O Presidente de Angola, não eleito e há 32 anos no poder, José Eduardo dos Santos reconheceu em Luanda o que há muitos anos é aqui dito no Alto Hama.
Ou seja, que a erradicação da fome, da pobreza, do analfabetismo e das injustiças sociais constituem "objectivos essenciais" que não foram ainda alcançados.
Todavia, como se já não tivesse tido tempo (e de paz total já lá vão nove anos) manifestou-se esperançado num "futuro melhor" e na capacidade dos angolanos em "vencer todas as dificuldades, mesmo os problemas mais complexos e difíceis".
José Eduardo dos Santos fez estas considerações na tradicional mensagem de Ano Novo, transmitida em directo pela rádio e televisão públicas angolanas.
"Permanecem por realizar alguns dos nossos objectivos essenciais, tais como erradicar a fome, a pobreza e o analfabetismo, as injustiças sociais, a intolerância, os preconceitos de natureza racial, regional e tribal", disse Eduardo dos Santos, esquecendo-se – como é natural – de dizer que o MPLA (no poder desde 1975) é o principal responsável.
Para o Presidente angolano, embora haja a registar resultados positivos, "ainda há e haverá sempre, como é natural, por causa da evolução e do crescimento, aspectos e problemas a requererem mais atenção e resolução prioritária nos domínios da educação, saúde, habitação, emprego e do fornecimento de água e energia".
Traduzindo, apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico, apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos, 45% das crianças sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Para ultrapassar as debilidades, o dono de Angola defendeu que o Estado, a sociedade civil e o sector privado "devem continuar a conjugar e a aumentar os seus esforços com o objectivo de corrigir o que está mal, melhorar o que está bem, criar coisas novas onde for necessário, para aumentar" a capacidade de resposta e satisfazer as necessidades da sociedade.
"Por mérito próprio conseguimos alcançar tudo aquilo que queríamos. Com determinação, coragem, firmeza e grande vontade de vencer conquistámos a independência, e mais tarde a paz, construímos o nosso Estado e estamos a desenvolver o país em democracia", frisou Eduardo dos Santos.
Relativamente ao facto de em 2012 estar agendada a realização de eleições gerais, salientou o facto de estarem a ser criados os "mecanismos legais" para que estas sejam "bem organizadas, transparentes e justas".
A tradução desta garantia revela que o regime está a preparar tudo para que, como nas anteriores “eleições”, embora pondo os mortos a votar… tal não possa ser detectado pelos observadores internacionais, pois os internos estão sob controlo.
Sem se referir à decisão que irá tomar sobre a candidatura ao cargo, caso seja o primeiro nome da lista do MPLA às eleições gerais, José Eduardo dos Santos lembrou faltarem ainda oito meses para o escrutínio.
Quanto às mudanças em curso noutras latitudes, e depois de reconhecer que o Mundo está em "constante transformação", em que salientou ser "compreensível" o desejo de todos aspirarem a uma mudança para melhor nas suas vidas, José Eduardo dos Santos chamou a atenção para no caso de Angola, a história recente ensinar "que o processo de mudança pode ser brusco e radical ou evolutivo e suave, por fases".
"Os processos radicais provocam rupturas e grande desorientação inicial com consequências sociais graves. As mudanças que decorrem através de processos democráticos e pela via do diálogo, da compreensão mútua, da convivência pacífica e do estrito cumprimento da legalidade, garantem estabilidade social e política", concluiu num previsível “até já”.
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