Como se sabe, o governo do sumo pontífice Miguel Relvas, assessorado por Pedro Passos Coelho, não interfere na comunicação social, mesmo naquela em que determina – directa ou indirectamente – o que se faz e quem faz.
Não interfere o Governo mas manda o PSD que, hoje, negou que esteja em curso a extinção da área da Cultura na Agência Lusa, contrapondo que existe apenas uma reestruturação de chefias e que este sector manterá a sua produção em termos de notícias.
Ou seja, já não bastava o presidente da Lusa, Afonso Camões, dizer “é assim que eu quero, é assim que vai ser”, ou Fernando Lima, consultor político do Presidente da República e seu ex-assessor de imprensa, considerar que "uma informação não domesticada constitui uma ameaça com a qual nem sempre se sabe lidar", e vem agora o PSD confirmar pela negação o que é óbvio.
A posição dos sociais-democratas foi assumida pela dirigente da bancada Francisca Almeida, numa declaração em que rejeitou as críticas feitas ontem pelo PS sobre mudanças em curso na Agência Lusa.
"Perante notícias que davam conta de uma hipotética extinção da secção de cultura da Agência Lusa, quero dizer que há apenas um reagrupamento de chefias, numa lógica de contenção de custos deve abranger a generalidade da comunicação social. Isto de forma alguma significa uma redução da produção de notícias na área da cultura na Agência Lusa, tanto mais que este ano Guimarães é capital europeia da cultura", afirmou Francisca Almeida.
Segundo a dirigente do Grupo Parlamentar do PSD, pelo contrário, "a Agência Lusa, justamente, direccionou alguns dos seus jornalistas mais qualificados para acompanhar a capital europeia da cultura".
"No que diz respeito à área da cultura, a produção noticiosa da Agência Lusa vai manter-se, tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos e apenas existe uma reagrupamento ao nível de chefias", salientou.
Uma jornalista, à revelia certamente das ordens superiores mas no cumprimento do seu dever, questionou a deputada social-democrata sobre qual a origem das informações que acabara de transmitir aos jornalistas.
"Evidentemente, esta informação [foi obtida] junto do Governo, depois de ter tido notícia de que o PS teria vindo a público que a Agência Lusa não faria o seu trabalho ao nível da cobertura da produção cultural. Foi uma situação que preocupou o PSD e em relação à qual fomos tentar obter informação", disse.
Certa continua a ser a promiscuidade na comunicação social, sector onde todos a querem independente mas, como é hábito, todos querem controlar essa independência pelos mais diferentes meios, sejam económicos, partidários ou outros.
Relembre-se, mesmo que não seja a bem da nação, que o Governo vai pagar em antecipação cerca de 225 milhões de euros da dívida da RTP em 2012.
De acordo com o ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, a RTP Internacional deve ser a "grande aposta" da empresa. Quanto aos Açores e à Madeira, custam ao Estado 24 milhões de euros por ano.
Miguel Relvas declarou na Comissão de Ética, Cidadania e Comunicação (30 de Agosto do ano passado) que se reuniu com os presidentes da RTP e da Lusa, a quem pediu um "plano de potenciação de sinergias" entre as empresas, nomeadamente por via da "partilha de instalações e meios" no estrangeiro, como já sucede nalgumas delegações.
A privatização de canais de rádio e televisão da RTP e a alienação da participação do Estado na agência de notícias Lusa são medidas previstas no programa do actual Governo. A concretizarem-se será o fim mas, é claro, terão direito a um epitáfio do tipo: “A bem da Nação”.
"Devemos ou não ter a responsabilidade de iniciar a reestruturação da empresa? Eu não tenho dúvidas nenhumas", declarou o ministro aos deputados, frisando que não se deve estar "agarrado a visões do passado".
Nem mais. Do passado só se vão ter as visões, essas sempre repetidas, de mais despedimentos, de mais empregos para a rapaziada do partido.
"Queremos que a RTP Internacional seja a TV Portugal", disse o ministro. E disse muito bem.
Se calhar, embora me pareça que – como no passado recente – é chover no molhado, importa recordar que o então presidente brasileiro lançou no dia 24 de Maio de 2010 a TV Brasil Internacional, que chegará a 49 países africanos, entre eles todos os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa): Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Pois é. E Portugal (como sempre e apesar de ter mudado de governo) fica a vê-los passar na esperança, vã, de apanhar uma boleia.
"Nós queremos provar que é possível fazer uma televisão pública de qualidade, republicana, que não seja chapa branca, mas que também não seja oposição à priori, que tenha discernimento de fazer análises políticas correctas, de contar os factos como eles são. Nós queremos uma televisão pública que possa mostrar o Brasil lá fora como ele é", afirmou o presidente brasileiro, Lula da Silva durante a cerimónia no Palácio do Itamaraty.
Como se isso não bastasse (e quem tiver dúvidas olhe para o que Portugal faz), Lula da Silva garantiu que quando os africanos assistirem a parte da programação da TV Brasil Internacional, vão pensar que é televisão africana, tal é a similaridade de comportamentos entre os povos.
Depois de ter dado luz ao mundo, Portugal ficou às escuras e nem os fósforos encontra. Escuras em todos os domínios, menos no da propaganda estéril.
Nesta, como em quase todas as matérias, o Brasil está sempre na liderança e tem apostado sempre nos cavalos certos. Quanto a Portugal, não consegue ver que aposta não nos cavalos mas em burros que, ainda por cima, são coxos. Têm, contudo, a vantagem de terem cartão do partido.
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