O Sindicato dos Jornalistas (SJ) continua a pensar que Portugal, mais do quem um Estado de Direito que não é, é um país sério e honesto. Fica bem, mas não funciona.
Então não é que o SJ diz que se opõe “firmemente a qualquer distribuição de dividendos na Agência Lusa, pretendida pelos accionistas privados” porque – lá está a santa ingenuidade – “no horizonte se perfila nova vaga de despedimentos e os trabalhadores vêem cortadas as suas retribuições”.
Mas não é sempre assim? Basta ver (e nos últimos anos não faltam exemplo) que as reestruturações das empresas visam sempre despedir trabalhadores e aumentar as mordomias dos que – mesmo quando para contar até 12 têm de se descalçar – estão no poder?
Em comunicado divulgado hoje, o SJ manifesta a sua preocupação com a situação na agência e solidariza-se com a Comissão de Trabalhadores, que após reunião com o presidente da Administração da empresa fez saber que este recusou fornecer-lhe cópia do chamado “plano de avaliação e sustentabilidade” da Lusa por si elaborado e já entregue ao ministro dos Assuntos Parlamentares, alegando que tal documento não fora homologado pelos restantes membros da Administração.
Lembrando que o acesso à informação das empresas corresponde a “um direito fundamental das comissões de trabalhadores”, o SJ considera que “na situação presente, de contínuo sacrifício dos trabalhadores da Lusa e face à previsão que a própria Administração faz de que será necessário proceder a uma nova redução do número de trabalhadores, é absolutamente exigível que seja prestada informação cabal aos seus representantes”.
Uma exigência tanto mais legítima, segundo o SJ, quanto se sabe que o accionista Estado pretende reduzir em 15% os custos com o contrato-programa com a Agência Lusa, ao mesmo tempo que os accionistas privados – Controlinveste, Impresa e NP – reclamam a distribuição de dividendos sobre os resultados líquidos da empresa: dois milhões e 700 mil euros, dos quais cerca de 600 mil euros resultam das reduções nos vencimentos e subsídio de férias (relativo a 2011) dos trabalhadores. Um montante, curiosamente, equivalente à redução de encargos exigida pelo Governo.
É o seguinte o texto, na íntegra, do Comunicado do SJ:
"1. Tendo tomado conhecimento do comunicado da Comissão de Trabalhadores relativo à sua reunião com o presidente da Administração da Agência Lusa, a Direcção do Sindicato dos Jornalistas manifesta-se preocupada com a ameaça de nova vaga de despedimentos e a previsão de distribuição de dividendos quando, mais uma vez, os trabalhadores vêem cortadas as suas retribuições.
2. De acordo com o comunicado da CT, o presidente do Conselho de Administração recusou-se fornecer-lhe cópia do chamado “plano de avaliação e sustentabilidade” da Lusa por si elaborado e já entregue ao ministro dos Assuntos Parlamentares, alegando que tal documento não fora homologado pelos restantes membros da Administração.
3. A Direcção do SJ considera que, além de o acesso à informação das empresas corresponder a um direito fundamental das comissões de trabalhadores, na situação presente, de contínuo sacrifício dos trabalhadores da Lusa e face à previsão que a própria Administração faz de que será necessário proceder a uma nova redução do número de trabalhadores, é absolutamente exigível que seja prestada informação cabal aos seus representantes.
4. A CT dá também conta da existência de uma divergência, entre os accionistas, quanto à decisão de distribuição de dividendos do exercício de 2011, defendida pelos accionistas privados – a Controlinveste, a Impresa e a NP – contra a oposição do presidente da Administração e do Governo, bem como da Comissão de Trabalhadores, por poder pôr em perigo as condições da empresa.
5. Solidário com a CT e com os jornalistas e outros trabalhadores, o Sindicato dos Jornalistas acompanha-os na oposição e na resistência firme a qualquer distribuição de dividendos, quando os trabalhadores continuam a ser vítimas de um roubo aos salários e outras remunerações e do impedimento à sua progressão.
6. Nem os trabalhadores nem os portugueses podem compreender a distribuição de lucros, tendo o Governo determinado, a pretexto da crise, cortes salariais e no trabalho suplementar, congelamento de carreiras e apropriação dos subsídios de férias e de Natal de 2012 e 2013 dos trabalhadores de empresas do sector público ou com participações de capitais públicos, como é a Lusa.
7. Assim como não se pode aceitar que o futuro de um número indeterminado de postos de trabalho esteja pendente da consumação ou não da decisão de distribuir dividendos, precisamente porque a Lusa necessita de estar dotada de um corpo de profissionais com capacidade para satisfazer as suas obrigações perante os clientes e os cidadãos, e porque uma nova redução de pessoal poderá pô-la em risco.
8. O SJ entende, porém, que não são conciliáveis as posições entre o accionista Estado e os accionistas privados, quando o primeiro pretende uma redução de 15% nos custos com o contrato-programa com a Agência Lusa para compensar as suas obrigações de serviço público, e os segundos reclamam a distribuição de dividendos sobre os resultados líquidos da empresa, curiosamente em montante equivalente à redução de encargos exigida pelo Governo.
9. O Sindicato considera absolutamente indispensável um entendimento que acautele os postos de trabalho, a qualidade do serviço da agência e, sobretudo, não descapitalize a empresa para o futuro e para as obrigações que terá de satisfazer.
10. A propósito, com a legitimidade de ser o autor de uma acção colectiva no Tribunal de Trabalho de Lisboa, contra a aplicação das normas das leis do Orçamento de Estado de 2011 e 2012 que impõem os cortes salariais e o congelamento de carreiras aos trabalhadores da Lusa (e também da RTP, noutra acção), o SJ alerta a empresa para o dever de dotar-se de recursos financeiros que permitam devolver aos jornalistas as retribuições que lhes estão a ser subtraídas se, como se espera, a decisão do tribunal for favorável.
11. Nesta conformidade, a Direcção do SJ reafirma a sua solidariedade para com os jornalistas e outros trabalhadores da Lusa, bem como a sua disponibilidade para cooperar com a Comissão de Trabalhadores e com os restantes sindicatos na empresa, ao mesmo tempo que apela ao Governo e aos accionistas privados para que procurem uma plataforma de entendimento que acautele a qualidade do serviço da agência e a sua viabilidade no futuro."
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