A (mais do que provável) candidatura de Xanana Gusmão ao cargo de primeiro-ministro de Timor-Leste, bem como a de Ramos Horta a presidente da República, lembra-me que nesta questão (como em quase todas as outras) a memória é curta. Muito curta.
Alguém se recorda que em Fevereiro de 2002, o actual presidente timorense dirigiu fortes críticas a José Ramos Horta e à Fretilin?
A polémica surgiu depois de José Ramos Horta ter servido de mediador entre a Fretilin e Xanana Gusmão, no âmbito de uma proposta do maior partido timorense para a formação de uma comissão multipartidária que nomeasse o líder nacional (Xanana) como candidato.
Em declarações ao jornal timorense «Suara Timor Lorosae», Xanana Gusmão acusou então a Fretilin de "inconsistências" na sua posição sobre o tema das presidenciais, considerando que José Ramos Horta continua a apoiar este partido.
"Já há muito tempo, mesmo antes das eleições, que notei que Horta também é da Fretilin. Só um dedinho é que saiu mas todo o corpo está dentro", disse Xanana Gusmão.
Na polémica entrevista, Xanana desmentiu garantias dadas por si próprio à Agência Lusa em Janeiro de 2002, quando afirmou não ter sido contactado quanto à formação da comissão nacional conjunta.
Admitiu também ter sido confrontado por José Ramos Horta quando desmentiu o contacto inicial sobre a proposta da Fretilin, num encontro que fontes timorenses garantiram ter sido "bastante quente".
"Afinal como é, chefe? Falámos ou não falámos?", terá dito Ramos Horta, citado por Xanana Gusmão.Xanana Gusmão confirmou a tensão do encontro referindo ter apelado directamente a Ramos Horta para esquecer a ideia.
"Disse-lhe que nós os dois trabalhamos juntos há muito tempo, mas por vezes não nos ouvimos um ao outro", disse Xanana Gusmão.Para Xanana Gusmão, a proposta da Fretilin era "inconsistente" com as suas posições actuais, parecendo "anti-democrática".
"A Fretilin disse que só me dá apoio se me candidatar como independente, mas agora o Ramos Horta aparece a dizer que a Fretilin assim já apoia", afirmou.
"Não gosto quando hoje dizem uma coisa e amanhã outra. Não dou valor e não aprecio este tipo de atitude", referiu.
1 comentário:
No Sistema Internacional, os países não têm amigos nem inimigos mas tão somente interesses (nacionais) a defender!
No Futebol, o que é hoje verdade é mentira amanhã, quando não é no minuto seguinte.
Porque na política os dois «adágios» não hão-de ser verdadeiros também?
Não têm os políticos (em nome dos interesses nacionais e é sempre em nome destes) interesses a defender? não têm verdades que se mutam sempre que a lógica a isso o obrigue?
kandandu
Eugénio Almeida
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