sábado, março 10, 2007

Em memória de um irmão que faria hoje anos

«Cerca-te. Revolve-se. Aproxima-se. Questiona-te. Inveja-te.
Compreende-te. Foge-te.
Liberta-te.
Crava na tua alma a sombra esbelta do bloco de mármore por esculpir.
À tua frente. Dentro de ti.
Uma massa de vida (quase) morta, esperando o indelével toqueInterior
Que te faça perceber, ansiar, demonstrar, viver a tua morte
Sobrevoar os antigos escritos, as antigas revelações e as antigas surpresas
Já não tão surpreendentes assim.
Agora é o teu tempo, é a tua vez.
Agora, queres ser tu a surpreender, a criar.
Ousas recriar o mundo e chocas.
Entre tu própria e o mundo
Chocas.
Tudo e todos.
Chocas-te.
Felicitas-te. Congratulas-te.
Divertes-te e repetes a dose.
Até ficares aborrecida. Triste.
Deprimida.
Aí, fechas-te novamente. Voltas ao mármore. Às suas nervuras e imperfeições.
Voltas a ti.
Após o voo indefinido e envolvente pelo nosso curto e inexistente momento, pela nossa canção.
Mesmo antes de aterrares.
E adorarias ver aquele dia.
Eu, adoraria (vi)ver aquele momento.
(Contigo). »

Nota: No http://frigorificoamarelo.blogspot.com/ o meu filho publicou hoje o poema acima reproduzido. Hoje 10 de Março. Coincidência. Hoje, dia do nascimento do meu irmão, de seu nome Manuel de Sousa Castro. Falecido na tropa em 1972.

Desculpa, filhote, apropriar-me do teu trabalho para recordar um irmão que morreu quando eu tinha a idade que tu agora tens. Onde ele estiver terá orgulho nos sobrinhos que tem.

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