O Presidente da República (cada vez mais esclavagista) de Portugal desejou hoje aos escravos um ano de 2012 "tão bom quanto possível".
Cavaco Silva que, obviamente, continua a ter pelo menos três refeições por dia, reconheceu que na situação actual é difícil não pensar nos "cuidados redobrados do dia de amanhã".
Ou seja, os 800 mil desempregados, os 20 por cento de pobres e os outros 20 por cento que já nem pratos têm, devem começar a dividir o que não têm para que amanhã possam continuar a viver sem comer.
"Este ano vivemos o Natal com a preocupação da crise. Sei que é difícil, na situação actual, não pensar nos cuidados redobrados do dia de amanhã. Mas também sei que os portugueses estão determinados a lutar por um futuro melhor", afirma o chefe de Estado numa mensagem vídeo de boas-festas divulgada no 'site' da Presidência da República.
Não me parece complicado para quem, em termos vitalícios, só tem direito a 4.152 euros do Banco de Portugal, a 2.328 euros da Universidade Nova de Lisboa e a 2.876 euros de primeiro-ministro, compreender as dificuldades daqueles cidadãos que já nem sabem se têm barriga.
Sublinhando que o Natal é "a festa da família", Cavaco Silva refere que é precisamente na família que os portugueses podem encontrar os afectos que lhes dão força, a solidariedade que precisam nas horas difíceis e as alegrias que ajudam "a atravessar a vida".
E solidariedade não falta. Aliás, numa casa portuguesa fica sempre bem pão e água (ou farelo) sobre a mesa. A família, é claro, é sempre um bom apoio. Em cada vez mais casos, ninguém tem nada para repartir. Mas quem dá o que não tem e mais não é obrigado.
"Na família aprendemos a respeitar o outro, aprendemos os gestos que nos aproximam e nos ensinam que nenhum homem deve viver isolado, que, se dermos as mãos, vamos sempre mais longe", frisa o Presidente da República, que gravou a mensagem de boas-festas num dos períodos (entre refeições) de assumida solidariedade para com todos aqueles que gostavam de ter como prenda… uma refeição.
Ao lado do Presidente da República, Maria Cavaco Silva reforça a ideia, reconhecendo que "vamos precisar muito uns dos outros". Por isso, defende a mulher do chefe de Estado, "é necessário que o espírito solidário do Natal perdure para lá destes dias de boa vontade e de partilha".
A tese da família Cavaco é repetitiva. Já no dia 6 do mês passado, o Presidente da República de Portugal disse ter "grande esperança" que o espírito de solidariedade dos portugueses permita "demonstrar à Europa e às instituições internacionais" que o país "é capaz de ultrapassar as dificuldades", considerando que "os próximos tempos podem ser insuportáveis".
Se ele diz… é mesmo assim, mesmo considerando que nada tem a ver com o estado do país. Recém-chegado à vida das ocidentais praias lusitanas, Cavaco Silva aponta o rumo, mesmo mão estando ao leme. Se calhar há quem pense que Cavaco é co-responsável pelo afundanço do país e consequente adopção dos princípios esclavagistas. Mas não é. Ele dó foi primeiro-ministro de 6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995, e só venceu as eleições presidenciais de 22 de Janeiro de 2006 e só foi reeleito a 23 de Janeiro de 2011. Coisa pouca, portanto.
Cavaco Silva, à falta de algo mais respeitador dos cidadãos, ao "esforço de todos" e acrescenta que são extensas, eventualmente gregas, as dificuldades que esperam os portugueses.
"Os próximos tempos podem ser insuportáveis para alguns dos nossos concidadãos, em especial os reformados e os desempregados", disse o presidente da República, muito preocupado (segundo a interpretação dos jornalistas que o ouviram) com os "filhos de casais desempregados".
Cavaco Silva referiu as situações que resultam da perda do emprego, da quebra de rendimentos das famílias e da emergência de novos pobres, tendo feito uma referência explicita à "insuficiência alimentar" de alguns portugueses, sublinhando que conta com o empenho do poder do local e das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) para contornar as dificuldades.
“Insuficiência alimentar” revela uma desconhecida faceta de Cavaco Silva, a poesia. Dizer a quem passa fome que apenas padece de "insuficiência alimentar" é, digamos, uma poética forma de juntar à barriga vazia dos portugueses um atestado, em papel timbrado da Presidência da República, de menoridade ou estupidez.
"Tenho grande esperança no espírito solidário dos portugueses e na acção das câmaras municipais, que estão a ser chamadas a dar resposta a situações que resultam do desemprego, da queda do rendimento das famílias, da emergência de novos pobres e da acção das IPSS. Com esse espírito de solidariedade havemos de mostrar à Europa e às instituições internacionais que somos capazes de ultrapassar os nosso problemas", notou Cavaco Silva.
Ao nível político, o Presidente da República defende, reparem só na perspicácia de Cavaco Silva, um "diálogo frutuoso e construtivo" entre os que mandam e os que são voluntariamente obrigados a aceitar.
Certamente que, com diálogo e entendimento, a “insuficiência alimentar” dos que já só sonham com uma refeição será mais fácil de digerir. Estou memo a ver muitos portugueses a arrotar de satisfação depois de sonharem com um prato de comida.
Mesmo agora que estão esqueléticos como resultado da “insuficiência alimentar”, os portugueses continuam a achar que o seu fado é serem uma espécie de património imaterial que tudo deve fazer para agradar aos seus donos.
Talvez um dia acordem com a barriga de tal modo vazia a ponto de mostrem que estão fartos de quem em vez de os servir… só se serve deles. Não sei se isso acontecerá. Mas que, pelo menos em tese, os portugueses também têm direito à Primavera, isso têm.
É certo que em Portugal aumenta o número dos que pensam que a crise (da maioria, de quase sempre os mesmo) só se revolve ou a tiro ou elegendo um ditador. Até os militares sonham, embora em silêncio e com as paredes do cérebro insonorizadas, que essa é uma alternativa.
Mesmo que assim seja, se calhar os responsáveis pela tragédia (como é o caso, entre outros, entre muitos outros) de Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho e Paulo Portas, vão continuar a ter pelo menos três boas refeições por dia e chorudas pensões vitalícias.
Seja como for, começa mesmo a ser altura de os portugueses porem os seus políticos a pão e água ou, talvez, a farelo. Seria, aliás, uma boa forma de melhorar a “insuficiência alimentar”.
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