Antigamente dizia-se que para lá do Marão mandam os que lá estão. Hoje, em Portugal, mandam os “africanistas de Massamá”, sejam eles Pedro Passos Coelho ou Miguel Relvas.
Que o Estado oprime os cidadãos (a grande maioria) é uma verdade que se sente na barriga… vazia. Mesmo quando nascem fora da capital do reino, os políticos transformam-se - como dizia Luís Filipe Menezes - em “sulistas e elitistas”… a bem da nação deles.
Em tempos, Dezembro de 2007, reagindo a afirmações de Luís Filipe Menezes, o então ministro socialista Teixeira dos Santos afirmou que "desmantelar é um termo com o seu toque um pouco anarquista, porque só os anarquistas é que acham que se deve acabar com o Estado".
O PSD imediatamente corrigiu a pontaria e, sobretudo com Passos Coelho, deixou de querer desmantelar o Estado e apostou tudo em desmantelar, ou acabar – se preferirem, com os portugueses, seja mandando-os emigrar ou, ainda, exigindo que aprendam a viver sem comer.
Voltemos a Trás-os-Montes. O Governo, na sua voraz ânsia de provar que para lá do défice não há mais vida, resolveu instituir que os transmontanos têm uma saúde férrea e que, por isso, os cortes na assistência médica e no acesso aos cuidados básicos são urgentes e que em nada os vão afectar.
Numa primeira fase, quase se diria experimental por atingir apenas alguns, vão ser despedidos mais de uma centena de profissionais de saúde.
Do ponto de vista estatístico, há sempre variáveis que sustentam a razoabilidade da decisão. Aliás, se Passos Coelho comer uma lagosta e eu limpar a mesa, aparecerá uma estatística a dizer que em média cada um de nós comeu meia lagosta.
O mesmo se passa com a decisão de pôr fim ao funcionamento, durante a noite, do helicóptero do INEM estacionado em Macedo de Cavaleiros. Não adianta, e já nem é o caso de dizer que o pão do pobre quando cai ao chão tem sempre a manteiga virada para baixo (e não é o caso porque os pobres já não têm pão e muito menos manteiga), explicar aos donos da verdade que é no interior, nas zonas mais mal servidas, que esse meio faz mais falta.
Vale ao Governo a ingenuidade dos portugueses. Neste altura os cidadãos ainda estão como um maluco no meio da ponte. Não sabem para que lado ir. Quando decidirem ir... é que vai ser bonito. Vão então descobrir que afinal nem ponte há.
Creio, aliás, que Passos Coelho deveria recuperar algumas das estratégicas do seu companheiro de tango, José Sócrates. Recordam-se, por exemplo, que o estádio da cidade de Al-Kahder, nos arredores de Belém, na Cisjordânia, foi construído com financiamento de Portugal, através do Instituto Português de Cooperação para o Desenvolvimento?
Já agora, o recinto custou dois milhões de dólares, tem capacidade para seis mil espectadores, é certificado pela FIFA e dispõe de piso sintético e iluminação e a cerimónia de inauguração contou com uma marcha de escuteiros locais, conduzindo as bandeiras de Portugal e da Palestina, e a execução dos respectivos hinos nacionais.
Já nessa altura o PS fechava urgências, maternidades, centros de saúde e escolas primárias, mas oferecia um estádio à Palestina. Se calhar é altura do actual Governo fechar algum hospital de interior e oferecer um pavilhão multiusos ao Afeganistão.
A seguir fechar a cidade universitária e oferecer um complexo olímpico (também com estádio) à Somália e, digo eu, fechar a Assembleia da República e oferecer os políticos portugueses aos crocodilos do Nilo.
"As pessoas vão passar a nascer em casa ou a morrer em casa, para além daqueles que já andam a nascer pelo caminho. A esquerda moderna deve reforçar o Estado social e não desmantelar o Estado social". Quem disse isto?
"Estaria a mentir se dissesse que me reconheço no actual Governo. Não, não me reconheço. Não compreendo esta política, não só das taxas moderadoras para tratamentos e cirurgias (uma dupla tributação), como a extinção de urgências e de Serviços de Atendimento Permanente e o encerramento de maternidades em zonas do interior, seja qual for a fundamentação técnica". Quem disse isto?
"Isso é um erro colossal, porque as pessoas se sentem desprotegidas e abandonadas pelo Estado, sobretudo em regiões do país onde não há mais nada.Se tiram os serviços públicos do interior, as pessoas sentem-se abandonadas e desprotegidas, não foram criadas alternativas, as coisas não foram explicadas e é tudo feito por atacado".
Afinal quem disse isto tudo, faz este mês quatro anos, foi Manuel Alegre numa entrevista à jornalista Flor Pedroso, da Antena 1.
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