O presidente do Banco BIC, Luís Mira Amaral, disse hoje à Lusa desconhecer qual é a situação líquida do Banco Português de Negócios e de quanto dinheiro o Governo necessita para recapitalizar o banco.
Mira Amaral recusou que esteja a exigir mais do que acordou a 31 de Julho, quando assinou com o Governo uma intenção de compra do BPN.
O Jornal de Negócios noticia hoje que o Banco BIC está a colocar ao Estado exigências no âmbito da negociação do contrato-promessa que comprometem a transacção, nomeadamente a injecção de capital de 850 milhões de euros em vez dos anteriores 550 milhões de euros.
O presidente do Banco BIC nega tal situação e adiantou que não quer "nem mais nem menos" daquilo que "está no acordo assinado a 31 de Julho" e que "mereceu a aprovação de ambas as partes".
Mira Amaral frisou não ter "nenhuma informação sobre o BPN desde 31 de Julho" e acrescentou que o Governo "tem de fazer as contas para ver quanto é que tem de dotar de capital [o BPN] por forma a respeitar os rácios de solvabilidade que foram acordados connosco".
Questionado de quanto seria esse montante, Mira Amaral disse não saber responder porque não sabe "qual é a situação actual do BPN", acrescentando que, a 31 de Julho, quando propôs ao Governo a compra do banco, o fez com "base de um balanço da altura e a partir do qual detinha uns rácios de solvabilidade que teríamos de manter", sendo de 500 milhões de euros.
O presidente do Banco BIC fez questão de explicar que o acordo de 31 de Julho "tinha de ser vertido num documento jurídico, que seria o contrato-promessa de compra e venda e a nossa expectativa é que esse contrato traduzisse exactamente o que estava no 'powerpoint' de Julho', o que não aconteceu.
Mira Amaral adiantou que, já no início de Setembro, o Governo enviou um texto de acordo para ser assinado pelo Banco BIC e que "não o assinámos porque não era aquilo que tínhamos acordado". Nessa altura, continua, "devolvemos o documento com um texto alternativo e é isso que está em negociação neste momento".
A 31 de Julho, o Governo e o Banco BIC acordaram a compra do BPN por 40 milhões de euros e a manutenção de 750 postos de trabalho dos cerca de 1600 trabalhadores do banco nacionalizado.
O Governo adiantou na altura que a recapitalização do BPN, prévia à transmissão das acções, atingirá os cerca de 550 milhões de euros, sendo o total do custo do Estado com o BPN, descontado do preço de venda, nesta data, de cerca de 2,4 mil milhões de euros.
E assim vai, num único sentido, o reino lusitano. E vai a caminho do Norte de África, tendo como objectivo adquirir o estatuto de protectorado de um outro reino mais a Sul.
Mas que Mira Amaral tem a escola toda, isso tem. Recordam-se que, no dia 8 de Maio de 2008, ele considerou que as afirmações do músico e activista irlandês Bob Geldof sobre os governantes angolanos eram "totalmente irresponsáveis" e "profundamente desconhecedoras" da realidade angolana?
"São afirmações que além de serem totalmente irresponsáveis, são profundamente desconhecedoras da realidade angolana", disse Mira Amaral, questionado sobre o assunto pelos jornalistas no dia em que o Banco BIC Português abriu em Lisboa, com o objectivo de se tornar no "pivot" de operações de financiamento mais complexas para o mercado angolano.
Na altura, Mira Amaral sublinhou ainda que as afirmações "não mostravam a mínima sensibilidade para o esforço enorme que um país que viveu em guerra tantos anos estava a fazer para se reconstruir". "Há dois tipos de pessoas: os gestores que sabem do que falam e os artistas de rock e pop que serão competentes na sua área, mas se calhar noutras áreas não têm competência nem o conhecimento para falar" acrescentou.
Segundo o antigo ministro de Cavaco Silva, "qualquer pessoa que seja gestor executivo sabe o que custa fazer as coisas na prática e o tempo que levam a fazer. Quem canta músicas e depois tenta falar sobre coisas sérias, se calhar esta não é sua área específica de competência". E explicou que "são três transições que Angola está a fazer ao mesmo tempo. Portugal não as fez ao mesmo tempo e sabemos as dificuldades que tivemos e se calhar ainda temos".
Bob Geldof afirmou, recorde-se, que "Angola é gerida por criminosos" numa conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, organizada pelo Banco Espírito Santo e semanário Expresso, dedicando uma intervenção de cerca de vinte minutos ao tema "Fazer a diferença".
"As casas mais ricas do mundo estão [a ser construídas] na baía de Luanda, são mais caras do que em Chelsea e Park Lane", apontou, estabelecendo como comparação os dois bairros mais caros de Londres, capital do Reino Unido.
Mira Amaral diz bem. Cada macaco deve estar no seu galho. Mas, ao que parece, tanto em Portugal como em Angola só os macacos do regime têm direito a um galho…
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