domingo, outubro 09, 2011

Jardim e os que se dizem jornalistas


Alberto João Jardim soma (embora menos) e segue (embora mais devagar). Nova maioria absoluta embora com menos oito deputados. E os cubanos (do continente) que se cuidem.

O CDS-PP subiu para segunda força política passando de dois para nove deputados, o PS passou para terceiro, o Partido Trabalhista ficou em quarto e o BE foi à vida. CDU, PND, PAN e MPT elegem, cada um, um deputado.

Com a habitual polémica e desta vez com um buracão colossal, Jardim continua a ser dono e senhor de um mini-estado feito à sua imagem e semelhança, embora com o dinheiro dos outros. Nada mal.

No que à comunicação social respeita (jornalismo é, provavelmente, outra coisa) o reino de Jardim continua a ter as suas próprias regras, marimbando-se para as teses continentais.

Recordo-me, entre muitos outros episódios do anedotário português, que em Abril de 2008 o presidente do Sindicato de Jornalistas considerar a decisão do líder do PSD Madeira de condicionar a cobertura jornalística do congresso do partido, como uma forma de censura.

"Estamos perante uma forma de censura prévia no acesso à informação que devemos repudiar veementemente", afirmou na altura (e certamente mantém essa posição) Alfredo Maia.

Apesar de admitir que "do ponto de vista formal, nada impedia  que o partido adopte medidas de restrição" à cobertura jornalística de trabalhos do congresso, o presidente do Sindicato de Jornalistas qualificou a decisão como "muito grave" e "nada saudável", nomeadamente por "assentar numa desconfiança absurda" em relação à isenção dos jornalistas.

Não sei se se trata de uma desconfiança assim tão absurda como quer fazer crer o presidente do Sindicato, sobretudo porque o Alfredo Maia sabe bem que é cada vez mais ténue (se é que existe) a separação entre jornalismo e propaganda.

Quanto à isenção dos jornalistas, o presidente do Sindicato também sabe que essa qualidade é, tal como o Jornalismo, algo em vias de extinção. Basta ver a isenção de uns quantos que exercem a profissão como rampa de lançamento para as assessorias político-partidárias (entre outras).

A decisão "tem subjacente a ideia preocupante de vedar o acesso aos jornalistas porque não se gosta dos critérios jornalísticos de alguns profissionais", sublinhou Alfredo Maia, classificando-a de "inaceitável".

Alfredo Maia teima habitualmente em confundir as coisas, até porque sabe que não se trata de critérios jornalísticos mas, isso sim, de critérios editoriais de quem manda e que, por sua vez, obedece aos outros critérios de quem decide. Sabe que os jornalistas têm dono e que os donos dos jornalistas também donos.

"Esperamos que os dirigentes do PSD Madeira desistam desta ideia", até porque "o PSD tem responsabilidades de poder na região autónoma e na Assembleia da República" e "não pode ferir princípios fundamentais da democracia".

Os princípios fundamentais da democracia são feridos, tantas vezes de morte, não pelas atitudes dos pequenos ditadores como Alberto João Jardim, mas pelos jornalistas que protestam mas lhe vão comer à mão. E desses não fala o Sindicato.

Alguém os tem no sítio para, pura e simplesmente, deixar de publicar notícias que envolvam Alberto João Jardim? Alguém os tem no sítio para, de uma vez por todas, impedir que os jornalistas sejam, voluntariamente ou não, correias de transmissão dos poderes instituídos na Madeira e no Continente?

Não. Jardim ofende os jornalistas. E o que fazem os jornalistas? Dão pública divulgação das ofensas, não reagem de forma eficaz e, muitas vezes, comem e calam.

Portanto, se calhar não seria mau o Sindicato dos Jornalistas deixar de alertar os bombeiros porque o vizinho tem a lareira acesa, e reparar rapidamente que tem a sua própria casa a arder.

Quando será que o Sindicato vai reconhecer que os maiores aliados dos pequenos ditadores que por Portugal pululam são os que, jornalistas ou não, mandam na comunicação social e que, na maior parte dos casos, não conseguem contar até 12 sem se descalçar?

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