José Lello omitiu, durante 14 anos, uma conta num fundo, partilhada com a mulher, com mais de 658 mil euros.
A conta foi aberta em 1988, mas o deputado do PS, apesar de estar obrigado a declará-la ao Tribunal Constitucional desde 1995, apenas o fez quando entregou a declaração de rendimentos relativa ao início de funções de deputado em 2009. José Lello justifica a omissão da conta com o desconhecimento da lei.
Não por desconhecimento da lei mas, como disse, por uma anomalia técnica, José Lello classificou de foleiro o comportamento do Presidente da República. O socialista utilizou a sua página no Facebook para criticar, nestes termos, o facto de Cavaco Silva não ter convidado os deputados para a cerimónia do 25 de Abril de 2011.
Aproveitando a boleia, a administração aqui do Alto Hama decretou que tudo quanto seja escrito e que não agrade aos donos do poder, seja em Portugal ou em Angola, se deve, obviamente, a anomalias técnicas. Estamos entendidos?
Em declarações à Rádio Renascença, José Lello justificou-se dizendo que tudo não passou de uma anomalia técnica.
Vejamos, pelas palavras do próprio e sem, presumo, anomalias técnicas, o que se passou.
“Estava a enviar mensagens a um colega meu de bancada e, naturalmente, a utilizar uma linguagem que entre amigos é corrente. Se estivesse a exprimir-me publicamente utilizaria o politiquês e diria que o Presidente da República não foi suficientemente abrangente e, portanto, aquilo que eu disse senti”, explicou.
E assim de repente, são várias as anomalias técnicas do deputado socialista que, por exemplo, entendia que apesar de ser deputado, estar num local público (Parlamento) e usar nesse espaço computadores que não são pessoais, tinha o direito de fazer o que quer com eles.
Ou seja, podia muito bem estar a ver imagens pedagógicas da sua colega italiana Ilona Staller (mais conhecida por Cicciolina), consultar contas pessoais, comentar blogues, escrever coisas foleiras, jogar zuma etc.
O que de facto o chateia, tanto a ele como a muitos outros, é estar sujeito a que os repórteres fotográficos apanhem imagens que nada tenham a ver com os trabalhos no Parlamento. Coisa, certamente, improvável...
Segundo José Lello, é preciso meter na linha (ele chamou-lhe – sem anomalias técnicas - “necessidade de definir a mobilidade”) os repórteres fotográficos na Assembleia da República, afirmando que os deputados “não podem estar sujeitos ao ‘voyeurismo’”.
Não podem mesmo. Por isso, parafraseando o ministro Augusto Santos Silva, é urgente “malhar” (a expressão é esta, mas fica a dúvida se não terá sido dita por qualquer anomalia técnica) em todos aqueles que resolvam chatear os donos do poder, neste caso os deputados.
Ou, neste caso parafraseando Fernando Lima, conselheiro de Cavaco Silva, é preciso domesticar os jornalistas.
Penso, aliás, que o Parlamento português deveria pura e simplesmente barrar, impedir, bloquear, a entrada no recinto de jornalistas e repórteres fotográficos.
A privacidade dos deputados estaria garantida. O país até agradecia. Para os portugueses é indiferente o que se passa no Parlamento. Além disso, os "Press officers e Media consultants" fariam chegar à Imprensa o que interessasse, com a vantagem de que se não repetiriam os casos de Manuel Pinho e outros similares.
E quanto maior for a ausência dos jornalistas menor risco haverá de anomalias técnicas. Vejam-se, por exemplo, os casos em que um primeiro-ministro (José Sócrates) se vira para um deputado e diz: "Manso é a tua tia, pá!"; de um deputado (Ricardo Rodrigues) que rouba – ele chama-lhe “tomar posse” – os gravadores aos jornalistas que o entrevistavam, ou o registo de frases como “espionagem política”, “sujeira”, “coscuvilhice” , “política de fechadura”.
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