domingo, maio 13, 2007

Neocolonialismo português soma pontos em Luanda


A TVI, uma das televisões privadas de Portugal, apresentou ontem, com o rótulo de grande reportagem, um trabalho sobre os portugueses em Angola. O assunto merece, pelo menos, duas considerações. Uma revela que a noção do que é Angola é muito limitada ali para as bandas da estação dirigida por José Eduardo Moniz. Limitou-se a falar de Luanda. A outra mostra, aí com alguma perspicácia jornalística, o neocolonialismo de alguns portugueses.

Tal como não aceito que se faça uma reportagem sobre Portugal mostrando apenas Lisboa, não me parece justo para os portugueses que vivem em Angola apresentá-los da forma como a TVI o fez.

Se aquilo são os portugueses em Angola, então os angolanos que se ponham seriamente a pau. Com amigos daqueles ninguém precisa de inimigos.

Explico. Os portugueses ouvidos pela TVI fizeram gala em dizer que estavam em Luanda porque ganhavam muito, mas muito, mais do que em Portugal; que tinham excelentes moradias e não sei quantos (cinco num dos casos) empregados domésticos. É o neocolonialismo na sua mais lídima expressão.

Tal como na época do outro colonialismo lusitano, os empregados domésticos apareciam a dizer que a senhora era como uma mãe. E enquanto os filhos desses portugueses (havia apenas uma excepção) frequentam a Escola Portuguesa, os dos angolanos estudam (os que estudam) na escola pública.

E então onde ficou o resto de Angola, o resto dos portugueses? Será que Angola é só Luanda? Será que só há portugueses em Luanda?

Não. De maneira alguma. Angola é muito mais, é sobretudo o que não está na capital nem no Roque Santeiro. É as terras do fim do mundo onde, como sempre, também vivem portugueses. Portugueses que são angolanos, ao contrário dos portugueses que a TVI mostrou e que só estão em Angola para sacar.

Foto: Cidade do Huambo (também faz parte de Angola e também lá vivem portugueses).

2 comentários:

ELCAlmeida disse...

Meu caro não viste nem ouviste bem. Também mostraram e falaram de uma zona fora de Luanda. Falaram na paradisíaca ilha do Mussulo que ainda dista de Luanda cerca de... 1,5 a 2 km da outra margem onde só estão os que têm muito, mas mesmo muito.
Em termos de distância portuguesa não é já ali...
Kdd
EA

Egidio Vaz disse...

Há mais portugueses vivendo à semelhança dos moçambicanos que portugueses que exitam em trabalhar na sua terra por ganharem valores chorudos em Moçambique (diria-se o mesmo em Angola). PAZ é outro bem que os homens procuram. Desde a independência, 1975, calcula-se que mais de 1000 portugueses moçambicanizados encotram-se espalhados pelas "matas" de Moçambique. Há dias, vi num programa da TVM, estação nacional, um portugues radicado no distrito de Guijá, Gaza, desde 1970, e não mais quer voltar a Portugal porque se sente bem lá. Para quem conhece Guijá, ou pelo menos as dificuldades de um distrito que se reergue da guerra, pode imaginar o que este senhor estaria a procura. Paz. Um abraço moçambicano.