terça-feira, setembro 19, 2006

Jornalistas (que ainda o têm)
estão com a corda no pescoço

O Estado português (Governo e deputados) é dono da verdade. Disso não tenho dúvidas. Sabe tudo e nunca tem dúvidas. Só falta dizer que tudo isso é a bem da Nação. No que ao Jornalismo concerne, aí tem cérebros que metem no bolso qualquer especialista do… Burkina Faso.

Quer agora o Estado português (quer e assim vai ser) consagrar que os Jornalistas não se podem opor a “modificações formais introduzidas nas suas obras” pelos seus superiores hierárquicos, anulando dois direitos fundamentais protegidos pela Constituição da República (artigos 37.º e 38.º) – o direito à liberdade de criação e o direito à liberdade de expressão.

Ainda bem que, no caso deste blogue, o caso não se coloca.

Traduzindo a ideia dos especialistas do Burkina Faso, perdão, do Estado português, é possível ao chefe pôr tudo do avesso e atribuir essa estratégia a um autor que, afinal, nada tem a ver com a questão.

Ou seja, poderia neste texto substituir Burkina Faso por EUA. Estão a ver? Tudo isso poderia, ou poderá, ser feito porque o Estado concede expressamente à estrutura hierárquica da redacção a faculdade de alterar, sem consentimento do autor, os trabalhos originais criados, desde que aquela invoque, "designadamente", "necessidades de dimensionamento (...) ou adequação ao estilo" do órgão de informação:

Por outras palavras, por uma questão de “dimensionamento” passavam o Burkina Faso (duas palavras com muitas batidas) para EUA (palavra exacta para a dimensão desejada).

No protesto do Sindicato dos Jornalistas (que também assinei) lê-se que será “posta em causa a relação de confiança entre o jornalista e as fontes de informação”, que será legitimada a “amputação de obras à revelia do autor, com a consequente eliminação de partes fundamentais das peças, incluindo de depoimentos vitais à compreensão do seu contexto”, etc. etc..

Em síntese, e por uma questão de “adequação ao estilo” deste blogue, será possível (quase) tudo, desde adulterar até manipular, passando pela censura e terminando na nova regra de ouro: comer e calar.

1 comentário:

ELCAlmeida disse...

Concordo completamente com a elevada, altruista e consagrada posição do governo poertuguês. Há que facilitar a vida aos capatazes - perdão, enganei-me, aos chefes - na justíssima análise aos seus imberbes e incapazes funcionários.
No sistema actual como pode um escroque capataz (irra, sempre a enganar-me, um pertinaz chefe) gerir uma empresa se não puder lixar - desculpe a linguagem, queria dizer tratar da saúde - a um seu subordinado.
Assim, com esta nova lei sempre que se quizer fazer a folha a um Jornalista - os jornalistas esses estão bem com os escroques - basta alterar um texto e voilá... bye bye Jornalista.
E quanto a estar livre de ver o seu chefe a alterar este seu blogue, lembre-se só do Abrupto...
Kandando
Eugénio Almeida