quarta-feira, março 14, 2007

A verdade do meu amigo Joffre Justino

Num recente texto dado à estampa em alguns (poucos, é verdade) meios de comunicação social, o meu amigo Joffre Justino diz que «é claro que já ninguém se lembra, mas entre Janeiro e Outubro de 2001 fui, não só acusado de ser terrorista, como fui, por tal, sancionado pelas Nações Unidas, pela União Europeia e pelo Estado Português.». É verdade. No entanto, em abono da mesma verdade, reproduzo na íntegra uma «Carta aberta ao Presidente da República... portuguesa», publicada na Orlando Press Room em 06 de Novembro de 2001. As palavras voam, mas os escritos são eternos.

«Os meus cumprimentos.

1 - Gostei de o ver, em Espanha, no meio de Yasser Arafat e Shimon Peres. «Todos compreendem que não há outra solução a não ser a paz, apesar da distância de posições...», terá dito, na altura, V. Exa..

2 - É claro, permita-me a sinceridade, que gostaria mais de o ver no meio de José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi. Também é verdade que gostaria (muito) mais de o ouvir dizer, também nesse caso, que «todos compreendem que não há outra solução a não ser a paz, apesar da distância de posições...»

3 - Preocupado que V. Exa. está com a crise mundial e também, é claro, com a crise interna, é natural que lhe falte tempo para agir junto dos senhores da guerra em Angola. Aliás, pela informação que lhe é enviada (cuja veracidade V. Exa. não pode questionar) calculará que morrem muito mais palestinianos e israelitas do que angolanos. Não sei se será bem assim mas, é claro, também não vou duvidar da veracidade das suas fontes de informação, sejam assessores, deputados, ministros ou secretários de Estado.

4 - Creio, aliás, que essas fontes de informação são as mesmas que abastecem a União Europeia e que levam os eurodeputados (e também por lá andam alguns portugueses) a ter dois pesos e duas medidas quando resolvem falar de Angola.

5 - Como certamente é do conhecimento de V. Exa. há, também no caso de Angola, dois tipos de terrorismo. Um bom e outro mau. Um perfeitamente aceitável e outro, é claro, condenável. O bom, como sabe, é o praticado pelo Governo de Luanda, uma entidade democrática, respeitadora dos direitos humanos, incorruptível e defensora do Estado de Direito. O mau, esse é obviamente praticado pelos bandidos da UNITA. Bandidos comandados por Jonas Savimbi, um terrorista que lutou contra o colonialismo, contra os cubanos e que, ainda por cima, quer uma Angola verdadeiramente independente.

6 - Dir-me-á V. Exa. que tem mais com que se preocupar. Se V. Exa. o diz é porque, de facto e de jure, é verdade. Mas afinal anda preocupado com quê? Na votação da Lei de Programação Militar venderam-nos gato por lebre. V. Exa. disse que o problema não era seu.

Seu era, e bem, a questão da condecoração de Cláudia Cardinale. Era mesmo ela? Este caso não foi, como é costume, mais um exemplo de como os Poderes do país passam um atestado de menoridade e demência aos portugueses?

7 - Sabe V. Exa. (se calhar tem mais com que se preocupar) que um cidadão português, Joffre Justino, residente em Portugal, militante da UNITA, viu as contas bancárias das suas empresas congeladas? É que, no país em que V. Exas. é o Presidente, ser simpatizante ou militante da UNITA não é um direito... é um crime.

8 - E, para além de ser um crime, leva a que (subvertendo todas as regras de um Estado de Direito) se seja considerado culpado até prova em contrário. E das duas uma, ou essa teoria de se ser inocente até prova do contrário é uma treta ou, afinal, Portugal não é um Estado de Direito.

9 - Por último, permita-me que lhe solicite o favor de mandar informar os portugueses das penas a que se sujeitam se pretenderem ser militantes do PSD, do CDS/PP, do PCP, da UNITA, da FNLA etc., do Benfica, do Belenenses, do Boavista, do Porto, do Salgueiros ou do «trinca na pêra».

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