"As insurreições democráticas em todo o mundo estão a abrir caminho para a autodeterminação dos povos. As pessoas estão fartas da pobreza e de alimentar os ditadores"
O salário mínimo nacional dos portugueses de segunda (todos aqueles que não pertencem ao mundo putrefacto da política e actividades correlativas) teve um acréscimo de apenas 88 euros desde 1974, enquanto que as pensões mínimas de velhice e invalidez aumentaram apenas 38 euros nos últimos 36 anos.
E depois venham dizer que o direito à indignação só passa por manifestações pacíficas, do tipo: quanto mais me bates mais gosto de ti. E depois venham dizer que houve uma revolução em Portugal.
A propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinala segunda-feira, a Pordata divulgou alguns dados estatísticos relativamente à situação económica e social do reino lusitano cada vez mais próximo de Marrocos.
Comparando a evolução do salário mínimo e das pensões mínimas de invalidez e velhice desde 1974 até 2010, e descontando o efeito da inflação, constata-se que hoje em dia os beneficiários desses apoios sociais auferem apenas mais 88 euros e 38 euros respectivamente.
E com tão excelentes aumentos é curial que o Governo entenda que pôr esses portugueses a pão e água, eventualmente a farelo, é uma legítima forma de os obrigar a contribuir para o esforço remuneratório da casta superior formada pelos políticos e toda a corja que os rodeia.
Nesse mesmo ano (2010), correspondia a 15 por cento da população portuguesa o número de pensionistas de invalidez e velhice da Segurança Social com pensões inferiores ao salário mínimo, o que significa que perto de um milhão e meio de pessoas estavam nessa situação.
Além disso, existia mais de meio milhão de pessoas a receber o Rendimento Social de inserção, dos quais quase metade (47%) com menos de 25 anos.
A Pordata revela ainda que em 2009 (últimos dados disponíveis) Portugal era o quarto país da União Europeia com maiores desigualdades de rendimentos entre os mais ricos e os mais pobres, sendo que o rendimento dos mais ricos era 6 vezes superior ao dos mais pobres (a média europeia era de cinco).
Daí que, como muito bem dizem os donos do reino, continua a ser necessário pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres. Continuam os milhões que têm pouco ou nada a trabalhar para encher o bandulho dos poucos que têm cada vez mais milhões.
Mesmo após as transferências sociais, quase uma em cada cinco pessoas (17,9%) era pobre, 37 por cento dos agregados constituídos por um adulto com uma ou mais crianças e 33 por cento dos agregados só com idosos também viviam em situação de pobreza.
Em apenas quatro anos (de 2005 a 2009), Portugal passou do 17º para o 9º país com a taxa de risco de pobreza mais alta da UE. Seja como for, esqueléticos fisicamente e apodrecidos mentalmente, os portugueses de segunda continuam a ser uma povo pacífico capaz, pelo menos até agora, da dar o cu e uns cêntimos (os euros já foram todos) por um prato de lentilhas.
Sem as transferências sociais, a taxa de risco de pobreza em Portugal seria cerca do dobro do que é actualmente, revela ainda a Pordata, esclarecendo que em Portugal é pobre quem vive com um rendimento mensal (por adulto) próximo dos 400 euros. Não seria aconselhável, para haver menos pobres, baixar esse valor para 200 euros?
A propósito também do Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, a Oikos -- Cooperação e Desenvolvimento recorda que em 2010 aumentaram os desastres naturais, mais de mil milhões de pessoas (uma em cada sete) passavam fome e 200 milhões sobreviviam sem emprego.
Estes dados constam de um relatório -- "The World We Want" - que a organização vai lançar, no dia 17, em simultâneo com mais de 20 países.
Este relatório, que contou com contribuições oriundas de centenas de organizações de 35 países, recorda que muitas pessoas que vivem em pobreza são de países de rendimentos baixos, mas também e cada vez mais de países de rendimentos médios, "o que altera a forma como se concebe a ajuda ao desenvolvimento".
"O espaço democrático está a ser restringido com a entrada em vigor de leis que progressivamente ameaçam os direitos civis e políticos", mas "as insurreições democráticas em todo o mundo estão a abrir caminho para a autodeterminação dos povos", afirma a Oikos, acrescentando que "as pessoas estão fartas da pobreza e de alimentar os ditadores".
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