Eduardo Dias e Fernando Souto são dois dos quatro portugueses que, integrados na UNIOSIL (United Nations Integrated Office in Sierra Leone), organização chefiada pelo representante especial do secretário-geral da ONU na Serra Leoa, o também português Vítor Ângelo, monitorizam e treinam os polícias locais.
Com 32 anos de idade, 13 dos quais na PSP, o comissário Eduardo Dias rumou para a sua primeira missão fora do país há quatro meses. "O choque foi inevitável perante o estado de destruição de um país que esteve em guerra civil durante 11 anos", conta o comissário, acrescentando "que essa constatação é também um imediato estímulo para ajudar um país em que 70% da população vive no limiar da probreza".
Apesar das dificuldades, Eduardo Dias salienta a compensação de ter sido, "como os resntes portugueses, muito bem recebido pela população que, agradecida, vê nesta missão uma tábua de salvação".
"A nossa principal função é formar as forças policiais locais, sobretudo em questões de controlo de multidões, para a eventualidade de haver problemas desse tipo, até porque a Polícia local está mal equipada e deficientemente preparada para lidar com situações desse género que, seja no âmbito das próximas eleições, a 11 de Agosto, ou de qualquer outro, acontecem com relativa facilidade nos países saídos de conflitos armados", conta Eduardo Dias.
Sensibilizado por ouvir os responsáveis da Polícia local agradecer o trabalho desenvolvido pelos portugueses, o comissário "considera que haverá muito para fazer na Serra Leoa, certamente como noutros países africanos, porque as feridas, materiais e morais, de um prolongada guerra civil não são fáceis de curar".
Fernando Souto tem 40 anos, 16 dos quais na Polícia, e já é "velhinho" no país, onde está há 14 meses, depois de ter estado em Timor-Leste entre 2000 e 2003.
"Há alguma semelhança com Timor", recorda Fernando Souto, embora diga "que o panorama na Serra Leoa é bem pior, tais são os resultados de um violento conflito armado".
"Trabalhamos na preparação técnica dos quadros locais e na assessoria política, procurando dotar o país quer dos meios físicos quer da preparação pessoal para enfrentar as delicadas fases que terão necessariamente de atravessar depois de 11 anos de uma guerra civil que, como todas, destruiu as infra-estruturas da Serra Leoa", explica o ex-segundo comandante da Esquadra de Matosinhos.
À pergunta sobre se apenas quatro portugueses conseguem fazer a diferença, Fernando Souto conta que - no âmbito da missão da ONU - todos trabalham em equipa, independentemente da nacionalidade. Apesar disso, reconhece que "os portugueses são poucos mas são bons e que, por isso, conseguem marcar alguma diferença".
Sobre esta questão, Eduardo Dias explica que os portugueses, "talvez por questões genéticas", vão sempre mais além do que o que está estabelecido, "olhando antes de tudo para as pessoas" . Dá como exemplo a "aposta no fabrico local dos bastões da Polícia, ou dos sacos de transporte, que antes eram importados".
"Quando, quer as autoridades, quer a população, dizem aos portugueses 'Obrigado por estarem cá com enorme dedicação, sentimo-nos recompensados", afirmam os dois homens da PSP.
Fonte: Jornal de Notícias/Orlando Castro
Foto: Eduardo Dias e Fernando Souto são dois dos quatro portugueses em missão na Serra Leoa
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