Relativamente a 2008, tudo é hoje diferente em Angola e em Portugal. O reino luso é cada vez mais um lugar mal frequentado e o seu congénere de Eduardo dos Santos cada vez mais o dono desse ocidental recanto.
Ainda alguém se recorda, a propósito do anterior simulacro de eleições, de uma nota da Direcção o jornal “Público” a propósito do boicote do MPLA è entrada de jornalistas deste jornal, bem como da SIC, Expresso, Visão e Rádio Renascença?
Eu recordo-vos: “Os senhores que mandam no país não toleram a comunicação social livre e independente e não perdoam aos jornalistas ou órgãos de informação que, em algum momento, noticiaram escândalos, reportaram abusos ou se manifestaram, em textos de opinião, contra o regime. E retaliam em conformidade”-
Pois é. E se Portugal está diferente, também o Público, a SIC, o Expresso e a Visão estão. Deste grupo só a Rádio Renascença mantém a coluna vertebral.
É que, de 2008 para cá, muita coisa mudou e os donos dos jornalistas passaram a ter accionistas do regime angolano, seja para investimentos na comunicação social ou nos continentais hipermercados.
Na altura, o Público esclareceu que “o boicote do governo angolano não se deve, portanto, a um “atraso” na emissão de vistos, como augurou o primeiro-ministro, José Sócrates”, acrescentando que “não há “exagero” algum quando se denuncia um bloqueio a órgãos de comunicação social portugueses”.
“Cabe perguntar se o Governo de Portugal, como acontece noutros países face a circunstâncias idênticas, encetará alguma diligência para obter explicações sobre o que se passou e se fará algo em relação à atitude das autoridades angolanas”, escrevia o Público.
Eram outros tempos. Era outra a Direcção do Jornal, era outra a estratégia dos donos dos jornalistas.
Na altura (4 de Setembro de 2008) perguntei aqui – nunca poderia ser noutro sítio: O que poderá dizer Sócrates depois de há meia dúzia de dias (17 de Julho) ter afirmado: "Venho aqui (a Luanda) dar uma palavra de confiança a Angola no trabalho que o Governo angolano tem feito que é, a todos os títulos, notável. Basta olhar para os indicadores"?
Ou de, nesse mesmo dia, ter afirmado: "Quero que o Governo de Angola saiba que temos confiança no povo angolano, que temos confiança em Angola, temos confiança no Governo angolano e no trabalho que tem desenvolvido"?
Aliás José Sócrates também disse que "o trabalho do Governo tem permitido que Angola tenha hoje um prestígio internacional, que tenha subido na consciência internacional e que seja hoje um dos países mais falados e mais reputados".
De facto, por muito que isso custe, José Sócrates só poderia ness altura dizer duas coisas, uma aos jornalistas portugueses e outra aos angolanos:
1 - “O melhor é estarem calados porque um dia destes a Isabel dos Santos, a Sonangol, ou o MPLA (é tudo a mesma coisa) ainda compram o vosso jornal e vocês vão todos para a rua.
2- Votem no MPLA".
Em 2012 tudo está na mesma em Angola. Em Portugal não está na mesma… está um pouco pior. No que ao dono de Angola respeita, se Sócrates dizia “mata”, Passos Coelho diz “esfola”.
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