O chefe do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas, general Geraldo Sachipengo Nunda, afirmou hoje, em Cabinda, que o Exército, a Força Aérea e a Marinha de Guerra escreveram com o seu sangue as páginas gloriosas da história do povo angolano.
Já em Fevereiro, também em Cabinda (o que é, só por si, sintomático) Nunda afirmara que a preservação da Paz deve constituir a principal prioridade das Forças Armadas.
E, como manda a cartilha do regime, que Nunda chegou a combater, não se esqueceu de dizer que essas páginas foram escritas sob a égide do Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas , José Eduardo dos Santos.
Assistiram à cerimónia, o governador da colónia de Cabinda, Mawete João Baptista, os chefes adjuntos do Estado Maior General para a Área Operacional e Desenvolvimento e da Educação Patriótica, generais Jorge Barros Nguto e Egídio de Sousa Santos "Disciplina", respectivamente.
Recorde-se que Geraldo Sachipengo Nunda foi um dos militares que comandaram a caça, e posterior morte em combate, a Jonas Savimbi. Nunda foi, aliás, um dos generais das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola) a quem Savimbi ensinou tudo e que, por um prato de lagostas, o traíram.
É, aliás, admirável a forma como os militares angolanos estão sempre a falar da necessidade da preservação da paz (já cimentada há nove anos), da Constituição e do culto a José Eduardo dos Santos. Nunca pensei ver Geraldo Sachipengo Nunda a embarcar numa fantochada deste tipo em que, creio, nem ele próprio acredita.
"A reconstrução nacional tem permitido a normalização da vida em todo o território nacional", diz Geraldo Sachipengo Nunda, acrescentando que existem sinais visíveis de um país que renasce após longos anos de guerra.
Que a guerra em Angola, como qualquer outra, deu cabo do país é uma verdade incontestável. Também é verdade que o país está a crescer, embora esse crescimento só esteja a ser feito para um dos lados (para aquele que está com o regime).
Mas será que Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu da Angola profunda, daquela onde o povo, o seu povo, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com fome?
Será que Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu que o seu tão querido e idolatrado presidente (Eduardo dos Santos), a sua Constituição, o seu regime, considera – não só em Cabinda – um crime contra o Estado ter opiniões diferentes das oficiais?
Não será altura de Geraldo Sachipengo Nunda também se interrogar das razões que levam a que Angola uns poucos tenham muitos milhões, e muitos milhões não tenham nada?
Não deixa de ser curioso, pelo menos para mim, ver Geraldo Sachipengo Nunda a dizer que são prioridades das FAA, preparação operativa, combativa e de educação patriótica, transmitindo a vontade e a determinação do Exército de vencer os obstáculos e constrangimentos para que os efectivos disponham de melhores condições e o processo da sua gradual renovação.
Segundo Geraldo Sachipengo Nunda, em declarações ao Semanário Angolense a propósito da morte de Jonas Savimbi, outros dois antigos coronéis das FALA, Kivo e Calado, também comprados pelo MPLA a troco da traição não só a Savimbi como a uma grande parte do povo angolano, estiveram na última linha de combate em perseguição de Savimbi, e viram-no a sucumbir aos disparos.
Uma hora depois do líder rebelde ter sido morto, já o general Geraldo Sachipengo Nunda (certamente com mais uma estrela nos ombros), que estava em permanência no posto de comando dessa operação no Luena, chegava ao local na companhia de outros altos responsáveis militares governamentais, entre os quais os generais Hélder Vieira Dias "Kopelipa" e Hanga, bem como o sub-comissário Panda.
Não se sabe ao certo, mas é curial pensar-se que Geraldo Sachipengo Nunda tenha manifestado a sua satisfação pela morte de Savimbi, não fosse o MPLA arrepender-se das mordomias que lhe dera, que lhe dá e continuará a dar enquanto for útil.
Seja como for, Geraldo Sachipengo Nunda está muito bem onde está e terá sempre consigo os louros de ter traído Jonas Savimbi, a UNITA e o povo que ela representava.
Mas porque cesteiro que faz um cesto, faz um cento, Nunda continuará sempre debaixo da mira dos ortodoxos do regime. E ele sabe disso. Sabe porque, ao contrário dos ensinamentos de Jonas Savimbi, prefere ser escravo de barriga cheia do que livre com ela vazia.
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