Angola é um dos países mais corruptos do mundo? É sim senhor. É um dos países com piores práticas democráticas? É sim senhor? É um país com enormes assimetrias sociais? É sim senhor.
Apesar de tudo isso continua a ser bajulado por meio mundo, estando o outro meio à espera de oportunidade para também o bajular. Tudo porque Angola tem petróleo e este ouro negro está na mão de meia dúzia de elemento do clã do presidente.
Veja-se que as companhias petrolíferas Total e Petrobras embandeiraram em arco, e fizeram disso um motivo de festejo internacional, ao assinarem com a empresa do regime (a Sonangol) acordos de produção de petróleo no pré-sal angolano.
A companhia francesa Total assinou com a Sonangol três contratos de partilha de produção que lhe conferem, na qualidade de operadora, uma participação de 50 por cento no bloco 40 e outra, de 35 por cento, no bloco 25. Um terceiro contrato dá à companhia francesa uma participação de 15 por cento no bloco 39, mas na qualidade de associada.
E o que importa é exactamente isto. Além disso, é mais fácil negociar com uma ditadura em que são sempre os mesmos que estão no poder. Quanto ao povo que morre na miséria, esse não é um problema nem da Total nem da Petrobras porque, de facto, não são cidadãos franceses nem brasileiros.
O director de pesquisa da Total declarou a satisfação da companhia francesa com os resultados da licitação e reafirmou o compromisso do grupo petrolífero em manter-se como um dos principais investidores e operadores petrolíferos de Angola.
“Estamos satisfeitos com os resultados da licitação, que ilustram o compromisso da Total continuar a ser um dos principais investidores e operadores petrolíferos em Angola e de assumir um papel de destaque na pesquisa desta promissora bacia do offshore profundo, um sector onde o grupo já demonstrou competência e o seu know-how”, declarou Marc Blaizot.
Por sua vez, o director da divisão internacional do Grupo Petrobras anunciou, no Rio de Janeiro, que a companhia inicia em 2012 furos de prospecção no bloco 26 do pré-sal angolano, localizado ao longo da bacia de Benguela.
Jorge Zelada mencionou a existência de alguns projectos na costa ocidental do continente africano, em países como o Benin e o Gabão, e projectos de produção de biocombustíveis em Moçambique.
Apesar de tudo, a França continua a jogar bem em diversos tabuleiros africanos. No caso de Angola, de vez em quando o regime acusa os franceses de estarem envolvidos em conspirações contra o país, nomeadamente contra a democracia que (não) existe, contra a legitimidade de um presidente (não) eleito, contra as regras de um Estado de Direito que Angola (não) é.
O regime do MPLA acusa sobretudo a Agência France Presse de fazer campanha contra Angola, sugerindo mesmo (através do seu órgão oficial – o Jornal de Angola) que – por exemplo – terá havido ligações entre a França e o ataque à escolta militar angolana contra a selecção togolesa de futebol, na colónia de Cabinda.
Tudo estaria bem se, como fez o presidente português, Anibal Cavaco Silva, Nicolas Sarkozy tivesse dito que Angola vai de Cabinda ao Cunene. Não o disse e por isso o regime angolano, que ocupa militarmente Cabinda, não perdoa.
Não sei porquê mas creio que, bem vistas as coisas, se calhar os franceses sabem mais da História de Portugal do que os próprios portugueses. Sendo certo que para as actuais autoridades de Lisboa parece que essa mesma História só começou a ser escrita em Abril de 1974.
Paris sabe muito bem que o regime que desgoverna Angola desde 1975 é uma ditadura e que, por isso, entende que quem pensa de maneira diferente é obrigatoriamente inimigo.
"Fiquei triste com este artigo (do Jornal de Angola) que sugere que a França deve ser acusada de fomentar uma conspiração contra Angola através da FLEC. É absurdo, em primeiro lugar, e também estranho," disse na altura Francis Blondet, então embaixador de França no reino de José Eduardo dos Santos.
Mas, bem vistas as coisas, não tem nada de estranho. Aliás a zanga do dono de Angola, José Eduardo dos Santos, tem outras origens, sendo a mais conhecida a que entronca no caso “Angolagate”.
Além disso, Sarkozy não pode esquecer que mais de 70 empresas francesas estão estabelecidas em Angola, inclusive – pois claro! - a gigante de petróleo Total, que é o segundo maior produtor de petróleo no país, depois da Chevron…
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