“A UNITA será poder em Angola no dia em que os angolanos o quiserem. Porque a UNITA é pertença do povo angolano”.
Quem terá dito isto? Poderia, creio eu, ter sido Jonas Savimbi, mas foi Anastácio Sicato em entrevista ao Notícias Lusófonas, publicada em 26 de Junho de 2006.
Sicato acrescentava: “No nosso país, o processo de democratização é irreversível. Ora, a alternância de poder é uma característica inerente aos sistemas democráticos”.
Tirando a esperança idílica de que em Angola a “democratização ser irreversível”, o que é facto é que a alternância de poder faz-se, desde 1975, entre o MPLA e o… MPLA.
As afirmações de Anastácio Sicato continuam actuais, sobretudo porque a travessia do deserto continua, embora sem a pujança da grande marcha de outros tempos. Sobretudo porque, desde 2002, a UNITA continua a ir de derrota em derrota sem vislumbrar onde, quando ou como, chegará a primeira vitória.
Será que a UNITA tem feito alguma coisa para ser, ou tentar ser, ser alternativa? Falo de coisas concretas, de projectos viáveis, de iniciativas com cabeça, tronco e membros. Provavelmente por manifesta ignorância da minha parte, não vi a UNITA dar contributos para que os angolanos, no interior e no exterior, nela acreditem.
Anastácio Sicato dizia na referida entrevista, dada ao Jornalista Jorge Eurico, que “tarde ou cedo, o MPLA e o Presidente José Eduardo dos Santos acabarão por ceder o poder a outros”.
Mas será que a UNITA está apostada em fazer com que se antecipe a alternância? Até agora falhou em todas as frentes. Não foi o MPLA que ganhou, mas foi – isso sim – a UNITA que perdeu.
A UNITA está à espera que o poder em Angola caia de maduro, pouco fazendo para mostrar aos angolanos que quando o fruto não presta deve ser retirado mesmo verde. Nada disso tem sido feito. E, a agir dessa forma, corre o sério risco de em 2012 ficar ao nível da FNLA.
Quando vejo que a UNITA, ao contrário do MPLA, desperdiça tantos e tantos valores que lhe são afectos e que estão espalhados por esse mundo fora, fico com a ideia de que a alternância, se acontecer, se deverá mais ou sobretudo à incapacidade do MPLA do que à acção da UNITA.
Não basta, como disse Sicato, afirmar “que a verdadeira soberania pertence ao povo e amais ninguém”. É preciso que o povo saiba que tem esse poder e, mais importante, saiba quais são as alternativas. Nas eleições (se é que assim se pode chamar) o povo não viu qualidades alternativas e preferiu mais do mesmo. Em 2012, ao que parece, a receita vai repetir-se.
Não chega, digo eu, dizer que “só a alternância consolida os regimes democráticos”. A alternância não se compra, conquista-se. E para a conquistar é preciso trabalhar muito. Muito mesmo, sobretudo longe da lagosta e perto da mandioca.
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