite da eurodeputada socialista Ana Gomes, partir a loiça sobre Cabinda.
Dizendo o que aprendeu com o falecido bispo do Porto, D. António (“diante de Deus, de joelhos; diante dos homens, de pé”) o padre Jorge Casimiro Congo lamentou a posição do Governo português.
“Portugal é que é o culpado do que acontece em Cabinda. Não nos aceitou, traiu-nos”, disse o padre Congo, referindo-se ao processo de descolonização de Angola que deu de mão beijada e de cócoras o poder ao MPLA e, como se isso não fosse suficiente, rasgou os acordos que tinha asumido com o povo de Cabinda.
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