No próximo sábado, dia 22, às 18h30, no Clube Literário do Porto (Rua Nova da Alfândega, 22), terá lugar a apresentação dos “Poemas Geométricos” de Luís Bizarro Borges.
A poesia nas mãos/mãos com poesia
Diz o autor: «Imaginei “Poemas Geométricos” como um corpo que não se limitasse a receber o conteúdo poético da obra mas que também participasse nele.
Por outras palavras, comecei com uma visão holística da obra: o conteúdo e a forma constituem um só corpo, são duas faces da mesma moeda, em que uma não pode existir - ou fazer sentido - sem a outra.
Outro factor que tive presente foi o sentido do toque, do tacto, em algo material. Este pormenor faz o contraste com a tendência generalizada do virtual que cada vez mais se impõe na nossa sociedade.
Quis, também, ter a ilusão de que estava a construir um brinquedo poético (defendo a ideia de que, ao longo da vida, nunca devemos perder a capacidade de brincar).
Tudo isto procuro resumir em duas palavras: gesto poético.
Um brinquedo, um gesto e também um jogo. As palavras revelam-se e escondem-se, desdobram-se em significados. Para que isto seja possível é necessário interagir, manusear o corpo da obra para se manipular as palavras.
Proximidade/personalização
Todos os exemplares de “Poemas Geométricos” são personalizados, dedicados a alguém e autografados. Esta personalização tem implícita a proximidade entre o emissor e o receptor. Este “diálogo” é, por si só, um jogo poético e interactivo.
A personalização contraria, mais uma vez, a tendência da padronização geral.
Paradoxos
Toda a poesia é, simultaneamente, íntima e pública. Ou seja, é válida para ambos os cenários.
“Poemas Geométricos” é uma obra que não pode ser partilhada, não pode ser lida em público. É paradoxalmente só íntima, com uma grande cumplicidade entre o autor e o leitor. A interacção, a dedicatória, o autógrafo fazem de “Poemas Geométricos” uma espécie de obra intransmissível.
Obra bilingue
Escrevi “Poemas Geométricos” em português, mas senti necessidade de partilhar a obra em espanhol. Por várias razões. Entre elas a ideia que tenho de irmandade entre portugueses e espanhóis, a proximidade geográfica, cultural e linguística.
Línguas próximas (também elas irmãs?), por vezes suspeitosamente semelhantes e outras desencontradas. Ora, este ser e não ser das duas línguas é também um jogo. Um jogo que se encaixa na perfeição do conceito que esteve na origem de “Poemas Geométricos”. Por isso é uma obra bilingue.
A tradução (paciente e captadora do espírito da obra) é de María Giraldez.
Lembrança
Outro dos pontos que esteve presente na origem de “Poemas Geométricos” foi o conceito de lembrança/prenda não convencional.
Uma lembrança simples mas ao mesmo tempo complexa; artesanal mas ao mesmo tempo profissional. Uma solução com requinte para quem tem necessidade de oferecer algo de especial a alguém sem cair na banalidade.
Os limites do livro/obra e da poesia
“Poemas Geométricos” não é um livro, talvez nem seja poesia. Não sei, nem me preocupa. Sei, sim, que é alguma coisa.
Isto levanta algumas questões. Quando falamos em livro/obra estamos a falar de um conceito definido e fechado? E quais são as fronteiras da poesia?»
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