Com mais ou menos transparência, quase sempre com menos, Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e Cavaco Silva continuam a trabalhar em conjunto para, como diziam no tempo de José Sócrates, debelar a crise económica e financeira de Portugal.
Dizem que, numa altura em que os portugueses começam a morrer por não terem aprendido a viver sem comer, é preciso unir forças para colocar o país na rota certa. Rota de colisão, refira-se.
O Alto Hama vai também dar o seu contributo. Sendo feito por um jornalista, vai procurar saber o que se passa para não ser imbecil. E sabendo o que se passa não vai ficar calado porque não quer ser criminoso.
É claro que com essa metodologia de trabalho vai continuar no desemprego e, pela força da barriga vazia, com a coluna vertebral (que se recusa a remover) cada vez mais débil.
Portugal está, desde há meses, na mira dos especuladores dos mercados financeiros. Depois de despejarem um forte arsenal bélico sobre a Grécia, viram-se para as ocidentais praias lusitanas, não para cá ficarem de armas e bagagens mas apenas como mero ponto de passagem.
Apesar de o espectro da bancarrota ter chegado com armas e bagagens a Lisboa, os donos de Portugal continuam a cantar e a rir para os 40% de potenciais pobres e para os 800 mil desempregados, tal como continuam a achar um bom exemplo de moralidade interna e externa que os valores das remunerações pagas a alguns gestores públicos.
Não foi Paulo Portas que, na anterior legislatura, criticou o vencimento de 624 mil euros que o presidente da TAP tinha em 2009, "mais do dobro do que recebeu Barack Obama"? Não foi ele que falou do ordenado do presidente da Caixa Geral de Depósitos que ganhou "mais do dobro de Angela Merkel"?
Seja como for, este governo – tal como o anterior - prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica. Quando Simon Johnson escreveu no “The New York Times” que o próximo problema global dava pelo nome de Portugal, todos lhe chamaram ave de mau agoiro.
"O próximo no radar será Portugal. Este país escapou em grande medida às atenções, muito porque a espiral da Grécia desvaneceu. Mas ambos estão economicamente à beira da bancarrota, e ambos parecem muito mais perigosos do que Argentina parecia em 2001, quando entrou em incumprimento", dizia (e diz) a análise do economista, que é Professor no Massachusstts Institute of Technology.
Em bom ou mau português (para o caso tanto faz), dir-se-á que quem for o último a sair que feche a porta (se ainda existir porta) e apague a luz (se ainda não tiver sido cortada pela EDP). Nada mau.
"Os portugueses nem sequer estão a discutir cortes sérios. (…) Estão à espera e com a esperança de que possam crescer suficientemente para sair desta confusão, mas esse crescimento só pode chegar através de um espantoso crescimento económico a nível global", diz Simon Johnson que, certamente, se esqueceu de ouvir o contraditório de não menos insignes especialistas lusos, a começar em Vítor Constâncio, passando por Teixeira dos Santos e acabando em Vítor Gaspar.
Simon Johnson considera ainda que "nem os líderes políticos gregos, nem os portugueses, estão preparados para realizar os cortes necessários", que o Governo português "pode apenas aguardar por vários anos de alto desemprego e políticas duras", e ainda que os políticos portugueses podem apenas "esperar que a situação piore, e então exigir também um plano de apoio".
Não é propriamente um grande elogio aos políticos portugueses que têm responsabilidades governativas. Mas esses não estão muito preocupados. Desde logo porque, com ou sem bancarrota, terão sempre um lugar “mexiânico” numa qualquer EDP, Galp ou Banco Central Europeu.
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