Mesmo de barriga vazia, os portugueses continuam a fazer o milho crescer e os laranjais florescer. Continuam a dar dinheiro para o Governo comprar máquinas, carros e senhoras…
As Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) de Portugal deverão começar a receber na próxima semana verbas provenientes do Fundo de Socorro Social, anunciou hoje o Governo, que está a preparar uma linha de crédito adicional de 50 milhões de euros.
O ministro da tutela, Pedro Mota Soares, referiu que quando iniciou funções no Ministério da Solidariedade e da Segurança Social “o Fundo de Socorro Social não tinha qualquer dotação, estava esgotado”, ao contrário do que seria esperado.
“Já conseguimos alocar esta verba de 10 milhões de euros, conto que já a partir da próxima semana se comecem a fazer alguns pagamentos e que até ao final do ano tenhamos apresentado um decreto-lei que permita alterar as regras deste fundo, garantindo que o fundo é mesmo de emergência social”, afirmou o ministro.
Por definir está o que é emergência social, desde logo porque o Governo assumiu (e a fazer fé no que o primeiro-ministro assumiu durante a campanha eleitoral, o que é verdade às segundas, quartas e sextas é mentira às terças, quintas e sábados) como prioridade assegurar a sustentabilidade das contas públicas, de forma a criar as condições que originem crescimento económico e promovam a criação de emprego e bem-estar.
Hoje, porque é sábado, isso não é assim. Não há nem crescimento económico nem criação de emprego.
O Governo também disse (não sei em que dia de semana) que “muitas famílias vivem hoje momentos difíceis, enredados nas teias do desemprego, das falências, do sobreendividamento, da desestruturação social, da exclusão e da pobreza”.
Não quantificou, mas sabe-se que são 800 mil os desempregados, 20% os pobres e 20% os miseráveis. Coisa pouca. O número de desempregados vai aumentar, mas o dos pobres e miseráveis via estabilizar porque os novos titulares dessa categoria vão substituir os que não conseguiram cumprir o programa de viver sem comer.
“Na actual conjuntura não é possível optar por caminhos que diminuam ainda mais os níveis globais de protecção social dos mais desfavorecidos, ou que impliquem um esforço financeiro adicional que o País não consegue suportar”, afirmou o Governo num daqueles dias em que, mais uma vez, mostrou apenas ter uma vaga ideia do Portugal real.
Ma altura em que saía da missa, ainda com visíveis resíduos de uma hóstia recentemente engolida, o Governo disse também que “a redução das desigualdades sociais deve passar pela adopção de medidas de apoio à família, pela distribuição mais justa dos rendimentos e dos sacrifícios”.
E essa “distribuição mais justa dos rendimentos e dos sacrifícios” é bem visível, embora unicamente entre os escravos que continuam a passar fome para que os seus donos possam viver à grande. Ou, por outras palavras, os portugueses da casta superior dividem entre si os rendimentos, e os plebeus dividem os sacrifícios.
Fazendo lembrar as políticas coloniais, em que o patrão prometia tudo aos contratados e acabava por dar apenas peixe podre, fuba podre, panos ruins, 50 angolares e porrada se refilares, o Governo português garante “a promoção e protecção de direitos de muitos que são os mais excluídos e de muitos que estão numa situação de tal desigualdade, que se exige uma resposta social excepcional”.
Por isso, o Governo disse aos contratados, perdão, aos portugueses, que “o mais importante hoje é promover direitos e apresentar medidas que possam minorar o impacto social da crise, que possam constituir uma «almofada social» que amortece para muitos, as dificuldades que agora atravessam”.
De mão estendida, ingénuos e de cócoras, são cada vez mais os portugueses que sonham com uma sardinha, mesmo que seja para dividir por três, mas que apenas encontram pão e água, eventualmente um prato de farelo.
Mesmo assim, mesmo de barriga vazia, continuam a fazer o milho crescer e os laranjais florescer. Continuam a dar dinheiro para o Governo comprar máquinas, carros e senhoras...
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