Pedro Passos Coelho, embaixador da Alemanha e primeiro-ministro de Portugal, garantiu hoje não ter "medo de greves" e prometeu "travar todas as batalhas" para alterar uma lei laboral que actualmente apenas gera "desemprego e precariedade".
Calculo que a tradução das instruções enviadas por Angela Dorothea Merkel seja a correcta, pelo que aí temos o soba do protectorado alemão nas ocidentais praias lusitanas a dizer, alto e bom som, que no seu reino “quer, pode, e manda”, embora com poderes delegados.
Para Passos Coelho, "o maior mito que se tem vivido na sociedade portuguesa é que não se pode mexer na legislação laboral para não afectar os direitos" dos trabalhadores. Embora nuca tenha sido trabalhador (nem isso é relevante), o embaixador não sabe do que fala mas, é claro, sabe que os escravos estão anestesiados pela barriga vazia, razão pela qual um qualquer prato de farelo é visto como uma dádiva de Deus.
"A quem serve este regime, que supostamente é extremamente avançado de direitos sociais? Que regime avançado é este que só gera desemprego, precariedade, recibos verdes ou contratos a termo? Temos medo das pressões, ou da contestação ou das greves que possam surgir? Eu não tenho!", frisou, no discurso da sessão evocativa em memória de Francisco Sá Carneiro, no Porto.
É preciso ter lata e muita falta de dignidade falar desta forma numa sessão evocativa de Sá Carneiro.
Estes devaneios de um anão que se julga gigante, relembram-me que, recentemente, D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas… portuguesas, disse que se Francisco Sá Carneiro fosse vivo caía para o lado. No entanto, como já morreu, deve estar – segundo D. Januário Torgal Ferreira - a dar voltas no túmulo já que, acrescenta, a austeridade (entre outros dislates deste governo) é uma espécie de "terrorismo".
Recordemos um pouco mais o que diz este bispo que teima em pôr os portugueses a pensar pela própria cabeça, e a rejeitar qualquer intervenção cirúrgica que vise a substituição da coluna vertebral.
"A mim, também me dava jeito um desvio colossal. Depois em Março alguém pagava", disse, desconfiado das razões que levaram à decisão pelas novas medidas de austeridade. "Nada é explicado. Fico com uma grave suspeita sobre a verdade de tudo isto", acrescentou D. Januário Torgal Ferreira, em declarações à RTP.
"A Igreja tem de respeitar a justiça e lutar pelos direitos humanos. Não pode acatar qualquer acto terrorista", disse o bispo das Forças Armadas, quando confrontado com uma pergunta sobre a posição da Igreja face às novas medidas de austeridade. "Há vários tipos de terrorismo, o intelectual, o do medo", disse o bispo.
"Agora é assim? Em Fevereiro os reformados não vão receber. E em Março são os funcionários que ficam sem receber?", questionou. Mas o primeiro-ministro disse que lamentava ter de aplicar estas medidas, argumentou a jornalista da RTP. A resposta foi lapidar: "Já vi muita gente a lamentar e depois ir assaltar um banco. Ou a abandonar a mulher e os filhos e a dizer: lamento".
“É preciso ter muito cuidado. Porque é nestas horas que se fazem grandes fortunas. E, sobretudo, é nestas horas em que os mais pobres ficam mais pobres e alguns ricos ficam muitíssimo mais ricos”, disse o mesmo prelado no Funchal, à margem da comemoração dos 58 anos da Força Aérea Portuguesa.
“Nós temos de lutar e dizer em voz alta, com respeito, respeitando a liberdade, respeitando as pessoas, mas respeitando antes de mais a verdade”, apontou D. Januário Torgal Ferreira.
É claro que ao bispo das Forças Armadas é mais fácil dizer estas verdades. Desde logo porque, ao que julgo, o actual (como o anterior) ministro da Defesa não o despediu ou – como fez o governo anterior e o fará o actual - deu cobertura a despedimentos colectivos nas Forças Armadas.
Passos Coelho esclareceu que, com a actual legislação, existem "cada vez menos trabalhadores, porque aqueles que podem oferecer emprego têm medo de o fazer, a não ser em regime de recibo verde". Sim. Deixam, contudo, de ter medo quando o trabalhador é militante do PSD.
Quanto maior for a incerteza "maior é o medo dos investidores" e "quem quer trabalhar tem cada vez menos oportunidades, a não ser nas piores condições e nas mais precárias", descreveu o primeiro-ministro.
"Queremos criar emprego para os mais jovens porque não os queremos condenar à falta de esperança que hoje reina. Em seu nome, travaremos todas as batalhas que forem necessárias para, nos limites da Constituição, alterar as leis laborais", assegurou.
Os 800 mil desempregados, os 20 por cento de pobres e os outros 20 por cento que já só têm uma vaga ideia do que é uma refeição, certamente que gostariam de pôr Passos Coelho a pão e água mas, mais uma vez, continuam à espera de um qualquer D. Sebastião.
"O país precisa que, na economia que temos hoje, o Estado pese menos, mas seja mais justo. Que não ande a tomar partido. Que se mostre isento. Que não haja empresas que têm paladinos nos governos, como já aconteceu muitas vezes. No Governo a que presido não há paladinos das empresas. É o Governo todo que é paladino da economia", sublinhou.
O discurso foi bem escrito e melhor traduzido. Estado justo? Onde? Estado que não toma partido (pelos seus)? Onde? Não há empresas que têm paladinos no governo? Onde? Governo paladino da economia? Onde?
Pois é. Tal como os sacos vazios não se aguentam de pé, também os portugueses, e pela mesma razão, estão de cócoras e de mão estendida. Passos Coelho ri-se e Merkel aplaude. Acabam, de facto, de provar que são fuba do mesmo saco.
2 comentários:
Gosto! :)
Viva Carla,
É bom, muito bom, ver-te por cá. Ou melhor, registar a tua presença.
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