sábado, outubro 08, 2011

De buraco em buraco até ao buraco final

O Bastonário da Ordem dos Médicos de Portugal, José Manuel Silva, disse à Agência Lusa que o país está na bancarrota e que não vai conseguir saldar a dívida.

"Estamos na bancarrota e não vamos cumprir com a nossa dívida, porque os juros são incomportáveis. Estamos falidos. Essa é a realidade do nosso país", afirmou José Manuel Silva, durante uma conferência em Pombal sobre a saúde em Portugal.

José Manuel Silva acredita que "dentro de alguns anos será perdoada parte da dívida" ou que se avançará para o seu reescalonamento.

O bastonário vaticinou que "a contabilidade ainda está para ser feita" e que "ainda vão ser encontrados mais buracos no país", alertando que "vai ser uma mudança radical" para os portugueses.

Crítico do "despesismo nacional nos últimos 30 anos", num cenário que considerou ser de "corrupção e enriquecimento ilícito", José Manuel Silva disse que são necessárias "decisões difíceis", também na Saúde, admitiu, mas que, face "à dimensão dos cortes", Portugal "corre o risco de morrer da cura".

Creio que o bastonário está a ser demasiado radical. Os políticos que andaram a mamar no país nas últimas décadas não têm culpa, nunca têm, de  os portugueses estarem a ser obrigados a aprender a viver sem comer.

Aliás, os próprios políticos (deste e de outros governos, desta e de outras oposições) estão habituados a fazer greve de fome. Por regra, sobretudo em épocas de crise, é normal ver que os membros deste e de outros governos, desta e de outras oposições, raramente comem… entre as refeições.

De facto, para analisar um cenário de 800 mil desempregados, 20% da população já a viver sem comer e outros 20% a viver com o espectro da fome a bater à porta, nada melhor do que ter a pança bem cheia.

Atrevo-me, aliás, a sugerir aos super-membros deste Governo de Pedro Passos Coelho o que sugeri aos de José Sócrates uma frugal ementa, de acordo com o estabelecido pela “troika”:

Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005.

Creio que é o mínimo que os ministros, estes e outros, merecem, mesmo quando ali ao lado os portugueses começam a habituar-se a dividir uma sardinha (espanhola mas capturada em Portugal) por três.

Os dez ministros do governo das ocidentais praias lusitanas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos, ganharam 2,15 milhões de euros em 2010 (coisa pouca, convenhamos) e têm no banco mais de 3,5 milhões.

Paula Teixeira da Cruz, Miguel Relvas e Vítor Gaspar são os que mais têm em depósitos bancários o que, aliás, só abona a sua capacidade de trabalhar num Governo deste género onde a regra é só uma: tudo fazer para que os poucos que têm milhões tenham ainda mais milhões, sem esquecer de tudo igualmente fazer para que os milhões que têm pouco ou nada passa a ter ainda menos.
 
Ao todo, os restantes dez ministros do Governo (excepção, por falta de elementos, a Passos Coelho e Assunção Cristas) receberam por trabalhos prestados no ano passado 2,15 milhões de euros. Só Paulo Macedo, ministro da Saúde, recebeu 39,4% dessa fatia.

Paula Teixeira da Cruz aparece em segundo lugar na tabela. A ministra da Justiça ganhou mais de 360 mil euros por trabalhos que fez no ano passado. Além disso, a também vice-presidente do PSD, é a governante que mais dinheiro tem no banco em depósitos a prazo: mais de 900 mil euros. Logo seguida de Miguel Relvas, com 751 mil euros, e de Vítor Gaspar que tem em poupanças 655 mil euros.

Paulo Macedo tem depósitos na ordem dos  363 mil euros, mas tem mais de um milhão em acções e participações. Os dez ministros todos juntos têm mais de 3,5 milhões em depósitos bancários.

No extremo oposto está Paulo Portas. O ministro dos Negócios Estrangeiros apenas declarou rendimentos de trabalho dependente no valor de 51 520 mil euros, o valor mais baixo dos dez ministros. O rendimento de Portas não está muito longe do declarado por Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, que auferiu cerca de 58 mil euros. O outro ministro centrista do governo, Pedro Mota Soares, está também nos que menos recebeu, ao todo 68 mil euros.

E não restam dúvidas. Se nos últimos dez anos, Portugal foi o terceiro país do mundo com o pior crescimento económico (atrás do Haiti e Itália); se actualmente está no quarto lugar do Top dos países do mundo em risco de bancarrota; se em 2011 só Portugal, Grécia e Costa do Marfim estarão em recessão no mundo; se em 2012 só Portugal estará em recessão no mundo, é porque precisa mesmo de continuar a pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres…

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