A UNITA, através de Adalberto da Costa Júnior, afirmou ao Folha 8 não haver nenhum pacto secreto com o MPLA. Creio que apenas se registou um fenómeno africano: a mangueira deu loengos.
As dúvidas estão patentes no processo de devolução do património da UNITA, confiscado pelo governo durante o conflito armado e que constam, entre outras cláusulas, da rendição do Galo Negro, também chamada de Acordos de paz entre as partes.
O calibre dos negociadores de um pacote de 95 milhões de dólares não deixam dúvidas: general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, “Kopelipa”, chefe da Casa Militar, general Leopoldino Fragoso, “Dino”, assessor do chefe da Casa Militar e Dr. Daniel Mingas, da Inteligência da Casa Militar por parte do MPLA e Adalberto da Costa Júnior, secretário do património, Cláudio Silva, secretário para os Assuntos Constitucionais e Demonsthenes Amós Chilingutila, membro da comissão Permanente, por parte da UNITA.
Só na cidade de Luanda, mais de 80 edifícios, pertença da UNITA, foram usurpados pelos homens do poder. Quando se rendeu, a UNITA julgou que o regime angolano era uma entidade séria e que o país era um Estado de Direito. Foi, mais uma vez, enganada. E o mais grave é que alguns dos seus dirigentes da altura sabiam que estavam a ser enganados.
Esses dirigentes preferiram trocar a mandioca do seu país real pela lagosta do país do MPLA.
Repetindo o que há muito é sabido, os dirigentes do Partido do Galo Negro, em Luanda, acusaram o governo angolano de agir com má fé no processo de devolução do património pertença da UNITA.
Adalberto Costa Júnior chegou a dizerà Voz de América que o seu partido iria recorrer às instâncias judiciais nacionais e internacionais para reaver o seu património que se encontra injustamente nas mãos de altas individualidades do poder político e de alguns generais.
"O que ocorreu é, infelizmente, fruto do período de guerra, o património da UNITA foi sendo ocupado pelas instituições e uma boa parte também por dirigentes ligados ao poder político e por militares, facto este que foi igualmente bastante analisado durante os acordos de paz. O governo angolano, até aqui, não cumpriu com os pressupostos", disse Costa Júnior.
Pois. Não cumpriu, e tenho dúvidas que venha a cumprir de facto, a não ser – como parece ter agora acontecido – que seja a troco de qualquer coisa menos ortodoxa. Acresce que também o povo angolano sabe muito bem como é gerido o seu país. E tanto sabe que, ao ser traído pela UNITA, resolveu votar no inimigo. Se os supostos amigos fizeram o que fizeram, era natural que tivessem de pagar a factura.
Além disso, não seria mau que a UNITA também dissesse que muitos dos seus generais que passaram para o outro lado da barricada, e que inclusive ajudaram a assassinar Jonas Savimbi, são os “legítimos” donos de parte desse património.
Ou, ainda, que explicasse como é que, entre outros, alguns dos seus generais (dos que estiveram até ao fim com o Mais Velho) são hoje dos homens mais ricos de Angola.
Adalberto da Costa Júnior tem desempenhado as suas funções o melhor que, certamente, sabe. Pena é que, para além de uma manifesta perda de memória em relação aos seus “irmãos” aposte mais, ou quase só, na reacção em vez de na acção.
Dele esperava-se (esperava eu que continuo ingénuo) mais do que andar a reboque dos acontecimentos. Acredito que, eventualmente por ordens superiores, Adalberto da Costa Júnior não possa fazer tudo o que queria ou, penso, o que sabe que deveria ser feito.
Adalberto da Costa Júnior teve uma boa escola mas, não sei se voluntariamente, deixou de regar, de adubar e de podar a árvore, convencido que ele sobreviveria só por si.
Mas se isso é grave, mais grave é ficar à espera que a mangueira dê loengos. Esperou, como é típico, sentado. Quando alguns, de boa fé, lhe disseram que assim não ia lá, resolveu não reconhecer a verdade, culpando o mensageiro e não lendo a mensagem.
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