O líder do CDS-PP, Paulo Portas, comparou hoje a gestão do Governo Regional da Madeira com a do executivo socialista liderado por José Sócrates, defendendo que “a dívida não é boa ou má consoante a cor dos governos”.
Já agora. Os ditadores são bons e maus consoante a cor dos governos? Pelos vistos é assim. Portas entende que Muammar Kadafi é uma besta (Sócrates achava-o um “líder carismático”) mas, pelo contraio, entende que José Eduardo dos Santos é bestial. E, na verdade, são os dois iguais.
Num comício em Água de Pena, Santa Cruz, o líder democrata-cristão e ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de coligação manifestou-se ainda convicto de que o CDS-PP, o partido que “tinha paletes de razão” e soube “avisar a tempo contra o excesso de dívida e de despesa”, terá “um crescimento indomável” nas eleições de 9 de Outubro.
Provavelmente Paulo Portas está a dar um passo maior do que as pernas. Isso não lhe tira razão. Fica, contudo, a ideia de que o líder do CDS também joga de acordo com as conveniências do momento a ponto, quem sabe, de poder aliar-se ao PSD na Madeira se tal for conveniente para o bem da… nação.
“Quando vos disse há uns meses que considerava uma irresponsabilidade José Sócrates ter levado a dívida nacional a um tal ponto que cada português por conta do Estado já devia 17 mil euros, também vos disse que considerava uma irresponsabilidade o Governo regional da Madeira ter levado a dívida a um tal ponto que os madeirenses, por conta do Governo Regional e do seu desperdício, cada um deles já devia quase 24 mil euros”, disse.
De facto, importa reconhecê-lo, o diagnóstico de Paulo Portas estava certo. Já quanto à medicação indicada, com ou sem taxas moderadoras, é que a porca torce o rabo. É que a receita sugerida como inevitável pelo governo PSD/CDS vai evitar que o doente morra da doença, mas vai matá-lo com a cura.
Esquelético como está o povo português, não adianta Passos Coelho e Paulo Portas virem com uma mão cheia de antibióticos de última geração. E não adiante porque esses medicamentos são para tomar depois de uma coisa que os portugueses não têm: refeições.
“E se eu critico aquilo que os socialistas fizeram ao nível da República, não esperem de mim outra coerência que não seja a de vos dizer que é igualmente criticável aquilo que aqui foi feito pelo Governo regional. O endividamento que os socialistas deixaram na República levou Portugal à situação muito difícil de ter de pedir ajuda externa. O endividamento que o governo regional da Madeira provocou nesta região levou as instituições a pedir ajuda ao Governo da República. Estamos a falar de comportamentos que não são responsáveis”, sublinhou Paulo Portas.
É verdade. Mas se, pelo menos até domingo, tudo vai continuar na mesma na Madeira, no Continente já lá vão mais de 100 dias em que o governo não é socialista. E qual é o resultado? 800 mil desempregados com clara tendência de subida, 20% de portugueses a viver na miséria (estimativa que peca por defeito), e outros tantos que olham para os pratos com manifesta saudade de neles verem qualquer coisa para comer.
“A dívida quando é excessiva é sempre má porque hipoteca o presente e limita a margem de manobra das novas gerações no futuro,” considerou Paulo Portas, certamente antes de uma faustosa refeição que – calculo – repete pelo menos três vezes por dia…
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