segunda-feira, outubro 16, 2006

Prémio Coragem para Rafael Marques
e (mais) um amargo de boca para Lisboa

A mais activa voz contra as políticas repressivas e corruptas do governo, das indústrias diamantíferas e petrolíferas em Angola, de seu nome Rafael Marques, receberá o Prémio de Coragem Cívica de 2006, a 18 de Outubro. Rafael Marques, 35 anos, tem dedicado a sua carreira a promover o respeito pelos direitos humanos, paz, a democratização de Angola e a liberdade de imprensa.

Deixe-me recordar a entrevista publicada no Jornal de Notícias a 10 de Março de 2005 em que Rafael Marques garantia que «há políticos portugueses que quando se deslocam a Angola, como foi o caso recente de António Monteiro e de Cavaco Silva, regressam a falar na esperança do povo angolano e de como as coisas correm muito bem. Isto é precisamente para encobrir aquilo que se passa de mais grave em Angola. As coisas não estão a correr bem e essa esperança já foi defraudada. O processo de reconstrução não é senão um processo de privatização dos sectores-chave da sociedade angolana em benefício de alguns poucos».

Só continua a não ver quem não quer!

Ainda segundo Rafael Marques, «os portugueses só estão mal informados porque querem», explicando que do seu ponto de vista, que nesta matéria é igual ao meu, «não se admite que um estadista chegue a um território e depois de duas conversas se ponha a falar em nome da esperança dos angolanos».

E isto acontece, diz aquele Jornalista, porque «há um esforço tremendo por parte da comunidade internacional em procurar sempre legitimar o que se passa de mais errado com as autoridades angolanas». Ou seja, «matam, fazem e desfazem mas têm sempre o benefício da dúvida».

Alguém, pergunto eu, ouviu José Sócrates recordar que 60% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças?

Alguém ouviu José Sócrates recordar que apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico?

Alguém ouviu José Sócrates recordar que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade?

Alguém ouviu José Sócrates recordar que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?

Alguém ouviu José Sócrates recordar que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino?

Pois é...

1 comentário:

ELCAlmeida disse...

O jornalismo quando verdadeiro e probo sempre incomodou as autocracias e as democracias de faz-de-conta.
Kdd
EA