Porque é Natal, recordo que o Papa Bento XVI convidou os africanos a não idolatrar o poder do dinheiro e a tomar conta "daqueles que são postos de lado".
"Sem dúvida, pode parecer desconcertante para nós, mas hoje, como há dois mil anos, estamos acostumados a ver sinais de "realeza" em sucesso, poder e dinheiro e temos dificuldade em aceitar um rei que é o servo dos humildes", diz o Papa.
Bento XVI aproveitou para pedir aos africanos para ajudar todos "aqueles que são postos de lado", principalmente "todos aqueles que sofrem, os doentes, as pessoas afectadas pela Sida e outras doenças e todos aqueles que são esquecidos pela sociedade".
"Mantenham a coragem", disse o Papa, acrescentando que muitos em África "cuja fé é fraca têm uma mentalidade e o hábito de ignorar a realidade do Evangelho, acreditando que a busca da felicidade egoísta, fácil de ganhar, é o objectivo final da vida".
Segundo o arcebispo da minha cidade (Huambo), D. José de Queirós Alves, em Angola subsiste uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça.
O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras.
Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão, que numa entrevista ao jornal “O Diabo”, em 21 de Março de 2006, D. José de Queirós Alves já dizia (e assim continua) que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.
Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerava a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.
D. Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.
E, já agora, cito Frei João Domingos que afirmou que em Angola "muitos governantes têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro".
Ou ainda Mia Couto quando diz que “a maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos”, ou quando, a propósito de Carlos Cardoso, escrevia que “liquidaram um defensor da fronteira que nos separa do crime, dos negócios sujos, dos que vendem a pátria e a consciência”.
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